29/04/2013-03h40
DO BLOG DE ROBERTO ROMANO
Crise faz com que crianças passem fome na Grécia
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LIZ ALDERMAN
DO "NEW YORK TIMES"
DO "NEW YORK TIMES"
ATENAS - Como diretor de uma escola primária, Leonidas Nikas está vendo o que ele pensava que fosse impossível acontecer na Grécia: crianças procurando comida nas latas de lixo, jovens necessitados pedindo sobras de comida aos colegas e um menino de 11 anos, Pantelis Petrakis, com o corpo crispado pela fome.
"Ele não tinha comido quase nada em casa", disse Nikas, sentado em seu escritório perto do porto de Pireus, um subúrbio da classe trabalhadora em Atenas. Ele consultou os pais de Pantelis, que disseram que não conseguem trabalho há meses.
Sua poupança acabou e eles estão vivendo de macarrão com ketchup. "Nem em meus sonhos mais loucos eu esperava ver a situação em que estamos", disse Nikas. "Chegamos a um ponto em que as crianças da Grécia vêm para a escola famintas. Hoje as famílias têm dificuldade não apenas para encontrar emprego, mas para sobreviver."
A economia grega encolheu 20% nos últimos cinco anos. O índice de desemprego supera 27%, o mais alto da Europa, e seis em cada dez pessoas que buscam emprego dizem que não trabalham há mais de um ano. Essas estatísticas estão reformulando a vida das famílias gregas. As crianças chegam em número cada vez maior às escolas famintas, subalimentadas ou até desnutridas, segundo grupos privados e o governo.
The New York Times | ||||
A geladeira quase vazia de Michalis Petrakis; a fome na Grécia está aumentando |
Estima-se que 10% dos estudantes gregos da escola básica e média, no ano passado, tenham sofrido o que os profissionais de saúde pública chamam de "insegurança alimentar", o que significa que eles enfrentaram a fome ou o risco dela, segundo a doutora Athena Linos, da Prolepsis, um grupo não governamental de saúde pública.
"Quando se trata de insegurança alimentar, a Grécia hoje caiu ao nível de alguns países africanos", disse. Os estudantes gregos trazem sua própria comida ou compram produtos em uma cantina. O custo se tornou impraticável para alguns. "Ao meu redor eu ouço crianças dizendo: 'Meus pais não têm dinheiro. Não sabemos o que vamos fazer'", disse Evangelia Karakaxa, 15, aluna do colégio Número 9 em Acharnes.
Acharnes fervia com atividades ligadas às importações até que a crise econômica eliminou milhares de empregos no setor. "Nossos sonhos foram esmagados", acrescentou Evangelia.
"Eles dizem que quando você se afoga sua vida passa em um 'flash' diante de seus olhos. Minha sensação é de que na Grécia estamos nos afogando em terra seca."
Alexandra Perri, que trabalha na escola, disse que pelo menos 60 dos 280 alunos sofrem de desnutrição. "Há um ano, não era assim", disse. "O que é assustador é a velocidade com que isso está acontecendo."
O governo reconheceu que precisa enfrentar a questão da desnutrição nas escolas. Nikas disse que sabe que o governo está trabalhando para consertar a economia. Agora que acabou a conversa sobre a Grécia sair da zona do euro, as coisas parecem melhores, ao menos para o mundo exterior.
"Mas diga isso à família de Pantelis", disse Nikas. "Ela não sente melhoras em sua vida."
Themelina Petrakis, a mãe de Pantelis, abriu sua geladeira. Lá dentro havia ketchup e outros condimentos, um pouco de macarrão e sobras de uma refeição que ela ganhou da prefeitura.
Seu marido, Michalis, 41, foi demitido em dezembro. Ela disse que a companhia em que ele trabalhava não pagou seu salário durante cinco meses antes da demissão e que, em fevereiro, eles ficaram sem dinheiro. Quando a fome chega, Petrakis tem uma solução.
"É simples", disse ela. "Você sente fome, fica tonto e dorme."
Um relatório da Unicef de 2012 mostrou que, entre as famílias gregas mais pobres com crianças, mais de 26% tinham uma "dieta economicamente fraca".
No ano passado, a Prolepsis começou a fornecer sanduíches, frutas e leite em 34 escolas públicas onde mais da metade das 6.400 famílias participantes diziam sentir "fome média a grave". Financiada por uma verba de US$ 8 milhões da Fundação Stavros Niarchos, uma organização filantrópica internacional, o programa foi expandido neste ano para atender 20 mil crianças.
Konstantinos Arvanitopoulos, o ministro da Educação da Grécia, disse que o governo conseguiu financiamento da União Europeia para fornecer frutas e leite nas escolas e cupons para pão e queijo. Também está trabalhando com a Igreja Ortodoxa Grega para fornecer milhares de pacotes de ajuda.
Mas Nikas está revoltado com o que ele considera uma ampla negligência da Europa pelos problemas da Grécia.
Ele disse: "A menos que a União Europeia aja como essa escola, onde as famílias ajudam outras famílias porque somos uma grande família, estaremos acabados".
Colaborou Dimitris Bounias
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