Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

terça-feira, 30 de abril de 2013

Banqueiros e a fome de crianças na Grécia

A geladeira vazia de Michalis Petrakis

29/04/2013-03h40

DO BLOG DE ROBERTO ROMANO

Crise faz com que crianças passem fome na Grécia

Publicidade
LIZ ALDERMAN
DO "NEW YORK TIMES"
The New York Times
 
ATENAS - Como diretor de uma escola primária, Leonidas Nikas está vendo o que ele pensava que fosse impossível acontecer na Grécia: crianças procurando comida nas latas de lixo, jovens necessitados pedindo sobras de comida aos colegas e um menino de 11 anos, Pantelis Petrakis, com o corpo crispado pela fome.

"Ele não tinha comido quase nada em casa", disse Nikas, sentado em seu escritório perto do porto de Pireus, um subúrbio da classe trabalhadora em Atenas. Ele consultou os pais de Pantelis, que disseram que não conseguem trabalho há meses.

Sua poupança acabou e eles estão vivendo de macarrão com ketchup. "Nem em meus sonhos mais loucos eu esperava ver a situação em que estamos", disse Nikas. "Chegamos a um ponto em que as crianças da Grécia vêm para a escola famintas. Hoje as famílias têm dificuldade não apenas para encontrar emprego, mas para sobreviver."

A economia grega encolheu 20% nos últimos cinco anos. O índice de desemprego supera 27%, o mais alto da Europa, e seis em cada dez pessoas que buscam emprego dizem que não trabalham há mais de um ano. Essas estatísticas estão reformulando a vida das famílias gregas. As crianças chegam em número cada vez maior às escolas famintas, subalimentadas ou até desnutridas, segundo grupos privados e o governo.


The New York Times
A geladeira quase vazia de Michalis Petrakis; a fome na Grécia está aumentando
Estima-se que 10% dos estudantes gregos da escola básica e média, no ano passado, tenham sofrido o que os profissionais de saúde pública chamam de "insegurança alimentar", o que significa que eles enfrentaram a fome ou o risco dela, segundo a doutora Athena Linos, da Prolepsis, um grupo não governamental de saúde pública.

"Quando se trata de insegurança alimentar, a Grécia hoje caiu ao nível de alguns países africanos", disse. Os estudantes gregos trazem sua própria comida ou compram produtos em uma cantina. O custo se tornou impraticável para alguns. "Ao meu redor eu ouço crianças dizendo: 'Meus pais não têm dinheiro. Não sabemos o que vamos fazer'", disse Evangelia Karakaxa, 15, aluna do colégio Número 9 em Acharnes.

Acharnes fervia com atividades ligadas às importações até que a crise econômica eliminou milhares de empregos no setor. "Nossos sonhos foram esmagados", acrescentou Evangelia.

"Eles dizem que quando você se afoga sua vida passa em um 'flash' diante de seus olhos. Minha sensação é de que na Grécia estamos nos afogando em terra seca."

Alexandra Perri, que trabalha na escola, disse que pelo menos 60 dos 280 alunos sofrem de desnutrição. "Há um ano, não era assim", disse. "O que é assustador é a velocidade com que isso está acontecendo."

O governo reconheceu que precisa enfrentar a questão da desnutrição nas escolas. Nikas disse que sabe que o governo está trabalhando para consertar a economia. Agora que acabou a conversa sobre a Grécia sair da zona do euro, as coisas parecem melhores, ao menos para o mundo exterior.

"Mas diga isso à família de Pantelis", disse Nikas. "Ela não sente melhoras em sua vida."

Themelina Petrakis, a mãe de Pantelis, abriu sua geladeira. Lá dentro havia ketchup e outros condimentos, um pouco de macarrão e sobras de uma refeição que ela ganhou da prefeitura.

Seu marido, Michalis, 41, foi demitido em dezembro. Ela disse que a companhia em que ele trabalhava não pagou seu salário durante cinco meses antes da demissão e que, em fevereiro, eles ficaram sem dinheiro. Quando a fome chega, Petrakis tem uma solução.

"É simples", disse ela. "Você sente fome, fica tonto e dorme."

Um relatório da Unicef de 2012 mostrou que, entre as famílias gregas mais pobres com crianças, mais de 26% tinham uma "dieta economicamente fraca".

No ano passado, a Prolepsis começou a fornecer sanduíches, frutas e leite em 34 escolas públicas onde mais da metade das 6.400 famílias participantes diziam sentir "fome média a grave". Financiada por uma verba de US$ 8 milhões da Fundação Stavros Niarchos, uma organização filantrópica internacional, o programa foi expandido neste ano para atender 20 mil crianças.

Konstantinos Arvanitopoulos, o ministro da Educação da Grécia, disse que o governo conseguiu financiamento da União Europeia para fornecer frutas e leite nas escolas e cupons para pão e queijo. Também está trabalhando com a Igreja Ortodoxa Grega para fornecer milhares de pacotes de ajuda.
Mas Nikas está revoltado com o que ele considera uma ampla negligência da Europa pelos problemas da Grécia.

Ele disse: "A menos que a União Europeia aja como essa escola, onde as famílias ajudam outras famílias porque somos uma grande família, estaremos acabados".


Colaborou Dimitris Bounias

segunda-feira, 29 de abril de 2013

poizé!


Carlinhos Cachoeira detido em blitz da Lei Seca

ED26F7D876B9BDB220FEB993F1B32Carlos Augusto de Almeida Ramos, contraventor conhecido como Carlinhos Cachoeira, foi detido na madrugada de ontem pela Polícia Rodoviária Federal de Goiás depois de se recusar a fazer o teste do bafômetro.
Cachoeira foi parado por policiais durante uma blitz da Lei Seca na BR-060, em Anápolis, Goiás, quando voltava de um show do cantor Gusttavo Lima.
Ele estava acompanhado da mulher, Andressa, e de um casal. Todos pareciam estar embriagados, segundo informação da PRF.
O contraventor foi levado ao 6º Distrito Policial da cidade e liberado em seguida, depois de pagar uma fiança de R$ 22 mil. A carteira de motorista de Cachoeira foi apreendida e o carro que dirigia, um Kia Cadenza, teve que ser levado por um amigo.
Preso no ano passado por conta da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal (PF), e condenado a 39 anos e oito meses de prisão pelos crimes de peculato, corrupção, violação de sigilo e formação de quadrilha, Cachoeira recorre da sentença em liberdade.

É de doer...



A declaração de amor de Mercadante por ‘Seu Frias’

PAULO NOGUEIRA 28 DE ABRIL DE 2013 43
Mais que bajulação, o que ficou estampado foi a ignorância do ministro da Educação.
Ignorância desumana
Ignorância desumana
Uma das frases de Sêneca que mais me agradam fala o seguinte: “Quando penso em certas coisas que disse, tenho inveja dos mudos.”
Ela me ocorreu ao ter ciência da carta que o ministro Aloízio Mercadante escreveu para a Folha de S. Paulo.
Mercadante fez um desagravo da memória de Octavio Frias de Oliveira, falecido dono do  jornal, depois que um delegado dos tempos da ditadura militar disse, na Comissão da Verdade, o que todos sabem, exceto talvez ele mesmo, Mercadante: que Frias colaborou ativamente com a repressão a “terroristas”, “subversivos” e “assassinos”.
Frias foi o chamado colaborador total. De um lado forneceu carros do jornal para a perseguição de “subversivos” pela Oban, Operação Bandeirante, um grupo particularmente selvagem dedicado a exterminar a resistência à ditadura.
De outro, usou sua empresa jornalística para publicar conteúdos pró-ditadura.
Meu pai, editorialista e com carreira na Folha estabelecida antes que Frias comprasse o jornal em 1961, se recusou a escrever um editorial no qual Frias mandou que fosse dito que não existiam presos políticos – todos eram criminosos comuns.
Frias, nos piores anos da ditadura, manteve um jornal, a Folha da Tarde, que era uma espécie de porta-voz da repressão. (Mercadante poderia conversar sobre isso com Frei Betto, que foi jornalista da FT antes de Frias transformá-la numa extensão da Oban.)
O jornal de Frias para a ditadura, a Folha da Tarde
O jornal de Frias para a ditadura, a Folha da Tarde
Num certo momento, com a abertura política, Frias, como empresário, enxergou uma boa oportunidade de negócio ao engajar a Folha na campanha das diretas e deixá-la mais arejada.
Era um movimento óbvio. O concorrente Estadão já estava morto editorialmente, então. E a Globo era, como a FT, porta-voz da ditadura na tevê.
O distanciamento oportunista da Folha em relação ao regime não impediria Frias de acatar servilmente uma ordem de um general para que afastasse o diretor Claudio Abramo depois que o grande cronista  Lourenço Diaféria escreveu, com toda razão, que os paulistanos mijavam na estátua do Duque de Caxias, no centro da cidade, perto da Folha.
Bastava passar por lá e sentir o cheiro.
Para Claudio Abramo foi um desdobramento irônico e amargo do editorial que meu pai recusou e ele, Claudio, escreveu, sabe-se lá a que custo emocional e mesmo físico, uma vez que era um homem de esquerda.
Frias pôs imediatamente no lugar de Claudio um jornalista que ele mantinha por causa das relações deste com o regime: Boris Casoy, egresso do Comando de Caça ao Comunista e antigo locutor de rádio. (Anos depois, na televisão, ao falar dos lixeiros, Boris mostrou quão pouco mudou nestes anos todos.)
Como os infames caminhões da Ultragaz, os carros da Folha foram usados na caça a dissidentes
Como os infames caminhões da Ultragaz, os carros da Folha foram usados na caça a dissidentes

Assustado, medroso, Frias tratou também de tirar seu nome da primeira página do jornal, como responsável. Boris passou a figurar como o responsável.
Apenas para situar, Boris marcou uma ruptura na Folha. Até ali, os chefes de redação eram jornalistas completos: tinham feito grandes reportagens a partir das quais subiram até serem testados também como editores.
Boris simplesmente não sabia escrever. Ele estava no jornal, e num cargo elevado, por razões políticas, e não jornalísticas.
Isso gerou situações bizarras. Na morte de Samuel Wainer, cabia a Boris escrever um pequeno tributo na coluna “São Paulo”. Boris chamou meu pai para escrever por ele por não ter capacidade para realizar a tarefa.
Mercadante mostrou uma ignorância desumana ao desconhecer tudo isso na carta que mandou à Folha.
A demonstração espetacular de desconhecimento  é tanto mais grave por vir do ministro da Educação. Se ele não conhece com alguma profundidade um assunto tão próximo dele, o que ele conhecerá?
Terá lido livros? Quais?
Pela ignorância, mais ainda do que pela bajulação despropositada, Mercadante deveria ser afastado sumariamente do cargo que ocupa. Daqui por diante, ele será sempre lembrado como aquele sujeito que disse que o “seu Frias” foi um quase mártir na “luta pelas liberdades democráticas”.
A carta de Mercadante cumpre o papel inevitável das mensagens estapafúrdias, o de ser alvo de desprezo dos chamados dois lados. É altamente provável que Otávio Frias Filho não tenha enxergado na carta o que todo mundo enxergou.
Se existe um atenuante para Mercadante, é que parece haver no DNA do PT uma espécie de submissão mental aos donos da mídia.
Essa patologia ajuda a entender por que o Brasil não avançou nada, em dez anos de PT, na questão crucial para a sociedade de discutir os limites da mídia, a exemplo do que a Inglaterra acaba de fazer.
O momento simbólico dessa submissão – que o grande Etienne de La Boétie chamava de “servidão voluntária” – é assinado por Lula, ao escrever na morte de Roberto Marinho que ali se ia um, pausa antecipada para rir, um grande brasileiro, merecedor de três dias de luto oficial.

...


Na Má-ringa

GERAL do blog do Angelo RIGON, na Má-ringa

Cena do trânsito maringaense

Ontem, por volta das 23h45, um carro bateu em outros três e no container ao lado do Condomínio Residencial Villa Lobos, na praça Manoel Ribas, em Maringá. O blog ficou sabendo que o condutor tinha 16 anos. O pai chegou logo, mandou o menino embora, e assumiu o acidente. Alguns ouviram ele dizer: “Você sabe com quem está falando?”
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
COMENTÁRIO:
Um pai de classe média rica pode. Pode, phode. Quando seu filhinho matar alguém ele dirá: Você sabe com quem está falando? 

sábado, 27 de abril de 2013

Livro em pdf







Suetonio: Vida de los doce césares.http://uhphistoria.files.wordpress.com/2011/02/gaio-suetonio-los-doce-cesares.pdf

Sublime...

Do facebook de Cleusa Piana
 
Me explica por que um olhar de piedade
cravado na condição humana
não brilha mais que um anúncio luminoso?"

Manoel de Barros.

Arte: Guayasamín, El Camino del Llanto.
"Me explica por que um olhar de piedade
cravado na condição humana
não brilha mais que um anúncio luminoso?"

Manoel de Barros.

Arte: Guayasamín, El Camino del Llanto.
 
Eu choro litros quando leio algo assim. Sublime. Sublime....

Como os professores morrem no estado do Paraná...


 Do RIGON, na Má-ringa
 

Os gastos milionários de Richa com publicidade


O dinheiro do seu imposto Beto Richa não perdoa – gasta com a mídia. O oceano de dinheiro público destinado à propaganda e publicidade é hoje um dos pilares que sustentam o governo tucano no Paraná. Órgãos ligados ao governo do estado gastaram R$ 87.096.652,70 em publicidade institucional entre julho e dezembro do ano passado, mais R$ 5.166.147,67 de publicidade legal. A maior parte do dinheiro para propaganda institucional saiu da Secretaria de Estado de Comunicação Social (R$ 44.371.006,79), Sanepar (R$ 13.851.063,69), Detran (R$ 11.999.077,79), Copel (R$ 5.614.697,76), Fomento Paraná (R$ 3.124.749,35), Secretaria de Segurança Pública (R$ 2.426.887,46) e Compagás (R$ 2.067.848,56).
Das universidades estaduais, a UEM foi a que menos gastou com publicidade: R$ 4.390,00. A Unioeste liderou, com R$ 165.000,00. Os detalhes foram publicados no último Diário Oficial do Paraná, com data do dia 19, disponibilizado hoje.

Na Má-ringa: 4.625 notificações de dengue

Saúde do Blog do RIGON

Boletim da dengue

Em uma semana, as notificações de dengue em Maringá pularam de 3.975 para 4.625 – 650 a mais. Os casos confirmados este ano agora são 1.637 (na semana passada eram 1.353), de acordo com números fornecidos hoje à tarde pela Secretaria de Saúde. Neste ano foram registrados dois óbitos por dengue em Maringá.
 
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Campanha de prevenção e ataque aos focos da dengue para inglês ver na Má-ringa. Já escrevi aqui neste blog que em meu bairro faz um mês passou o "fumacê". Um mês. E só. Nada de campanha, de equipes de fiscalização e prevenção. O novo prefeito está quieto. Está também com dengue? Repito: a cidade está cheia de lixo nas ruas e calçadas. Cada tampinha de refrigerante jogada, se tiver água, gera uma boa população de moscquitos. Cadê a limpeza urbana? Cadê as campanhas educativas? NADA. Mas, teremos expoingá, a festa de boiadeiros, cowboys urbanos e a Marcha dos evangélicos regadas com dinheiro público. Chamaremos os Aedes para participar dessas festas? É terrível ver a omissão dos vereadores, do prefeito, dos assessores. Uma prefeitura vazia. Na era do vazio, mais uma buraco negro. É na Má-ringa.

Greves que você não vê, mas existem....

Do NOBLAT

Professores suspendem greve em MT, paralisação continua em SP e MA


Mariana Tokarnia, Agência Brasil
Em assembleia ontem (26), os professores da rede pública de Mato Grosso decidiram voltar ao trabalho, mas permanecem em estado de greve até o dia 8 de junho, quando começa o Conselho de Representantes com trabalhadores de todo o estado. Os profissionais da educação de São Paulo e do Maranhão mantêm a greve.
A paralisação nacional ocorreu de terça-feira (23) a quinta-feira (25) e fez parte da 14ª Semana Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública de Qualidade promovida pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).



Leia mais em Professores suspendem greve em Mato Grosso, paralisação continua em São Paulo e no Maranhão

Opozissão


cap-tirada do Blog do Noblat aqui:  http://oglobo.globo.com/pais/noblat/


"Rapaz, o jogo ainda nem começou e o Aécio [Neves] já quer me passar a tarefa dele.


Eduardo Campos, governador de PE, sobre Aécio Neves dizer que Campos é 'bem-vindo' à oposição, após as críticas que fez ao governo em programa do PSB

Na creche de terceira idade

Congresso X STF:crise foi fabricada em 1min47s
   


 do Blog do Josias de Souza





Condenado no mensalão, Genoino tinha pressa para aprovar emenda anti-STF: ‘É bom a gente votar logo’

O petista Décio Lima diz estar ‘limpando a pauta’
A crise que eletrifica as relações do Congresso com o STF há 72 horas foi fabricada numa pseudovotação que durou 1 minuto e 47 segundos (ouça aqui). Foi o tempo que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara levou para aprovar, na tarde de quarta-feira, a proposta de emenda constitucional que submete algumas decisões do Supremo ao crivo do Legislativo. O condenado do mensalão José Genoino (PT-SP) pediu pressa: “É bom a gente votar logo.”
São membros da comissão 130 deputados, entre titulares e suplentes. Documento oficial informa que estavam presentes 67. Lorota. A secretaria da comissão informou à direção da Câmara que o quórum restringia-se a cerca de 20 parlamentares. Os outros passaram pela comissão, assinaram a lista de presença e foram embora. Entre os que ficaram, não houve quem se animasse a debater a matéria.
Apresentada pelo petista Nazareno Fonteles (PI) e relatada pelo tucano João Campos (GO), a proposta tóxica foi levada a voto em sessão presidida por Décio Lima (SC), também petista. Havia outros projetos na fila. Mas os relatores ausentaram-se. “A gente segue a pauta e espera o relator”, sugeriu Genoino. Decidiu-se inverter a ordem de votação.
Décio Lima, um deputado ligado à ministra petista Ideli Salvatti (Relações Institucionais da Presidência), explicou que o companheiro Fonteles já havia requerido a inversão. E começou a ler o enunciado da proposta. Prevê que algumas decisões do STF só valerão depois de passar pelo aval do Congresso. Entre elas as declarações de inconstitucionalidade e as súmulas vinculantes, editadas pelo Supremo para guiar as sentenças das instâncias inferiores do Judiciário.

Tucano João Campos: ‘STF virou superlegislativo’
O petista Décio informou que o tucano João Campos opinara a favor da “admissibilidade” da emenda. Significa dizer que, na opinião dele, o texto não ofende a Constituição e respeita a boa técnica legislativa. “Há votos em separado”, prosseguiu o presidente da sessão, referindo-se aos relatórios que pediam a rejeição da emenda –um de Paes Landim (PMDB-PI), outro de Vieira da Cunha (PDT-RS).
Em ritmo de toque de caixa, Décio Lima absteve-se de pedir que fossem lidos os relatórios. Seguiu adiante: “Em discussão o parecer do deputado João Campos.” Passou a palavra para Onofre Santo Agustini (PSD-SC). Imaginou-se que seria aberto o debate. Engano. “Vou apenas fazer o seguinte comentário: como é apenas votar a admissibilidade, não vejo razão para discutir. Sou favorável à PEC”, limitou-se a dizer Onofre Agustini.
E Décio Lima, voltando ao acelerador: “Continua em discussão o parecer. Não havendo quem…” Súbito, o presidente percebe que Genoino deseja falar. Autoriza. “Senhor presidente, eu já expressei que sou favorável à PEC”, diz o condenado do STF. “E é bom a gente votar logo a admissibilidade dela.” Em ritmo de narrador de corrida de cavalos, o companheiro Décio encaminha a emenda para a reta de chegada.
“Continua em discussão. Não havendo quem queira discuti-la, em votação parecer do eminente deputado João Campos. Os senhores deputados que forem favoráveis permaneçam como se encontram. Aprovado.” Entre o “permaneçam como se encontram” e o “aprovado” não decorreu nem o tempo de um suspiro.
Encerrado o arremedo de votação, ouve-se ao fundo a voz do tucano Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Réu no processo do mensalão do PSDB mineiro, à espera de julgamento no STF, ele avisa a Décio Lima que “já chegou o realator” de outro projeto. Pede que a sessão siga seu curso. Na linha de montagem da Comissão de Justiça, estava fabricada a crise que, irresolvida, invadiu o final de semana.

Henrique Alves leva emenda ao freezer
Nesta sexta-feira, o ministro Dias Toffoli, do STF, enviou ofício ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Determinou que sejam encaminhadas à Corte, em 72 horas (a contar do recebimento), explicações sobre o que se passou na Comissão de Constituição e Justiça. Fez isso porque lhe coube relatar um mandado de segurança impetrado pelo PSDB e pelo ex-PPS, agora MD.
Um dos signatário da peça, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), vive uma experiência paradoxal. Recorre ao STF para brecar a tramitação da proposta que seu vice-líder, o deputado João Campos, referendou. Para Sampaio, o projeto do petista Fonteles não é apenas inconstitucional. Trata-se de “uma aberração”. Para o bico de Campos, é uma “ponderada contribuição”, capaz de devolver o STF ao seu lugar. “O Supremo vem se tornando um superlegislativo”, anota o tucano em seu parecer.
Surpreendido com a novidade, Henrique Alves conversou com o petista Décio Lima, o presidente do desastre. Perguntou o que sucedera. Ouviu uma explicação singela: a pauta da comissão está atulhada e ele decidiu limpar as prateleiras. A emenda de Fonteles era de 2011. E não havia razões para sobrestá-la.
Numa tentativa de jogar água fria na fervura, Henrique Alves decidiu levar a emenda ao freezer. Adiou por tempo indeterminado a comissão especial que teria de ser constituída para analisar o mérito da emenda anti-STF depois que a Comissão de Justiça considerou-a apta a tramitar.
Nesta segunda-feira, Henrique e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se reunirão com o ministro Gilmar Mendes, do STF. Tentarão convencê-lo a rever a liminar que sustou a tramitação do projeto de lei que impõe um torniquete financeiro e de propaganda aos novos partidos. No condomínio governista, dá-se de barato que a liminar de Gilmar foi uma reação à emenda do companheiro Fonteles.
 
Há nos arquivos da Câmara um documento que mostra como nascem os desastres no Legislativo. Antes de apresentar uma emenda à Constituição, o autor precisa recolher as assinaturas de apoiadores. O deputado Nazareno Fonteles arrastou para dentro de sua emenda 219 jamegões. Gente de todos os partidos –de Chico Alencar (PSOL-RJ) a Ronaldo Caiado (DEM-GO), de Tiririca (PR-SP) ao pastor Marco Feliciano (PSC-SP), de Renan Filho (PMDB-AL) a Zeca Dirceu (PT-PR). Em tese, quem assina deve ler ao menos o cabeçalho da emenda. E a proposta de Nazareno é explícita da primeira letra ao ponto final. Quer dizer: está-se diante de um despautério coletivo.

Exterminadores do futuro....


sexta-feira, 26 de abril de 2013

Braziu, ziu ziu...

BRASIL DE FATO

do Blog de Roberto Romano

Produção criminosa de roupas em São Paulo

Grandes empresas da moda estariam fomentando o tráfico de pessoas para abastecer uma rede de exploração lucrativa que culmina no trabalho escravo de imigrantes

26/04/2013
Márcio Zonta
da Redação

Há duas semanas, mais seis imigrantes bolivianos flagrados em condição análoga à escravidão foram resgatados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), de uma oficina clandestina de costura na cidade de São Paulo. Com mais essa abordagem do MTE, no ano de 2013, contabiliza-se quarenta imigrantes resgatados na capital paulista submetidos à mesma forma de exploração no trabalho.

Procedentes geralmente do Peru, Bolívia e Paraguai, os imigrantes trabalham em locais insalubres, trancafiados e sem ventilação na região central da cidade, principalmente nos bairros do Pari, Brás e Bom Retiro.

Leia mais:

A jornada de trabalho diária alcança de 14 a 16 horas sem acesso aos direitos trabalhistas vigentes no Brasil. Segundo o MTE, a cidade de São Paulo possui entre 8 e 10 mil oficinas de costura clandestinas, ocupadas em média por entre quinze e vinte costureiros. Os casos que se tornaram recorrentes na mídia somente nos últimos anos fazem parte de uma contínua exploração, que existe há mais de vinte anos na capital paulista.

Para especialistas ouvidos pela reportagem do Brasil de Fato, a prática exploratória ganhou outro artifício nos dias atuais, envolvendo o crime de tráfico de pessoas para abastecer uma rede de exploração, beneficiária a famosas grifes de moda e do varejo nacionais e internacionais instaladas no Brasil.

Retornando de uma viagem recente à Bolívia, onde discutiu o assunto com parlamentares bolivianos, o deputado Claudio Puty (PT-PA), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito do Trabalho Escravo, revela que investigações apontam o envolvimento de grandes empresas da moda na exploração trabalhista ilegal de imigrantes no país.

“Apuramos em São Paulo que empresários brasileiros, bolivianos e coreanos estão à frente das oficinas que exploram esses trabalhadores, no entanto, seriam os intermediários de grandes empresas que pagam R$ 0,20 pela confecção de uma peça de roupa e vendem em grandes lojas de marcas por R$ 100 ou mais”, destaca.

Esquema

Na Bolívia, Peru e Paraguai, empresas de costura que atuam de fachada seriam as principais aliciadoras para fornecer mão de obra à rede de exploração nas oficinas clandestinas em São Paulo. “Essas empresas ministram cursos de costureiro preparando as pessoas para serem trazidas ao Brasil”, revela Roque Renato Pattussi, coordenador do Centro de Apoio ao Migrante (Cami).

Um contrato verbal no país de origem, entre aprendizes e donos das firmas de costura, acordaria um salário de 150 dólares por mês em São Paulo, além da garantia de alimentação e moradia sem custo ao trabalhador. Assim, uma vez instalados nesses locais de trabalho na chegada em São Paulo, os imigrantes estariam contidos à cadeia de produção de grandes marcas da moda e do ramo do varejo.
“Na maior parte dos casos, os maiores beneficiários são os grandes magazines”, acusa Elias Ferreira, advogado e secretário- geral do Sindicato das Costureiras de São Paulo. Elias relata que muitas dessas companhias de moda, que usufruem da indústria têxtil, sabem da existência do trabalho escravo na cadeia de produção de seus produtos.

“Fazendo o papel investigativo, localizamos as oficinas clandestinas, informamos ao Ministério Público, Ministério do Trabalho e Polícia Federal e muitas vezes averiguamos que as empresas sabem, porém há casos em que há o desconhecimento do fato”, constata.

Para Pattussi, não há duvida: a legião de imigrantes vindos dos países fronteiriços com o Brasil tem endereço certo. “São trazidos às oficinas clandestinas de costura em São Paulo, que em sua grande maioria estão ligadas à cadeia de produção das grandes lojas”, enfatiza.

Tráfico de pessoas

Além do trabalho análogo à escravidão nas oficinas de costura clandestinas, a rede de exploração forja ainda outro crime: o tráfico de pessoas. Aliciados com a promessa de moradia, alimentação e salário, os imigrantes contraem dívidas com passagens, visto e toda permanência em São Paulo, sendo muitas vezes mantidos nesses espaços em decorrência de servidão por dívida.

Diante dessas circunstâncias, o tráfico de pessoas seria o alicerce para garantir um contingente de bolivianos, peruanos e paraguaios para mão de obra nas oficinas envolvidas no esquema de exploração.

“O crime de traficar pessoas nesse caso se constitui como uma condição, um meio que serve ao contexto de exploração do trabalhador no ramo têxtil de São Paulo”, elucida Juliana Armede, advogada e coordenadora dos programas de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e do Combate ao Trabalho Escravo da Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo.

Os diversos casos acompanhados pela advogada na Secretaria de Justiça apontam que o esquema de exploração de imigrantes costureiros na cidade fomenta o delito. “De maneira concreta, nós identificamos na cidade de São Paulo que o tráfico de pessoas, no âmbito latino-americano, sobretudo envolvendo os bolivianos, está destinado diretamente às oficinas clandestinas”, assegura Juliana.

Os responsáveis

Daslu, Sete Sete Cinco, GEP, Zara, Marisa, C&A, Pernambucanas, Collins, são algumas das empresas famosas nacionais e internacionais do ramo da moda que já tiveram seus nomes atrelados ao trabalho escravo.

O grupo espanhol Inditex, proprietário da marca Zara, registrou lucro recorde em 2012. Apesar da crise econômica na Europa, a empresa faturou 2,361 bilhões de euros. No ano passado, a companhia de moda espanhola abriu 482 novas lojas espalhadas em diversos países. Seu dono, Amancio Ortega, está entre os cinco homens mais ricos do mundo.

Segundo Juliana, as empresas cuja cadeia de produção esteja envolvida com trabalho escravo também teriam que ser responsabilizadas pelo tráfico de pessoas, como componente do processo de exploração trabalhista ilegal. “É necessário que responsabilize a empresa que ratifica a exploração, sobretudo, de um tráfico de pessoas do ponto de vista trabalhista”, menciona.

Todavia, não se pode garantir que mesmo as empresas já flagradas com trabalhadores em condição análoga à escravidão, em sua cadeia de produção, não repita mais o crime. A fiscalização constante do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Polícia Federal e do Sindicato das Costureiras de São Paulo, tem feito as oficinas clandestinas mudarem para outras localidades, não garantindo sua eliminação.

“Devido à inspeção do poder público e de entidades de classe, muitas dessas oficinas migraram para Carapicuíba, Osasco, Itaquaquecetuba e Campinas. Ir para o interior de São Paulo é uma maneira de se esconder melhor e dificultar possíveis denúncias dos trabalhadores envolvidos, além de dificultar o contato dos imigrantes com outras pessoas, como acontece facilmente no centro de São Paulo”, denuncia Pattussi.

(Foto: Anali Dupré/Repórter Brasil)

FAPESP

Mudança polêmica

Lei que altera carreira de docentes das universidades federais preocupa comunidade científica
BRUNO DE PIERRO | Edição 205 - Março de 2013
© CATARINA BESSEL
Um conjunto de mudanças na carreira dos professores das universidades federais, que passam a valer no início deste mês, provocou reações ásperas na comunidade científica e em parte das entidades representativas dos docentes. O alvo das críticas é a lei nº 12.772/2012, sancionada pela presidente Dilma Rousseff no dia 28 de dezembro, resultado de um acordo entre o governo federal e a Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes-Federação) celebrado após a greve que paralisou as universidades federais no ano passado. Embora tenha motivações ligadas aos salários dos docentes – que terão reajuste médio de 16% em 2013 –, a nova lei modifica pontos estruturais da carreira que vigoravam desde abril de 1987. “A lei deveria ser rasgada, pois o conceito de universidade foi ferido”, afirma Helena Nader, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que em fevereiro alertou a presidente Dilma da insatisfação da comunidade científica durante uma reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia.

Os críticos argumentam que a lei pode desestimular a pesquisa universitária nas federais e inviabilizar a atração de grandes talentos para a carreira acadêmica. Isso porque o ingresso na universidade federal só poderá ocorrer no primeiro nível da classe de professor auxiliar, independentemente da titulação do docente, e a progressão entre um nível e outro da carreira passa a exigir o intervalo de 24 meses. Segundo a nova lei, a universidade federal passa a ter dois tipos de professor titular. Um é o titular de carreira, que, além de ter doutorado, precisa galgar os degraus da vida acadêmica. Outro é o titular-livre, talhado para quem já tem pelo menos 20 anos de doutorado e quer ingressar numa federal.
 
Para ilustrar o problema, a pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Debora Foguel, conta um caso emblemático, que, segundo ela teme, pode se tornar recorrente. Recentemente, a UFRJ recebeu a visita de Cedric Villani, um jovem matemático francês que conquistou em 2010 a cobiçada Medalha Fields, concedida pela União Internacional de Matemática. Villani obteve o título de doutor em 1998. Se fosse convidado a ingressar na UFRJ, teria de entrar como auxiliar 1. Como não tem 20 anos de doutorado, também estaria desabilitado para ser professor titular-livre. “Isso será um problema, já que estamos trazendo vários pesquisadores brilhantes dentro do programa Ciência sem Fronteiras. A esses, teremos que oferecer vagas de professor auxiliar. Na hipótese de querer trazer o Cedric Villani, eu não teria coragem sequer de fazer tal convite”, declara Debora. Para Helena Nader, o tempo de doutorado não tem vínculo direto com a competência. “Você pode ter alguém com cinco anos de doutorado, mas que já tem condições de ser professor titular”, explica.
 
A lei também veta a abertura de concursos específicos para as classes de auxiliar, assistente e adjunto. Mesmo que o aprovado tenha título de doutor, o ingresso será na categoria de auxiliar e, passados três anos do período probatório, ele segue para o nível de adjunto. A promoção, contudo, pode ser acelerada de acordo com a titulação do professor – mestrado ou doutorado. O presidente da Proifes-Federação, Eduardo Rolim, explica que a razão disso se baseia em acórdãos do Tribunal de Contas da União, que impedem o ingresso de servidores no meio da carreira. “Isso aconteceu até agora porque nossa carreira é de 1987, anterior à Constituição de 1988”, acrescenta.
 
A insatisfação das sociedades científicas cresceu em agosto, quando o Palácio do Planalto apresentou o projeto que deu origem à lei. O texto causou polêmica também entre as entidades sindicais. Na ocasião, após reunião entre representantes dos ministérios do Planejamento e da Educação e de três entidades ligadas aos professores, duas delas – o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN) e o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) – não assinaram o acordo, entre outros motivos por considerarem que o projeto desestruturava a carreira de docente. Em novembro, enquanto o projeto tramitava na Câmara, a SBPC e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) divulgaram um manifesto no qual afirmavam que alguns aspectos da proposta poderiam trazer “graves dificuldades, problemas e, por que não dizer, retrocesso para as universidades federais brasileiras, principalmente no que tange à qualidade da pesquisa”.
 
O novo texto estabelece que os concursos devem exigir pelo menos diploma de graduação, mas não deixa claro se as instituições poderão continuar a restringir o edital apenas para candidatos que possuam o título de doutor, como a maioria faz hoje. “Os professores que ingressam nas universidades federais sem título de doutor muito dificilmente conquistam tal título ao longo da carreira”, afirma Debora Foguel. As universidades pretendem seguir exigindo em seus concursos que os candidatos tenham título de doutor. “Mas confesso que estou temerosa que essa estratégia seja objeto de contestação na Justiça por parte de candidatos”, avalia a professora da UFRJ, instituição na qual apenas 20% dos docentes não são doutores.
 
As alterações na legislação forçaram algumas universidades a cancelar, às pressas, concursos que estavam em andamento. De acordo com Helena Nader, um desses concursos teria como candidato um experiente professor que concorreria ao cargo de titular na Unifesp. Ao saber do cancelamento do edital e das novas condições para ingressar na universidade, ele preferiu desistir da vaga. “A universidade deve gerar conhecimento novo, não apenas transmitir conceitos”, avalia a presidente da SBPC. Para a professora do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP Elizabeth Balbachevsky, as universidades federais podem perder a oportunidade de trazer de volta brasileiros que realizam pesquisa em países que no momento sofrem com a crise econômica. “Você acha que um professor que esteja na Universidade Stanford, na Califórnia, voltará para cá para ser professor auxiliar?”, indaga Balbachevsky.
 
A ex-secretária Nacional de Educação Superior e professora do curso de direito da Universidade de São Paulo (USP) Maria Paula Dallari Bucci acompanhou o início das discussões sobre alguns conceitos presentes na lei, quando, ainda no MEC, conduziu um esforço conjunto com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) para a implementação da autonomia das universidades federais. A lei nº 12.772, segundo ela, deve ser lida com atenção, levando em conta artigos inovadores que estão sendo negligenciados nas discussões. No artigo 21º, por exemplo, que especifica o que é permitido durante o regime de dedicação exclusiva, há uma passagem que, segundo Maria Paula, beneficia diretamente a pesquisa nas universidades federais: a retribuição, em caráter eventual, por trabalho prestado no âmbito de projetos institucionais de pesquisa e extensão. Outro ponto lembrado pela professora é a regulamentação do estágio probatório. “O professor que fez o concurso não tem a permanência garantida. Ele passa por uma avaliação de desempenho e isso evita a acomodação de professores. É uma das poucas leis no Brasil que tratam disso”, afirma. O artigo 26º também é considerado importante por ela — junto com o mecanismo de reposição automática de docentes aposentados, falecidos ou desligados, criado em 2007 —, pois institui uma comissão para formulação e acompanhamento da execução da política de pessoal docente. “A lei permite a gestão do quadro de professores pela universidade, de acordo com o projeto dela. Cada universidade tem seu projeto, seus desafios e dificuldades”, conclui Maria Paula.
 
O vice-presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), Luiz Henrique Schuch, contesta a afirmação da ex-secretária do MEC de que a lei amplia a autonomia universitária. “A nova lei delega ao ministério o estabelecimento de diretrizes que ainda não foram definidas.” Isto configura, na visão de Schuch, uma afronta à autonomia, uma vez que o desenvolvimento na carreira deveria ser definido no âmbito institucional.
 
Outra novidade é que acaba a limitação de 10% de professores titulares nos quadros das universidades. Qualquer docente, na categoria professor associado 4, com título de doutor, poderá pleitear a promoção para titular, independentemente da existência da vaga. “Sem essa limitação, será mais fácil atrair professores qualificados que vêm de fora e desenvolver a pós-graduação em universidades mais jovens”, diz Rolim.
 
Elizabeth Balbachevsky, contudo, observa no caso brasileiro um movimento contrário à tendência mundial de permitir que a universidade desenvolva seu próprio plano de carreira. A professora participou de um estudo internacional que avaliou, entre 2005 e 2007, o impacto da globalização na profissão acadêmica em 19 países de todos os continentes. O estudo mostra que, tradicionalmente, a organização da profissão nas universidades oscila entre dois grandes tipos ideais: o mercado acadêmico, da experiência norte-americana, e o modelo estatal. O primeiro se caracteriza por uma alta mobilidade, em que a instituição negocia condições específicas de contratos, quando está interessada em atrair um determinado profissional. Essa situação tende a criar uma intensa mobilidade de profissionais em todos os níveis de carreira, pois, conforme o professor amadurece, ele tem maior capacidade para negociar condições específicas com as instituições que se interessam por ele.
Esse é o segredo do dinamismo do sistema universitário dos Estados Unidos, diz a professora, pois é relativamente fácil para uma instituição criar competência em áreas emergentes de pesquisa, contratando alguns pesquisadores com nome e experiência na área e que lideram a formação de novos laboratórios e grupos de pesquisa. “Um professor recém-formado não terá condições para atrair recursos para projetos mais ambiciosos e liderança para propor uma agenda de pesquisa relevante”, pontua.
 
No segundo modelo, o acadêmico é contratado como servidor público, e daí decorre sua estabilidade, o que tende a contribuir para a fixação do pesquisador numa instituição muito cedo. Esse modelo era muito comum em países europeus. Ainda assim, em diferentes países a estrutura de acesso a diferentes pontos da carreira, especialmente na posição de professor titular, tendia a promover a mobilidade dos professores, especialmente os mais ambiciosos, interessados em subir na carreira. Nas últimas décadas, essa concepção de plano de carreira perdeu força na Europa, onde, desde o final dos anos 1980, já se identificava uma capacidade de resposta limitada ante as crescentes demandas da sociedade, onde a competitividade da economia depende da capacidade de se manter na liderança da inovação (ver mapa). Dentre os países emergentes, a China também introduziu reformas importantes na carreira acadêmica, deixando-a mais flexível, explica Elizabeth. “Para a China, a reforma do ensino superior é central para a estratégia do país de sair de um modelo de inserção no mercado internacional baseado no baixo custo de mão de obra para outro baseado em vantagens competitivas criadas pela capacidade de inovação das indústrias chinesas”, diz.
 
O MEC defende a nova lei, mas admite que poderá rediscutir alguns pontos. Em nota, a Secretaria de Educação Superior do MEC afirmou que “algumas das questões sobre a estruturação do Plano de Carreiras e Cargos de Magistério Federal estão sendo tratadas pelo MEC diretamente com as universidades”. Ainda segundo o ministério, o objetivo da lei é buscar a valorização da dedicação exclusiva e a titulação dos docentes. Em janeiro, uma nota técnica divulgada pelo MEC tenta esclarecer pelo menos um tópico da lei. De acordo com o documento, além da exigência de diploma de graduação, as instituições poderão solicitar nos editais outros requisitos, como a apresentação de títulos de pós-graduação, de acordo com o interesse da universidade.

Universidades públicas....

Do Blog de Roberto Romano

Fato, professor Romano.

Jornal da Unicamp. É para tal fim que existe uma universidade pública.
Baixar versão em PDFCampinas, 22 de abril de 2013 a 29 de abril de 2013 – ANO 2013 – Nº 558

Biomédica testa novos métodos
para tratamento de queimaduras

Nanopartículas poliméricas e de prata apresentam
bons resultados em testes in vitro e in vivo

Um desafio das pesquisas na área de cicatrização de queimaduras é o desenvolvimento de materiais que apresentem as características adequadas ao tratamento e que sejam produzidos com matérias-primas de baixo custo e de fácil obtenção. A nanotecnologia tornou-se a palavra de ordem nos últimos anos, por conseguir levar a efeito estes dois parâmetros.

A biomédica Larissa Barbosa de Paula enveredou seu estudo de mestrado, no Instituto de Biologia (IB), para essa direção, preparando nanopartículas de prata produzidas por método biotecnológico empregando o fungo Fusarium oxysporum, e nanopartículas poliméricas recobertas por quitosana e contendo S-Nitrosoglutationa (GSNO). A sua conclusão foi que tais tratamentos debelaram o processo inflamatório e possibilitaram o tratamento de lesões provocadas por queimadura.
Em animais de laboratório, após 14 dias de tratamento com géis contendo nanopartículas, as poliméricas mostraram uma redução no diâmetro das feridas maior que as de prata (AgNP). Entretanto, com mais sete dias de tratamento (21 dias), este quadro se inverteu: o diâmetro das feridas tratadas com AgNP estava menor que o das nanopartículas poliméricas. “Mas as duas cicatrizaram muito bem”, conta a pesquisadora.
Ao final dos 35 dias de tratamento, o grupo-controle (que recebeu apenas o gel) ainda sinalizava feridas, enquanto que nos grupos tratados com os sistemas nanoparticulados, as feridas já tinham sido cicatrizadas e, em alguns animais, chegou-se a registrar o crescimento de folículos capilares (pelos).
As nanopartículas de prata foram produzidas extracelularmente pelo Fusarium oxysporum, que possui mecanismos (não totalmente elucidados) para reduzir íons de prata, quando exposto a uma solução contendo este metal. São nanopartículas esféricas altamente estáveis e com elevada atividade antimicrobiana, essencial no tratamento de queimaduras, uma vez que a infecção é uma das principais complicações clínicas deste tipo de lesão.


De acordo com Larissa de Paula, os métodos adotados em seu estudo já existem. “Empregamos o método biotecnológico para a preparação das nanopartículas de prata e o método de dupla emulsão e evaporação do solvente para as nanopartículas poliméricas”, revela. “A inovação ficou por conta da sua aplicação em feridas provocadas por queimaduras.”
Ao mesmo tempo, ela encapsulou um composto formado por glutationa e óxido nítrico (GSNO) em nanopartículas preparadas com um polímero biodegradável-biocompatível e recobertas por quitosana (que também possui elevada atividade antimicrobiana).
Uma das maiores vantagens desse sistema é a de proteger o fármaco dentro do organismo e alcançar uma liberação sustentada, eliminando a necessidade de reaplicação e tornando-se uma alternativa às terapias de longo prazo.
O GSNO, já testado em feridas crônicas como de pacientes diabéticos, também nunca fora testado em queimaduras e demonstrou grande potencial de cicatrização nos experimentos. O recobrimento com quitosana, segundo a mestranda, além de proporcionar atividade antimicrobiana, permite uma maior permanência das nanopartículas em superfícies mucosas, prolongando a liberação do princípio ativo encapsulado.
TRATAMENTO USUAL
O tratamento mais usado nos hospitais é o creme à base de sulfadiazina de prata 1%. Entretanto, após sua aplicação, costuma-se ocluir a ferida com gaze. Por exigir trocas frequentes, este tipo de tratamento torna-se bastante incômodo e doloroso para o paciente.
Alguns produtos, como loções oleosas à base de ácidos graxos essenciais, gazes impregnadas com Aloe vera e membranas de poliuretano, constituem opções menos doloridas, por não aderirem à ferida. Todavia, são em sua maioria importados, elevando os custos do uso em larga escala nos centros de terapia para queimados. Estima-se que o Sistema Único de Saúde (SUS) gaste por ano cerca de R$ 55 milhões com tratamentos desses pacientes.
A biomédica explica que ambas as nanopartículas foram aplicadas nos animais duas vezes ao dia, sob a forma de gel que foi posteriormente absorvido pelo organismo, assim como as nanopartículas poliméricas. “É um dos métodos mais empregados na indústria cosmética e farmacêutica para o preparo de pomadas e cremes, por ser inerte ao organismo. É usado como um veículo para as substâncias”, explica.
A principal indicação dos géis contendo as nanopartículas desenvolvidas pela biomédica seria para o tratamento de queimaduras pouco graves e de pequena a média extensão. “Seria inviável para o tratamento de uma lesão que acometeu 80% do corpo, o que exigiria quantidades muito grandes do produto. Queimaduras muito graves e/ou extensas também podem acometer pulmões e outros órgãos vitais, diminuindo ainda mais a expectativa de vida do paciente, sendo necessárias medidas mais rápidas”, reforça Larissa.
CAMINHO LONGO
O trabalho da pesquisadora, orientado pela professora Patrícia da Silva Melo, foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (Ceua) da Unicamp e desenvolvido no laboratório do docente Nelson Durán, no Instituto de Química (IQ).
Além disso, todos os compostos passaram por testes de citotoxicidade antes da aplicação nos animais, garantindo a não toxicidade da concentração aplicada. Os testes foram feitos na Faculdade Metrocamp, onde a biomédica concluiu a sua graduação e hoje ministra aulas para o curso de ciências biomédicas.
Larissa de Paula reconhece que o caminho para chegar à etapa dos ensaios clínicos será longo, pois o processo deve passar primeiramente por testes in vitro e em animais (que são divididos em três etapas). Somente depois desta bateria de testes, vêm os ensaios clínicos, para que alguma empresa se interesse pelos produtos e eles cheguem à comercialização.
DADOS DE QUEIMADURAS
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as queimaduras constituem um dos maiores problemas de saúde pública. No Brasil, estima-se que aconteçam um milhão de acidentes com queimaduras térmicas por ano. Há apenas 10% de hospitalização e cerca de 2,5 mil óbitos em todas as faixas etárias, conforme informações da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ). As queimaduras também estão entre as causas primárias externas de morte, atrás apenas de causas violentas, como acidentes de trânsito e homicídios. Além disso, queimaduras graves prejudicam a integridade da pele, levando à formação de cicatrizes hipertróficas e queloides.
Juntamente com o trauma do acidente e os processos dolorosos de tratamento, as marcas deixadas pelas queimaduras acarretam baixa autoestima e ansiedade social aos pacientes, contribuindo para o desenvolvimento de doenças durante e após a reabilitação.
A literatura aponta um número considerável de pacientes que apresentam doenças como depressão e transtorno de estresse pós-traumático, que não voltam a trabalhar e que são passíveis de ressarcimento pelos sofrimentos psíquicos acarretados.
No Estado de São Paulo, há poucos centros especializados no tratamento de queimados: os de Paulínia, Sorocaba e São Paulo são alguns deles.
Publicação
Dissertação:“Nanopartículas poliméricas e de prata: avaliação da toxicidade in vitro e in vivo e do processo de cicatrização em animais submetidos à queimadura térmica”
Autora: Larissa Barbosa de Paula
Orientadora: Patrícia da Silva Melo
Unidade: Instituto de Biologia (IB)