Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

quinta-feira, 21 de março de 2013

poizé!


Royalties para quem?
Carlos Tautz, 19.3.13
 
Uma breve passagem por Campos dos Goytacazes e Macaé, duas das cidades fluminenses que mais recebem royalties por estarem dentro da Bacia de Campos, a maior região petrolífera de petróleo do Brasil, mostra que é muito mal parada essa discussão sobre quais cidades devem ser recompensadas pela extração do óleo.
 
A se deduzir pela infraestrutura social criada pelos dois municípios desde que aquela atividade econômica começou ali, há pouco mais de 30 anos, a montanha de dinheiro deveria ter tido final muito melhor. Afinal, onde foram parar os royalties pagos até hoje?
 
Campos, reduto do esquema Garotinho – aquele ex-governador, hoje de novo candidato ao cargo, indiciado por formação de quadrilha armada - exibe os piores resultados do Estado em termos de educação pública. Se pelo menos alguma parte dos royalties serviu para alguma finalidade, em Campos se pode dizer uma coisa: esse destino final certamente não foi a educação.
 

Em Macaé, que tem a coragem de exibir placas onde se lê “Capital nacional do petróleo”, os transportes públicos – monopolizados pela empresa 1001 – levam poucos do nada a lugar nenhum.

 

Os transportes estão entre os piores serviços apontados pela população, que também se queixa, muito, de um tremendamente deficiente sistema de saúde pública. De tão violenta, a cidade é a única, fora a capital Rio de Janeiro, a ter uma Unidade de Polícia Pacificadora, instalada na favela Nova Holanda.

 

Campos e Macaé são apenas dois dos exemplos, certamente que os mais visíveis, mas não os únicos, de cidades que há mais de três décadas vêm recebendo quantias crescentes de dinheiro a título de royalties, mas que vêem essa fortuna ser desviada ano a ano sem que saúde, educação, cultura sejam as áreas, como orienta a legislação, prioritárias no recebimento do repasse mensal.
 
Essa dimensão do problema dos royalties precisa vir à tona nesse momento em que o proselitismo esperto do governador Cabral, de um lado, e a volúpia interessada de Garotinho, no campo oposto, voltam suas baterias contra esse recurso público. Nem um, nem outro, têm em mente o interesse público quando defendem que o Estado do Rio continue a receber o montante atual de royalties.
 

Alguém já os viu defender uma fiscalização efetiva sobre a aplicação desses recursos?

 

Isso não significa, entretanto, que a injusta legislação sobre a exploração de minérios e de hidroeletricidade, que não prevê a distribuição equânime destas riquezas entre todos os entes do território brasileiro, deva também se manter. Petróleo, minérios e hidroeletricidade não pertencem aos munícios onde aparecem e/ou são explorados. São de propriedade da União e é ela quem deve distribuir as benesses advindas de sua exploração econômica.

 

Essas são as verdadeiras questões que subjazem o debate sobre os royalties. Mas, quem está decidido a levá-las a termo?

 

Carlos Tautz é jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e 

Controle cidadão de governos e empresas

 


 

terça-feira, 19 de março de 2013

...

Ritalina e cocaína têm ação similar


daqui:

http://ritalinanempensar.blogspot.com.br/2009/04/ritalina-e-cocaina-tem-acao-similar.html

Ambas as drogas agem de forma similar em nosso cérebro



clique na imagem para ampliar



"O stimulant methylphenidate (Ritalin) has much in common with cocaine-they bind to similar sites in the brain and they both increase the brain chemical dopamine through the same molecular targets. And when both drugs are administered intravenously, they cause a rapid and large increase in dopamine.
'Traduzindo:

"O methylphenidate do estimulante (Ritalina) tem muito em comum com a cocaína, pois ligam-se em locais similares no cérebro e ambos aumentam o dopamine químico através do mesmo alvo molecular. Quando ambas as drogas são administradas de forma intravenosa, causam um aumento rápido e grande no dopamine."
Nora D. VolkowDiretora do Instituto Nacional do Abuso de Drogas (NIDA)fonte:United States Departament ofHealth e Human ServicesHeal th 27.o7 06

Estudos experimentais vinculam o abuso de cocaína com o Mal de Parkinson. Os autores da investigação demonstraram que a exposição à cocaína altera uma região do cérebro denominada substância negra.

Estas lesões tornam os neurônios mais vulneráveis a MTPT, toxina que provoca os sintomas da doença de Parkinson.

"El sistema nigroestrial es una ruta de nervios que se origina en la sustancia negra compacta y que se expande a otras partes del cerebro. Las neuronas de la sustancia negra fabrican el neurotransmisor dopamina, y la degeneración de esta zona y del sistema nigroestrial es uno de los distintivos de la enfermedad de Parkinson''
Richard Smeyne, del departamento de Neurobiología de Desarrollo del hospital St. Jude de Memphis (EE UU).

"Se sabe que la cocaína altera la función normal del transportador de dopamina, una proteína que recoge la dopamina de la sinapsis después de que haya estimulado al nervio objetivo, añade. La alteración de este proceso provoca un aumento anormal de la concentración de dopamina en la sinapsis. Esto supone una amenaza para el cerebro, ya que la dopamina puede interactuar con otros elementos químicos para convertirse en un radical libre, una molécula extremadamente reactiva que puede dañar los tejidos. Por ello, el incremento de la cantidad de dopamina en la sinapsis puede provocar concentraciones altas de radicales libres destructivos que dañan esta zona del cerebro"
Richard Smeyne, del departamento de Neurobiología de Desarrollo del hospital St. Jude de Memphis (EE UU).

Fonte: Tecnociência

segunda-feira, 18 de março de 2013

Mordaça ...


mas do nosso lado...

Que se repete nos amigos que se unem para compor sindicatos, chefias...

Do Millôr

da distância...

Antoine Josse, França

E em Portugal...


Demissão ou revolução

Demissão Já!
Nenhum governo se demite ou deve ser demitido só porque os seus adversários o exigem em todas as partes, com todas as forças e numa grande algazarra. Se assim fosse, o poder estaria sempre na boca do megafone, o que tornaria qualquer república ingovernável. Mas é verdade que a revolta não se faz em silêncio, com punhos de renda e pezinhos de lã. Faz-se sempre com estrondo, em alta voz, porque aponta para uma mudança urgente e completa, porque corresponde a um clamor pela justiça justa ou porque exprime uma sentida indignação. Mas, ainda assim, ela acontece dentro da ordem constitucional que só uma revolução terá condições para superar. No entanto, existe um limite para a legitimidade desta ordem: quando qualquer forma de poder põe em cheque a soberania popular, governando em nome do povo mas contra ele, apoiando-se no valor do voto mas subvertendo os programas com os quais esse voto foi obtido, cessa então o seu direito a mandar e a sua autoridade transforma-se em tirania.
Quando, como ontem, o principal ministro do governo PSD-CDS reconheceu publicamente a falência do programa eleitoral, assumiu como um falhanço as medidas de emergência com as quais se subverteu esse programa e declarou solenemente a hipoteca austeritarista do nosso futuro – «o ajustamento [proposto por este governo] terá de continuar durante décadas, exige o esforço de uma geração», disse Gaspar – então nada mais existe que justifique o lugar que ocupa e o ambiente de aceitação que os cidadãos podem ter em relação a quem ainda governa. Diante deste panorama, só existem então três caminhos: ou o governo se demite ou quem tem a capacidade constitucional para o fazer toma essa iniciativa. Mas eu falei de três caminhos, não falei? Pois então o terceiro deles, o que faltava, pode ser a rua a ditá-lo. Demissão rimará então com revolução. Teremos mesmo de chegar aí?
Nota: Este texto será partilhado na página Demissão do Facebook. Onde se espera que outros surjam e os leitores cliquem. Por mim, na condição dos próprios se sentirem envolvidos na iniciativa, passo o desafio ao Marco Santos, ao Miguel Cardina, ao Nuno Serra, ao Tomás Vasques e ao Zé Neves. Esta proposta, tinha-a recebido do João José Cardoso.

Francisco, o Papa


As sandálias do pescador

Quando alguém pede que declare a identidade religiosa costumo descrever-me como um ateu cristão. Não é difícil explicar o aparente paradoxo: não concebo racionalmente nem creio na existência de um Deus superior, entidade sobre-humana que não esteja apenas dentro de nós como parte de nós, e muito menos acredito nas virtudes de uma religião capaz de tomar principalmente a forma de Igreja. Prezo muito no entanto a mensagem, revolucionária à época do seu surgimento, proposta por Jesus. Admiro-a pelo que então trouxe de radicalmente novo: pela defesa da paz e da aceitação numa era marcada pela guerra e pela tirania, pelo acento no ecumenismo num tempo de ódio religioso e poder imperial, pelo reconhecimento da igualdade numa sociedade esclavagista, pela valorização da compaixão e do amor quando a ética dominante assentava na violência, pelo reconhecimento das mulheres dentro de uma sociedade acentuadamente patriarcal, pela ênfase colocada na humildade quando a soberba pontuava a conduta daqueles que se elevavam acima dos outros.
Sei, todos sabemos, que o cristianismo nem sempre foi fiel a esses grandes compromissos. Pelo contrário, muitas vezes, vezes demais, os renegou, e tantos são os cristãos, ministros ou leigos, que continuaram a fazê-lo ao longo de séculos, proclamando ao mesmo tempo uma obediência apenas formal àqueles valores. No entanto, para o bem e para o mal, o cristianismo, e em particular a mais influente e numerosa das suas Igrejas – a Católica Apostólica Romana – continua a ser o mensageiro reconhecido dessa mensagem primitiva, de esperança, igualdade e fraternidade, que Jesus um dia começou a espalhar. E por isso também conservei e conservo ao lado de uma atitude crítica, uma outra de respeito, em relação àquilo que ela continua a significar para o mundo. Mentiras, farisaísmos e fanatismos à parte
A eleição do novo papa, pelo espetáculo que sempre transporta consigo e, desta vez, pelos sinais que parece emitir, fez voltar o tema do papel e do lugar da Igreja católica aos cabeçalhos e às preocupações comuns. Alguns desses sinais – já lá iremos – remetem-me para As Sandálias do Pescador, o romance de Morris West passado para o cinema, em 1968, por Michael Anderson, com Anthony Queen (Kiril Locota) no protagonista. O enredo ficciona a partir da história verdadeira de Josyf Slipyj, um cardeal ucraniano detido no Gulag soviético que foi libertado em 1963 pela intervenção de João XXIII e de John Kennedy. O «cardeal Locota» acabará eleito papa, emergindo, num mundo complexo e que mal conhecia, como alguém, quase um sonâmbulo, que trazia para o rígido universo da Cúria Romana o lastro de solidão, sofrimento e capacidade para se solidarizar com os outros que havia aprendido nos anos de clandestinidade e cativeiro. Parte do enorme êxito do filme, algo marcado ainda pelos fantasmas da Guerra Fria, veio, na altura, dessa capacidade de pensar o impensável: uma Igreja que tinha à sua cabeça um homem normal e que, de especial, tinha apenas a missão, que lhe fora confiada, de prosseguir a caminhada um dia iniciada pelo pescador Simão, o discípulo dileto de Jesus Cristo que este rebatizou Pedro e fez bispo de Roma.
A eleição do papa argentino Francisco, parece incorporar um pouco deste filão integrado num certo imaginário universal. É verdade que, logo após a eleição, surgiram rumores sobre a eventual cumplicidade de Bergoglio com o regime assassino do General Videla. Nada comprovado, como muitos outros afiançam, embora pareça lógico que a ascensão a cardeal, e mais ainda a papa, se encontre vedada a grandes revolucionários ou a simpatizantes da Teologia da Libertação. E também será verdade, tal como acontece com a maioria dos católicos, e a maior parte da sua hierarquia, que o novo papa assumiu posições conservadoras em questões críticas para a Igreja, como a aceitação da homossexualidade e do casamento entre pessoas do mesmo sexo ou a interrupção voluntária da gravidez. Mas parece inequívoca, embora tenhamos de esperar para ter algumas certezas, uma atitude de abertura de Francisco à normalidade do mundo, um certo esforço de aproximação às pessoas comuns e sobretudo uma posição de distanciamento em relação à religiosidade cega feita de preconceitos e aparências. Que tanto tem angustiado os católicos e as católicas que possuem, da sua fé e da sua Igreja, uma perspetiva de transparência e simplicidade mais conforme à caminhada terrena de Cristo.
Tendo em conta o importante papel da Igreja católica no equilíbrio político mundial e na procura de soluções de paz, e também aquilo que ela representa, em tantas partes do mundo, como instrumento, por vezes único, de defesa da educação, da saúde e do bem-estar dos mais pobres e humildes – mesmo quando os Estados lavam as mãos dessa obrigação fundamental – esses sinais só podem ser positivos. Assim eles se expandam, mais do que em belas palavras, que também confortam, em melhores e inequívocos atos. A aplaudir, se o merecerem. Ou a denunciar, se mantiverem essa atitude de «públicas virtudes e vícios privados» que temos observado dia após dia.
Esquadros.... Adriana Calcanhoto

Ditadura, ditadores... dores...






Como disse meu amigo Sidnei Munhoz em seu facebook sobre o certidão de óbito de Vladimir Herzog:

Como postei no Face de uma amiga que compartilhou a notícia do meu post.... Uns dizem que a dita foi branda, outros falam apenas em ditadura militar, mas se esquecem que foi uma ditadura civil-militar, pois capitalistas brasileiros e do exterior financiaram os golpistas.... Instituições como o Ipes e o Ibad estavam cheias de intelectuais e jornalistas e a imprensa reproduzia o que eles produziam.... 

Estadão, Folha, O Globo, e centenas de outros veículos participaram da construção do cenário político que propiciou o golpe.... 


Recomendo a leitura da Denise Assis "Propaganda e cinema a serviço do golpe" . É muito interessante, pois nos anexos há muitas notas fiscais e os nomes de quem financiou..... 


Nos anos duros, os carros da Folha foram usados por torturadores.... nada disso é para ser esquecido, apagado da memória..

quinta-feira, 14 de março de 2013

Ritalina, a cocaína das crianças...

O DOPING DAS CRIANÇAS
 
Via facebook
 

 O que o aumento do consumo da “droga da obediência”, usada para o tratamento do chamado Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, revela sobre a medicalização da educação?

http://migre.me/dBl4N

... Um estudo divulgado na semana passada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) deveria ter disparado um alarme dentro das casas e das escolas – e aberto um grande debate no país. A pesquisa mostra que, entre 2009 e 2011, o consumo do metilfenidato, medicamento comercializado no Brasil com os nomes Ritalina e Concerta, aumentou 75% entre crianças e adolescentes na faixa dos 6 aos 16 anos. A droga é usada para combater uma patologia controversa chamada de TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. A pesquisa detectou ainda uma variação perturbadora no consumo do remédio: aumenta no segundo semestre do ano e diminui no período das férias escolares. Isso significa que há uma relação direta entre a escola e o uso de uma droga tarja preta, com atuação sobre o sistema nervoso central e criação de dependência física e psíquica. Uma observação: o metilfenidato é conhecido como “a droga da obediência”.


~ Imagem Fonte: http://4.bp.blogspot.com/
Ver mais

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Pesquisa com P maiúsculo...

quarta-feira, 13 de março de 2013

Jornal da Unicamp  do Blog de Roberto Romano

Campinas, 11 de março de 2013 a 17 de março de 2013 – ANO 2013 – Nº 553

Extrato da casca da jabuticaba
prolonga a vida de probióticos

Composto com ação antioxidante foi empregado
em produtos como queijos e iogurtes

Pesquisadores da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp obtiveram um extrato natural a partir da casca da jabuticaba, fruta nativa e abundante no país, bastante cultivada em pomares domésticos. O composto bioativo foi utilizado em alimentos com probióticos, como queijos petit suisse e iogurtes, desenvolvidos especificamente para o estudo. A utilização do extrato da jabuticaba nestes produtos possibilitou dois benefícios: aumento da sobrevida dos microrganismos probióticos e ação antioxidante natural, benéfica para a saúde.

Alimentos com probióticos são aqueles que possuem organismos vivos capazes de ajudar a manter o equilíbrio intestinal quando consumidos adequadamente. Entre os principais produtos, também considerados funcionais, estão alguns tipos de queijos, iogurtes e bebidas lácteas. Já os alimentos com função antioxidante natural retardam a formação de radicais livres no organismo, que podem causar o envelhecimento precoce e doenças degenerativas.

O estudo, de caráter interdisciplinar, foi desenvolvido pelos pesquisadores Rodrigo Nunes Cavalcanti e Adriano Gomes Cruz nos laboratórios de Separação Física (Lasefi) e de Embalagem e Estabilidade de Alimentos. A investigação foi orientada pelos docentes Maria Angela de Almeida Meireles, do Departamento de Engenharia de Alimentos, e José Assis Fonseca Faria, do Departamento de Tecnologia de Alimentos. A pesquisa foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

“Utilizamos uma tecnologia ecologicamente correta para obtermos este composto bioativo. Além disso, estamos apresentando um produto natural de alta qualidade e com duplo benefício à saúde por ter propriedade funcional e antioxidante”, destaca o engenheiro de alimentos Rodrigo Nunes Cavalcanti. Coube a ele a extração do composto a partir do resíduo da geleia da jabuticaba, processo que foi orientado pela professora Maria Angela Meireles.

“O diferencial em relação aos produtos convencionais é que, utilizando um resíduo da indústria de alimentos, obtivemos um extrato que prolonga a vida do microrganismo. Adicionalmente, ele oferece o benefício de ser um agente antioxidante, propriedade da casca da jabuticaba. Todos os elementos bioativos importantes para a ação antioxidante ficam retidos na casca, que antes era descartada”, reforça a docente da Unicamp.

Naturais x sintéticos

A indústria alimentícia faz largo uso de antioxidantes sintéticos para aumentar a vida útil dos seus produtos, explica Maria Angela Meireles. Só que, ao contrário dos naturais, eles podem estar associados a malefícios à saúde.

O composto, ainda de acordo com ela, não interfere no sabor nem na cor original do iogurte ou do queijo petit suisse, características próprias de um bom antioxidante. “Se o extrato for adicionado no iogurte ou no queijo, eles não vão ficar com sabor de jabuticaba. Utilizamos uma quantidade bastante pequena justamente para não interferir nisso”, justifica a docente.

Maria Angela Meireles explicou também que o pesquisador Adriano Cruz, sob a coordenação do docente José Fonseca Faria, produziu um lote de iogurte e queijo para testes. Eles conduziram toda a análise sobre a interação do extrato com os probióticos.

Tanto no petit suisse como no iogurte foram utilizados dois tipos de microrganismos probióticos, o Lactobacillus acidophillus e o Bifidobacterium longum. Estes microrganismos atuam na restauração da flora intestinal e vêm sendo muito empregados em produtos funcionais.

O engenheiro químico Adriano Cruz informa que é necessária uma determinada quantidade na porção do produto para que existam benefícios à saúde. O problema, no entanto, é que a presença de oxigênio se constitui em fator prejudicial à existência destes microrganismos, observa o pesquisador.
“Eles possuem metabolismo anaeróbio ou microaerofílico. E o processo de fabricação do iogurte e queijo petit suisse envolve uma etapa de incorporação de ar. Este oxigênio que entra no produto pode, portanto, ser prejudicial à vida dos microrganismos. Ocorre o chamado estresse oxidativo”, esclarece. Ainda de acordo com Adriano Cruz, o extrato da jabuticaba foi adicionado nos dois produtos, sendo realizado um monitoramento das contagens de ambos os microrganismos ao longo de 28 dias.

Outras substâncias tradicionalmente utilizadas para minimizar o estresse oxidativo também foram utilizadas para comparar os resultados com o extrato da jabuticaba. Para esta verificação foram empregadas a cisteína, o ácido ascórbico e a glucose oxidase. “O extrato de jabuticaba apresentou desempenho superior a todas estas substâncias”, revela o engenheiro químico.

Situações

Os resultados da interação dos probióticos com o queijo e o iogurte se mostraram mais favoráveis em duas situações: o extrato foi eficiente para prolongar a vida do Bifidobacterium no iogurte e do Lactobacillus no petit suisse.

“O objetivo da utilização do bioativo foi manter os microrganismos vivos por mais tempo para que, quando o produto for ingerido, ele tenha a sua ação desejada”, complementa Maria Angela Meireles. Nestas duas situações o extrato manteve os microrganismos vivos durante 30 dias, tempo considerado apropriado para estes tipos de alimentos.

Processos limpos

A obtenção do composto da casca da jabuticaba foi realizada por meio de dois processos considerados ‘limpos’: a extração com fluido supercrítico e com líquido pressurizado. A técnica com fluido supercrítico consiste na utilização do dióxido de carbono (CO2) que em alta pressão se transforma em solvente.

Em alta pressão, o CO2 atinge densidade próxima de um líquido, o que facilita a extração dos compostos bioativos da matriz vegetal, no caso o resíduo da jabuticaba. “A extração por fluido supercrítico é geralmente mais rápida que a extração líquida e quando se usa o dióxido de carbono como solvente, muito mais ecológica”, pontua o pesquisador Rodrigo Nunes Cavalcanti.

Etanol e água também foram empregados em pequenas quantidades como solventes, em complemento à extração supercrítica. Este processo é conhecido como Extração com Líquido Pressurizado (PLE, do termo em inglês pressurized liquid extraction).

Além do benefício ecológico do uso do dióxido de carbono, os processos permitem que os compostos extraídos fiquem livres de resíduos e solventes tóxicos. Os métodos convencionais fazem a extração sob baixa pressão utilizando grandes quantidades de solventes, deixando possíveis toxinas nos alimentos.

“O resíduo secundário da extração ainda é, posteriormente, tratado no laboratório por meio de um processo que nós chamamos de hidrólise ou hidrotermólise. Deste modo, o resíduo da casca da jabuticaba pode ser empregado como matéria-prima em várias outras aplicações, como por exemplo, na produção de etanol de segunda geração”, ilustra a docente da Unicamp.

A matéria-prima utilizada no estudo foi obtida na centenária fazenda Santa Maria, localizada no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas. A fazenda é conhecida pela tradicional colheita de jabuticabas e pela produção de geleias. A pesquisa utilizou resíduos da jabuticaba oriundos da produção do doce da fruta.

Publicações

Doutorado: Extração de Antocianinas de Resíduo de Jabuticaba (Myrciaria cauliflora) utilizando líquido pressurizado e fluido
Autor: Rodrigo Nunes Calvacanti
Orientadora: Maria Angela de Almeida Meireles
Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
Pós-doutorado: Aplicação da Análise de Sobrevida para minimização do estresse oxidativo em iogurte probiótico
Autor: Adriano Gomes Cruz
Orientador: José Assis Fonseca Faria
Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
Financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Novo papa

quinta-feira, 14 de março de 2013


ROBERTO ROMANO:

Programa Faixa Livre. Em minha entrevista falo da Igreja, da repressão na Argentina, das mulheres batidas, etc.

Você está Ouvindo: Programa 14-03-2013
Programa Completo:
Ouvir Programa Programa 14-03-2013 (Áudio será postado posteriomente) - Faixa Livre
Tema: Íntegra
Duração: 118 minutos
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Apresentador:
Ouvir Programa Paulo Passarinho - Apresentador
Tema: Comentário
Duração: 07 minutos
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Entrevistados:
Ouvir Programa Jose Nilton - Condsef
Tema: Luta dos trabalhadores em estatais ? GEAP
Duração: 13 minutos
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Ouvir Programa Roberto Romano - Professor de Ética e Filosofia da Unicamp
Tema: Novo Papa
Duração: 25 minutos
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Ouvir Programa Silvio Sinedino - Presidente da AEPET
Tema: Leilão e royaltie
Duração: 18 minutos
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Ouvir Programa Robson Leite (Áudio será postado posteriomente) - Deputado estadual do PT- RJ
Tema: CPI ensino particular
Duração: 11 minutos
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domingo, 10 de março de 2013


 

Professor Roberto Romano:

Gratíssima!  

 

sexta-feira, 8 de março de 2013


Sobre números e não homens...



Sobre números e cansaço provocados pelo panaptico da CAPES e sua arrogância. Concordo com o autor do texto que posto aqui. Mas, discordo quando louvamos nosso cansaço.

A Capes faz, hoje, o papel do panoptico. Impõe uma universidade disciplinada pela produção dos últimos três anos ( o resto você joga fora) e fica olhando se os intelectuais obedecem. 
 
"dentro da máquina panóptica, investidos por efeitos de poder que nós mesmos passamos adiante, que somos parte de sua engrenagem" (Michel Foucault).
 
E lembremos que a concepção de ciência da capes é estranha à vida. A árvore da ciência não é a árvore da vida.


DE gILVAN HANSEN (BLOG: www.gilvanhansen.blogspot.com.br)
 
 
sábado, 9 de março de 2013

A VIDA EM NÚMEROS OU AS RAZÕES DO MEU CANSAÇO

 

Desde o início do mês de março, com os prazos institucionais se esgotando, tive de preencher o Currículo Lattes, do CNPq, e a partir dele o Relatório de Atividades Docentes (RAD), instrumento administrativo utilizado para aferir se um docente efetivamente trabalhou no ano anterior, uma espécie de Imposto de Renda Pessoa Física das atividades acadêmicas.

Ao preencher tais instrumentos de controle, fui forçado a juntar os comprovantes das atividades guardados nas estantes e gavetas. E somente assim pude me aperceber das razões pelas quais me encontro com tamanho cansaço.

No RAD são previstas 3120 horas de atividades; quando você ultrapassa esse total o sistema não aceita a inserção dos dados. Extrapolei isso em 2012 em mais de 200 horas, segundo os critérios institucionais.

Todavia, pressupondo que tivéssemos produzido as horas estabelecidas como teto no sistema informatizado, isso significa que há uma previsão média de 8,5 horas diárias de trabalho; e se considerarmos apenas 30 dias de férias, esta carga sobe para 9,3 horas diárias.

Como é possível isso? Simples: basta sacrificar sábados, domingos, feriados, férias, lazer, exercícios físicos. É o que acabei fazendo para dar conta das atividades e compromissos assumidos (Bancas, orientações de graduação, mestrado, doutorado, iniciação científica, eventos a organizar e a participar, publicações, aulas, etc.).

E o resultado disso é compensador?

Sob o ponto de vista funcional, não! – recebemos a mesma remuneração de quem faz muito menos.

Sob o ponto de vista físico, não! – ficamos um bagaço humano, estressados, cansados, estafados física e mentalmente.

Sob o ponto de vista do relacionamento humano, sim! – poder participar da vida das pessoas e dos momentos importantes para elas (uma Banca Examinadora, por exemplo); poder auxiliar na caminhada nem sempre clara ou facilmente vislumbrada pelo orientando (numa orientação de Iniciação Científica, Monitoria, TCC, Dissertação ou Tese); poder chegar até as pessoas e dividir com elas a compreensão de determinados problemas sociais sob uma perspectiva crítica (num livro, capítulo de livro ou artigo; numa aula, palestra ou curso de extensão); poder estar com os colegas e aprender com eles, na cúmplice troca de idéias dos Grupos de Pesquisa. Isso tudo é que acaba por tornar compensador tamanho esforço.

Os dados de 2012 (04 Grupos de Pesquisa; apresentação de trabalhos em eventos nacionais e internacionais; oito disciplinas na Graduação; oito disciplinas na Pós-Graduação; dois livros organizados e publicados; cinco capítulos de livro; um prefácio de livro; um artigo em periódico Qualis; seis orientações de doutorandos; onze orientações de mestrandos; uma orientação de graduando de Iniciação Científica; cinco orientações defendidas; vinte e duas bancas de Mestrado e de Doutorado) retratam o tamanho do meu cansaço.

Entretanto, estes números dizem muito mais que isso, pois revelam a alegria de alguém que se sente realizado naquilo que faz e que está disposto a continuar fazendo o que gosta.

Portanto, grato àqueles e àquelas com quem pude trabalhar em 2012. E continuem contando comigo em 2013, pois quando eu aposentar ou “cantar prá subir” (rssss), aí haverá tempo suficiente para o devido descanso! But not now, not yet!!!

 

PASTORES DO MERCADO...

do blog de ROBERTO ROMANO:

Correio Braziliense. Que novidade, Santo Deus! É o primeiro e único, no Congresso, a usar o mandato em benefício próprio. Seus pares deveriam cassar o mandato do infiel, para manter a pureza ética da casa ! Roque, eis aí um motivo para charge.



Marco Feliciano usa mandato em benefício de suas empresas e igreja


Marco Feliciano utiliza a cota parlamentar em atividades ligadas às suas empresas e emprega pastores da congregação dele


Helena Mader
Publicação: 09/03/2013 06:09 Atualização:

 (Bruno Peres/CB/D.A Press - 7/3/13)


O deputado e pastor Marco Feliciano (PSC-SP), que esta semana assumiu a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) em meio a uma saraivada de críticas, usou o mandato parlamentar em benefício de suas empresas e das atividades de sua igreja. Além de destinar verbas públicas para seus negócios particulares, ele paga salário a um funcionário fantasma, que na verdade trabalha em um escritório de advocacia de Guarulhos. Essa firma recebeu R$ 35 mil da cota parlamentar do deputado desde que ele tomou posse. Feliciano também repassou recursos públicos ao escritório de outro advogado, que o defendeu em um processo eleitoral às vésperas do pleito. O gabinete 254, no Anexo 4 da Câmara, é quase uma filial da Assembleia de Deus Catedral do Avivamento: o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias emprega cinco pastores da congregação que ele preside, e ainda cantores de música gospel que trabalharam na gravação de seu CD. Além de deputado, pastor e empresário, Feliciano também é músico.

Personalidade de sucesso no mundo gospel, e requisitado para palestras e pregações em todo o país, o parlamentar é dono de dois negócios: a Marco Feliciano Empreendimentos Culturais e Eventos Ltda. e a Tempo de Avivamento Empreendimentos Ltda. Em 2008, a primeira empresa foi contratada pela Nettus Criação de Eventos, uma firma gaúcha, para que o pastor se apresentasse em São Gabriel, no Rio Grande do Sul. Ele seria a grande estrela da festa, que reuniu ainda cantores e outros pastores evangélicos. A empresa contratante repassou o dinheiro a Feliciano, mas ele não compareceu. Os representantes da Nettus recorreram à Justiça e o processo se arrasta até hoje na 2ª Vara Cível da Comarca de São Gabriel. Os donos da empresa lesada pedem R$ 950 mil de indenização.

terça-feira, 5 de março de 2013

...

Enviado pelo amigo virtual Grozny Arruda
Grata!
 
Vera Malaguti: A barbárie do capital e suas táticas de perpetuação
por João Castro  -  27.2.13
 
A dominação imperialista em nosso país “além de desmanchar o Estado previdenciário, investe no Estado penal. Aquele pessoal que deixa de ser assistido socialmente, passa a ser assistido na prisão”. Essa é a opinião de Vera Malaguti Batista, socióloga, doutora em Medicina Social pelo Instituto de Medicina Social (UERJ) e secretária geral do Instituto Carioca de Criminologia (ICC) [1]. Numa entrevista à AND, ela falou de criminalidade, segurança pública, sistema penal, meios de comunicação, entre outros temas, sempre com uma visão crítica a respeito do que ela chama de “barbárie”, principalmente em termos da violência e criminalização da pobreza.
 
Há quem diga que a civilização ocidental vive um momento de progresso e civilidade frente ao passado vergonhoso de guerras, epidemias e ignorância. Ainda podemos ouvir as vozes insistentes dos arautos do livre mercado argumentando que o mundo globalizado traz em si “coisas boas” como “cidadania”, “direitos humanos”, “liberdade”. Todos estes termos são, na verdade, usados pelo imperialismo para por em prática o seu contrário: exploração, espoliação, escravização e opressão de uma parcela cada vez maior da população dos países semi-coloniais, como o Brasil.
 
Criminalidade: mal maior?
 
A criminalidade não deve ser defendida, sob qualquer pretexto. Contudo, nota-se que ela vem sendo tendenciosamente apresentada como sendo “a grande violência”, ou o aspecto principal desta. Os discursos — tanto de direita quanto da esquerda oportunista — socam com vigor a superfície do problema, não chegando sequer a dar um leve sopro na face da profunda violência cometida pelo sistema capitalista contra o povo.
 
— Esse é o assunto principal da gente — conta Vera Malaguti — O neoliberalismo, além de desmanchar o Estado previdenciário (o welfare state), investe no Estado penal. Aquele pessoal que deixa de ser assistido socialmente, passa a ser assistido na prisão. O neoliberalismo cria a violência e cria a criminalização da pobreza. O cara resolve ser camelô, por exemplo, porque não tem emprego. Um problema social do trabalho que o discurso neoliberal — incorporado, por exemplo, pelo César Maia — vai dizer que é “crime organizado”.
 
Ela prossegue:
 
— A gente diz que essa fase do capitalismo é extremamente violenta. E principalmente na periferia do capitalismo produz violência, barbárie e criminalização. Então você pega o menino que está soltando foguete e classifica como “traficante”. A partir daí, ele vai passar por um processo de brutalização que, no final, ele realmente torna-se uma “pessoa irrecuperável”.
 
Toda a criminalização da pobreza gera miséria para as massas e lucros para as classes dominantes. Segundo Vera, o medo produzido pela indústria do crime permite a comercialização de uma enorme gama de produtos: sistemas de escuta, radares para automóveis, alarmes para as mansões dos magnatas... Acuada, a classe média endossa a repressão aos pobres. E o sistema se aproveita disso — e vem se aproveitando há séculos — para combater os movimentos populares. Vera comenta:
 
— Na periferia do capitalismo — com toda a herança da escravidão, com a reforma agrária que nunca foi feita, com pouquíssimo Estado previdenciário — a precariedade do trabalho é maior. Tudo numa perspectiva de criminalizar tudo. Criminalizam, por exemplo, o movimento dos sem-teto: seus integrantes recebem depois algum rótulo, como o de “traficantes”. Uma coisa que tem que ficar claro é o seguinte: não é que a pobreza produza criminalidade; a pobreza é criminalizada. A estratégia de sobrevivência do pobre é criminalizada. Quer dizer: tudo é crime, menos entregar para o FMI o superávit primário da nação inteira. O medo mantém o controle social truculento mantendo a classe média com medo, para que ela não reflita sobre as razões.
 
Em sua análise, Vera não deixa de enfatizar o caráter de classe da repressão do Estado: — No meu livro [2], eu pego alguns processos de adolescentes envolvidos com droga e mostro que o problema em si não é a droga, é o tipo de adolescente. Se um menino de classe média for pego com a mesma quantidade de um da favela, vai ter um destino e um discurso. O problema é o menino. Poderiam dizer: “Estamos com problema de drogas. Então, vamos investir muito em saúde pública”. Mas não... Uma guerra é que vai criar uma disciplina do medo, a polícia vai matar mais pobres e a classe média vai aplaudir. Vai criar uma estrutura de campo de concentração na periferia. A periferia hoje tem toque de recolher. A maneira de ela se movimentar lembra um campo de concentração. Sobre a questão das drogas, ela continua:
 
— Estou trabalhando com o tema “drogas” há dez anos e estou notando que as bocas (locais de venda de droga) estão empobrecidas, porque não tem muito mais aquela coisa de ir no morro comprar droga. Hoje há toda a rede de “estica” que leva em casa.
 
Os ardis do monopólio dos meios de comunicação
 
Podem-se ler (ou ver), todos os dias, notícias sobre crimes, assassinatos, seqüestros. No monopólio dos meios de comunicação, toda a culpa pelos tormentos sofridos pela população recai sobre a tal criminalidade. O pânico, institucionalizado, prepara o terreno para um “clima de guerra”: moeda legitimadora da ação repressiva.
 
— A televisão hoje é a grande protagonista da questão penal — argumenta Vera — É só olhar o Jornal Nacional. Os meios de comunicação pautam a polícia hoje. Eles criam a demanda por repressão e a legitimação dos excessos. Você apresenta, por exemplo, três matérias com o Fernandinho Beira-Mar e depois entra na favela matando dez pessoas. De vez em quando, tem de botar um colarinho branco na fogueira para legitimar o sistema penal. Em São Paulo, eu vi que estavam fazendo cerca de mil prisões semanais. Como o sistema penal vai dar conta disso? A mídia é fundamental para manter esse consenso.
 
A situação carcerária é outro ponto fundamental para os estudos do ICC. De acordo com Vera Malaguti, o Estado penal serve de depósito de parte da massa desassistida pelo desmonte do estado previdenciário. Aqueles que se levantam contra todo o sistema de exploração são devidamente criminalizados.
 
— É o conceito de barbárie — diz Vera — A produção de barbárie vai fazer [Hernán] Cortéz e a conquista da América parecerem brincadeira. Com esse negócio de Estado penal, a ascensão da população penal é impressionante. E, além disso, você cria a lei de crimes hediondos, que sempre acaba caindo sobre as populações mais pobres. A prisão é uma máquina de diferenciar ilegalidades: ilegalidade dos pobres vai para a prisão, ilegalidade dos ricos vai para a terapia, penas alternativas... Criou-se uma superpopulação penitenciária e tudo quanto é direito para os presos as pessoas acham absurdo. As pessoas tem uma visão de prisão como sendo quase uma masmorra inquisitorial. Aí vai se criando dentro da prisão um ambiente de barbarização.
 
O vazio discurso da falsa esquerda
 
De acordo com Vera, a recente conjuntura eleitoral — com a eleição de Luís Inácio, principalmente — trouxe à tona uma unidade de discurso nas plataformas penais dos candidatos da direita e da esquerda oportunista. Como sempre, ninguém ousou ir mais fundo no problema da violência, identificando a exploração capitalista como grande causa de nossos males. Em alguns dos governos desta “esquerda”, a despeito de todo discurso de “respeito aos direitos humanos”, matou-se muito, conforme aludiu Vera Malaguti:
 
A polícia está matando 1.200 garotos por ano, no Rio de Janeiro. No governo Benedita [da Silva] passou de 450 para 900. E com a entrada de Garotinho e Rosinha, explodiu para 1.200. Ninguém diz: “Temos de mudar o modelo econômico”. Pelo contrário, isso serve para todo mundo ficar dizendo: “Não tem polícia”, “A polícia é corrupta”. E não tem conversa: nesse atual modelo, vai aumentar a insegurança, a barbárie.
 
Ela continua:
 
— Escrevi um artigo chamado A estrela da morte, que saiu no Jornal do Brasil. Eu falava do PT, do final do governo de Benedita. E tinha o Luis Carlos Soares, com todo aquele discurso sociológico, delegacia legal... E a polícia estava matando mais do que nos tempos do general Newton Cerqueira! Aí vem o discurso da “impunidade”, que a gente chama da “esquerda punitiva”: “Ah, o problema é impunidade”. Como se num capitalismo desses pudesse haver justiça social no sistema penal. Aí você vê um monte de “xerifes” surgindo: Denise Frossard, deputada mais votada no Rio de Janeiro, por exemplo.
 
E Vera fala de outros “xerifes”, tão espetacularizados quanto aqueles produzidos pelo cinema ianque: — O poder mais assustador para mim que está surgindo é a santificação do Ministério Público. Eu até pergunto para os juristas de onde vem a “unção” do Ministério Público: estudou na mesma faculdade do delegado, do defensor público, do juiz... É um pouco a coisa de a gente reproduzir os esteriótipos inquisitoriais de nossas matrizes ibéricas, de olhar o crime com um olhar moral. Não é assim: “O criminoso é quem eu determinei na lei”. E ponto. Não que o criminoso seja mal. No entanto, hoje quem combate o crime é o portador da virtude no discurso moral. Outro dia eu vi na TV uma promotora de arma na mão. É a nova polícia! Prestem atenção no Ministério Público. Há uma disputa pelo poder de polícia.
 
E falando de xerifes e de cinema... Não é de surpreender que as elites, também em questão de segurança, espelhem-se no modelo ianques.
 
— Há cada vez mais a coisa espetacular, o policial vai com a televisão, bota aquele gorro. Tudo baseado no modelo americano. Nossa política criminal de drogas segue o modelo ianque. Na Europa é diferente, no Irã é diferente... No Afeganistão, os Talibãs tinham acabado com a produção de ópio; com a invasão do USA, ela voltou. Há uma produção cultural para sacralizar o FBI. E eles investem muito em trocas de informação.
 
Viva Rio, “direitos humanos”, “cidadania”...
 
Embaladas pelo discurso dos meios de comunicação, a classe média pede paz quando sente a violência morder seus calcanhares. Enquanto matarem somente os “favelados”, tudo bem. Mas quando meninos ou meninas bem nascidos sofrem uma violência, organizam passeatas, clamam pelo desarmamento, ouriçam suas ONGs. E tudo continua na mesma.
 
— Movimentos como o Viva Rio, para mim, não têm nenhuma eficácia no combate à violência — critica Vera— Talvez só pelo fato de que algumas ONGs vão ganhar um monte de dinheiro, que vai estar ligado a um sistema de publicidade que também vai ganhar muito dinheiro... Igual à campanha de Paz: cada vez que as elites fazem passeata pela paz, pode esperar que se vai matar no morro. A paz no Iraque que me interessa, por exemplo, é quando as milícias ganharem dos USA. Não haverá paz para a classe média numa sociedade de classes nessa fase violentíssima do capitalismo.
 
A secretária do ICC se mostra bastante crítica diante da banalização de conceitos como “direitos humanos” e “cidadania”.
 
— Agora tudo é cidadania (eu chamo de “ciladania”). Cachorro fazer cocô na rua é cidadania! Cidadania, para mim, é protagonismo, poder. Tem um livro de um italiano que destrói esse conceito do direito liberal. Direito é força. Ele pega uma correspondência entre o jurista Karl Schmidt (que depois virou nazista) e Walter Benjamin. Eles diziam que direito é poder. Já a luta pelos direitos humanos na América Latina era uma coisa que tinha a ver com o momento da ditadura. Hoje em dia você tem uma proliferação de discursos sobre direitos humanos, mas quanto mais se fala disso mais se mata. É um paradoxo do âmago do liberalismo. O discurso dos direitos humanos escorre pelas mãos porque o sistema é barbárie.
 
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[1] Vera Malaguti Batista fala um pouco do ICC: “É um instituto para pensar na “questão criminal”. Foi feito quando a gente saiu do segundo governo Brizola, em 1994, que foi um momento muito emblemático. Nós fomos derrotados pela “questão criminal”, mas também era muito importante neutralizar aquela força política que era o Brizola. Foi o ano que o conservadorismo entrou no Rio de Janeiro. Aí a gente resolveu parar para pensar. Presidido pelo Nilo Batista, temos um mestrado na Universidade Cândido Mendes, uma linha de publicações e promovemos seminários”.
 
[2] BATISTA, Vera Malaguti. Difíceis ganhos fáceis: Drogas e Juventude Pobre no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Revan, s/d.