Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

domingo, 30 de junho de 2013

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do Blog de Roberto Romano

O Globo, 30/06/2013

Historiador afirma que Hollywood colaborou com o nazismo

  • Estúdios teriam cortado cenas e de personagens judeus, para conseguir entrar no mercado alemão
Do New York Times
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Denúncia: O historiador Ben Urwand fez pesquisa em documentos antes de concluir que estúdios encobriram relação com Hitler
Foto: Charlie Mahoney/The New York Times
Denúncia: O historiador Ben Urwand fez pesquisa em documentos antes de concluir que estúdios encobriram relação com Hitler Charlie Mahoney/The New York Times 
A lista de instituições e indústrias acusadas de encobrir suas ligações com o Terceiro Reich é longa, e inclui governos, o Vaticano, bancos suíços e grandes corporações americanas, como a IBM, a General Motors e a DuPont. Agora, um jovem historiador australiano quer adicionar um nome mais glamouroso à lista: Hollywood.

Em “The collaboration: Hollywood’s pact with Hitler” (“A colaboração: O pacto de Hollywood com Hitler”, em tradução livre), Ben Urwand inspira-se em um conjunto de documentos para argumentar que os estúdios de Hollywood, num esforço para proteger o mercado alemão para seus filmes, não só se submeteram à censura nazista como também cooperaram ativa e entusiasmadamente com o esforço global de propaganda do regime.

— Nos anos 1930, Hollywood não colaborou apenas com a Alemanha nazista, mas também com Adolf Hitler — afirma Urwand em entrevista por telefone, de Cambridge, Massachusetts, onde leciona na prestigiosa Society of Fellows da Universidade de Harvard.

Pesquisa causa agitação no meio'

O livro de Urwand, que sairá em outubro pela Harvard University Press, foi lido por poucos acadêmicos. Mas sua pesquisa, que foi compilada neste mês na revista eletrônica “Tablet”, já está causando uma certa agitação.

— Estou ansiosa para ler. Acho de tirar o fôlego a audácia que essa história está tentando contar — diz Deborah Lipstadt, historiadora da Universidade de Emory especializada no Holocausto.
Outros estudiosos familiarizados com o período, porém, questionam tanto a originalidade quanto a inclinação do livro. Começando pelo título:

— A palavra “colaboração”, nesse contexto, é uma difamação — observa Thomas P. Doherty, historiador da Universidade de Brandeis, autor do recente “Hollywood and Hitler: 1933-1939”. — Usa-se esta palavra para descrever o governo de Vichy. (O produtor americano) Louis B. Mayer era um avarento, mas não é o equivalente moral a Vidkun Quisling (oficial do exército norueguês que colaborou com os alemães na ocupação de seu país e virou sinônimo para traidor).

A interferência do governo alemão na indústria de filmes americana, durante a era de ouro de Hollywood, há muito tempo é conhecida por historiadores de cinema e foi relatada pela imprensa americana da época. “O longo braço de Hitler se estende até os estúdios de Hollywood”, diz uma manchete da (hoje extinta) revista “Newsweek”, de 1937.

Mas Urwand, de 35 anos, oferece a mais provocadora versão até agora, mergulhando em arquivos alemães e americanos para argumentar que a relação entre Hollywood e o Terceiro Reich foi muito mais profunda — e durou muito mais — do que qualquer acadêmico já sugeriu. Página após página, ele mostra chefões do estúdio, muitos deles imigrantes judeus, cortando filmes cena por cena para agradar oficiais nazistas; produzindo material que poderia ser discretamente reutilizado em filmes de propaganda nazista; e, segundo um documento, ajudando a financiar a fabricação de armamento alemão.

Mesmo Jack Warner, enaltecido por Groucho Marx por ter administrado “o único estúdio com alguma coragem”, por dar sinal verde para a realização do filme “Confissões de um espião nazista” (1939), não está livre do golpe revisionista. Segundo Urwand, o próprio Warner ordenou que a expressão “judeu” fosse retirada de todos os diálogos do filme “Émile Zola” (1937), e seu estúdio foi o primeiro a convidar oficiais nazistas a uma visita a Los Angeles, para assistir ao filme e sugerir cortes.

— Há um mito inteiro que dá conta da Warner Brothers como um cruzado contra o fascismo — lembra Urwand. — Mas eles foram os primeiros a tentar acalmar os ânimos dos nazistas, em 1933.

Cartas comprometedoras em Berlim

Urwand, cujos avós maternos, judeus de origem húngara, passaram anos se escondendo dos nazistas durante a Segunda Guerra, diz que o projeto começou em 2004, quando estudava na Universidade da Califórnia. Ele descobriu, por acaso, uma entrevista em que o roteirista Budd Schulberg menciona, vagamente, que Louis B. Meyer costumava se encontrar com um cônsul alemão em Los Angeles para discutir cortes nos filmes do estúdio. Farejando um tema digno de tese, começou a pesquisar.

Nos arquivos nacionais da Alemanha, em Berlim, Urwand encontrou uma carta de janeiro de 1938, enviada pela filial alemã da 20th Century-Fox, que perguntava se Hitler compartilharia sua opinião sobre os filmes americanos, assinada com a saudação nazista “Heil Hitler!”. Outras descobertas se seguiram, incluindo bilhetes de auxiliares de Hitler nos quais recordam as reações do Führer aos filmes a que assistia todas as noites: ele adorava os de O Gordo e o Magro, mas detestava “Tarzan”. Ele também encontrou um livro no qual Jack Warner documentou uma excursão pelo Rio Reno com outros executivos do estúdio, a bordo de um iate que pertencera a Hitler, em 1945, como parte de uma viagem de negócios após a guerra.

— Aquele foi o único momento em que gritei de verdade dentro de um arquivo — recorda Urwand.

O historiador descreve visitas regulares a estúdios por oficiais alemães, incluindo Georg Gyssling, cônsul especial designado a monitorar Hollywood: ele assistia a filmes, requisitava cortes e se engajava em debates bizarros (“King Kong” seria “um ataque nos nervos do povo alemão?”). Urwand encontrou registros de uma rede global de monitoramento que assegurava que houvesse cortes em todos os países, incluindo os EUA.

A “colaboração” de Hollywood teria começado em 1930, quando Carl Laemmle Jr., da Universal, concordou com cortes significativos em “Sem novidade no front” (Urwand reconhece que Laemmle ajudaria centenas de refugiados judeus com vistos aos EUA). E durou, segundo ele, bem após novembro de 1938, quando a Noite dos Cristais se tornou manchete no mundo todo.

Urwand conta ter encontrado quase 20 filmes alterados por oficiais alemães, ou mesmo com personagens judeus totalmente eliminados. Para o historiador, foi um conjunto significativo.
— Eles teriam realmente mobilizado a opinião pública.

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Uma opinião

Enviado por G. Arruda

Grata!

Na mesma lata de sardinha

Do ônibus velho ao BMW zero, todos são prisioneiros do congestionamento 
e das pressões das grandes cidades

por Carlos Lessa — publicado em Carta Capital - 28/06/2013


A qualidade da vida urbana é um ingrediente-chave na vida da maioria das famílias brasileiras. Com 80% de nossa população urbana e 50% metropolitana, são variadas as dimensões definidoras dessa qualidade. Entre essas dimensões, ocupa um lugar-chave a questão da mobilidade. De forma simplificada, podemos dizer que cada integrante da sociedade urbana dedica ao trabalho ou atividade remunerada um terço das suas 24 horas diárias. 

Outro terço é usado para dormir. Sobram oito horas diárias para todas as demais atividades que não a obtenção de renda monetária, isto é, para as atividades ligadas à fisiologia individual, à convivência e lazer com amigos e família, a compras e, por vezes, ao aperfeiçoamento cultural e profissional. Ao menos em tese, cada um é soberano em relação a este tempo de existir.

O tempo de existir é essencial e universalmente afetado pelos deslocamentos residência-trabalho-residência. Para quase todos, o tempo gasto nos deslocamentos é monótono, angustiante e, de certa forma, jogado fora, o que aponta para a óbvia importância da malha urbana, dos serviços de transporte público ligados ao deslocamento pela malha e à organização, tipo, quantidade e modalidades de utilização de veículos de transporte de pessoas e mercadorias. Mesmo quando o habitante que se desloca a pé em direção ao trabalho ou atividade, muitas vezes é obrigado a fazer outros deslocamentos que dependem da mobilidade urbana. Se o cidadão urbano, notadamente o pobre, tiver necessidade de horas adicionais no trabalho, é mais punido.

No Brasil, cresceu de forma explosiva a população de veículos automotores. Creio que, no Rio, andou próxima a 10% ao ano; em Brasília, por mais de uma década, cresceu cerca de 15% ao ano. Taxas parecidas foram vivenciadas nas demais cidades, inclusive nas médias. É o resultado de uma política míope que privilegiou, no combate à inflação, o corte do investimento público e, para sustentar a atividade econômica, facilitou e estimulou um intenso endividamento familiar. A opção governamental por estimular a venda de veículos – houve momentos em que a entrada zero foi combinada com o pagamento em 90 prestações – possibilitou à indústria automobilística um céu de brigadeiro nesta última década, porém o “nanismo” e a hipertrofia míope e de curto prazo do investimento na cidade engendrou o caos.

Muitos festejaram o acesso ao veículo automotor próprio, ignorando o custo do combustível, da manutenção e da fiscalidade associado ao “patrimônio” da posse do veículo. É comum a família endividada, pressionada pelos custos, deixar o veículo próprio estacionado e voltar ao péssimo transporte público. O pior acontece quando quer vender o veículo já usado e descobre que o mercado de segunda mão não paga sequer o correspondente à dívida residual. Por outro lado, o congestionamento tem uma dimensão universal, que incorpora desde o ônibus velho ao BMW. Somente escapa o arquimilionário que tem heliporto na residência e no escritório. Todas as faixas etárias e níveis de renda são incomodados pela degradação da qualidade de vida. Este pano de fundo tem tudo a ver com o início das manifestações.

O aumento das tarifas de transporte coletivo urbano foi gota d’água que produziu uma metamorfose espetacular. 

Uma novíssima geração de brasileiros foi para as ruas protestar e se situar como sujeito que faz história. O paradigma das antigas mobilizações foi estruturalmente modificado com a rapidez do uso de redes sociais. O tradicional “correio” boca-a-boca e alguma liderança convocatória não explicam a velocidade, intensidade e espacialidade com que o aumento tarifário se transformou num fenômeno político de massa que, rapidamente, preencheu um primeiro ato com uma gigantesca lista de rejeições, reclamações, sugestões e reivindicações. Sem a pretensão de interpretar esse fenômeno, quero colocar algumas questões para reflexão.

A questão urbana inspirou toda uma pauta que se iniciou no transporte e se encaminhou para os serviços de saúde, educação e segurança. A corrupção foi colocada como variável explicativa, e a pauta transbordou, colocando sob acusação o sistema de partidos, as representações políticas e algumas instituições públicas mais visíveis. A pauta cresce e tende a se diversificar. Lendo os cartazes, é possível perceber ânimo, ironia, amor, desinformação etc.

É surpreendente e sintomática a rejeição da ideia do “circo” substituindo o “pão”. O futebol, alegria do povo, foi colocado entre parêntesis. Desde a mutilação do Maracanã, no Rio de Janeiro (a reforma custou 1,2 bilhão de reais para reduzir à metade o número de lugares) passando pelo Mané Garrincha (que, em Brasília, foi iniciado com orçamento de 650 milhões de reais e custou 1,4 bilhão de reais) e com os demais estádios das cidades brasileiras sendo convertidos em “casas de ópera” (onde o povo brasileiro não pode mais torcer em pé e o povão terá que pagar uma entrada cara e proibitiva), cristalizou-se, pela visibilidade e interesse do povo brasileiro pelo futebol, a dimensão de corrupção (provável) e subserviência à FIFA. O governo brasileiro abriu mão de sua soberania, ao autorizar a venda de bebida alcoólica à minoria que pode pagar ingresso; atropelou o espaço urbano atendendo à exigência da FIFA de uma circunferência de isolamento de três quilômetros em torno de cada estádio utilizado nos jogos da FIFA (essa exclusão foi anunciada pelo Ministério do Planejamento, quando propôs feriado no período dos jogos da FIFA, a partir da pergunta de como ficaria o congestionamento). O povo leu tudo isso como um imenso “conto do vigário”, que macula a paixão pelo futebol com renúncia à soberania e pretexto para processos de corrupção. O povo formou uma grande “torcida” participativa.

Sei que muitos manifestantes tem uma reflexão própria bastante amadurecida, e é interessante observar os “diálogos” dos cartazes, por exemplo: ao lado de um cartaz que diz; “imposto zero”, está outro outro que diz “mais verbas para a educação e saúde”. Os cartazes, em uma sociedade televisiva, são feitos e empunhados por muitos manifestantes com a óbvia preocupação de serem captados pela lente do fotógrafo e da televisão. Ilustra isso um cartaz em português e inglês, cujo autor afirmou que, assim, tinha maior probabilidade de ser captado pela TV internacional (o “eu”, corporificado no cartaz, está aqui; eu existo!).

Estou certo que haverá o debate e prevalecerá a vontade política da maioria. Estou certo que estas manifestações são apenas a primeira voz que apontará para um projeto nacional. Sei que esta é a provável evolução da novíssima geração de atores políticos brasileiros. A preliminar do “eu” tende a constituir o “nós”. Este resgate da participação pública, desde o início, está acompanhado pelos símbolos da nação: bandeiras, hinos, músicas. A manifestação, no sentido operacional, é majoritariamente, uma “torcida” pelo Brasil, e tem uma componente saudável de festividade, como a linda a manifestação dos pais com seus bebês. É deslumbrante ver gente espontaneamente  fornecendo comida para os jovens que estavam acampados exigindo o diálogo com o Governador Sérgio Cabral, e também para os guardas que ali estavam bloqueando o acesso. Há um simbolismo na vinda de manifestantes da Rocinha com cartazes dizendo “queremos melhor ensino e saúde na comunidade” e “dispensamos o teleférico”.

Como velho professor, estou encantado em ver a novíssima geração representar nossa gente. Sou da geração que abriu os olhos políticos com o suicídio de Vargas e a campanha “O petróleo é nosso”; militei pelo novo Estado de direito desde o exílio e até a Constituição de 1988, e assisti sua mutilação por mais de 50 Emendas Constitucionais. Não aceitei o Consenso de Washington. Vi a ideia da “globalização” ser vendida como ensina um velho provérbio turco: “se quereis vender um corvo, pinte-o rouxinol”.

Tenho confiança na acelerada pedagogia das manifestações. É acelerada a educação política dos manifestantes. Um povo que se manifesta, no limite, tudo pode; transporta, dentro de si, um futuro melhor. Dentro do coração de cada manifestante há a potencialidade da civilização brasileira. Este é um passo decisivo para a periferia do mundo e o início de uma modificação significativa das relações geopolíticas do Brasil com a hispanoamérica e com a África. Um gigantesco passo para a história brasileira foi ensaiado com as manifestações convocadas pela má qualidade da vida urbana.
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Carlos Lessa é ex-reitor da UFRJ e ex-presidente do BNDES


sábado, 29 de junho de 2013

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ROBERTO ROMANO: Não sou admirador de Robespierre, porque discordo de sua inspiração, Rousseau. Mas não posso deixar de reconhecer que tanto ele quanto seu mestre percebem coisas perenes numa república, a começar com a tirania dos mandatários que se transformam, motu proprio, em soberanos. É exatamente o que ocorre no Brasil, sobretudo nos últimos tempos, o que suscitou as manifestações populares. Seria bom se os líderes dos movimentos e os poucos democratas que ainda restam aqui, lessem um pouco mais Maquiavel, Robespierre, etc... mas a última coisa que eles fazem é ler algo mais sério do que as ordens emanadas das direções partidárias, dos palácios....


A fonte de todos os nossos males é a independência absoluta em que os representantes colocaram a si mesmos diante da nação sem a ter consultado. Eles reconheceram a soberania da nação e a nulificaram. Eles, por sua própria confissão, eram apenas mandatários do povo e fizeram de si mesmos soberanos, isto é, déspotas; pois o despotismo nada mais é do que a usurpação do poder soberano. Sejam quais forem os nomes dos funcionários públicos e as formas exteriores de governo, em todo Estado em que o soberano não conserva nenhum meio para reprimir o abuso que seus delegados fazem da sua potência e para deter seus atentados contra a Constituição do Estado, a nação é escrava, pois é abandonada absolutamente à mercê dos que exercem a autoridade, e como é da natureza das coisas que os homens prefiram seu interesse pessoal ao interesse público, quando podem fazê-lo impunemente, segue-se que o povo é oprimido sempre que seus mandatários são absolutamente independentes dele. (….) Colocai ao lado de um monarca rico e poderoso uma assembléia representativa que não deve prestar contas a ninguém por sua conduta, resultará sempre desta combinação apenas despotismo e corrupção”. Robespierre, “Dos males e dos recursos do Estado” in Oeuvres de Maxilien Robespierre, (Paris, Chez l ‘Éditeur, Faubourg Saint-Denis, 13), 1840, T. I, p. 58.

Demagogos!

Do Blog de Roberto Romano


Concordo!!!
Por que não tiram o foro privilegiado? 
Vejam o que fez o governador Richa essa semana: nomeou seu amigo Ezequias Moreira - que tinha que ir a uma audiência por improbidade administrativa dia 27 de junho, e deu-lhe imunidade. É enojante!

UOL Notícias, 28/06/2013


Tornar a corrupção crime hediondo é "demagogia atroz", diz filósofo Roberto Romano

Guilherme Balza
Do UOL, em São Paulo

A aprovação no Senado do projeto de lei que torna a corrupção crime hediondo, conforme pedido pela presidente Dilma Rousseff após a onda de manifestações que se espalhou pelo país, é uma medida de "demagogia atroz", na opinião do filósofo Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

"Tornar a corrupção crime hediondo é de uma demagogia atroz. Não foram modificados os procedimentos para a punição [dos corruptos]", diz. Para Romano, a medida não irá funcionar porque os representantes no Legislativo e Executivo continuam a ter foro privilegiado. "Ou seja, pouco importa se é hediondo ou não. Não haverá punição. Tornar um crime hediondo sempre foi uma tática para aplacar multidões ressentidas."

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Internautas registram protestos motivados por aumento das tarifas do transporte; veja fotos200 fotos

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26.jun.2013 - O internauta Carlos Sodré fotografou confronto entre a Tropa de Choque e manifestantes em frente à Prefeitura de Belém Carlos Sodré/Vc Manda/UOL
 
O filósofo diz que as manifestações deixaram claro que a população não dá legitimidade aos que ocupam cargos políticos. "Nós últimos dois anos eles [os políticos] se esmeraram em adotar atitudes arrogantes, que desafiaram a população". Como exemplo, Romano cita tentativas de se afrouxar a lei da Ficha Limpa e a Lei de Improbidade Administrativa, além da tentativa de aprovar a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 37, arquivada nesta semana pela Câmara.

Populismo?

O professor diz que a derrubada da PEC na Câmara, a aprovação de 75% royalties para a educação e 25% para a saúde na mesma Casa e do projeto que torna corrupção crime hediondo no Senado, bem como os cinco pactos anunciados por Dilma na segunda-feira (23), não podem ser reduzidos a medidas populistas, mas são uma tentativa de se reconquistar a legitimidade do Legislativo e do Executivo.

"O populismo integra a política municipal, estadual e federal no Brasil desde 1945. Temeria chamar de populismo essas medidas do Congresso e da Presidência da República. São tentativas bastante toscas de se recuperar o mínimo de legitimidade dessas instituições perante à população", afirma Romano.

Para o filósofo, a atuação do Congresso e do Executivo daqui para frente dependerá, em grande parte, dos rumos das mobilizações que se alastraram pelo país. "O que vamos experimentar é se essas direções de movimentos têm condições de amadurecer do ponto de vista prático e organizacional e fazer uma agenda menos difusa, com tantos temas."

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Manifestantes contam em cartazes quais são suas reivindicações 212 fotos

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17.jun.2013 - Manifestante durante concentração para o 5º protesto contra o aumento da tarifa do transporte coletivo no largo da Batata, em Pinheiros (zona oeste de São Paulo) Leia mais Léo Pinheiro/Futura Press

Disputa pela hegemonia

Romano acredita que as manifestações devem arrefecer nas próximas semanas, mas podem criar uma cultura de protesto, em especial pela juventude. O filósofo crê ainda que haverá uma disputa pela hegemonia das mobilizações, que determinará os sentidos e pautas dos protestos. 

"Em movimento político e de massas, a partir do momento em que passa ser significativo, começa a haver uma disputa pela hegemonia, pelas palavras de ordem. Uma vez estabelecida essa hegemonia, é natural que determinadas reivindicações surjam como prioritárias", afirma.

Além da mobilidade urbana, o filósofo aponta a violência policial e os gastos com a Copa do Mundo como questões que devem ganhar força nos protestos.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Braziu


DIREITOS HUMANOS

Violências contra os povos indígenas aumentaram em 2012

Redação Consciência.Net | 28 jun 2013
Em todo o Brasil foram registradas 60 assassinatos, por exemplo, nove a mais que no ano anterior. Com 37 casos, o Mato Grosso do Sul continua sendo o estado com o maior número de ocorrências, seguido pelo Maranhão, com sete vítimas. Do Cimi.
Povos de Rondônia exigem respeito à Convenção 169 da OIT. Foto: Cimi Regional Rondônia
Povos de Rondônia exigem respeito à Convenção 169 da OIT. Foto: Cimi Regional Rondônia
Houve um crescimento de diferentes formas de violências cometidas, em 2012, contra os povos indígenas, que vão de ameaças de morte, assassinatos, omissão e morosidade na regularização das terras à desassistência em saúde e educação. Esta é a constatação apresentada no Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil que o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) lançou nesta quinta-feira (27), na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília.
Nas três categorias abordadas no Relatório, verifica-se uma ampliação do número total de casos e vítimas. Em comparação com 2011, os casos de Violência contra o Patrimônio saltaram de 99 para 125, o que representa um aumento de 26%. Em relação à Violência por Omissão do Poder Público, foram relatadas 106.801 vítimas, o que significa um aumento de 72%, considerando que 61.988 vítimas foram registradas em 2011.
O mais acentuado crescimento é observado no total de vítimas da categoria Violência contra a Pessoa, em que estão incluídas ameaças de morte, homicídios, tentativas de assassinato, racismo, lesões corporais e violência sexual. Nesta categoria, houve um aumento de 378 para 1.276 vítimas, o que revela uma expansão de 237% em comparação com 2011.
Os dados do Relatório revelam que voltou a crescer o número de assassinatos de indígenas em 2012. Em todo o Brasil foram registradas 60 vítimas, nove a mais que no ano anterior. Com 37 casos, o Mato Grosso do Sul continua sendo o estado com o maior número de ocorrências, seguido pelo Maranhão, com sete vítimas. Nos últimos dez anos, os levantamentos do Cimi mostram que pelo menos 563 indígenas foram assassinados no país, sendo que 317 destas mortes ocorreram no Mato Grosso do Sul. Os dados apresentados pelo Ministério da Saúde (Diasei/DSEI) são ainda mais assustadores ao indicar que 43 assassinatos de indígenas ocorreram no Mato Grosso do Sul em 2012.
Violência gerada pela falta da terra - Chamam atenção os 54 casos registrados de omissão e morosidade na regularização de terras indígenas. Em 2011, haviam sido 46. Aqui também, o Mato Grosso do Sul é o estado campeão de violações, com 19 casos. Em seguida, aparece o Rio Grande do Sul, com 11 casos. Este dado revela que o governo da presidente Dilma Rousseff tem cedido às pressões da elite ruralista e pouco tem avançado na demarcação das terras tradicionais. Em 2012 foram homologadas apenas sete terras indígenas pela Presidência da República, enquanto a Fundação Nacional do Índio (Funai) publicou 11 portarias de identificação e o Ministério da Justiça publicou apenas duas portarias declaratórias.
Os levantamentos do Cimi indicam que das 1.045 terras indígenas, 339 (32%) estão sem providência, enquanto 293 (28%) estão, 44 estão engavetadas no Palácio do Planalto, aguardando apenas a assinatura da presidente da República. Com média anual de cinco homologações, Dilma é a presidente que menos homologou terras indígenas no Brasil desde a abertura democrática, em 1985.
“A vida dos povos indígenas está vinculada à terra. É na sua terra ancestral que ‘o índio é’. O governo federal tem que, urgentemente, saldar esta dívida histórica com os povos indígenas. Este é o único modo de propiciar as condições fundamentais para a sobrevivência física e cultural desses povos”, afirma Cleber Buzatto, Secretário Executivo do Cimi.
O Relatório aponta que também aumentaram os casos de invasões possessórias e exploração ilegal de recursos naturais (62 casos), ameaças de morte (30 vítimas e crescimento de 200% em relação a 2011), homicídio culposo (21 vítimas e aumento de 75%), racismo e discriminação étnico-culturais (14 vítimas) e tentativas de assassinato (1.024 vítimas). No caso das violências relacionadas à omissão do poder público, houve crescimento na desassistência à educação escolar (18.865 vítimas) e à saúde (80.496 vítimas) e na disseminação de bebidas alcoólicas e outras drogas (254 vítimas).
Violações graves
O chocante descaso com a saúde indígena é tema de um artigo escrito por quatro procuradores da República, que descrevem a ação coordenada do Ministério Público Federal (MPF) no “Dia D da Saúde Indígena”, realizado em 10 de dezembro de 2012. Duas graves violações de direitos vividas pelos povos Munduruku, da aldeia de Teles Pires, no Pará, e pelos Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay, em Naviraí, no Mato Grosso do Sul, exemplificam, no Relatório, como os povos indígenas ainda são considerados obstáculos ao progresso tanto pelo governo como pelo setor privado, no caso o ruralista.
Em novembro de 2012, na trágica e truculenta Operação Eldorado, agentes da Polícia Federal e soldados da Força Nacional destruíram inúmeros bens do povo Munduruku, como casas e barcos. Adenilson Kirixi Munduruku foi assassinado e o crime continua impune. No mês anterior, os Guarani-Kaiowá comoveram o Brasil com uma carta em que, desiludidos pela iminência da reintegração de posse da área ocupada por eles, afirmaram que iriam resistir em suas terras, mesmo que tivessem que morrer nelas. Erroneamente, houve a interpretação de que eles estavam anunciando um suicídio coletivo. Não era o caso desta vez.
No entanto, os dados apontam que o suicídio está causando um genocídio silencioso no Mato Grosso do Sul. Nove Guarani Kaiowá se suicidaram em 2012, de um total de 23 suicídios em todo o Brasil. Novamente aqui, os dados oficiais são muito mais dramáticos, já que o Ministério da Saúde registra 56 suicídios entre os Guarani-Kaiowá no mesmo período.
As ameaças a seis grupos de indígenas isolados — Awá Guajá (MA), do Alto Envira e do Vale do Javari (AC), da área do Complexo Hidrelétrico do Madeira e do Bom Futuro (RO), da região da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, e da bacia do Rio Tapajós (PA) — também são retratadas no Relatório, já que os impactos dos mega projetos de infraestrutura tornam a ameaça de extinção destes povos uma possibilidade cada vez mais real.
Os dados do Relatório foram obtidos a partir dos relatos e das denúncias dos povos e organizações indígenas, de informações levantadas pelas equipes dos 11 regionais do Cimi, de notícias veiculadas pela imprensa, além de informações obtidas por órgãos públicos que prestam assistência às comunidades. Há relatos de casos em que comunidades inteiras foram violentadas, no entanto em algumas não há o número preciso do total de vítimas, o que evidencia que os dados do Relatório são parciais e que a violência praticada contra os povos indígenas no Brasil apresenta um número de vítimas ainda maior do que o retratado nele.
Falta de vontade política
A baixa execução de recursos autorizados pelo governo federal para a implementação de políticas públicas evidencia situações em que o que não há, de fato, é disposição para solucionar severos problemas enfrentados pelos povos indígenas em praticamente todo o território nacional. Do orçamento de quase R$ 68 milhões previstos para saneamento básico nas aldeias, apenas R$ 86 mil (0,13%) foram utilizados.
Para a estruturação de unidades de saúde, apenas R$ 26 mil (8,70%) dos R$ 2,3 milhões foram liquidados. Dos mais de R$ 15 milhões prhttp://www.cimi.org.br/pub/viol/viol2012.pdfevistos para a demarcação e regularização de terras indígenas, apenas R$ 5,9 milhões (37%) foram executados. E do R$ 1,5 milhão previsto para apoio ao desenvolvimento sustentável das comunidades, apenas R$ 75 mil (5,06%) foram gastos em 2012.



Teresa


Antonio More/ Gazeta do Povo
Antonio More/ Gazeta do Povo / Teresa Urban, em registro feito em maio deste ano: “Continuo sendo um ser político que ainda não achou seu lugar”Teresa Urban, em registro feito em maio deste ano: “Continuo sendo um ser político que ainda não achou seu lugar”
LUTO

Ativista, Teresa Urban soube dar sentido à vida

Jornalista que foi presa, torturada e exilada por combater a ditadura militar morreu quarta-feira, vítima de enfarte, aos 67 anos
Publicado em 28/06/2013 | MAURI KÖNIG
O segredo da existência humana reside não só em viver, mas em saber para que se vive”, disse Dostoievski certa vez. Como no axioma do escritor que a influenciou na juventude, a jornalista e ambientalista Teresa Urban soube desde cedo dar sentido à vida. Entregou-se a uma causa num momento crucial para o Brasil. Esteve na linha de frente no combate à ditadura militar, uma militância que resultou em prisão, tortura e exílio. Sobrevivente da ditadura, Teresa morreu quarta-feira, vítima de enfarte, aos 67 anos. O corpo foi cremado ontem em Campina Grande do Sul, na região de Curitiba.
Os passos de Teresa Urban contra uma vida de ilusões e impressões insubstanciais começaram cedo. A mãe, Janina, filha de poloneses, era mulher independente e um tanto avessa ao comunismo. O pai, Estanislau, um polonês muito tolerante, brindou os filhos com o hábito da leitura. A paixão com que a mãe se entregava às causas cristãs e à amplitude do mundo apresentada pelo pai por meio da leitura forjaram a personalidade de Teresa e de seus três irmãos. Todos, em alguma medida, viram-se engajados em alguma causa.
Pioneira também na luta em defesa do meio ambiente
Ao sair da cadeia, em 1973, condenada à revelia a dois anos de prisão pelo regime militar, Teresa Urban notava que as pessoas atravessavam a rua para não encontrá-la. Não conseguia emprego como jornalista, nem registro profissional. Recorreu à Justiça. “Mas riscavam o ‘bons’ e deixavam só ‘antecedentes’”, lembrou numa entrevista. “Entendi que precisava procurar algo que me aproximasse das pessoas. Queria uma causa comum. E imaginei que ter água de boa qualidade para beber e ar para respirar era algo que todos poderiam compartilhar.” Assim nasceu a Teresa Urban ambientalista.
Formada em Jornalismo pela UFPR, foi contratada no fim dos anos 70 pelo jornal semanal A Voz do Paraná, da Arquidiocese de Curitiba. Depois, passou pelos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo, além da revista Veja.
Pioneira no jornalismo ambiental, mapeou os remanescentes da floresta de araucárias no Paraná e desenvolveu projetos com ONGs como SPVS, SOS Mata Atlântica e Mater Natura. Ajudou a criar a Rede Verde de Informações Ambientais e atuou no Con­­selho Nacional do Meio Am­­biente (Conam).
O primeiro de seus 20 livros, Boias-frias — Vista Parcial, foi lançado em 1984. Sua única obra de ficção, Dez Fitas e um Tornado, um suspense, foi lançado no mês passado.
O presidente da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Marcos Cordiolli, lembra que Teresa vinha contribuindo com a Fundação na definição das políticas de Patrimônio Material e Imaterial.
“Foi uma humanista, que lutou para melhorar o Brasil”, disse, em nota, o Fórum Paranaense de Resgate da Verdade, Memória e Justiça. “Anos depois, seria precursora da luta ambiental no Brasil, defendendo a preservação do meio ambiente, sem perder o foco nas pessoas mais carentes e desprotegidas pelo Estado. Jamais abandonou a luta política. Percebeu, quando seus netos cresceram, que precisava contar a história dos que lutaram pela democracia no Brasil. Por isso, lançou o livro 1968 Ditadura Abaixo. Dizia que o livro era necessário para contar às gerações mais novas mais sobre este período.”
A menina era um bocado contestadora, apesar da idade. Isso tem alguma consequência quando se estuda em colégio de freiras. Leitora de Dostoievski, teve problemas no Colégio São José porque perguntava demais. Depois, prestes a terminar o Normal, deparou-se na escola com cartazes contendo imagens de Cristo com uma coroa feita de foice e martelo, símbolos do comunismo. Aquilo soava para ela como uma neurose coletiva. “A gente rezava todo dia para o comunismo não vir para o Brasil”, disse, em entrevista à Gazeta do Povo no ano passado.
A coisa ficou séria quando a luta anticomunismo deixou de ser doutrina colegial para virar política de Estado. O golpe militar de 1964 seria decisivo na vida de Teresa Urban. Os militares andavam alucinados à procura de subversivos em toda parte e o nome dela já estava na lista. Custaria caro sua posição política em defesa da democracia.
Durante o curso de Jornalismo na Universidade Federal do Paraná, participou das manifestações estudantis. Acabou presa pela primeira vez em 3 de outubro de 1966, dia da eleição para o colégio eleitoral que poria o general Costa da Silva na Presidência do Brasil. A polícia cercou o quarteirão da casa dela, na frente da Praça 29 de Março. Levaram Janina acreditando tratar-se da filha. Corrigido o engano, a prisão durou um dia, mas rendeu uma longa crise familiar.
Impotência
A prisão de junho de 1970 foi mais longa. Um mês. Foi torturada no quartel da Praça Rui Barbosa, que não existe mais, ao ser interrogada pelo delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury, conhecido agente da repressão durante a ditadura militar. Anos mais tarde, ela diria em entrevista que a tortura tem um impacto que não é físico, e carrega em si um antagonismo: a impotência absoluta e a prepotência absoluta. Teresa aguentou calada os rigores da tortura, sem delatar ninguém.
Solta, mas perseguida, se exilou no Chile, entre 1970 e 1972, com o marido e o filho de colo, Gunter. Lá nasceu a segunda filha, Lupe. Condenada à revelia pela ditadura militar, no retorno ao Brasil foi presa e enviada à Penitenciária de Piraquara. Fez greve de fome, adoeceu e, um mês depois, a levaram para um convento no bairro Mercês. A transferência se deu graças à intervenção do arcebispo dom Pedro Fedalto. Quando acordou, Teresa se viu num quarto branco, com uma freira vicentina toda de branco ao seu lado. Ficou ali quase dois anos, em prisão especial.
O peso das restrições continuava. O Comando de Caça aos Comunistas (CCC) mantinha as torturas psicológicas com seguidas cartas em tom de ameaça. Quando saiu da cadeia, as organizações de esquerda tinham sido extintas, seus companheiros estavam na cadeia, mortos, desaparecidos ou no exílio. Olhava com desconfiança as estruturas partidárias, mesmo a do Partido dos Trabalhadores. Tomou a difícil resolução de não se envolver mais nas causas políticas. “Continuo sendo um ser político que ainda não achou seu lugar”, disse em uma de suas últimas entrevistas.

FHC

do Facebook de Ana Helena Tavares

FHC foi eleito para ocupar uma cadeira na ABL. Já temos Merval e Sarney. Machado de Assis, fundador da casa, deve estar em algum lugar cantando Ideologia: "Os meus inimigos estão no poder"Parte superior do formulário. FHC substitui João de Scantimburgo, um monarquista militante e grande amigo da ditadura. 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Enquanto as Universidades Estaduais do Paraná estão à míngua...

da UOL

Em semana de protestos, Richa dá cargo de secretário a antigo aliado acusado de peculato no Paraná

Rafael Moro Martins
Do UOL, em Curitiba
  • Osamu Honda/AP
    Beto Richa (PSDB), governador do Paraná, nomeou aliado condenado por improbidade administrativa
    Beto Richa (PSDB), governador do Paraná, nomeou aliado condenado por improbidade administrativa
O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), nomeou como secretário especial do Cerimonial e Relações Internacionais um aliado de longa data condenado por improbidade administrativa e que responde a ação criminal por peculato por conta de uma acusação de desvio de dinheiro público.Nessa quarta-feira (26), o Senado aprovou projeto que transforma corrupção em crime hediondo.
Com a nomeação, no último dia 19, Ezequias Moreira ganha direito a foro especial na continuidade do processo. Se não tivesse ganhado esse cargo no primeiro escalão do governo do Paraná, ele deveria comparecer a audiência e julgamento do caso, prevista para a 5.ª Vara Criminal de Curitiba, já nesta quinta-feira (27).
Agora, porém, o próprio MPE (Ministério Público Estadual), autor da denúncia, informou que "manifestou-se pela remessa do processo ao Tribunal de Justiça, uma vez que o réu passou a ter o direito a foro por prerrogativa de função".

"Sogra-fantasma"

Ezequias Moreira trabalhou no gabinete de Richa na Assembleia Legislativa quando o governador era deputado estadual, na década de 1990. Quando o tucano se elegeu prefeito, em 2004, Moreira tornou-se chefe de gabinete dele.
Em 2007, veio à tona que a sogra de Moreira, Verônica Durau, detinha cargo em comissão na Assembleia havia 11 anos, ainda que ela mesma tivesse admitido que nunca trabalhara na casa.
Segundo a denúncia que resultou na ação movida pelo MPE, os salários em nome dela (R$ 3.400 mensais) eram depositados em conta bancária em nome do aliado de Richa. No Paraná, o escândalo ficou conhecido como o "caso da sogra-fantasma".
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Protestos em Curitiba26 fotos

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17.jun.2013 - Concentração de manifestantes para protesto desta segunda-feira (17) em Curitiba (PR) Leia mais Gabriella Müller/Você Manda/UOL

Diretor da Sanepar

Exonerado uma semana após a eclosão da denúncia, Moreira devolveu espontaneamente cerca de R$ 530 mil aos cofres públicos, referentes ao dinheiro recebido indevidamente, com correção.
Quando Richa se elegeu governador, em 2010, o aliado recebeu o cargo de diretor de Relações com Investidores na Sanepar, empresa estatal de saneamento básico. Moreira ocupava o cargo na diretoria da estatal quando foi condenado pela Justiça por improbidade, em ação administrativa movida pelo MPE. A pena foi uma multa.
A outra ação, criminal, pode levar o aliado de Richa à prisão – a pena para o crime de peculato chega a 12 anos de detenção. Com o foro especial, porém, o julgamento deve atrasar, e a chance de não haver punição aumenta.
Caso o agora secretário seja condenado à pena mínima, de dois anos de detenção, o crime será considerado prescrito.

Outro lado

Procurado pelo UOL para comentar o caso, o governo do Estado respondeu por meio de nota oficial. Diz o texto:
"A nomeação de Ezequias Moreira para o cargo de secretário especial de Cerimonial e Relações Internacionais se deu devido a sua capacidade para exercer o cargo e por já fazer parte da equipe de governo.
"Atualmente ele ocupa a diretoria de Relações com Investidores na Sanepar. Para assumir o cargo na estatal, ele passou por criteriosa avaliação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
"Moreira assume um cargo que estava vago na estrutura do Executivo, pois havia uma demanda latente no governo para melhorar a organização de eventos promovidos pelo Estado, tanto na capital quanto no interior.
"Não há qualquer restrição legal quanto à nomeação de Ezequias Moreira para o cargo. O governo respeita a Lei da Ficha Limpa, sancionada pelo governador Beto Richa."
Na última segunda-feira (24), com Moreira já nomeado secretário, Richa disse ao jornalista Josias de Souza que os protestos de rua em todo o Brasil têm como uma das principais causas "os problemas de falta de ética, de corrupção".