Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Ocupação da reitoria da UEMaringá

25 de agosto de 2011

UFA, eleição para reitor e o atual já é EX!

Minha plataforma para eleger reitor

1 - rever os inquéritos administrativos contra os estudantes.
2 - rever os inquéritos administrativos contra os estudantes.
3 - rever os inquéritos administrativos contra os estudantes.
4 - rever os inquéritos administrativos contra os estudantes.
rever os inquéritos administrativos contra os estudantes.
rever os inquéritos administrativos contra os estudantes.
rever os inquéritos administrativos contra os estudantes.
rever os inquéritos administrativos contra os estudantes.
rever os inquéritos administrativos contra os estudantes.
rever os inquéritos administrativos contra os estudantes.
rever os inquéritos administrativos contra os estudantes.
rever os inquéritos administrativos contra os estudantes.

Hoje acordei assim

Viajo amanhã e volto quarta.
abraços pros amigos!

Sou por aqueles excluídos...(Walt Whitman)...






Frio bate recorde pelo 2º dia seguido na região. “Só tem uma coberta e o coitado do bicho sente frio, preciso cuidar dele”, diz o morador de rua Luis Carlos. Leia: http://vai.ai/s-187391

Foto: Hamilton Pavam

2014, eleições

segunda-feira, 28 de julho de 2014

do Blog de Roberto Romano

Metro Porto Alegre, 21 de julho de 2014


Foto Unicamp, Toninho Perri


Metro, Porto Alegre, segunda feira, 21 de julho de 2014.

issuu.com/metro_brazil/docs/20140721_br_portoalegre



Roberto Romano

Professor de ética da Unicamp projeta uma eleição com poucos projetos e forte influência da  propaganda. Para ele, Dilma Roussef precisa se  reinventar, Aécio neves ser mais combativo, e acha difícil Eduardo Campos ser uma surpresa.

Eleições 2104

É possível esperar alguma novidade nas eleições?

As eleições deste ano já trouxeram novidade, que é o fato de não ter repetido aquela distinção entre o PT e o PSDB. A candidatura de Eduardo Campos com a Marina Silva modifica a estrutura do jogo. Além dissom há uma quantidade grande de pequenos candidatos que podem desequilibrar o resultado do partido que receba mais votos: o Pastor everaldo, a Luciana Genro, todos eles somados podem dar uma diferença considerável no primeiro turno.

Embora haja uma ideologia diferente, os projetos políticos se apresentam bem semelhantes, principalmente sobre a manutenção das diretrizes da economia. Há convergência de propostas?

Se for eleito, Aécio Neves vai manter os pressupostos do Plano Realm adaptado à situação de hoje, enfrentando a inflação alta e a crise na produção industrial. O Eduardo Campos vai assumir a mesma posição. E a presidente Dilma Roussef idem. Não existem muitas opções além dessa situação que foi resultante de 12 anos de governo petista. Muito difícil ter uma novidade.

Os gastos excessivos de campanha ainda são um fator de desequilíbrio na disputa eleitoral?

É abissal a distância dos candidatos da oposição e do governo com os candidatos ditos nanicos. Um exemplo é o Pastor Everaldo. Embora tenha o apoio das igrejas evnagélicas, ele não vai ter recursos para crescer mais do que 8%. Da mesma forma, a Luciana Genro. As despesas dos candidatos estão se tornando cada vez mais insuportáveis. Vai chegar um momento que será preciso colocar um limite nisso, mas claro que os interesses econômicos, ideológicos e até mesmo religiosos estão por trás destes gastos, o que é muito preocupante.

O que esperar dos debates: mais apresentação de projetos ou mais troca de  acusações?

Nem uma coisa nem outra. O foco será a propaganda. Infelizmente, os debates estão sendo controlados pelo marketing político  - e isso não é um fenômeno apenas no Brasil. De tal modo, o que você pode dizer é que será um confronto de marqueteiro. Não vejo a possibilidade de grandes emoçòes e apresentação de projetos. Eu acho que os debates serão pautados pela propaganda.

Qual será o papel da internet?

Tem sido cada vez mais importante. A campanha da Ficha Limpa, por exemplo, conseguiu mobilizar para uma mudança legal. A internet será determinante tanto para o bom quanto para o péssimo, porque haverá uma enxurrada de ataques recíprocos, dos mais baixos, sem que as pessoas assumam as suas responsabildiades. E, do ponto de vista positivo, o canditado terá a oportynunidade de colocar em debate o que a midia tradicional impede porque o tempo é limitado, o que não acontece com a internet, que tem o tempo mais elástico.

Em 2002, o então candidato Lula defendia a alternância no poder como algo salutar para a democracia e foi bem sucedido. Essa percepção, com a presidente Dilma Roussef querendo mais quatro anos de governo, hoje se perdeu entre os eleitores?

Eu acho que não. As pesquisas Ibope e Datafolha mostram que os eleitores quem mudança, inclusive na prática governamental. Esse desejo pode ser debitado ao fato da permanência muiro longa do Partido dos Trabalhadores no centro do poder. Note que, mesmo com a hegemonia do PT, setores  do PMDB e de outros partidos da base aliada estão no plano estadual dando apoio à candidaturas opostas à de Dilma Roussef.

Durante 12 anos, a base governista impôs mais derrotas ao governo do PT do que a própria opoisição. A;ecio Neves, que é o principal candidato oposicionista, terá que adotar uma postura mais combativa?

Com certeza. Eu seria até mais severo. Eu diria que durante os governos Lula e Dilma, a oposição deu muito apoio aos projetos do governo, sobretudo no setor econômico. A estrutura da macroeconomia se manteve a mesma, com ligeiras modificações. Não é que a oposição foi apenas fraca, ela foi conivente com boa parte da política do governo. É um defeito dos sistema político brasileiro. O Brasil é aquele país em que é proibido ser oposição, porque senão não conseguirá recursos para seus Estados ou municípios junto aos ministérios. Você manter uma atitude oposicionista radical é uma tarefa heróica.

O candidato Eduardo Campos se apresenta como terceira via. As pesquisas, no entanto, apontam que a campanha dele aida foi incapaz de absorver os 20 milhões de votos conquistados por Marina Silva. Há chances de uma guinada?

Eu não sou pitonisa, mas acho que será muito difícil. Mesmo porque essa aliança foi feita e, em termos estratégicos, não há concordância. Inclusive a Marina, não raro, coloca óbices às alianças qe o Eduardo Campos quer fazer. Ele, por sua vez, é um político tradicional do Nordeste, que tem uma posição muito antiga em termos de prática política. E, por isso, acho que ele não vai modificar muito e não vai conseguir, pelo menos no meu prognóstico, uma situação que o coloque em condição de derrotar os outros adversários.

Marcelo Freitas. METRO Brasilia.

Raivosos ...

Siro Darlan, Desembargador, a pensar com rigor.

Do Blog de Roberto Romano

Prisão de ativistas só serve para saciar a fome de vingança de setores raivosos

Siro Darlan

Siro Darlan

Especial para o UOL 


O Brasil é hoje o terceiro país no mundo que mais possui encarcerados, perdendo apenas para a China e os Estado Unidos. Esse número não nos deixa em boa posição em um cenário de civilização que promoveu diversas revoluções na conquista das liberdades. Nossa pátria já traz tatuada em sua história a marca de ser o último país da América a abolir a escravidão.

Ainda não nos desapegamos dessa prática hedionda. Trocamos o tronco e os castigos físicos, além da exclusão social em razão da cor da pele, pelo encarceramento como forma de manter acesa a chama do apartheid social.

Apesar do reconhecimento do fracasso do sistema penitenciário brasileiro como forma de ressocialização, ainda é muito grande o número de pessoas encarceradas desnecessariamente quando existem alternativas de reparação dos danos que a criminalidade causa à sociedade, além da violência oriunda dos cárceres.
Trocamos o tronco e os castigos físicos, além da exclusão social em razão da cor da pele, pelo encarceramento como forma de manter acesa a chama do apartheid social Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça e Coordenador-Rio da Associação Juízes para a Democracia, sobre o sistema prisional brasileiro
O dispêndio inútil de recursos para aprisionar poderia e deveria ser destinado para a construção de uma sociedade mais justa, que priorizasse a educação e saúde do nosso povo. Reformas legais têm sido feitas, mas não houve o desapego de juízes e membros do Ministério Público ao sistema de privação de liberdade.

Alternativas não faltam às medidas privativas de liberdade, tais como as diversas medidas cautelares, a prisão domiciliar e as penas alternativas.

O custo social e financeiro do encarceramento é muito elevado, e retira do administrador público a oportunidade de direcionar tais recursos para um combate mais eficaz da criminalidade, como a construção de escolas e universidades, o saneamento básico de comunidades pobres e o implemento de políticas públicas que privilegiem as pessoas mais vulneráveis, como crianças, idosos e pobres.
Hoje o sistema penitenciário tem sido habitado prioritariamente pela criminalidade relacionada com o tráfico de drogas. Há países que estão experimentando modalidades diversas de combate às drogas, que não esse sistema proibicionista, que tem provocado tantas mortes de agentes de segurança pública, de criminosos e, sobretudo, de inocentes.
Enquanto houver alternativas diversas da privação da liberdade, essas devem prevalecer sobre o encarceramento Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça e Coordenador-Rio da Associação Juízes para a Democracia, sobre outras formas de punição por crimes e contravenções
A descriminalização do comércio de drogas e seu controle pelo poder público, além de um sistema eficiente de tratamento de saúde dos usuários e vítimas das drogas, tem se mostrado mais eficaz que o atual sistema, responsável por quase 70% dos prisioneiros.

A Constituição preserva a liberdade como um bem fundamental a ser preservado, e a sua restrição se dá apenas em casos excepcionais e devidamente fundamentados pela autoridade judiciária competente.

Enquanto houver alternativas para privação da liberdade, essas devem prevalecer sobre o encarceramento. Apesar dessa regra maior, tem sido uma prática a internação de jovens envolvidos com o tráfico de entorpecentes, mesmo que não se trate de "ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa", o que viola expresso texto legal.

Nesse contexto, a denúncia do Ministério Público - embora a mídia interessada em subtrair a verdade do público tenha noticiado incêndios, lesões corporais, danos ao patrimônio público e porte de explosivos, dentre outros delitos - é exclusivamente pelo delito de quadrilha armada (artigo 288, parágrafo único do Código Penal, cuja pena pode variar entre um e três anos de reclusão, podendo ser dobrada).

Ora, ainda que os acusados venham a ser condenados, na pior das hipóteses a pena não ultrapassará dois anos, pois são réus primários e de bons antecedentes. Sabe-se que, pela nossa legislação, a condenação até quatro anos pode e deve ser substituída por penas alternativas em liberdade.
A Constituição Federal preserva a liberdade como um bem fundamental a ser preservado, e a sua restrição se dá apenas em casos excepcionais desembargador do Tribunal de Justiça e Coordenador-Rio da Associação Juízes para a Democracia, sobre a prisão de ativistas
Assim sendo, o que justifica manter presas pessoas que, ainda que condenadas, permanecerão em liberdade?

Prejuízo maior terá a sociedade se tais pessoas vierem posteriormente acionar o Estado para que paguemos, com os tributos que nos são cobrados, indenizações por terem sido presas ilegalmente apenas para saciar a "fome de vingança" de setores raivosos, incapazes de raciocinar além do noticiário indutivo.

No caso concreto, acrescente-se ainda que o próprio Ministério Público, fiscal da lei e principal defensor da sociedade, afirmou expressamente nos autos de processo contra dois dos acusados que "os indiciados não representam qualquer perigo para a ordem pública, entende o Parquet - membro do Ministério Público - que não se encontram presentes os requisitos autorizadores da manutenção da custódia cautelar dos indiciados"."O Ministério Público é pelo deferimento do pleito libertário formulado em favor dos indiciados CARJ e IPD`I", diz Paulo José Sally, promotor de Justiça.

Eis as razões pelas quais as medidas cautelares aplicadas estão mais em conformidade com a Constituição, as leis e a jurisprudência dos tribunais, salvo melhor entendimento.


Da sabedoria de Stanislaw Ponte Preta:
Via Romero Venâncio

"A verdade é que ninguém chega impunemente a presidência da República"
In: Máximas da Tia Zulmira. Era 1976 ou parece ontem aqui no Brasil..

e eu digo: nem a reitor...

PROCURA-SE BAKUNIN, VIVO!


Camila Jourdan, professora da UFRJ, presa, acusada de ser cúmplice de Bakunin.

Por favor, fechem as livrarias para protegermos Bakunin da PM.




http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/177985-da-sorbonne-para-a-rua.shtml


Zuzu, um anjo e seu filho Angel




Foto que mostra Freddie Perdigão (marcado em vermelho) na cena do atentado sofrido pela estilista Zuzu Angel em abril de 1976 é entregue por Cláudio Guerra à CNV.

Saiba mais sobre a foto: http://bit.ly/perdigaozuzu

IMPORTANTE - Na tarde de hoje o jornal O Globo identificou a origem da foto entregue à CNV por Cláudio Guerra. A imagem foi publicada pelo jornal no dia seguinte ao acidente com a estilista, em 15 de abril de 1976. Nem a reportagem do jornal, nem a legenda da foto, identificam a presença do major Perdigão na cena do crime, o que só ocorreu agora, por ocasião do depoimento do delegado. Após a identificação da origem da imagem, os créditos da mesma no site e no Facebook da CNV foram corrigidos.

Foto: jornal O Globo

Estamira


Salve ELZA SOARES!


terça-feira, 22 de julho de 2014

Hoje acordei assim


Rosa Passos

Rosa Passos, É luxo só

O homem não vive apenas do pão...mas precisa do pão.

Via facebook de Romero  Venâncio

"O homem não vive apenas de pão: uma verdade como esta não se esgota pela falsa interpretação de que o alimento espiritual é um substituto suficiente para a falta de pão"
Herbert Marcuse. In: Cultura e Psicanálise


A questão Palestina

de Romero Venâncio facebook

 a palavra de Edward Said autor do livro "A questão da Palestina" editora da UNESP.
A OCUPAÇÃO É A ATROCIDADE

"O plano de Israel não é apenas manter a terra e povoá-la com colonos armados assassinos que, protegidos pelo exército, levam a destruição aos pomares, às crianças em idade escolar e aos lares palestinos; o projeto é fazer regredir a sociedade palestina, tornar a vida impossível para a população local, com o objetivo de obrigar os palestinos a sair, a desistir de sua terra de alguma forma ou a fazer algo insano, como explodir a si mesmos."

Edward Said, em artigo de 2001, recuperado no Blog da Boitempo:http://wp.me/pB9tZ-2Cj

Estado mínimo e liberdade?

De Alvaro Caputo.

do blog de Roberto Romano

Estado mínimo e direitos individuais: libertarianismo cresce na política dos EUA

Quem são e o que pensam os libertários americanos? Donos de um partido que já é a terceira força política nos Estados Unidos, o libertarianismo é influente entre os republicanos e tem muitas propostas que agradam aos democratas

Diego Braga Norte
O senador republicano Rand Paul, durante entrevista coletiva em Washington
O senador republicano Rand Paul dá entrevista em Washington (Jim Bourg/Reuters)
Imagine um governo tão enxuto que se limite apenas à segurança, ao sistema judiciário e à defesa nacional. Nesse sistema também seriam abolidas quaisquer formas de controle ou regulação do mercado, dando liberdade irrestrita à iniciativa privada e à livre concorrência. Também teriam liberdade total os indivíduos, em questões como aborto ou o consumo de drogas. Em linhas gerais, são estes os pilares do libertarianismo: Estado mínimo e defesa incondicional da propriedade privada e dos direitos individuais. O movimento tem um partido próprio e já é a terceira maior força política dos Estados Unidos — ainda bem atrás dos quase hegemônicos partidos Democrata e Republicano.
É possível separar as bandeiras do libertarianismo em duas esferas. Nos campos econômico e institucional, os ideais permitem uma aproximação com a direita, enquanto em alguns temas privados, podem se alinhar a causas que são o avesso do conservadorismo. Se por um lado os libertários são defensores do livre mercado, por outro, apoiam a descriminalização das drogas, por exemplo. Por conta dessas características, o libertarianismo conta com simpatizantes entre republicanos e democratas, e seus defensores prometem fazer barulho nas eleições legislativas de novembro e nas presidenciais de 2016.
Família Paul — O principal nome do libertarianismo entre as fileiras republicanas, e quem melhor se apropriou do discurso libertário, é o senador pelo Estado do Kentucky Rand Paul. Seu pai, o ex-senador Ron Paul, é apontado como o político que introduziu o libertarianismo no atual cenário político americano. Ron foi candidato à Presidência em 1988 pelo Partido Libertário e depois, já no Republicano, concorreu nas primárias presidenciais em 2008, quando perdeu para John McCain, e em 2012, quando foi superado por Mitt Romney.
“O libertarianismo eclodiu em 2008 e explodiu em 2012, ganhando muita força após as campanhas presidenciais de Ron Paul. Ele visitou muitas universidades para explicar o libertarianismo para um público jovem e bem informado. Como resultado, muitas pessoas abraçaram a ideia de que o governo tem expandido o seu poder em detrimento do povo”, explica Jo Ann Cavallo, cientista político da Universidade de Columbia, em Nova York.
Se algumas das ideias de Paul, o pai, chocaram muitos republicanos — ele queria, por exemplo, abolir o Fed (o Banco Central dos EUA) e fechar as bases militares no exterior —, o filho calibrou o discurso e atenuou sua retórica, mas manteve os pontos cruciais que vêm conquistando admiradores: a importância de reduzir o papel do Estado na economia e na vida das pessoas. “Eu não considero Rand Paul um libertário. Seu pai, Ron Paul, é um libertário. Mas Rand Paul é um conservador com algumas inclinações libertárias. Ele é certamente mais libertário do que um republicano médio”, analisa Michael Munger, professor de ciência política da Universidade Duke e membro do Partido Libertário.
A campanha presidencial ainda está distante — dois anos em política representam muito tempo —, mas Rand Paul aparece muito bem cotado nas pesquisas. De acordo com as duas sondagens mais recentes, conduzidas pela Rasmussen e pela Bloomberg, Paul tem melhor colocação entre os republicanos, com quase 40% das intenções de voto. Em ambas as pesquisas a pré-candidata democrata, Hillary Clinton lidera com 46% na pesquisa da Rasmussen e 47%, na da Bloomberg.
Se Rand Paul espertamente se apropria de uma sedutora parte da ideologia do libertarianismo para se projetar país afora, o Partido Libertário ainda não é tão bem sucedido em nível nacional. Munger, que já foi candidato ao governo da Carolina do Norte pelo Partido Libertário, admite que as chances da legenda nacionalmente são ínfimas. “É muito difícil pensar em corrida presidencial. Essas eleições são muito caras. Os libertários têm muito mais chances de conseguir cargos estaduais e locais”, afirma o professor. Sobre os prognósticos para as próximas eleições legislativas, o jornal The Washington Post aponta que em pelo menos sete estados (Montana, Carolina do Norte, West Virginia, Virginia, Kentucky, Alaska e Arkansas) candidatos do Partido Libertário podem influenciar decisivamente o resultado no Senado, hoje controlado pelos democratas com uma vantagem de apenas oito cadeiras sobre os republicanos. Segundo o jornal, mesmo que os candidatos libertários não se elejam, eles têm potencial de votos suficiente para arrancar eleitores dos dois partidos majoritários. (leia a íntegraem inglês)
Terceira força — Para o cientista político Munger, a ideologia libertária tem uma função inovadora ao arejar a velha dicotomia entre republicanos e democratas. “Uma terceira força política nos EUA teria um papel importante. Ela pode influenciar os partidos existentes, ameaçando tirar seus votos se eles não abraçarem algumas ideias libertárias”. Ele acredita que os libertários poderiam constranger os democratas por atentarem contra as liberdades civis (no caso da espionagem da NSA dentro do território americano, por exemplo) e pressionar os republicanos, mostrando que eles dizem lutar por um Estado menor, mas votam em propostas que vão contra seu discurso, como em maiores subsídios para empresas.
Segundo os analistas, esse apelo do libertarianismo na sociedade americana, conquistando eleitores republicanos e democratas, vem de diferentes fatores. Os principais são a desilusão dos americanos com os dois principais partidos e a própria ideologia libertária, que possui elasticidade suficiente para ser absorvida por cidadãos mais à esquerda e mais à direita do espectro político. Depois de oito anos da desastrada administração George. W. Bush e de mais de seis anos do decepcionante governo Barack Obama, a terceira força na política americana conquistou mais de 1,2 milhão de votos. Embora o número represente somente 0,99% do total do eleitorado, as ideias libertárias vêm sendo cada vez mais apropriadas e assimiladas na política americana, sobretudo entre o público jovem, fazendo do libertarianismo uma ideologia líquida, que se infiltra nos discursos dos dois maiores partidos do país.
Histórico nos EUA – O termo ‘libertário’ foi usado pela primeira vez no final do século XVIII, em debates na Grã-Bretanha opondo o livre arbítrio contra o determinismo. Nos Estados Unidos, o libertarianismo tem raízes que remontam ao século XIX, quando era uma bandeira dos anarquistas que propagandeavam seus conceitos em movimentos alinhados com a esquerda, como ativismo sindical, feminismo, luta contra a segregação racial ou mesmo no pacifismo. Ao longo do século XX, a ascensão de ideias socialistas e comunistas levou os libertários a uma aliança com os conservadores para combater inimigos comuns, os vermelhos.
“Neste período surgiram brilhantes pensadores libertários [saiba mais na lista abaixo] como Ludwig von Mises e Ayn Rand. Eles eram oponentes firmes do poder do Estado, mas menos radicais do que os anarquistas. E eles também viam os negócios e empresas mais como vítimas do Estado do que como beneficiários”, explica o filósofo Roderick Long, especialista em libertarianismo na Universidade de Auburn.
Apropriado por diferentes correntes políticas sem se identificar inteiramente com nenhuma delas, o libertarianismo nos EUA parece se consolidar como uma ideologia maleável, mas ainda assim influente na política americana, aponta Henry Olsen, do Ethics and Public Policy Center. “Nos dias atuais, um libertário americano é alguém que se opõe a praticamente todos os esforços de regulação governamental do mercado, exceto a proteção contra fraudes; à redistribuição de renda, especialmente na forma de programas destinados a combater pobreza; e a ações do governo que limitem as liberdades civis individuais”, resume.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

SOMOS TODOS GAZA


Mario, sublime, de Andrade



Vestida de Preto
Mário de Andrade
http://www.releituras.com/marioandrade_vestida.asp

Tanto andam agora preocupados em definir o conto que não sei bem se o que vou contar é conto ou não, sei que é verdade. Minha impressão é que tenho amado sempre. Depois do amor grande por mim que brotou aos três anos e durou até os cinco mais ou menos, logo o meu amor se dirigiu para uma espécie de prima longínqua que freqüentava a nossa casa. Como se vê, jamais sofri do complexo de Édipo, graças a Deus. Toda a minha vida, mamãe e eu fomos muito bons amigos, sem nada de amores perigosos.
Maria foi o meu primeiro amor. Não havia nada entre nós, está claro, ela como eu nos seus cinco anos apenas, mas não sei que divina melancolia nos tomava, se acaso nos achávamos juntos e sozinhos. A voz baixava de tom, e principalmente as palavras é que se tornaram mais raras, muito simples. Uma ternura imensa, firme e reconhecida, não exigindo nenhum gesto. Aquilo aliás durava pouco, porque logo a criançada chegava. Mas tínhamos então uma raiva impensada dos manos e dos primos, sempre exteriorizada em palavras ou modos de irritação. Amor apenas sensível naquele instinto de estarmos sós.
E só mais tarde, já pelos nove ou dez anos, é que lhe dei nosso único beijo, foi maravilhoso. Se a criançada estava toda junta naquela casa sem jardim da Tia Velha, era fatal brincarmos de família, porque assim Tia Velha evitava correrias e estragos. Brinquedo aliás que nos interessava muito, apesar da idade já avançada para ele. Mas é que na casa de Tia Velha tinha muitos quartos, de forma que casávamos rápido, só de boca, sem nenhum daqueles cerimoniais de mentira que dantes nos interessavam tanto, e cada par fugia logo, indo viver no seu quarto. Os melhores interesses infantis do brinquedo, fazer comidinha, amamentar bonecas, pagar visitas, isso nós deixávamos com generosidade apressada para os menores. Íamos para os nossos quartos e ficávamos vivendo lá. O que os outros faziam, não sei. Eu, isto é, eu com Maria, não fazíamos nada. Eu adorava principalmente era ficar assim sozinho com ela, sabendo várias safadezas já mas sem tentar nenhuma. Havia, não havia não, mas sempre como que havia um perigo iminente que ajuntava o seu crime à intimidade daquela solidão. Era suavíssimo e assustador.
Maria fez uns gestos, disse algumas palavras. Era o aniversário de alguém, não lembro mais, o quarto em que estávamos fora convertido em dispensa, cômodas e armários cheios de pratos de doces para o chá que vinha logo. Mas quem se lembrasse de tocar naqueles doces, no geral secos, fáceis de disfarçar qualquer roubo! estávamos longe disso. O que nos deliciava era mesmo a grave solidão.
Nisto os olhos de Maria caíram sobre o travesseiro sem fronha que estava sobre uma cesta de roupa suja a um canto. E a minha esposa teve uma invenção que eu também estava longe de não ter. Desde a entrada no quarto eu concentrara todos os meus instintos na existência daquele travesseiro, o travesseiro cresceu como um danado dentro de mim e virou crime. Crime não, "pecado" que é como se dizia naqueles tempos cristãos... E por causa disso eu conseguira não pensar até ali, no travesseiro.
— Já é tarde, vamos dormir — Maria falou.
Fiquei estarrecido, olhando com uns fabulosos olhos de imploração para o travesseiro quentinho, mas quem disse travesseiro ter piedade de mim. Maria, essa estava simples demais para me olhar e surpreender os efeitos do convite: olhou em torno e afinal, vasculhando na cesta de roupa suja, tirou de lá uma toalha de banho muito quentinha que estendeu sobre o assoalho. Pôs o travesseiro no lugar da cabeceira, cerrou as venezianas da janela sobre a tarde, e depois deitou, arranjando o vestido pra não amassar.
Mas eu é que nunca havia de pôr a cabeça naquele restico de travesseiro que ela deixou pra mim, me dando as costas. Restico sim, apesar do travesseiro ser grande. Mas imaginem numa cabeleira explodindo, os famosos cabelos assustados de Maria, citação obrigatória e orgulho de família. Tia Velha, muito ciumenta por causa duma neta preferida que ela imaginava deusa, era a única a pôr defeito nos cabelos de Maria.
— Você não vem dormir também? — ela perguntou com fragor, interrompendo o meu silêncio trágico.
— Já vou — que eu disse — estou conferindo a conta do armazém.
Fui me aproximando incomparavelmente sem vontade, sentei no chão tomando cuidado em sequer tocar no vestido, puxa! também o vestido dela estava completamente assustado, que dificuldade! Pus a cara no travesseiro sem a menor intenção de.
Mas os cabelos de Maria, assim era pior, tocavam de leve no meu nariz, eu podia espirrar, marido não espirra. Senti, pressenti que espirrar seria muito ridículo, havia de ser um espirrão enorme, os outros escutavam lá da sala-de-visita longínqua, e daí é que o nosso segredo se desvendava todinho.
Fui afundando o rosto naquela cabeleira e veio a noite, senão os cabelos (mas juro que eram cabelos macios) me machucavam os olhos. Depois que não vi nada, ficou fácil continuar enterrando a cara, a cara toda, a alma, a vida, naqueles cabelos, que maravilha! até que o meu nariz tocou num pescocinho roliço. Então fui empurrando os meus lábios, tinha uns bonitos lábios grossos, nem eram lábios, era beiço, minha boca foi ficando encanudada até que encontrou o pescocinho roliço. Será que ela dorme de verdade?... Me ajeitei muito sem-cerimônia, mulherzinha! e então beijei. Quem falou que este mundo é ruim! só recordar... Beijei Maria, rapazes! eu nem sabia beijar, está claro, só beijava mamães, boca fazendo bulha, contato sem nenhum calor sensual.
Maria, só um leve entregar-se, uma levíssima inclinação pra trás me fez sentir que Maria estava comigo em nosso amor. Nada mais houve. Não, nada mais houve. Durasse aquilo uma noite grande, nada mais haveria porque é engraçado como a perfeição fixa a gente. O beijo me deixara completamente puro, sem minhas curiosidades nem desejos de mais nada, adeus pecado e adeus escuridão! Se fizera em meu cérebro uma enorme luz branca, meu ombro bem que doía no chão, mas a luz era violentamente branca, proibindo pensar, imaginar, agir. Beijando.
Tia Velha, nunca eu gostei de Tia Velha, abriu a porta com um espanto barulhento. Percebi muito bem, pelos olhos dela, que o que estávamos fazendo era completamente feio.
— Levantem!... Vou contar pra sua mãe, Juca!
Mas eu, levantando com a lealdade mais cínica deste mundo!
— Tia Velha me dá um doce?
Tia Velha – eu sempre detestei Tia Velha, o tipo da bondade Berlitz, injusta, sem método — pois Tia Velha teve a malvadeza de escorrer por mim todo um olhar que só alguns anos mais tarde pude compreender inteiramente. Naquele instante, eu estava só pensando em disfarçar, fingindo uma inocência que poucos segundos antes era real.
— Vamos! saiam do quarto!
Fomos saindo muito mudos, numa bruta vergonha, acompanhados de Tia Velha e os pratos que ela viera buscar para a mesa de chá.
O estranhíssimo é que principiou, nesse acordar à força provocado por Tia Velha, uma indiferença inexplicável de Maria por mim. Mais que indiferença, frieza viva, quase antipatia. Nesse mesmo chá inda achou jeito de me maltratar diante de todos, fiquei zonzo.
Dez, treze, quatorze anos... Quinze anos. Foi então o insulto que julguei definitivo. Eu estava fazendo um ginásio sem gosto, muito arrastado, cheio de revoltas íntimas, detestava estudar. Só no desenho e nas composições de português tirava as melhores notas. Vivia nisso: dez nestas matérias, um, zero em todas as outras. E todos os anos era aquela já esperada fatalidade: uma, duas bombas (principalmente em matemáticas) que eu tomava apenas o cuidado de apagar nos exames de segunda época.
Gostar, eu continuava gostando muito de Maria, cada vez mais, conscientemente agora. Mas tinha uma quase certeza que ela não podia gostar de mim, quem gostava de mim!... Minha mãe... Sim, mamãe gostava de mim, mas naquele tempo eu chegava a imaginar que era só por obrigação. Papai, esse foi sempre insuportável, incapaz de uma carícia. Como incapaz de uma repreensão também. Nem mesmo comigo, a tara da família, ele jamais ralhou. Mas isto é caso pra outro dia. O certo é que, decidido em minha desesperada revolta contra o mundo que me rodeava, sentindo um orgulho de mim que jamais buscava esclarecer, tão absurdo o pressentia, o certo é que eu já principiava me aceitando por um caso perdido, que não adiantava melhorar.
Esse ano até fora uma bomba só. Eu entrava da aula do professor particular, quando enxerguei a saparia na varanda e Maria entre os demais. Passei bastante encabulado, todos em férias, e os livros que eu trazia na mão me denunciando, lembrando a bomba, me achincalhando em minha imperfeição de caso perdido. Esbocei um gesto falsamente alegre de bom-dia, e fui no escritório pegado, esconder os livros na escrivaninha de meu pai. Ia já voltar para o meio de todos, mas Matilde, a peste, a implicante, a deusa estúpida que Tia Velha perdia com suas preferências:
— Passou seu namorado, Maria.
— Não caso com bombeado — ela respondeu imediato, numa voz tão feia, mas tão feia, que parei estarrecido. Era a decisão final, não tinha dúvida nenhuma. Maria não gostava mais de mim. Bobo de assim parado, sem fazer um gesto, mal podendo respirar.
Aliás um caso recente vinha se ajuntar ao insulto pra decidir de minha sorte. Nós seríamos até pobretões, comparando com a família de Maria, gente que até viajava na Europa. Pois pouco antes, os pais tinham feito um papel bem indecente, se opondo ao casamento duma filha com um rapaz diz-que pobre mas ótimo. Houvera um rompimento de amizade, mal-estar na parentagem toda, o caso virara escândalo mastigado e remastigado nos comentários de hora de jantar. Tudo por causa do dinheiro.
Se eu insistisse em gostar de Maria, casar não casava mesmo, que a família dela não havia de me querer. Me passou pela cabeça comprar um bilhete de loteria. "Não caso com bombeado"... Fui abraçando os livros de mansinho, acariciei-os junto ao rosto, pousei a minha boca numa capa, suja de pó suado, retirei a boca sem desgosto. Naquele instante eu não sabia, hoje sei: era o segundo beijo que eu dava em Maria, último beijo, beijo de despedida, que o cheiro desagradável do papelão confirmou. Estava tudo acabado entre nós dois.
Não tive mais coragem pra voltar à varanda e conversar com... os outros. Estava com uma raiva desprezadora de todos, principalmente de Matilde. Não, me parecia que já não tinha raiva de ninguém, não valia a pena, nem de Matilde, o insulto partira dela, fora por causa dela, mas eu não tinha raiva dela não, só tristeza, só vazio, não sei... creio que uma vontade de ajoelhar. Ajoelhar sem mais nada, ajoelhar ali junto da escrivaninha e ficar assim, ajoelhar. Afinal das contas eu era um perdido mesmo, Maria tinha razão, tinha razão, tinha razão, que tristeza!
Foi o fim? Agora é que vem o mais esquisito de tudo, ajuntando anos pulados. Acho que até não consigo contar bem claro tudo o que sucedeu. Vamos por ordem: Pus tal firmeza em não amar Maria mais, que nem meus pensamentos me traíram. De resto a mocidade raiava e eu tinha tudo a aprender. Foi espantoso o que se passou em mim. Sem abandonar o meu jeito de "perdido", o cultivando mesmo, ginásio acabado, eu principiara gostando de estudar. Me batera, súbito, aquela vontade irritada de saber, me tornara estudiosíssimo. Era mesmo uma impaciência raivosa, que me fazia devorar bibliotecas, sem nenhuma orientação. Mas brilhava, fazia conferências empoladas em sociedadinhas de rapazes, tinha idéias que assustavam todo o mundo. E todos principiavam maldando que eu era muito inteligente mas perigoso.
Maria, por seu lado, parecia uma doida. Namorava com Deus e todo o mundo, aos vinte anos fica noiva de um rapaz bastante rico, noivado que durou três meses e se desfez de repente, pra dias depois ela ficar noiva de outro, um diplomata riquíssimo, casar em duas semanas com alegria desmedida, rindo muito no altar e partir em busca duma embaixada européia com o secretário chique seu marido.
Às vezes meio tonto com estes acontecimentos fortes, acompanhados meio de longe, eu me recordava do passado, mas era só pra sorrir da nossa infantilidade e devorar numa tarde um livro incompreensível de filosofia. De mais a mais, havia Rose pra de-noite, e uma linda namoradinha oficial, a Violeta. Meus amigos me chamavam de "jardineiro", e eu punha na coincidência daqueles duas flores uma força de destinação fatalizada. Tamanha mesmo que topando numa livraria com The Gardener de Tagore, comprei o livro e comecei estudando o inglês com loucura. Mário de Andrade conta num dos seus livros que estudou o alemão por causa dum emboaba tordilha... eu também: meu inglês nasceu duma Violeta e duma Rose.
Não, nasceu de Maria. Foi quando uns cinco anos depois, Maria estava pra voltar pela primeira vez ao Brasil, a mãe dela, queixosa de tamanha ausência, conversando com mamãe na minha frente, arrancou naquele seu jeito de gorda desabrida:
— Pois é, Maria gostou tanto de você, você não quis!... e agora ela vive longe de nós.
Pela terceira vez fiquei estarrecido neste conto. Percebi tudo num tiro de canhão. Percebi ela doidejando, noivando com um, casando com outro, se atordoando com dinheiro e brilho. Percebi que eu fora uma besta, sim agora que principiava sendo alguém, estudando por mim fora dos ginásios, vibrando em versos que muita gente já considerava. E percebi horrorizado, que Rose! nem Violeta, nem nada! era Maria que eu amava como louco! Maria é que amara sempre, como louco: ôh como eu vinha sofrendo a vida inteira, desgraçadíssimo, aprendendo a vencer só de raiva, me impondo ao mundo por despique, me superiorizando em mim só por vingança de desesperado. Como é que eu pudera me imaginar feliz, pior: ser feliz, sofrendo daquele jeito! Eu? eu não! era Maria, era exclusivamente Maria toda aquela superioridade que estava aparecendo em mim... E tudo aquilo era uma desgraça muito cachorra mesma. Pois não andavam falando muito de Maria? Contavam que pintava o sete, ficara célebre com as extravagâncias e aventuras. Estivera pouco antes às portas do divórcio, com um caso escandaloso por demais, com um pintor de nomeada que só pintava efeitos de luz. Maria falada, Maria bêbeda, Maria passada de mão em mão, Maria pintada nua...
Se dera como que uma transposição de destinos... E tive um pensamento que ao menos me salvou no instante: se o que tinha de útil agora em mim era Maria, se ela estava se transformando no Juca imperfeitíssimo que eu fora, se eu era apenas uma projeção dela, como ela agora apenas uma projeção de mim, se nos trocáramos por um estúpido engano de amor: mas ao menos que eu ficasse bem ruim, mas bem ruim mesmo outra vez pra me igualar a ela de novo. Foi a razão da briga com Violeta, impiedosa, e a farra dessa noite – bebedeira tamanha que acabei ficando desacordado, numa série de vertigens, com médico, escândalo, e choro largo de mamãe com minha irmã.
Bom, tinha que visitar Maria, está claro, éramos "gente grande" agora. Quando soube que ela devia ir a um banquete, pensei comigo: "ótimo, vou hoje logo depois de jantar, não encontro ela e deixo o cartão". Mas fui cedo demais. Cheguei na casa dos pais dela, seriam nove horas, todos aqueles requififes de gente ricaça, criado que leva cartão numa salva de prata etc. Os da casa estavam ainda jantando. Me introduziram na saletinha da esquerda, uma espécie de luís-quinze muito sem-vergonha, dourado por inteiro, dando pro hol central. Que fizesse o favor de esperar, já vinham.
Contemplando a gravura cor-de-rosa, senti de supetão que tinha mais alguém na saleta, virei. Maria estava na porta, olhando pra mim, se rindo, toda vestida de preto. Olhem: eu sei que a gente exagera em amor, não insisto. Mas se eu já tive a sensação da vontade de Deus, foi ver Maria assim, toda de preto vestida, fantasticamente mulher. Meu corpo soluçou todinho e tornei a ficar estarrecido.
— Ao menos diga boa-noite, Juca...
"Boa-noite, Maria, eu vou-me embora"... meu desejo era fugir, era ficar e ela ficar mas, sim, sem que nos tocássemos sequer. Eu sei, eu juro que sei que ela estava se entregando a mim, me prometendo tudo, me cedendo tudo quanto eu queria, naquele se deixar olhar, sorrindo leve, mãos unidas caindo na frente do corpo, toda vestida de preto. Um segundo, me passou na visão devorá-la numa hora estilhaçada de quarto de hotel, foi horrível. Porém, não havia dúvida: Maria despertava em mim os instintos da perfeição. Balbuciei afinal um boa-noite muito indiferente, e as vozes amontoadas vinham do hol, dos outros que chegavam.
Foi este o primeiro dos quatro amores eternos que fazem de minha vida uma grave condensação interior. Sou falsamente um solitário. Quatro amores me acompanham, cuidam de mim, vêm conversar comigo. Nunca mais vi Maria, que ficou pelas Europas, divorciada afinal, hoje dizem que vivendo com um austríaco interessado em feiras internacionais. Um aventureiro qualquer. Mas dentro de mim, Maria... bom: acho que vou falar banalidade.
Mário de Andrade (1893-1945), nasceu em São Paulo, mostrando desde cedo inclinação pela música e literatura. Seu interesse pelas artes levou-o a realizar em São Paulo, de parceria com Oswald de Andrade, a Semana de Arte Moderna, que rasgou novas perspectivas para a cultura brasileira.Sua obra, essencialmente brasileira, reflete um nacionalismo humanista, que nada tem de místico e abstrato. "Macunaíma", baseada em temas folclóricos é, geralmente, considerada a sua obra-prima.
O texto acima foi enviado por nosso leitor Flávio Pezzini, a quem agradecemos a colaboração.
Conheça a vida e a obra de Mário de Andrade visitando "Biografias".

quarta-feira, 16 de julho de 2014