Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

quinta-feira, 29 de agosto de 2013


Estamos envergonhados!

Texto de Célia Musilli
 
Vamos a Xapuri antes de vaiar os cubanos

Não havia me manifestado sobre a questão dos médicos cubanos. Aguardava para ver consolidada a avalanche de preconceitos que cercam o fato. Estamos inseridos numa sociedade racista, separatista e xenófoba. Uma sociedade onde as bobagens ditas em redes sociais muitas vezes passam batidas, mas quando flagradas mostram todo um viscoso preconceito, aquele lodo afundado nas mentes que brota em situações como essa. Realmente faltam médicos em Rondônia, no Acre, nos estados do Nordeste. E pergunto: onde estavam os idealistas brasileiros que se recusam a trabalhar nestes lugares distantes e inóspitos, porque lá não encontraram condições de exercer a profissão, antes da chegada dos cubanos? Onde estavam estes médicos quando faltou anestesia em Xapuri ou esparadrapo em Caapiranga? Precisou que os cubanos chegassem para virem à sociedade reclamar da falta de condições trabalho? Não conseguiram antes se organizar pa...ra atender aos doentes por quem prestam juramento de Hipócrates que, neste momento, me lembra palavrinha bem menos elogiosa?

Não preciso dizer que senti vergonha por quem vaiou os cubanos no Recife. Também me envergonho e lamento que uma colega de profissão, a jornalista Micheline Borges, do RN, tenha se expressado de forma tão desastrosa ao comparar as médicas cubanas a empregadas domésticas por causa da cor da sua pele. Ambas as profissões são dignas, as palavras da jornalista são uma tentativa de crítica que esboça enorme preconceito. A verdade é que muitos moços e moças que saem das faculdades de medicina, jornalismo e outras tantas não têm idealismo, sucumbiram ao consumo numa sociedade em que a medicina está ligada ao status, uma sociedade na qual a ideia de ser bom profissional é "se dar bem na vida”, ou seja, ganhar dinheiro.
 
Podem até ganhar mas nunca serão bons profissionais, falta verve, falta garra, falta vigor para tomar um barco e ir brigar em Xapuri, não só nas avenidas das grandes capitais brasileiras ou nos aeroportos onde vaiam cubanos.

Por outro lado, também conheço excelentes profissionais de saúde brasileiros. Sempre que preciso vou a hospitais públicos, abdiquei dos planos de saúde por falta de grana e também porque os considero parte da máfia.
 
No Sul e no Sudeste - nunca morei em outras regiões - sempre fui bem atendida pela saúde pública. Ontem mesmo fui muitíssimo bem atendida por uma enfermeira que, acredito, não vaiaria colegas de profissão, percebi que é solidária à causa humana, que deve ser a causa eletiva de um profissional de qualquer nacionalidade. Então, vamos à saúde sem fronteiras, à educação sem fronteiras e, sobretudo, à ética sem fronteiras que é o que mais falta neste momento no Brasil. Principalmente, vamos a Xapuri, só lá poderemos saber por que falta anestesia e esparadrapo.
Célia Musilli

 (Escrevo mais sobre o tema no próximo domingo na Folha de Londrina)
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Todo apoio ao JUIZ!

Gravura de PM atirando em homem crucificado é afixada em gabinete de juiz no Rio

    Gravura de PM atirando em homem crucificado é afixada em gabinete de juiz no Rio

    O quadro fica atrás da mesa do juiz Foto: Agência O Globo
    Rafael Soares
     
    A gravura “Por uma cultura de paz”, do cartunista carioca Carlos Latuff, afixada no gabinete do juiz João Damasceno, da 1ª Vara de Órfãos e Sucessões, no Tribunal de Justiça, pode acabar na Justiça. A obra mostra um policial militar com um fuzil, acertando um disparo num homem negro crucificado. No meio policial, a presença do quadro numa repartição pública não foi bem recebida: tanto que, como antecipou Berenice Seara, na coluna “Extra, Extra”, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP) publicou no seu site um modelo de ação judicial para que todos os PMs que se sentiram ofendidos peçam indenização ao cartunista e ao juiz.
    No documento, o deputado argumenta que qualquer PM “possui legitimidade para ingressar em juízo, pleiteando indenização em razão de ofensa à sua honra objetiva, subjetiva, moral, pois é flagrante a constatação de que a obra do réu promoveu o constrangimento, a humilhação pública e abalou a imagem da Polícia Militar”.
    — A imagem faz um pré-julgamento acusando todo PM de agir fora da lei, de ser assassino, com o objetivo de denegrir a PM. O PM bota sua vida em risco pela nossa segurança. Lamento que um juiz tenha tomado essa iniviativa. Não é papel de um juiz usar sua repartição para expressão suas posições ideológicas. Aposto que a primeira coisa que ele vai fazer quando for assaltado é ligar para o 190 — alega Bolsonaro. O deputado enviou ontem ofício à presidente do TJ, a desembargadora Leila Mariano, pedindo a retirada da obra do local.
    Para João Damasceno, a obra não ofende a PM. Ele explica que a gravura foi concebida a partir de uma conversa entre ele e o cartunista e que a presença do PM na obra é uma metáfora da violência do estado nas periferias.
    — Não há referência a nenhuma pessoa específica. No caso, o policial representa a violência praticada pelo estado, comum nas periferias. Já o homem crucificado não é Jesus Cristo, é um homem negro, vítima desse sistema. Fosse uma mulher poderia ser a juíza Patrícia Acioli (assassinada por PMs em agosto de 2011) — diz Damasceno, que chama a medida de Bolsonaro de “abuso de direito”.
    O TJ, afirmou, por meio de nota, que ainda vai analisar o material para autorizar sua presença no gabinete, mas não precisou uma data.

    Tela ainda vai ser analisada pelo TJ
    Tela ainda vai ser analisada pelo TJ Foto: / Rafael Soares / Extra

    Para artista, represália
    O cartunista Carlos Latuff reagiu às críticas de Bolsonaro. Para o autor da obra, a proibição do quadro no gabinete do juiz pode ser considerado um “atentado à liberdade de expressão”.
    — Ações como a de Bolsonaro e mesmo possíveis ações judiciais contra o juiz Damasceno são atentados contra a liberdade de expressão e não condizem com a democracia. Represalias contra quem se levanta contra os abusos da polícia são coisa típica de um estado policial e nao uma democracia — alegou o artista ao EXTRA.
    Já o presidente da Associação de Ativos, Inativos e Pensionistas da Polícia Militar, Miguel Cordeiro, fez críticas ao juiz e à obra. Para Cordeiro, a presença de um policial acaba por expor a PM, quando, “na maioria das vezes, o maior responsável pela violência é quem a ordena, e não quem a executa”:
    — Muito me admira essa ação por parte de um juiz, uma pessoa que deveria se mostrar imparcial perante à sociedade. Ninguém sabe se amanhã ele vai estar numa Vara Criminal, julgando um PM. Existem bons e maus policiais, mas o responsável por essa polícia violenta é quem a comanda. Ao invés de colocar a imagem de um PM, o juiz deveria colocar a imagem do governador.
    Para o juiz João Damasceno, ‘se algum PM se vir representado pela obra, sua conduta deve ser investigada’. Confira a entrevista com o juiz:
    Por que o senhor escolheu a tela de Carlos Latuff para enfeitar seu gabinete?
    A imagem surgiu de uma conversa entre o artista e eu. A imagem retrata apenas uma ocorrência comum nas periferias ao longo da História: as vítimas da violência do Estado.
    A inauguração da imagem é uma crítica à política de segurança do governo do estado?
    A segurança que assegure vida digna aos cidadãos não pode ser construída com territórios ocupados e violações aos direitos humanos. Sou a favor da desmilitarização da polícia.
    O senhor defende a exposição pública de posicionamentos políticos de um juiz?
    Todo juiz tem opinião. A explicitação de seu posicionamento é direito, ainda que ninguém possa ser obrigado a explicitá-lo.
    Na imagem, o personagem crucificado é Jesus Cristo?
    A tela não é religiosa. Esse homem negro alvejado pela violência do estado, para mim, não é Jesus. A crucificação era uma prática comum de violência contra a população das periferias. Inclusive, junto com Jesus, dois ladrões — tratados tal qual traficantes na época — foram crucificados.
    O senhor teme que policiais entrem na Justiça alegando que se sentiram ofendidos pela imagem?
    Na imagem não há ofensa. Não existe referência à pessoa individualizada. Se algum PM se vir representado na obra, é o caso de investigar se já esteve envolvido em autos de resistência ou outros abusos contra os direitos humanos. Quem não esteve envolvido com tais ocorrências, não vai se identificar com a gravura. Já a identificação pode se traduzir em prova nova e possibilitar a reabertura de inquérito já arquivado. Além do que já há jurisprudência no sentido de que a referência coletiva não legitima pessoas a individualmente requererem retratação ou reparação.

    segunda-feira, 19 de agosto de 2013

    Sublime!

    Do blog de Roberto Romano

    Grata!!!!

    segunda-feira, 19 de agosto de 2013

    PARA MARTA BELLINI : Folha de São Paulo, Ilustrada, 19/08/2013

    19/08/2013 - 01h05

    Restauração revela registros íntimos de Frida Kahlo

    DENISE MOTA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
     
    Ouvir o texto
    O início de 2014 deve ser marcado no México pela aparição, em versão restaurada, de 369 imagens do acervo pessoal de Frida Kahlo (1907-1954), com a artista de Coyoacán e seu marido, Diego Rivera (1886-1957) -figuras centrais da arte mexicana no século 20-, diante e por trás das câmeras. 

    Trata-se de uma seleção entre as 6.500 fotografias guardadas na Casa Azul, residência da artista, na Cidade do México, transformada em museu quatro anos após sua morte. 

    Os registros, que devem estar recuperados para exposição a partir de janeiro, abarcam 70 anos de momentos e pessoas relacionados à trajetória de Kahlo, como um retrato de seu pai, Guillermo.
    Além dos mexicanos, entre os autores das imagens em restauração estão nomes como Henri Cartier-Bresson, Man Ray, Sergei Eisenstein, Tina Modotti e Edward Weston, além de Lola e Manuel Álvarez Bravo. 

    Frente à objetiva, aparecem, por exemplo, os artistas David Alfaro Siqueiros, André Breton e José Clemente Orozco, e o revolucionário comunista Leon Trótski. 

    Há também vislumbres de momentos do cotidiano, registros de viagens, detalhes de objetos que foram alvo do interesse da pintora. 

    E instantâneos de pura intimidade: em imagem do fotógrafo húngaro Nickolas Muray (amante da artista entre 1931 e 1941), Frida se mostra deitada na cama, de bruços, com a cintura descoberta e um olhar enigmático. 

    A foto foi feita em Nova York, em 1946, onde ela estava para se submeter a uma entre as várias cirurgias que realizaria ao longo da vida. 


    Reprodução
    Diego Rivera e Frida visitam local onde o botânico Luther Bubanks foi enterrado, nos EUA
    Diego Rivera e Frida visitam local onde o botânico Luther Bubanks foi enterrado, nos EUA 
    ACERVO PESSOAL

    As imagens -registradas entre 1880 e 1950- são parte de um acervo de documentos pessoais (entre mapas, desenhos, recortes de jornais, cartões-postais, cartas) de propriedade do casal Kahlo-Rivera e que começaram a ser catalogados em 2005. 

    Em 2010, a análise do conjunto de imagens guardadas revelou um contingente de 65% de registros com necessidades de restauração. 

    As que começaram a ser recuperadas agora são as 369 que estão em pior estado. Após a conclusão do projeto, as fotos serão tema de exposição e livro. 

    "Cada foto representa uma peça de um grande quebra-cabeças da complexa vida de Frida. Permitem entender muitos aspectos de sua personalidade, sua visão política, social e sexual, sua doença, sua frustração por não poder ter um filho, sua intensa vida social e, claro, sua relação com Diego [Rivera]", disse a diretora da Casa Azul, Hilda Trujillo à publicação "The Art Newspaper". 

    O processo de recuperação das fotos, que deve durar aproximadamente seis meses, está sendo custeado pelo Bank of America Merrill Lynch, por meio do seu Projeto de Conservação de Arte. A iniciativa incluiu a América Latina a partir de 2012 e, neste ano, contempla 16 países e 24 propostas, incluindo o Museu de Arte Moderna de São Paulo (leia texto ao lado). 

    No ano de lançamento do programa, em 2010, o Bank of America informou que "pelo menos US$ 1 milhão" seriam destinados anualmente à totalidade dos projetos escolhidos. 

    Neste ano, tanto as instituições quanto o banco não informaram os valores que foram cedidos. 

    Aos tiraninhos...

    Coitadinho do tiraninho
    Fernando Pessoa

    ...
    Coitadinho
    Do tiraninho
    Não bebe vinho.
    Nem sequer sozinho...
    Bebe a verdade
    E a liberdade
    E com tal agrado
    Que já começam
    A faltar no mercado.

    Coitadinho
    Do tiraninho!
    O meu vizinho
    Esta na Guiné
    E o meu padrinho
    No limoeiro
    Aqui ao pé.
    Mas ninguém sabe porquê.

    Mas enfim é
    Certo e certeiro
    Que isto consola
    E nos dá fé.
    Que coitadinho
    Do tiraninho
    Não bebe vinho,
    Nem até
    Café.

    domingo, 18 de agosto de 2013

    Braziu!

    do Blog de Roberto Romano

    Jornal da Unicamp

    Jornal da Unicamp

    Baixar versão em PDF Campinas, 04 de agosto de 2013 a 10 de agosto de 2013 – ANO 2013 – Nº 569

    Estudo coloca em xeque tese da ‘qualificação’
    como garantia de emprego

    Pesquisador acompanhou a trajetória de grupo de jovens
    atendidos em programa público


    Nos anos 90, com a explosão da violência no país, sobretudo envolvendo segmentos mais jovens e pobres, nasceu a ideia de que a qualificação profissional levaria essa população ao emprego e, consequentemente, para longe das estatísticas policiais. Desde então, diversos programas governamentais foram desenvolvidos nessa área em todo Brasil, para qualificar a juventude a enfrentar os desafios do primeiro emprego e da inserção no mercado. Para entender a realidade desses brasileiros, uma pesquisa acompanhou percursos de formação e de trabalho, durante oito anos, e constatou que a questão é muito mais complexa do que imaginavam os formuladores de políticas públicas há duas décadas.

    “O problema do desemprego, principalmente do jovem, não se explica por si só como um problema de escolaridade”, afirma o pesquisador José Humberto da Silva, autor da tese de doutorado “Juventude Trabalhadora Brasileira: percursos laborais, trabalhos precários e futuros (in)certos”, apresentada na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, sob a orientação da professora Liliana Rolfsen Petrilli Segnini. O objetivo da pesquisa era analisar as trajetórias de formação e de trabalho dos jovens egressos de programas sociais, destacadamente de um projeto de qualificação profissional mantido pelo governo federal, dentro de uma política para a juventude.

    “No mundo, o segmento jovem é o mais escolarizado e desempregado”, diz o autor, professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Para se ter uma ideia do problema, do total de 7,8 milhões de trabalhadores desocupados no final da década de 90, no Brasil, 4,7 milhões eram jovens, o equivalente a 60%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD).

    Silva começou a acompanhar um grupo de nove jovens com mais de 17 anos, todos da periferia de Salvador e atendidos por um programa federal de qualificação profissional (Consórcio Social da Juventude), mantido em parceria com uma entidade não-governamental. Esse programa, desenvolvido a partir de 2004 em quase todas as capitais brasileiras, qualificou aproximadamente 70 mil jovens no Brasil e inseriu, de acordo com o autor da tese, 22 mil brasileiros no mercado de trabalho. O consórcio foi realizado com foco nos seguintes eixos: fomento à geração de postos de trabalho formais e formas alternativas geradoras de renda; preparação para o primeiro emprego; articulação com a sociedade civil.

    Os jovens foram entrevistados, num primeiro momento (2005 a 2006), para o mestrado que Silva realizou também na Uneb, com o objetivo de analisar em que medida os cursos de qualificação contribuíram para a inserção dos jovens no mercado de trabalho. Depois, a partir de 2008, já no doutorado realizado na Unicamp, o mesmo grupo de jovens possibilitou ao pesquisador reconstruir seus percursos de trabalhos, suas novas estratégias de acesso e permanência em empregos, sobretudo no campo da formação.

    Por meio da história desses jovens, os “caminhos” percorridos foram estudados em um contexto de indicadores sociais e econômicos. Conforme o autor, a opção metodológica da pesquisa, baseada em estudo microssociológico, foi realizada por entender que essa ferramenta pode revelar aspectos encontrados em escala maior na sociedade. Dessa forma, foram reunidos métodos, técnicas e instrumentos de pesquisa quantitativa e qualitativa.

    CONSTATAÇÃO

    O país cresceu, a economia melhorou, empregos foram gerados, mas isso não foi suficiente para resolver o problema do desemprego para a juventude trabalhadora brasileira, na faixa etária de 15 a 29 anos. “Embora tenha ocorrido uma significativa elevação do ritmo de crescimento do país e uma geração de novos empregos para toda a população economicamente ativa, especialmente nos anos de 2004 a 2008, os jovens continuam sendo, no Brasil, o grupo mais escolarizado e mais desempregado entre os demais grupos etários”, escreveu o autor da tese.

    De fato, as narrativas coletadas humanizam os números citados. Em comum, as famílias desses jovens pobres realizaram fortes investimentos na preparação dos filhos, acreditando que o estudo garantiria a eles uma vida melhor, com mais oportunidades, em uma tentativa de “dar aos filhos o que não tiveram”. “Desde muito cedo, por meio dos discursos capturados, a educação [dos filhos] foi o principal investimento da família”, afirma o pesquisador. Três dos nove jovens, por exemplo, estudaram em escolas particulares.

    Mas por que é importante conhecer o percurso de trabalho da juventude? “Sobretudo para pensar as políticas de emprego e de formação”, explica Silva. “Existe ainda uma tendência nas políticas atuais de pensar a juventude e o processo de inserção deles no mercado de trabalho por via apenas de um processo de construção de políticas de qualificação, ou seja, vamos qualificar o jovem para inseri-lo.”
    Segundo o pesquisador, o problema do desemprego no Brasil, principalmente em relação à juventude, ganhou atenção na década de 80, como um problema social grave, visto que estava associado à questão da violência juvenil. “Nos anos 90, ocorreram fortes investimentos para essa juventude, com programas voltados para a qualificação, na intenção de que isso pudesse inserir esses jovens e livrar a sociedade dos males que esse segmento poderia provocar. No final dos anos 90, porém, os dados indicavam que a causa do desemprego não encontrava na insuficiência de escolaridade a sua única explicação.”

    Conforme as entrevistas, ao terminarem a educação básica, os jovens percebem que a qualificação obtida na escola ainda não é suficiente para o “emprego digno ou bom emprego” e seguem para os cursos de qualificação, de olho no “emprego estável e protegido”. A formação, de acordo com o estudo, é vista como um “passaporte” para o mundo dos empregos. Tanto, que um dos jovens passou por mais de dez diferentes cursos de qualificação em sua trajetória, alguns realizados ao mesmo tempo, como reflexo do discurso dominante de que a qualificação, por si, garante emprego. A intenção é ser superselecionável.

    “Eu ainda não tenho dinheiro pra pagar uma faculdade, por enquanto vou fazer um curso de inglês, é o que posso. Mas eu vou trabalhar muito, muito mesmo, e vou conseguir realizar o meu sonho – que é fazer Ciências Sociais – e no futuro vou ter um bom emprego”, disse uma das jovens entrevistadas na pesquisa, em 2010.

    “O emprego digno ou protegido, o emprego decente, não se constituiu”, explica o professor, apesar dos investimentos realizados pelos jovens e por suas famílias. Os nove entrevistados, acompanhados por anos, não permaneceram nos empregos que encontraram, mas continuaram a busca acreditando que unicamente a qualificação faria a diferença. No momento em que o estudo de doutorado foi encerrado, o grupo repetia o comportamento no ensino superior, ao dar prosseguimento ao estudo com a esperança de mudar de vida.

    “Na Europa, o processo de passagem do sistema de qualificação para a inserção é complexo, temos jovens superpreparados e sem emprego. No Brasil, é um grande avanço a existência de programas articulados, entretanto os avanços ainda são pífios e não estão dando conta das reais causas do desemprego juvenil”, avalia Silva, ao comentar sobre a eficácia da atual política dos programas de qualificação profissional no país.

    O estudo conclui que fica explícito, nesse processo de formação de jovens para o mercado de trabalho, que não há uma “relação direta, única, de causa e efeito, na relação falta de qualificação e desemprego”. Quem determina a tão disseminada empregabilidade, termo que o autor problematiza no seu estudo, é o desempenho da economia, escreveu o autor da pesquisa, citando o economista Marcio Pochmann. O autor também esclarece que não pretende negar a importância da qualificação, mas refletir sobre a complexidade da questão e os efeitos limitados das políticas públicas atuais. No caso dos jovens entrevistados, o que era para ser “passageira”, uma solução transitória, acabou virando um trabalho “interino-permanente”. “A grande transformação que se verifica nos últimos anos reside no fato de que tanto os empregos precários como, as novas formas de subemprego, assumem, cada vez menos, uma ponte que conduz à estabilidade do emprego. Para muitos jovens, eles deixaram de ser um acontecimento biográfico pontual para se caracterizar num modo de vida”, escreveu o autor do estudo.

    Publicação
    Tese: “Juventude trabalhadora: percursos laborais, trabalhos precários e futuros (in) certos”
    Autor: José Humberto da Silva
    Orientadora: Liliana Rolfsen Petrilli Segnini
    Unidade: Faculdade de Educação (FE)
    Financiamento: CNPq

    Perseguição...

    do blog de Roberto Romano

    Recebi e repasso.

    Manifesto em apoio a professor perseguido - colabore

    De:
    Henrique Júdice Magalhães 
    Prezado(a)s destinatário(a)s,

    em 48 horas, conseguimos 200 assinaturas para o manifesto abaixo. Por favor ajude divulgando-o e assinando-o em http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=P2013N43145 . Caso desejem ler a íntegra do processo administrativo (mais de 600 páginas), basta solicitar no endereço de envio desta mensagem.

    Cordiais saudações.

    O professor Paulo Berndt, do Campus Feliz do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), está sendo alvo de uma perseguição infame por ter cumprido exemplarmente seus deveres de funcionário público e cidadão ao:

    1) denunciar à procuradoria da República uma grave irregularidade em concurso público do IFRS. Em razão da denúncia, a reitoria do instituto viu-se levada a assinar termo de ajuste de conduta junto ao Ministério Público.

    2) negar-se, mesmo sob pressão da direção de ensino do Campus Feliz, a aprovar alunos sem rendimento acadêmico suficiente para tal. Entre esses alunos, havia filhos de pessoas de alguma influência na região de Feliz, como um ex-comandante da PM em uma cidade próxima e uma professora da escola local, amadrinhada por uma ex-secretária de Educação do município. Embora essa pessoa tenha confessado, em seu depoimento, nunca ter visto até então o prof. Paulo, a comissão deu crédito às graves acusações formuladas por ela, usando-as como base para a indiciação.

    Nós, abaixo assinados, manifestamos nosso mais firme REPÚDIO à abertura de processo administrativo disciplinar contra o professor Paulo e, sobretudo, à sua indiciação.

    Além da denúncia ao MPF, são objeto da indiciação charges críticas à presidenta da República veiculadas, durante a greve de 2012, num blog que tinha o professor Paulo como um de seus administradores, o que desfaz qualquer dúvida sobre o caráter persecutório do processo e a parcialidade da comissão processante.

    Simultaneamente, foram fabricadas acusações relativas à conduta do prof. Paulo em sala de aula, categoricamente desmentidas por seus alunos.

    No entanto, a comissão processante não levou em conta o que disseram em favor do prof. Paulo 35 testemunhas entre alunos, ex-alunos, mães de alunos, colegas e superiores, nem as posições externadas pela quase totalidade dos estudantes do ensino médio via internet e em abaixo-assinado entregue à direção do campus. Preferiu, ao invés disso, dar crédito a um ex-diretor de ensino cuja animosidade para com o prof. Paulo foi atestada por algumas daquelas testemunhas e a pessoas que jamais haviam tido, até então, contato com o prof. Paulo, nem nunca frequentaram sua sala de aula.

    Enquanto isso, denúncias dirigidas à reitoria do IFRS sobre faltas gravíssimas cometidas por diretores e ex-diretores de campus dormem na gaveta da senhora reitora.

    Exigimos a invalidação do processo administrativo disciplinar aberto contra o professor Paulo Berndt, bem como o reconhecimento de sua inocência e que não lhe seja aplicada nenhuma pena.

    Os signatários

    Piaget


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    O III Colóquio Internacional de Epistemologia e Psicologia Genéticas será realizado no período de 17 a 20 de novembro de 2013, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa. O objetivo do Colóquio é a disseminação da epistemologia e psicologia genéticas nas áreas da psicologia, filosofia e educação. Nesta edição, o III Colóquio é uma iniciativa conjunta de três grupos de estudos e pesquisa: (1) Núcleo de Pesquisa em Desenvolvimento Sociomoral – NPDSM, UFPB, João Pessoa-PB; (2) Grupo de Estudos e Pesquisas de Epistemologia Genética e Educação – GEPEGE, UNESP, Marília-SP e (3) Grupo de Estudos e Pesquisa em Epistemologia Genética da Região Amazônica – GEPEGRA, Porto Velho-RO. É a primeira vez que o Colóquio está ocorrendo fora do Estado de São Paulo. Ao se tornar itinerante, o Colóquio visa proporcionar um espaço para discussão e disseminação da epistemologia e psicologia genéticas garantindo maior participação de pesquisadores e estudantes de regiões não contempladas nas edições anteriores. Além dos convidados nacionais, o evento contará com a participação de convidados da França, Espanha, e Peru. A maioria dos pesquisadores convidados já respondeu aceitando o convite. O conjunto das palestras visa atingir os objetivos de integração e debate construtivo acerca de tópicos essenciais da teoria piagetiana.

     OBJETIVOS 
     Promover a interlocução e o debate sobre questões atuais que levantam as pesquisas científicas e filosóficas em torno da Psicologia e Epistemologia Genéticas.
     Incentivar a interlocução e debates atuais sobre questões de pesquisas interdisciplinares e a critica à obra de Jean Piaget.
     Propiciar o encontro de pesquisadores brasileiros dedicados ao estudo da obra de Jean Piaget e de questões atuais que levantam a Psicologia e Epistemologia Genéticas, e de grupos de pesquisa que trabalham com o tema no Brasil. Como também fortalecer uma rede de pesquisadores brasileiros e estrangeiros (latino-americanos, europeus e americanos) sobre questões de pesquisas direcionadas ao estudo da Psicologia e Epistemologia Genéticas.
     Oferecer elementos de discussão e subsídios teóricos aos estudantes de Programas de Pós- Graduação e de Graduação na elaboração de suas pesquisas.
     Oferecer espaço de discussão e elementos teóricos aos professores da Educação Básica para a sua inserção na pesquisa e na qualificação profissional.
     Publicar os resultados alcançados no evento.
     PÚBLICO ALVO 
     Pesquisadores e estudiosos interessados na obra de  Jean Piaget.
     Estudantes de graduação, pós-graduação e profissionais ligados aos cursos de Psicologia, Filosofia, Educação e áreas afins.
     Professores do ensino superior das áreas mencionadas.
     Professores da Educação Básica.

     LOCAL DO EVENTO 
    Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Humanas e Letras, Departamento de Psicologia, Cidade Universitária. Av. Castelo Branco, João Pessoa – PB, CEP: 58051-900, (83) 3216-7006 (Sec. Mestrado) / 3216-7337 (Sec. Departamento). Email para correspondência: coloquiojeanpiaget2013@gmail.com

      PROMOÇÃO  
    Departamento de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba – UFPB - João Pessoa/PB.
    Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba – UFPB - João Pessoa/PB.
    Departamento de Psicologia da Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) - UNESP, campus de Marília/SP.
    Pós-Graduação em Educação da FFC - UNESP, campus de Marília/SP.
    Pós Graduação em Filosofia da FFC - UNESP, campus de Marília/SP.
    Departamento de Filosofia da Fundação Universidade Federal de Rondônia - UNIR.
    Sociedade Brasileira Jean Piaget - SBJP.


     REALIZAÇÃO  
    NPDSM - Núcleo de Pesquisa em Desenvolvimento Sociomoral. Departamento de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba - UFPB - João Pessoa/PB.
    GEPEGE - Grupo de Estudos e Pesquisa em Epistemologia Genétca e Educação. Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) - UNESP, campus de Marília/SP.
    GEPEGRA - Grupo de Estudos e Pesquisa em Epistemologia Genética da Região Amazônica. Departamento de Filosofia - UNIR- Porto Velho/RO.
     APOIO 
    Reitoria da Universidade Federal da Paraíba – UFPB.
    CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
    PRPG – Pró-Reitoria de Pós-Graduação – UFPB.
    FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
     PALAVRAS-CHAVE 
    Epistemologia Genética; Psicologia Genética; Interdisciplinaridade; Sujeito do Conhecimento; Construção da Inteligência
    Web designer: Rafael dos Reis Ferreira




                                

    sexta-feira, 9 de agosto de 2013

    Enquanto isso....


    ... tenho um longo texto para escrever, análises de outros...

    Vai lá!



    Vejam o Blog que apresentará todas as MAZELAS  da Universidade Estadual de Maringá, não para desquilificar a Universidade, a única pública da Má-ringa, mas para evidenciar os desmandos dos governos em especial o governo Richa.


    SOS UEM

    http://sosuem.blogspot.com


    A SITUAÇÃO DOS DEPARTAMENTOS: faltam funcionários, professores concursados que não foram nomeados, professores que fizeram concurso para titular que não foram nomeados, paredes rachadas, telhados furados, trincos que caem das portas, cursos novos sem professores efetivos que já estão no terceiro ano...
     
    Enquanto isso, muitos docentes trabalham, trabalham, trabalham...( é claro que nem todos e todas, mas isso quem tem os dados não sou eu).
     
    Dizem que em Curitiba uma COMISSÃO  trabalha na surdina para a AUTONOMIA DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS DO PARANÁ.  Mas, que tipo de AUTONOMIA um governo quer dar quando odeia as instituições públicas? Sei não, diriam os mineiros!

    Uma opinião

    Do blog de ROBERTO ROMANO

    Fernando Rodrigues entrevista

    De saída do PT, Domingos Dutra afirma que Dilma ‘paga o pato’ pelas escolhas de Lula

    Fernando Rodrigues

    Deputado federal quer se filiar à Rede e disputar o Senado em 2014

    Sérgio Lima/Folhapress

    O deputado Domingos Dutra (PT-MA) fez um discurso emocionado na 2ª feira (5.ago.2013) em Milagres do Maranhão, interior do Estado, no qual deixou claro para todos os petistas que o ouviam: ele deixará a legenda que ajudou a fundar, há 33 anos, para se filiar à Rede, de Marina Silva.

    O motivo do rompimento é a aliança do PT com o senador José Sarney (PMDB-AL). O deputado, que chegou a fazer greve de fome em 2010 contra o apoio do PT à reeleição de Roseana Sarney, cansou de defender que seu partido não se junte ao clã que domina a política maranhense há décadas.
    Em entrevista ao Blog, ele afirma que Lula desperdiçou a chance de usar sua popularidade para “oxigenar a política”. Para Dutra, o ex-presidente preferiu dar razão a “gente ordinária, que está aí há séculos”, e hoje a presidente Dilma “paga o pato” por essa escolha, virando alvo de protestos que pedem renovação na política.

    O deputado avalia que é mais fácil o PMDB abandonar o PT, caso Dilma não se reeleja presidente, do que o PT “se desgrudar” de Sarney. “2014 está chegando e o PT continua no curral do Sarney”, afirma.

    Leia trechos da entrevista a seguir:

    Por que o senhor decidiu sair do PT?

    Em 2010, o diretório estadual do PT definiu, contrariando a vontade do diretório nacional e pressões do governo do Estado, uma aliança com o PC do B para o governo do Estado, apoiando o Flávio Dino, que era deputado federal. O PC do B é aliado do PT desde a primeira eleição, em 1989. Nosso encontro foi em março e de março até junho o senador [José] Sarney ficou pressionando o presidente Lula. Ao final, Lula determinou que o diretório nacional fizesse intervenção no diretório [estadual] do Maranhão. E entregou o partido para o Sarney. Eu fiz greve de fome durante 10 dias. No final da grave de fome, nós fizemos um acordo e nesse acordo o diretório nacional nos liberou para fazer campanha a favor do Flavio. Só que está chegando 2014 e o PT do Maranhão continua no curral do Sarney. Diante dessa situação, eu não posso continuar no partido. A não ser que o PT do Maranhão saia do curral do Sarney.

    Há chances de o PT romper com Sarney?

    Acho muito difícil. Eu não acho que o PT vá sair, mas é possível o PT ser expulso pelo PMDB do Maranhão, do Sarney, caso a presidente Dilma não melhore sua popularidade e o presidente Lula não puder ser candidato. Se o PT não tiver um candidato competitivo, o PMDB larga o governo e vai se juntar com o Aécio [Neves]. Aí acho que eles expulsam o PT e se agregam ao PSDB.

    Nessa hipótese, o sr. permaneceria no PT?

    Se o PT se desgrudar do Sarney, eu reavalio a minha saída. Apesar de todos os problemas nacionais que o partido tem, eu acho que ainda dá pra disputar o PT ainda. Agora, em nível local é impossível, porque não dá para conciliar.

    Qual é sua relação com a Rede, de Marina Silva?

    Estou desde fevereiro de 2013 ajudando a fundar o Rede. Como tem a fidelidade partidária, eu só posso me desfiliar do PT na hora que tiver um outro partido sendo legalizado no TSE [Tribunal Superior Eleitoral]. Fundou o partido, eu tenho 30 dias para sair de um e entrar no outro. Estou no processo de formação da Rede e numa contagem regressiva para me desfiliar do PT.

    Além do sr., mais alguém do PT no Maranhão pretende ser filiar à Rede?

    Tem vários militantes. Mas eu não estou fazendo campanha para grandes militantes saírem do PT e irem para a Rede. Primeiro, tem que legalizar o partido, para depois… Agora, eu acho que legalizando, vai sair muita gente. O [deputado estadual] Bira do Pindaré está discutindo.

    Nesta semana, o sr. fez um discurso emocionado em Milagres do Maranhão anunciando a sua saída do PT. Como seus companheiros de partido reagiram?

    Muitos não querem que eu saia, e nessas reuniões que eu estou fazendo com o Flávio Dino, chamadas “Diálogos”, juntam muitos petistas. Então eu aproveitei para explicar por que estou saindo. É evidente que isso emociona, ninguém rompe 33 anos de história de forma fria. Eu não tenho histórico [familiar] de político, eu venho de baixo, sou filho de camponeses, minha mãe era quebradora de coco, meu pai era lavrador, nasci num quilombo, estou no PT desde 80, nós abrimos a picada. Cheguei até aqui, nunca me envolvi com corrupção, nunca peguei um tostão de empresários pra fazer campanha, sempre faço minhas campanhas a pé, demos o melhor da nossa vida pelo PT e pela liderança do presidente Lula, então é evidente que isso emociona. Então, talvez pela emoção do anúncio, deu essa repercussão.

    O projeto do PT se esgotou?

    Eu acho que tem muita gente boa no PT, tem lideranças extraordinárias. O governo fez muita coisa boa, tanto o presidente Lula como a presidente Dilma. O erro foi na política porque, ao invés de oxigenar a política, o presidente Lula deu muita razão pra gente ordinária, pra política tradicional, que está aí há séculos. Por isso que está pagando o pato hoje. A presidente Dilma está pagando esse preço alto porque o presidente Lula teve a chance, com a sua popularidade, de oxigenar a política, e não oxigenou. Preferiu figuras como o Sarney, o [Fernando] Collor, Jader [Barbalho], e assim por diante.

    O sr. vai se candidatar a qual cargo em 2014?

    Como eu estou saindo do PT e a Rede ainda não existe, estou colocando meu nome como pré-candidato a senador. Se a Rede surgir, é pela Rede. Eu estou em segundo lugar nas últimas pesquisas, o campeão é o candidato do governo, que pode ser o [ministro das Minas e Energia] Edison Lobão [PMDB]. Mas, sem estrutura nenhuma, eu estou em segundo lugar.

    (Bruno Lupion)

    Quem ri ... ritalina nele!

    Comentário: desde 1960 a ritalina foi proibida nos EUA. No Brasil, médicos, pais, escola, não querem crianças que falam, brincam ...

    Na Má-ringa as escolas enviam seus alunos aos médicos e estes enviam as crianças ao inferno. Abrem a porta para que essas crianças sejam viciadas em cocaína mais tarde.

     

    do Blog de ROBERTO ROMANO

    quarta-feira, 7 de agosto de 2013

    JORNAL DA UNICAMP

    A ritalina e os riscos de
    um 'genocídio do futuro'

    05/08/2013 - 16:28

    A docente Maria Aparecida Moysésa também indicada para crianças
    Ritalina desapareceu há poucos meses

    Para uns, ela é uma droga perversa. Para outros, a 'tábua de salvação'. Trata-se da ritalina, o metilfenidato, da família das anfetaminas, prescrita para adultos e crianças portadores de transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Teria o objetivo de melhorar a concentração, diminuir o cansaço e acumular mais informação em menos tempo. Esse fármaco desapareceu das prateleiras brasileiras há poucos meses (e já começou a voltar), trazendo instabilidade principalmente aos pais, pela incerteza do consumo pelos filhos. Ocorre que essa droga pode trazer dependência química, pois tem o mesmo mecanismo de ação da cocaína, sendo classificada pela Drug Enforcement Administration como um narcótico. No caso de consumo pela criança, que tem seu organismo ainda em fase de formação, a ritalina vem sendo indicada de maneira indiscriminada, sem o devido rigor no diagnóstico. Tanto que, no momento, o país se desponta na segunda posição mundial de consumo da droga, figurando apenas atrás dos Estados Unidos. Como acontece com boa parte dos medicamentos da família das anfetaminas, a ritalina 'chafurda' a ilegalidade, com jovens procurando a euforia química e o emagrecimento sem dispor de receita médica. Fala-se muito que, se não fizer o tratamento com a ritalina, o paciente se tornará um delinquente. "Mas nenhum dado permite dizer isso. Então não tem comprovação de que funciona. Ao contrário: não funciona", critica a pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, docente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. “A gente corre o risco de fazer um genocídio do futuro. Mais vale a orientação familiar”, encoraja a pediatra, que concedeu entrevista, a seguir, ao Portal Unicamp.

    Portal Unicamp – Há pouco tempo, faltou distribuição de ritalina no mercado brasileiro. Como essa lacuna foi sentida?

    Cida Moysés – Não sabemos verdadeiramente o motivo de faltar o medicamento, mas isso criou uma instabilidade nas pessoas. As famílias ficaram muito preocupadas e entraram em pânico, com medo de que os filhos ficassem sem esse fornecimento. Isso foi sentido de um modo muito mais intenso do que com outros medicamentos que de fato demonstram que sua interrupção seria mais complicada que a ritalina. São os casos dos medicamentos para diabetes ou hipertensão. Apesar de não conhecermos a razão dessa falta do medicamento, sabemos das estratégias de mercado para outros produtos como o açúcar e o café que faltam no supermercado e, por isso, também para os medicamentos que faltam na farmácia. Quando somem das prateleiras, eles criam angústia. No entanto, em geral, retornam mais tarde. E mais caros, é óbvio.

    Portal Unicamp – O que é a ritalina? Como ela age?

    Cida Moysés – A ritalina, assim como o concerta (que tem a mesma substância da ritalina – o metilfenidato, é um estimulante do sistema nervoso central - SNC), tem o mesmo mecanismo de ação das anfetaminas e da cocaína, bem como de qualquer outro estimulante. Ela aumenta a concentração de dopaminas (neurotransmissor associado ao prazer) nas sinapses, mas não em níveis fisiológicos. É certo que os prazeres da vida também fazem elevar um pouco a dopamina, porém durante um pequeno período de tempo. Contudo, o metilfenidato aumenta muito mais. Assim, os prazeres da vida não conseguem competir com essa elevação. A única coisa que dá prazer, que acalma, é mais um outro comprimido de metilfenidato, de anfetamina. Esse é o mecanismo clássico da dependência química. É também o que faz a cocaína.

    Portal Unicamp – Quando a ritalina é indicada?

    Cida Moysés – Para quem indica, é nos casos com diagnóstico de TDAH. Eu não indico. Para esses médicos, entendo que é necessário traçar uma relação custo-benefício: quanto ganho com esse tratamento em termos de vantagens e de desvantagens. Sabe-se que é uma droga que possui inúmeras reações adversas, como qualquer droga psicoativa. Considero extremamente complicado usar uma droga com essas reações para melhorar o comportamento de uma criança. Qual é o preço disso?


    Portal Unicamp – Quais são os sintomas principais?

    Cida Moysés – As reações adversas estão em todo o organismo e, no sistema nervoso central então, são inúmeras. Isso é mencionado em qualquer livro de Farmacologia. A lista de sintomas é enorme. Se a criança já desenvolveu dependência química, ela pode enfrentar a crise de abstinência. Também pode apresentar surtos de insônia, sonolência, piora na atenção e na cognição, surtos psicóticos, alucinações e correm o risco de cometer até o suicídio. São dados registrados no Food and Drug Administration (FDA). São relatos espontâneos feitos por médicos. Não é algo desprezível. Além disso, aparecem outros sintomas como cefaleia, tontura e efeito zombie like, em que a pessoa fica quimicamente contida em si mesma.
    Portal Unicamp – Não é pouca coisa...

    Cida Moysés – Ocorre que isso não é efeito terapêutico. É reação adversa, sinal de toxicidade. Além disso, no sistema cardiovascular é possível ter hipertensão, taquicardia, arritmia e até parada cardíaca. No sistema gastrointestinal, quem já tomou remédio para emagrecer conhece bem essas reações: boca seca, falta de apetite, dor no estômago. A droga interfere em todo o sistema endócrino, que interfere na hipófise. Altera a secreção de hormônios sexuais e diminui a secreção do hormônio de crescimento. Logo, as crianças ficam mais baixas e também essa droga age no peso. Verificando tudo isso, a relação de custo-benefício não vale a pena. Não indico metilfenidato para as crianças. Se não indico para um neto, uma criança da família, não indico para uma outra criança.

    Portal Unicamp – Criança não comportada é um problema social?

    Cida Moysés – Está se tornando. E não vai se resolver colocando um diagnóstico de uma doença neurológica ou neuropsiquiátrica e administrando um psicotrópico para uma criança.



    Portal Unicamp – Qual seria o tratamento então?

    Cida Moysés – Um levantamento de 2011, publicado pelo equivalente ao Ministério da Saúde nos Estados Unidos, envolve uma pesquisa feita pelo Centro de Medicina baseado em Evidências da Universidade de McMaster, no Canadá, que analisou todas as publicações de 1980 a 2010 sobre o tratamento de TDAH. O primeiro dado interessante foi que, dos dez mil trabalhos que provaram que o metilfenidato funciona, é seguro, apenas 12 foram considerados publicações científicas. Todo o resto foi descartado por não preencher os critérios de cientificidade. Esse é um aspecto muito importante. Dos 12 trabalhos restantes, o que eles encontraram foi que a orientação familiar tem alta evidência de bons resultados, e o medicamento tem baixa evidência. Isso não quer dizer que a família seja culpada. É preciso orientá-la como lidar com essa criança. Além disso, os dados dessa pesquisa sobre rendimento escolar foram inconclusivos, assim como não há nenhum dado que permita dizer que melhora o prognóstico em longo prazo. Fala-se muito que, se a criança não for tratada, vai se tornar uma dependente química ou delinquente. Nenhum dado permite dizer isso. Então não tem comprovação de que funciona. Ao contrário: não funciona. E o que está acontecendo é que o diagnóstico de TDAH está sendo feito em uma porcentagem muito grande de crianças, de forma indiscriminada.

    Portal Unicamp – Dê um exemplo.

    Cida Moysés – Quando se fala em 5% a 10% de pessoas com determinado problema, o conhecimento médico exige que se assuma que isso é um produto social, e não uma doença inata, neurológica, como seria o TDAH, e muito menos genética. Não dá para pensar em porcentagens. Em Medicina, sobre doenças desse tipo fala-se em 1 para 100 mil ou em 1 para 1 milhão. Então, é algo socialmente que vem se produzindo. Quando digo isso, de novo, não estou dizendo que a família é a culpada. Pelo contrário, é um modo de viver que estamos produzindo.

    Portal Unicamp – Quem está sendo medicado?

    Cida Moysés – São as crianças questionadoras (que não se submetem facilmente às regras) e aquelas que sonham, têm fantasias, utopias e que ‘viajam’. Com isso, o que está se abortando? São os questionamentos e as utopias. Só vivemos hoje num mundo diferente de 1.000 anos atrás porque muita gente questionou, sonhou e lutou por um mundo diferente e pelas utopias. Quando impedimos isso quimicamente, segundo a frase de um psiquiatra uruguaio, “a gente corre o risco de estar fazendo um genocídio do futuro”.  Estamos dificultando, senão impedindo, a construção de futuros diferentes e mundos diferentes. E isso é terrível.



    Portal Unicamp – Na França, o TDAH é praticamente zero. A que se deve isso?

    Cida Moysés – Isso se deve a valores culturais, fundamentalmente.

    Portal Unicamp – Isso em países desenvolvidos?

    Cida Moysés – Não necessariamente. Ninguém pode dizer que os EUA não sejam desenvolvidos. Não obstante, o país é o primeiro grande consumidor mundial da ritalina, da onde irradia tudo. O Brasil vem logo em seguida, como segundo consumidor mundial. Ao contrário do que se propaga, de que a taxa de prevalência é a mesma em todos os lugares, isso não é verdade. Varia de 0,1% a 20%, conforme o estudo da Universidade McMaster do Canadá. Varia de acordo com valores culturais, região geográfica, época e conforme o profissional que está avaliando. Há trabalhos que mostram, por exemplo, que médicas diagnosticam mais TDAH em meninos e que médicos mais em meninas, provavelmente por uma falta de identificação. Alguns trabalhos mostram que crianças pobres têm mais chances de receber o diagnóstico. Estamos falando de uma Era dos Transtornos – uma epidemia dos diagnósticos. A França tem uma resistência muito grande a isso por uma questão de formação de médicos, de valores da sociedade. Lá eles têm um movimento muito grande desencadeado por médicos, muitos deles psiquiatras, que se chama collectif pas de 0 de conduite. Esse movimento surgiu como reação à lei que propunha avaliar o comportamento de todas as crianças até três anos de idade. Era um modelo que pegava especificamente pobres e imigrantes. O movimento conseguiu derrubar tal lei.

    Portal Unicamp – Existe no Brasil alternativa diferente da medicalização, da visão organicista?
    Cida Moysés – Temos uma articulação mais recente que é o Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, o qual eu e o Departamento de Pediatria da FCM-Unicamp integramos. O nosso Departamento é o seu membro fundador, tendo mais de 40 entidades acadêmicas profissionais e mais de 3.000 pessoas físicas no Brasil, que estão buscando difundir as críticas que existem na literatura científica sobre isso. Além do mais, procuramos construir outros modos de acolher e de atender as necessidades das famílias dos jovens que vivenciam e sofrem com esses processos de medicalização. Em novembro, a Unicamp promoverá um Fórum Permanente sobre Medicalização da Vida, que irá abordar essas questões de medicalização e de patologização da vida. Todos estão convidados.