Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Indignai-vos!


do Blog de Paulo Nogueira

1. Morre pai intelectual dos movimentos de protesto contemporâneos

O pensador, escritor e diplomata franco-alemão Stéphane Hessel, autor do popular manifesto “Indignai-vos”, morreu nesta quarta-feira (27) aos 95 anos.
Sua fama mundial chegou pelas mãos do “Indignai-vos”, um manifesto político publicado na França em outubro de 2010, e que nas palavras do autor “conclama os jovens a se indignar”. Em apenas 32 páginas, Hessel fez uma chamada à resistência da população que inspirou movimentos de protesto no mundo todo, entre eles, os “Indignados” da Espanha. “A pior das atitudes é a indiferença, é dizer ‘não posso fazer nada, estou me virando’”, afirmou.

opozissão

Ah, a opozissão! O que deu em FHC, um sociólogo, declarar a ingratidão da presidenta? Perdeu o rumo mesmo e dá mostras de que programa político, plataforma e essas coisitas más da vida partidária não contam nada. Contam os discursos adjetivados (ingrata, feia, blá blá...), o narcisismo exacerbado, as piadas...FHC francamente, pode jogar seu diploma de sociólogo fora. Sem prumo.


Ainda ontem Lula se declarou um Lincoln. E eu sou a Marta Rocha.

 

O que Dilma deve a FHC para ser chamada de ingrata?

Paulo Nogueira26 de fevereiro de 201349
Ingratidão ele recebeu foi de Serra, e não falou nada.
Ingrata por quê?
Ingrata por quê?
Entendi, mas não compreendi, como dizia um programa de humor do passado.
Entendi que FHC acusou Dilma de ingrata, mas não compreendi.
Que Dilma deve a FHC para que ela possa ser classificada como ingrata? Lula teria o direito de se queixar dela, se achasse haver motivos. Ele a fez presidenta.
Mas FHC?
Dilma foi elegante com ele quando ele completou 80 anos ao reconhecer, justificadamente, seu grande papel na estabilização do país com o Plano Real.
Havia ali uma tentativa aparente de pacificar os ânimos entre PT e PSDB. FHC respondeu a isso com a estapafúrdia tese da “herança maldita” que Lula teria deixado a Dilma, contrariada pelas estatísticas e pelas urnas. E destruiu com isso o aceno de pacificação.
FHC teve uma grande chance, no passado, de falar em ingratidão. Foi quando Serra, na campanha de 2002, o tratou como um embaraço, como um tio velho do interior, numa humilhação pública inesquecível. Era uma vingançazinha de Serra, que jamais engoliu não ter sido colocado na posição de czar da economia por FHC. Foi, aliás, um dos maiores acertos de FHC não dar poder a Serra, amplamente detestado então no governo tucano.
Tivesse FHC enfrentado Serra quando este lhe deu o troco mesquinho em 2002 o PSDB não teria talvez, nestes últimos anos, se transformado num partido desconectado das ruas, dos brasileiros simples e das vitórias eleitorais.
Mas não.
FHC se calou quando tinha que falar, pelo bem de seu partido e do próprio Brasil, e fala agora, quando deveria silenciar.
De outro ataque de FHC não vou falar: da “usurpação” por Lula de sua obra. O que tem havido claramente é o oposto: um esforço de FHC em usurpar as ações sociais de Lula. Já lamentei a velocidade aquém do desejado dos avanços sociais promovidos no Brasil nos últimos dez anos, com o PT no poder. Ainda assim, por comparação, eles foram gigantesco diante de todos os governos pregressos do Brasil contemporâneo, excetuado o de Getúlio Vargas.
Bem ou mal, o tema da vergonhosa desigualdade social brasileira — calado pela mídia tão entretida em campanhas autobenerentes como a redução dos impostos — veio ao centro dos debates com Lula. Isso dará a ele, perante a história, uma estatura francamente maior que a de FHC, a despeito de sua vitória sobre a inflação. FHC estava demasiadamente envolvido com o 1% para pregar justiça social para os 99%.
Ingratidão? Usurpação? Pausa para rir.
Começa muito mal, conforme o esperado, a louca cavalgada do PSDB rumo a 2014.

Tiranos perdem a mamata: já era tempo!

ROBERTO ROMANO:

UOL Notícias dá minha opinião sobre o 14 e 15 salários dos parlamentares: é tirania pura.



Fim do 14º e 15º salários de parlamentares é "pequeno passo", mas redime "falha imperdoável do sistema", diz filósofo

Camila Neuman
Do UOL, em São Paulo
  • Sergio Lima/Folhapress
    Congresso Nacional ficou vazio após o feriado de Carnaval; a votação do fim dos salários foi a primeira do ano na Câmara, desconsiderando votação de medidas provisórias Congresso Nacional ficou vazio após o feriado de Carnaval; a votação do fim dos salários foi a primeira do ano na Câmara, desconsiderando votação de medidas provisórias
O filósofo Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), avalia como "um pequeno passo para redimir uma falha imperdoável no sistema parlamentar brasileiro" a aprovação da extinção do 14º e 15º salários dos parlamentares pela Câmara nesta quarta-feira (27) em Brasília.

Câmara aprova fim do pagamento de 14º e 15º salários a parlamentares. Qual sua opinião?

Resultado parcial
"O que nossos políticos fazem, sobretudo no Brasil? Usam recursos públicos como se fossem deles. Então ao abrirem mão dessa parcela do dinheiro púbico que não lhes pertence, dão um pequeno passo no sentido de redimir uma falha imperdoável do sistema parlamentar brasileiro", disse Romano.

Atualmente, os parlamentares (deputados e senadores) recebem 15 salários, cada um de R$ 26,7 mil, por ano. Os dois pagamentos a mais são feitos em fevereiro e em dezembro de cada ano, a título de ajuda de custo. O depósito de fevereiro de 2013 já foi feito.
Segundo o filósofo, os salários extra significavam gestos de "tirania" dos parlamentares por usarem "indevidamente o dinheiro público que não lhes pertence".

"Eu acho que se esses pagamentos forem suspensos é um pouco mais de respeito que os parlamentares mostram diante do dinheiro do povo. Mostram que [a suspensão] atenua um pouco a tirania que os move. A definição mais importante de tirania vem de Platão e Aristóteles e foi assumida no começo da Modernidade. Nessa formulação diz que o tirano é aquele que usa os bens dos governados como se fossem seus", afirma.

Câmara aprova fim de 14º e 15º; veja trechos da sessão

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Imagem: Antoine Josse
Enviado pelo amigo virtual Grozny Arruda
Grata!
 
O filho e a mãe-coragem, por Zuenir Ventura
Zuenir Ventura, O Globo – 27.2.13
 
O estudante Stuart Angel, que esta semana deu nome a uma escola pública no bairro de Senador Camará, foi submetido em 1971 a um ritual atroz. Preso na Base Aérea do Galeão por atividade subversiva, não resistiu ao suplício: amarrado a um jipe, com a boca presa ao cano de descarga, passou a ser arrastado até que, com o corpo esfolado, morreu envenenado pelos gases tóxicos do carro. O também militante Alex Polari foi quem, tendo presenciado a tortura da janela de sua cela, relatou-a em carta à mãe de Stuart.
 
A partir de então, Zuzu Angel, uma figurinista famosa aqui e lá fora, se dedicou à busca incessante do corpo do filho. Usando sua notoriedade internacional e o fato de que Stuart, filho de um pastor americano, tinha dupla nacionalidade, atraiu para sua luta clientes como Joan Crawford, Liza Minnelli e Kim Novak, além de conseguir que o então senador Edward Kennedy levasse o caso ao Congresso americano.
 
Obstinada e corajosa, Zuzu fez coisas arriscadas para a época, como driblar a segurança do então secretário de Estado Henry Kissinger, em viagem ao Rio, para entregar-lhe o dossiê que preparara. Também sem perder o humor fez da moda um instrumento de protesto, realizando um desfile-denúncia em pleno consulado do Brasil em NY, com roupas estampadas com manchas vermelhas, pássaros engaiolados e motivos bélicos. O anjo ferido e amordaçado da coleção tornou-se o símbolo do seu filho.
 
A 14 de abril de 1976, Zuzu morreu num acidente de carro suspeito. Meses antes, entregara um bilhete aos amigos Chico Buarque, Paulo Pontes e eu, anunciando: “Se algo vier a acontecer comigo, se eu aparecer morta por acidente, assalto ou qualquer outro meio, terá sido obra dos mesmos assassinos do meu amado filho.” A lápis, acrescentou: “Esteja certo que não estou vendo fantasmas.” No dia seguinte à morte, resolvemos reproduzir à máquina cópias do texto para enviar pelo correio a parlamentares e colunistas. Cada um ficou com um certo número de envelopes que foram postados em lugares diferentes para despistar. Naqueles tempos, todo cuidado era pouco.
 
Um dos envelopes mandei do Méier. Paulinho, usando o carro e o motorista de sua mulher Bibi Ferreira, foi a alguns subúrbios. Chico, se não me engano, fez remessas de Itaipava. Mas a denúncia não foi publicada, com uma exceção: na sua coluna na “Folha de S.Paulo”, Alberto Dines referiu-se ao bilhete e cobrou uma investigação policial séria.
 
Finalmente, em 1996, o compositor fez chegar o bilhete à recém-instalada Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos, anexando ao processo uma dedicatória: “Minha homenagem a uma mulher como nunca vi igual, ferida de morte e rindo.”
 
Nenhum caso mais emblemático para inaugurar a Comissão da Verdade do Rio.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Na Má-ringa!


Do Blog do Paulo Vidigal, na Má-ringa
 
Crianças da ocupação Atenas II estão fora das creches.
Segundo o coordenador do Movimento Trabalhadores por Moradia uma moradora da ocupação Atenas II teve negada uma vaga em uma creche municipal após se identificar como moradora da ocupação. Segundo ela, a primeira vez que foi à creche foi solicitado para ela providenciasse os documentos, pois havia vaga para seu filho. Quando voltou para entregar os documentos ela não apresentou o comprovante de residência (talão de água ou luz) pois mora na ocupação. A partir daí, segundo ela, lhe foi dito que não poderiam fazer a matrícula pois ela não tinha o comprovante de endereço.
Mediante isso os moradores se dirigiram à prefeitura onde acontecia uma reunião com representantes da SASC (Secretaria de Assistência Social e Cidadania) e várias entidades sociais. O coordenador do movimento Claudio Timossi e a moradora que teve negada a vaga na creche usaram a palavra  denunciando a situação e pedindo providências. Enquanto isso outros moradores da ocupação levantavam cartazes que cobravam as vagas em creche.

Os moradores se dirigiram a Promotoria da Vara da Infância e protocolaram uma representação de sua assessoria jurídica, que relatava a atual situação dos moradores quer estão sem ligação de água e luz. Mediante isso a promotora expediu um oficio destinado à Secretaria Municipal de Educação para que as crianças da ocupação sejam matriculadas nas creches. Foram expedidos ainda um ofício à Copel e Sanepar para que seja ligadas a água luz.
(Fonte: Movimento dos Trabalhadores por Moradia)

(Foto Agnaldo Viera Site Maringá Manchete)

 


 

Enviado pelo amigo virtual, Grozny Arruda.
Agradeço-lhe!
 
 
Filhos de presos torturados carregam a dor do passado
Décadas depois, homens e mulheres não esquecem das imagens que viram nos porões da ditadura
 
O Globo - 23/02/13
 
 “Mãe, por que você está azul e o pai está verde?”, perguntou Janaína Teles à mãe Maria Amélia ao visitá-la na carceragem do Doi-Codi, órgão da repressão subordinado ao Exército, em São Paulo. Tinha apenas 5 anos e ficou presa junto com o irmão Edson, de 4, em uma sala trancada, de onde saíam apenas para ir ao banheiro, sob o comando do general Brilhante Ustra. Ernesto Nascimento, filho de Manoel Dias e Jovelina, já tinha sido entregue à adoção pelos agentes do regime quando os pais foram libertados para serem trocados pelo embaixador alemão.
 
Telma e Denise Lucena não se esquecem da imagem do pai sendo morto na porta de casa. Gino Guilardini foi torturado aos 8 anos de idade para dizer onde o pai estava. Violência semelhante à que foi submetido Carlos Alexandre Azevedo, quando tinha apenas 1 ano e 8 meses de idade. Ele foi agredido por militares que queriam pressionar seus familiares a fornecer detalhes das organizações contra o regime. Suicidou-se na última semana, após 39 anos de sofrimento e muita dor causada pelos traumas da infância.
 
A morte de Carlos Alexandre gerou uma rede de solidariedade em torno da família do rapaz nesta semana e motivou a inclusão de um novo tema para resgate pelas comissões da verdade que investigam a história da repressão no país, tanto em âmbitos estaduais (São Paulo e Pernambuco) quanto nacional. As três comissões planejam rever a história de crianças que sofreram em silêncio a violência e o impacto da ditadura militar.
 
— Meu filho foi suicidado, assim como ocorreu com Vladimir Herzog. Viveu um longo processo até chegar ao limite da sua angústia. 
 
Sempre demonstrou, desde criança, o impacto (da repressão e da prisão dos pais) na sua vida, e na medida em que foi tomando consciência do que havia se passado, passou a entender que tinha sido vítima de um processo político — disse ao GLOBO o pai de Carlos Alexandre, Dermi Azevedo, que lançou no último mês um livro de memórias sobre o período em que foi militante político.
A luz acesa na cozinha da casa perto do Doi-Codi onde dormia no período em que os pais estavam presos não sai da cabeça de Janaína Teles, presa aos 5 anos, um dia depois dos pais, militantes políticos.
 
— Eu tinha costume de abraçar e beijar muito os meus pais. Quando cheguei na cela, fui dar um beijo neles e eles não conseguiam se mexer. Eu estranhei. Falavam pra mim que eles estavam doentes, que ali era um hospital — recordou-se a menina, que também não conseguia dormir por causa da lembrança dos gritos e do que tinha visto durante o dia em quartel do exército brasileiro.
 
Militares perguntavam a ela informações sobre as atividades dos pais. A resposta padrão era “não sei”. Até que um dia o interrogando se irritou: “Não sabe ou não quer dizer?”
 
— Não sei e não quero dizer.
 
Janaína ficou pelo menos seis meses sem ter notícias dos pais. Aos 12 anos, encontrou uma mensagem na caixa dos correios da sua casa. Endereçada aos pais, dizia que “os filhos” deveriam tomar cuidado na hora de ir e voltar da escola. Assinado: Comando de Caça aos Comunistas (CCC).
 
Brincadeira de pau de arara
 
Uma das brincadeiras preferidas do irmão, Edson Teles, que também foi preso com a família quando tinha 4 anos, era simular o pau de arara com uma boneca de pano que tinha. A campainha do Doi-Codi e gritos variados nunca foram esquecidos por Edson.
 
— Quando a gente já estava em casa e a campainha tocava, ele se trancava no banheiro, de medo. Até hoje meus filhos sofrem consequências do que ocorreu. Eles saíram de lá (do Doi-Codi) de um jeito que só eu sei — disse Maria Amélia, que frequentou e também levou os filhos a sessões com psicólogos para lidar com os traumas vividos durante a ditadura militar.
 
Hoje integrante da Comissão da Verdade de São Paulo, Maria Amélia atribuiu ao general Carlos Brilhante Ustra a responsabilidade pelas torturas que passou e também a prisão de seus filhos. Em seus livros, o general classifica a violência no cárcere como “invencionice”, mas admite a presença das crianças no Doi-Codi. Argumenta que desejava evitar que eles fossem entregues ao Juizado de Menores, o que Maria Amélia considera “um absurdo”.
 
— Tiveram coragem de levar meus filhos na sala de tortura. Eu toda vomitada, urinada, suada, suja. Lembro do Edson perguntando para mim: “Mãe, agora você é bandida?”
______________________
 
Tortura na infância gera traumas e documentário
Violência contra as crianças marca memória das vítimas anos depois
 
O Globo  -  25/02/13
 
Chamada pela direção da escola para uma reunião por causa do comportamento da filha Maria de Oliveira, a atual ministra de Políticas para as Mulheres Eleonora Menicucci identificou de imediato o motivo pelo qual a garota chorava na hora de sair da sala para o recreio: o pátio da escola lembrava a prisão onde a mãe ficou presa.
 
A experiência da infância motivou a menina a dirigir o documentário “15 filhos”, sobre a lembrança de jovens que tiveram os pais presos ou mortos pela repressão. Filmado em 1996, época em que ainda não se falava em instalação de comissões da verdade no Brasil, o filme relata episódios como o gesto violento de uma mulher enfiando a mão e revirando o pacote de pipocas que a menina levava para a mãe na prisão.
 
Já a lembrança das irmãs Telma e Denise de Lucena, filhas do operário Antônio Raymundo, é ainda mais dolorosa por um motivo: assistiram a execução do pai à queima-roupa, na porta de casa, quando tinham 3 anos e 9 anos de idade, respectivamente.
 
— Nunca vou me esquecer do rosto desse rapaz, que chegou perto do meu pai, pôs a arma na cabeça (dele) e atirou — descreve Telma, que nos dias seguintes não seria capaz de reconhecer a mãe na prisão porque estava “deformada” e “nem tinha voz de mãe”.
 
— No Juizado criaram uma imagem da gente, como se fôssemos bandidos. Falavam para as crianças: “Olha, esses aí são terroristas. 
 
Não mexam com eles, porque são perigosos" — lembra Denise, cujo irmão, Adilson, era obrigado a acompanhar agentes da repressão em diligências para localizar armas ou dar informações, sob ameaça de espancamento.
 
História semelhante viveram três dos quatro filhos de Ilda Martins da Silva, mulher do guerrilheiro Virgílio Gomes da Silva, que foram presos junto com a mãe e levados para a sede da Operação Bandeirante (Oban), em São Paulo, em 1969. No período em que os pais estiveram detidos, os militares levavam as crianças de 7 anos, 8 anos e quatro meses para “passear”.
 
— Eles mostravam eles para outras famílias, diziam que seriam adotados por elas. Os mais velhos tinham tanto medo de se separarem da irmã que dormiam amarrados no berço dela — conta Ilda.
O silêncio geral sobre a violência na ditadura militar nos anos 80 e 90 foi algo que tornou ainda mais difícil essa experiência, conta Janaína Teles, e foi praticamente um “segundo trauma”. Ela buscou a aproximação teórica com o tema como forma de lidar com este incômodo. Hoje já tem o título de doutora em história social. Mas não fala em superação.
 
— A ressignificação deste passado acontece em vários momentos. Quando você é adolescente tem certas implicações, perto dos 40 anos são outras. Até o fim da vida a superação será relativa. Os traumas são profundos — diz.

83 anos

Daphne Selfe

do blog Advanced Style
It was a privilege to meet 83 year old supermodel Daphne Selfe at my book signing in London two weeks ago. She is wearing an amazing dress by my friend Fanny Karst who designs a collection called The Old Ladies' Rebellion. I just got back to New York and am excited to see all the Advanced Style ladies and see what they have been up to!

folgados

Cap-tirado do blog do Solda.
www.cartunistasolda.com.br

Elliot Erwitt

ROBERTO ROMANO:

Como digo desde longa data, não existiu ditadura militar. O que se deu foi uma ditadura civil e militar, sendo que os militares, não raro, serviram de "mão de gato"para ardilosos civis. Em minha Aula Magistral para a Unicamp, sobre Democracia e Razão de Estado, insisto em tal ponto.

Endereço da aula que dei na Unicamp, sobre o assunto : http://cameraweb.ccuec.unicamp.br/video/76B3RH83KYNO/

Comissão da Verdade vai apurar ida de civis ao Dops

Deputados estaduais querem investigar relação entre visitas de representantes da Fiesp e do Consulado dos EUA a centro de repressão

17 de fevereiro de 2013 | 16h 20

Roldão Arruda, de O Estado de S. Paulo
A Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva quer investigar as possíveis relações entre os serviços de repressão e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) no período da ditadura militar. O anúncio oficial da investigação deve ocorrer nesta segunda-feira, 18, durante uma audiência pública programada para as 14 horas, no Auditório Paulo Kobayashi, na Assembleia Legislativa.

 - Arquivo/AE
Arquivo/AE
A decisão da comissão foi tomada dias atrás, após o Arquivo Público do Estado tornar público o conteúdo de uma série de livros com o registro de pessoas que entravam e saíam da ala de delegados e diretores do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Aqueles documentos revelam que um dos visitantes mais assíduos era Geraldo Resende de Mattos, identificado pelos funcionários que faziam as anotações nos chamados livros de portaria como representante da Fiesp.

De acordo com levantamento feito pelo Estado publicado ontem, em sua fase mais ativa no Dops, entre 1971 e 1976, Mattos realizou mais de 200 visitas à sede da instituição, no Largo General Osório, no bairro da Luz. Seu nome aparece em todos os seis livros divulgados no site do Arquivo Público, que cobrem o período entre março de 1971 e janeiro de 1979.

O Dops de São Paulo era um dos principais centros de investigação e repressão de dissidentes políticos no regime militar. Era o palco de operações do delegado Sérgio Paranhos Fleury Filho, apontado por pesquisadores daquele período como o agente público que levou para a área de repressão políticas métodos que eram empregados contra criminosos comuns.

Embora ampla, a cobertura dos livros de portaria que foram tornados públicos é precária, com lacunas. Quem consultá-los (estão disponíveis na internet) vai constatar, entre outras falhas, que não há informações sobre 1977.

Negativa. Procurada pela reportagem, a Fiesp informou que Mattos nunca fez parte do seu quadro de funcionários. Em nota pública, a entidade de representação do empresariado industrial paulista também enfatizou que sua atuação tem se pautado "pela defesa da democracia e do Estado de Direito, e pelo desenvolvimento do Brasil". Ainda segundo a nota, "eventos do passado que contrariem esses princípios (democráticos) podem e devem ser apurados".

A Comissão Estadual, segundo seu presidente, Adriano Diogo (PT), também vai investigar as relações entre o Consulado dos EUA em São Paulo e o Dops. "Queremos saber por qual razão o senhor Claris Halliwell, que aparece identificado nos livros como cônsul americano, ia tanto ao Dops", diz o deputado.

Pelo levantamento divulgado pelo Estado, Halliwell frequentou o Dops durante mais de três anos. Em 1971, a média de suas visitas chegou a duas por mês - o que era incomum para representantes diplomáticos. O presidente da comissão, que pediu a ajuda de um colaborador nos Estados Unidos para investigar o passado de Halliwell, não descarta a hipótese de que ele tenha assessorado os serviços de repressão.

"Queremos esclarecer os fatos, tendo em vista que a CIA, o serviço secreto americano, assessorou regimes autoritários na América Latina", diz ele.

O Consulado dos EUA informou não ter registro de antigos funcionários e, por isso, não poderia confirmar a presença de Halliwell em São Paulo, o cargo que ocupava nem o motivo de suas idas ao Dops. A assessoria de comunicação observou que quase todos os representantes diplomáticos costumam se apresentar como cônsul.

Segundo um parente próximo de Geraldo Resende de Mattos, que pediu para não ser identificado, ele era ligado ao Serviço Social da Indústria (Sesi) e havia se especializado na análise de informações do movimento sindical.

A audiência de hoje é a primeira de uma série que a Comissão Estadual deve realizar no mês.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

ROBERTO ROMANO: O autor do artigo abaixo usa o título de um escrito célebre, de Sartre, no qual o filósofo apresenta as bases de sua teoria do saber e do mundo. O artigo toca em pontos essenciais da ética, sempre esquecidos pelos que militam na esquerda ou na direita. Cansei, quando estive preso no Presídio Tiradentes, de testemunhar pessoas que, saindo das torturas, defendiam a tortura, desde que fosse feitas pelo lado bom... O articulista recorda as situações de laboratório. Era o que sempre se dizia, nas celas da ditadura brasileira : quando eu e alguns outros nos colocávamos contra a tortura, em termos absolutos, vinha sempre a "hipótese": "e se no Vietnã, uma aldeia é cercada por marines, e um soldado norte-americano é pego, conhecendo os planos do inimigo? Torturá-lo não seria salvar a aldeia inteira? ". Sempre usei os mesmos argumentos apresentados pelo articulista. E, invariavelmente, recebia a resposta/acusação : "você é principista, pequeno burguês!". Enfim....a tortura é hedionda, covarde, instrumento de Estado e de partidos, como bem sabe o que estuda a URSS, a Alemanha nazista, a Itália fascista, o regime de Vichy, d ditadura grega, espanhola, portuguesa, as ditaduras argentinas, brasileiras, uruguaias, congolesas, francesas, belgas, norte-americanas, chilenas, etc. A boca do inferno, quando se abre, seu primeiro vocábulo é tortura. Não existe ética democrática que resista à tortura. A Santa Inquisição nos legou esta maldita herança, e suas justificativas. Basta ler o Manual de um Inquisidor. Malditos os torturadores de todas as crencas religiosas, políticas, ideológicas. Para sempre.

26/02/2013 - 03h30

Questão de método

Vladimir Safatle

Folha de São Paulo, 26/02/2013.

A filosofia moral, vez por outra, se vê confrontada com problemas mal formulados que gostariam de se passar por paradoxos astutos. Desmontá-los seria apenas um peculiar passatempo acadêmico, se eles não aparecessem periodicamente como premissas de raciocínios tortuosos na grande imprensa.
Tal astúcia constrói o que poderíamos chamar de "paradoxos morais de laboratório". Trata-se de pequenos paradoxos do tipo "podemos torturar alguém cuja confissão nos permitirá desativar uma bomba que matará dezenas de inocentes?", com todas as suas variantes possíveis.

Do ponto de vista da filosofia moral, não há exercício mais pueril do que procurar responder a tais inventivas. Pois elas pressupõem condições de laboratório, como "sei que o sujeito torturado sabe algo sobre a bomba", "sei que não há hipótese alguma de ter pego a pessoa errada", "sei que ele falará antes de morrer", "sei que a razão de sua ação é injustificável". Como ninguém mora em um laboratório, mas depende, no mais das vezes, da sabedoria da polícia ou desta "inteligência militar" na qual Groucho Marx viu a expressão mais bem-acabada de uma contradição em termos, tais condições nunca são completamente asseguradas.

Mas paradoxos dessa natureza têm como verdadeira finalidade fracionar a ação a fim de retirá-la de todo contexto possível. Boa maneira de não começarmos por perguntar como chegamos a essa situação.

Longe de ser uma enunciação neutra, essa é uma enunciação profundamente interessada. Ninguém coloca uma questão dessas de maneira inocente, como ninguém pergunta inocentemente se negros são, realmente, tão inteligentes quanto brancos ou se o Holocausto, de fato, existiu na dimensão normalmente descrita. Perguntar as reais motivações do enunciador é uma boa maneira de começar a desmontar o paradoxo.

Pode ser, porém, que o enunciador queira apenas insistir que, em situações excepcionais, a tortura aparece como o último recurso dotado de certa eficácia. De fato, se tortura fosse eficaz, as favelas brasileiras seriam um paraíso da paz. Melhor lembrar que a única eficácia realmente comprovada da tortura é sua força de corroer completamente o que restou das bases normativas do Estado. Pois se usamos a tortura contra o inimigo n° 1 da democracia, por que não usá-la contra o n° 2, o n° 3... o n° 54.327?

Ninguém pratica a tortura sem se transformar no verdadeiro inimigo da democracia. Por isso, seria o caso de perguntar: "Um Estado que recorre sistematicamente à tortura merece ser salvo? No que ele se transformou? Ele merece ser justificado diante de situações que, muitas vezes, ele próprio ajudou a criar?".

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Não deixam nem os bebês em paz

Do Blog DE RERUM NATURA, Portugal,
post de David Marçal


EMPREENDEDORISMO PARA BEBÉS: ATÉ ONDE CHEGA A DESONESTIDADE INTELECTUAL?

Como leitor regular do roteiro Estrela e Ouriços, uma publicação mensal que elenca actividades para crianças e famílias, deparei-me com a proposta de uma oficina sugestivamente designada por:

BABYBOOM: EMPREENDEDORISMO PARA BEBÉS

Transcrevo aqui a proposta do INSTITUTO4LIFE, em Lisboa:

O empreendedorismo é um comportamento que pode, e deve, ser aprendido ao longo da vida. Este programa inovador, único no país, procura desenvolver, em conjunto com os pais, comportamentos e atitudes chave que ajudarão o bebé no futuro a ser um empreendedor.
Permita que o seu filho se torne capaz de concretizar as suas ambições.
Dinamização: Doutoranda em Gestão e Empreendedorismo e Educadora de Infância
Nível 1 | 4-10 meses | 14h-15h
Nível 2 | 11-18 meses | 15h-16h
Preços:
8€/sessão individual
30€/pack 4 sessões
Numas quantas sessões de uma hora (não podem ser muitas, já que o curso começa aos 4 e acaba aos 18 meses, e os bebés dessas idades ainda dormem bastante) teremos definido os CEO's das start-ups de 2033. Eu sei que o Mark Zuckerberg criou o Facebook quando tinha 20 anos, a partir do seu quarto no dormitório na Universidade de Harvard. Será que o próximo milionário dotcom vai lançar a sua grande ideia numa fralda?

Vaticano, Papas e Bancos


A história secreta da renúncia do papa
Por Eduardo Febbro, na Carta Maior – 15.2.13
 
Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI decidiu renunciar em março passado, depois de regressar de sua viagem ao México e a Cuba. Naquele momento, o papa, que encarna o que o diretor da École Pratique des Hautes Études de Paris (Sorbonne), Philippe Portier, chama “uma continuidade pesada” de seu predecessor, João Paulo II, descobriu em um informe elaborado por um grupo de cardeais os abismos nada espirituais nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras fratricidas pelo poder, roubo massivo de documentos secretos, luta entre facções, lavagem de dinheiro. O Vaticano era um ninho de hienas enlouquecidas, um pugilato sem limites nem moral alguma onde a cúria faminta de poder fomentava delações, traições, artimanhas e operações de inteligência para manter suas prerrogativas e privilégios a frente das instituições religiosas.
 

Muito longe do céu e muito perto dos pecados terrestres, sob o mandato de Bento XVI o Vaticano foi um dos Estados mais obscuros do planeta. Joseph Ratzinger teve o mérito de expor o imenso buraco negro dos padres pedófilos, mas não o de modernizar a igreja ou as práticas vaticanas. Bento XVI foi, como assinala Philippe Portier, um continuador da obra de João Paulo II: “desde 1981 seguiu o reino de seu predecessor acompanhando vários textos importantes que redigiu: a condenação das teologias da libertação dos anos 1984-1986; o Evangelium vitae de 1995 a propósito da doutrina da igreja sobre os temas da vida; o Splendor veritas, um texto fundamental redigido a quatro mãos com Wojtyla”. Esses dois textos citados pelo especialista francês são um compêndio prático da visão reacionária da igreja sobre as questões políticas, sociais e científicas do mundo moderno.

 

O Monsenhor Georg Gänsweins, fiel secretário pessoal do papa desde 2003, tem em sua página web um lema muito paradoxal: junto ao escudo de um dragão que simboliza a lealdade o lema diz “dar testemunho da verdade”. Mas a verdade, no Vaticano, não é uma moeda corrente. Depois do escândalo provocado pelo vazamento da correspondência secreta do papa e das obscuras finanças do Vaticano, a cúria romana agiu como faria qualquer Estado. Buscou mudar sua imagem com métodos modernos. Para isso contratou o jornalista estadunidense Greg Burke, membro da Opus Dei e ex-integrante da agência Reuters, da revista Time e da cadeia Fox. Burke tinha por missão melhorar a deteriorada imagem da igreja. “Minha ideia é trazer luz”, disse Burke ao assumir o posto. Muito tarde. Não há nada de claro na cúpula da igreja católica.

 

A divulgação dos documentos secretos do Vaticano orquestrada pelo mordomo do papa, Paolo Gabriele, e muitas outras mãos invisíveis, foi uma operação sabiamente montada cujos detalhes seguem sendo misteriosos: operação contra o poderoso secretário de Estado, Tarcisio Bertone, conspiração para empurrar Bento XVI à renúncia e colocar em seu lugar um italiano na tentativa de frear a luta interna em curso e a avalanche de segredos, os vatileaks fizeram afundar a tarefa de limpeza confiada a Greg Burke. Um inferno de paredes pintadas com anjos não é fácil de redesenhar.

 

Bento XVI acabou enrolado pelas contradições que ele mesmo suscitou. Estas são tais que, uma vez tornada pública sua renúncia, os tradicionalistas da Fraternidade de São Pio X, fundada pelo Monsenhor Lefebvre, saudaram a figura do Papa. Não é para menos: uma das primeiras missões que Ratzinger empreendeu consistiu em suprimir as sanções canônicas adotadas contra os partidários fascistóides e ultrarreacionários do Mosenhor Levebvre e, por conseguinte, legitimar no seio da igreja essa corrente retrógada que, de Pinochet a Videla, apoiou quase todas as ditaduras de ultradireita do mundo.

 

Bento XVI não foi o sumo pontífice da luz que seus retratistas se empenham em pintar, mas sim o contrário. Philippe Portier assinala a respeito que o papa “se deixou engolir pela opacidade que se instalou sob seu reinado”. E a primeira delas não é doutrinária, mas sim financeira. O Vaticano é um tenebroso gestor de dinheiro e muitas das querelas que surgiram no último ano têm a ver com as finanças, as contas maquiadas e o dinheiro dissimulado. Esta é a herança financeira deixada por João Paulo II, que, para muitos especialistas, explica a crise atual.

 

Em setembro de 2009, Ratzinger nomeou o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi para o posto de presidente do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano. Próximo à Opus Deis, representante do Banco Santander na Itália desde 1992, Gotti Tedeschi participou da preparação da encíclica social e econômica Caritas in veritate, publicada pelo papa Bento XVI em julho passado. A encíclica exige mais justiça social e propõe regras mais transparentes para o sistema financeiro mundial. Tedeschi teve como objetivo ordenar as turvas águas das finanças do Vaticano. As contas da Santa Sé são um labirinto de corrupção e lavagem de dinheiro cujas origens mais conhecidas remontam ao final dos anos 80, quando a justiça italiana emitiu uma ordem de prisão contra o arcebispo norteamericano Paul Marcinkus, o chamado “banqueiro de Deus”, presidente do IOR e máximo responsável pelos investimentos do Vaticano na época.

 

João Paulo II usou o argumento da soberania territorial do Vaticano para evitar a prisão e salvá-lo da cadeia. Não é de se estranhar, pois devia muito a ele. Nos anos 70, Marcinkus havia passado dinheiro “não contabilizado” do IOR para as contas do sindicato polonês Solidariedade, algo que Karol Wojtyla não esqueceu jamais. Marcinkus terminou seus dias jogando golfe em Phoenix, em meio a um gigantesco buraco negro de perdas e investimentos mafiosos, além de vários cadáveres. No dia 18 de junho de 1982 apareceu um cadáver enforcado na ponte de Blackfriars, em Londres. O corpo era de Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano. Seu aparente suicídio expôs uma imensa trama de corrupção que incluía, além do Banco Ambrosiano, a loja maçônica Propaganda 2 (mais conhecida como P-2), dirigida por Licio Gelli e o próprio IOR de Marcinkus.

 

Ettore Gotti Tedeschi recebeu uma missão quase impossível e só permaneceu três anos a frente do IOR. Ele foi demitido de forma fulminante em 2012 por supostas “irregularidades” em sua gestão. Tedeschi saiu do banco poucas horas depois da detenção do mordomo do Papa, justamente no momento em que o Vaticano estava sendo investigado por suposta violação das normas contra a lavagem de dinheiro. Na verdade, a expulsão de Tedeschi constitui outro episódio da guerra entre facções no Vaticano. Quando assumiu seu posto, Tedeschi começou a elaborar um informe secreto onde registrou o que foi descobrindo: contas secretas onde se escondia dinheiro sujo de “políticos, intermediários, construtores e altos funcionários do Estado”. Até Matteo Messina Dernaro, o novo chefe da Cosa Nostra, tinha seu dinheiro depositado no IOR por meio de laranjas.

 

Aí começou o infortúnio de Tedeschi. Quem conhece bem o Vaticano diz que o banqueiro amigo do papa foi vítima de um complô armado por conselheiros do banco com o respaldo do secretário de Estado, Monsenhor Bertone, um inimigo pessoal de Tedeschi e responsável pela comissão de cardeais que fiscaliza o funcionamento do banco. Sua destituição veio acompanhada pela difusão de um “documento” que o vinculava ao vazamento de documentos roubados do papa.

 

Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. Nada muito diferente do mundo no qual vivemos: corrupção, capitalismo suicida, proteção de privilegiados, circuitos de poder que se autoalimentam, o Vaticano não é mais do que um reflexo pontual e decadente da própria decadência do sistema.

 

Tradução: Katarina Peixoto

Do Blog de Roberto Romano

Globo News Painel, com Juan Arias, Roberto Romano, Oscar Beozzo, a renúncia de Bento XVI e o futuro da Igreja. Sábado, 16/02/2013



Convidados debatem anúncio da renúncia do Papa Bento XVI - G1 ...

g1.globo.com/videos/v/convidados-debatem-anuncio-da-renuncia-do-papa-bento-xvi/2411313/Novo5 horas atrás - 21 min
Convidados debatem anúncio da renúncia do Papa Bento XVI .

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Opossizão

É um disparate a mídia no papel da oposição

Paulo Nogueira9 de fevereiro de 201373
Por que não faz sentido a tese de que a imprensa deve substituir a “oposição fragilizada”.
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Uma das teses mais esquisitas que surgiram no Brasil moderno sugere que a imprensa livre, aspas, deve fazer o papel da oposição na política, dada a suposta fraqueza desta.
A ideia foi claramente formulada pela primeira vez, ao que parece, por uma executiva da Folha, Judith Brito, que ocupou a presidência da Associação Nacional de Jornais. Disse ela: “Os meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada.”
Não é preciso mais que uma palavra para avaliar a tese: disparate.
Maiúsculas.
Exclamação.
Primeiro, e acima de tudo, as companhias jornalísticas não foram eleitas. Fazer política, numa democracia, é para quem conquistou votos. Fora disso, é uma usurpação, é uma mostra torrencial de presunção, é uma ameaça à democracia.
Na Inglaterra nos anos 1930, aconteceu uma situação semelhante. Mas o premiê Stanley Baldwin reagiu num discurso épico, atribuído por alguns a seu primo, o Nobel de Literatura Rudyard Kipling.
“Alguns jornais não são jornais no sentido estrito da palavra, mas motores de divulgação de mutantes idéias, caprichos, gostos, simpatias e antipatias de seus proprietários”, disse Baldwin. “O que esses donos estão buscando é o poder sem responsabilidade, algo que ao longo da história foi prerrogativa das prostitutas.”
Baldwin, se se calasse, provavelmente seria esmagado, como um professor que se recolhe enquanto os alunos vão mais e mais berrando. Mas falou, e com sabedoria enérgica e enfática. E a ordem foi restabelecida, e foi feita história em seu pronunciamento, citado como um dos mais memoráveis da vida política britânica.
Não é só isso.
Para quem fala tanto em mercado, é um contra-senso brutal. A falta de opositores relevantes gera, para quem acredita no poder do mercado, uma oportunidade para que apareçam políticos que ocupem um espaço não preenchido.
Mas mais uma vez: estamos falando de poder com responsabilidade, legitimado pelo voto.
Sêneca dizia que, ao se lembrar de certas coisas que dissera, sentia inveja dos mudos.
É uma frase na qual Judith Brito poderia pensar.
Leia mais: A concentração na mídia é um mal para a democracia.
Leia mais: Sobre os 18 minutos do Jornal Nacional
Judith Brito
Judith Brito

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De 2010, Ex-tado do Paraná, do SOLDA

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

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JORGE ALEMÁN
PSICOANALISTA, ESCRITOR Y AGREGADO DE LA EMBAJADA DE ARGENTINA

´La corrupción política no es una anomalía, sino que es estructural al sistema´

El prestigioso psicoanalista ofrece hoy en una charla en el Club INFORMACIÓN bajo el sugerente título "Angustia y política"

13:23
´La corrupción política no es una anomalía, sino que es estructural al sistema´
´La corrupción política no es una anomalía, sino que es estructural al sistema´ INFORMACIÓN

Jorge Alemán defiende la necesidad de un nuevo sistema frente al capitalismo feroz que "va a acabar con los vínculos sociales", cuestión que, entre otras, el prestigioso psicoanalista abordará hoy en una charla en el Club INFORMACIÓN bajo el sugerente título "Angustia y política".

ISABEL VICENTE Angustia y política, ¿son términos parejos?
En principio no tienen nada que ver salvo que hiciéramos la broma fácil de que la política está angustiando a la población pero no es ese el sentido de la conferencia. El título es un esfuerzo para pensar dos cuestiones que siempre han estado separadas. La angustia es una experiencia que remite a lo más singular de cada uno, la política en cambio siempre hace referencia a lo colectivo y a cómo se organiza. Tal vez el esfuerzo desde el psicoanálisis es pensar en una lógica colectiva que no excluya lo singular. Hasta ahora todos los proyectos colectivos, los de emancipación, que son los que me interesan, han borrado las malas experiencias de lo singular, de la angustia, por ejemplo las revoluciones, desde la francesa a la rusa o a cualquiera, se han revelado como imposible por los daños que provocaban en los individuos. Hay que recuperar esa dimensión subjetiva que la angustia pone en la escena.
Será una broma fácil, pero la angustia que sentimos los ciudadanos ante la política actual es real...
La clase política es el síntoma de una estructura. La corrupción se piensa como una anomalía pero yo creo que la corrupción en el nuevo orden del capitalismo no es una anomalía, es un hecho estructural del cual los políticos son sus síntomas.
¿La inoperancia también es estructural?
La inoperancia también, porque esta política está solo preparada para plantear consensos que actualmente son construcciones mediáticas. Hasta que no aparezca de nuevo lo que llamábamos el pueblo, no va a haber política.
¿Y qué opción tenemos?
La opción es la más difícil atrevida y lejana, ver si se puede cambiar la lógica neoliberal que rige la marcha del capitalismo que va a acabar destruyendo todos los vínculos sociales. Va a erosionar y socavar todo el campo de la experiencia humana.
¿Qué papel juegan en ese cambio los nuevos movimientos ciudadanos como los indignados?
El 15M es el comienzo del pueblo. Entiendo por pueblo un deseo de justicia e igualdad más allá de las limitaciones de la experiencia y los problemas organizativos que aún tienen estos movimientos. Hay que encontrar un modo de reunión, un nuevo modo de vincularse, inventar vínculos que nos conecten, no solo en las redes sociales sino también en la calle, los encuentros, el debate, la pregunta sobre si todo esto tiene que ver con nosotros o es una especie de tsunami que se nos cayó encima. Se sigue esperando mucho de los expertos, y creo que hay pueblo cuando no se espera nada de los expertos.
¿A qué expertos se refiere?
Me refiero a los tecnócratas que todos los días evalúan la situación del lado de la rentabilidad de capital donde ya el solo hecho de existir va a ser no rentable. Eso no es una crisis sino un nuevo modelo de acumulación de capital, es un nuevo modo de abaratar el trabajo y de arrancar a los trabajadores sus conquistas para volver de nuevo a la economía más competitiva.
¿Qué podemos hacer los ciudadanos de a pie?
Las respuestas históricas no vales. Hay que revisarlas porque no se puede partir de cero pero hay que inventar un nuevo modo de hacer política y de hacer experiencias colectivas. Lo anterior, como las revoluciones de las que hablábamos al principio, llevó a consecuencias que no son las deseables. Hay que buscar una lógica no violenta. Las experiencias que se producen de asambleas, 15M y nuevos movimientos sociales son un buen punto de referencia.
Sí, pero, pese a las protestas, a la hora de votar seguimos los mismos esquemas de siempre.
Hay una serie de sinergias históricas. Hubo una guerra y sus efectos duran muchos años. Los efectos de una guerra se transmiten por décadas y la impunidad y el miedo también. Siempre me ha llamado la atención que en España no se haya podido enterrar a los muertos de uno de los bandos, que no se haya llevado a las últimas consecuencias la investigación de desaparecidos. Quizá se sigue votando en esa línea de sinergia.