Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

terça-feira, 28 de maio de 2013

Farsa


A farsa da anistia

por Vladimir Safatle      -     Folha de SP, 28.5.13



Motivada por afirmações de membros da Comissão da Verdade referentes à necessidade de reinterpretação da Lei da Anistia, esta Folha abriu mais uma vez espaço importante para o debate a respeito do problema. Artigos assinados e editoriais apareceram nos últimos dias mostrando como esta é uma discussão da qual o Brasil não pode escapar.
 
Neste momento, a Comissão da Verdade começa a desmontar antigas mentiras veiculadas pelo regime militar, como assassinatos travestidos de suicídios e desaparecimentos ou aquela afirmação patética de que as ações de tortura não eram uma política de Estado decidida pela alta cúpula militar. Ela também colocou à luz a profunda relação entre empresariado e militares na elaboração e gestão do golpe.
 
No entanto, uma das maiores mentiras herdadas daquele período é a história de que existiu uma anistia resultante de ampla negociação com setores da sociedade civil e da oposição. Aquilo que chamamos de "Lei da Anistia" foi e continua sendo uma mera farsa.
 
Primeiro, não ouve negociação alguma, mas pura e simples imposição das condições a partir das quais os militares esperavam se autoanistiar.
 
O governo de então recusou a proposta do MDB de anistia ampla, geral e irrestrita, enviando para o Congresso Nacional o seu próprio projeto, que andava na contramão daquilo que a sociedade civil organizada exigia.
 
Por não ter representatividade alguma, o projeto passou na votação do Congresso por míseros 206 votos contra 201, sendo todos os votos favoráveis vindos da antiga Arena. Ou seja, só em um mundo paralelo alguém pode chamar de "negociação" a um processo no qual o partido governista aprova um projeto sem acordo algum com a oposição. Há de se parar de ignorar compulsivamente a história brasileira.
 
Segundo, mesmo essa Lei da Anistia era clara a respeito de seus limites. No segundo parágrafo do seu primeiro artigo lê-se: "Excetuam-se dos benefícios da anistia os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, de assalto, de sequestro e atentado pessoal". Por isso, a maioria dos presos políticos não foi solta em 1979, ano da promulgação da lei (por favor, leia a frase mais uma vez). Eles permaneceram na cadeia e só foram liberados por diminuição das penas.
 
Os únicos anistiados, contra a letra da lei que eles próprios aprovaram, foram os militares que praticaram terrorismo de Estado, sequestro, estupro, ocultação de cadáver e assassinato. A Lei da Anistia consegue, assim, a proeza de ser, ao mesmo tempo, ilegítima na sua origem e desrespeitada exatamente pelos que a impuseram.

sábado, 25 de maio de 2013

Utopias...



FRASES DE MAIO DE 1968
daqui:
http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL463636-15530,00-CONHECA+DAS+FRASES+MAIS+MARCANTES+DE+MAIO+DE.html

 

"A ação não deve ser uma reação, mas uma criação."
"O agressor não é aquele que se revolta, mas aquele que reprime."
"Amai-vos uns sobre os outros."
"O álcool mata. Tomem LSD."
"A anarquia sou eu."
"As armas da crítica passam pela crítica das armas."
"Parem o mundo, eu quero descer."
"A arte está morta. Nem Godard poderá impedir."
"A arte está morta, liberemos nossa vida cotidiana."
"Antes de escrever, aprenda a pensar."
"A barricada fecha a rua, mas abre a via."
"Ceder um pouco é capitular muito."
"Corram camaradas, o velho mundo está atrás de vocês."
"A cultura é a inversão da vida."
"10 horas de prazer já."
"Proibido não colar cartazes."
"Abaixo do calçamento, está a praia."
"A economia está ferida, pois que morra!"
"A emancipação do homem será total ou não será."
"O estado é cada um de nós."
“A humanidade só será feliz quando o último capitalista for enforcado com as tripas do último esquerdista.”
"A imaginação toma o poder."
"A insolência é a nova arma revolucionária."
"É proibido proibir."
"Eu tinha alguma coisa a dizer, mas não sei mais o quê."
"Eu gozo."
"Eu participo. Tu participas. Ele participa. Nós participamos. Vós participais. Eles lucram."
"Os jovens fazem amor, os velhos fazem gestos obscenos."
"A liberdade do outro estende a minha ao infinito."
"A mercadoria é o ópio do povo."
"As paredes têm ouvidos. Seus ouvidos têm paredes."
"Não mudem de empregadores, mudem o emprego da vida."
"Nós somos todos judeus alemães."
"A novidade é revolucionária, a verdade, também."
"Fim da liberdade aos inimigos da liberdade."
"O patrão precisa de ti, tu não precisas do patrão."
"Professores, vocês nos fazem envelhecer."
"Quanto mais eu faço amor, mais tenho vontade de fazer a revolução. Quanto mais faço a revolução, mais tenho vontade de fazer amor."
"A poesia está na rua."
"A política se dá na rua."
"Os sindicatos são uns bordéis."
"O sonho é realidade."
"Só a verdade é revolucionária."
"Sejam realistas, exijam o impossível."
"Tudo é Dadá."
"Trabalhador: você tem 25 anos, mas seu sindicato é de outro século."
"Abolição da sociedade de classes."
"Abram as janelas do seu coração."
"A arte está morta, não consumamos o seu cadáver. "
"Não nos prendamos ao espetáculo da contestação, mas passemos à contestação do espetáculo. "
"Autogestão da vida cotidiana"
"A felicidade é uma ideia nova."
"Teremos um bom mestre desde que cada um seja o seu."
"Camaradas, o amor também se faz na Faculdade de Ciências."
"Ainda não acabou!"
"Consuma mais, viva menos."
"O discurso é contra-revolucionário. "
"Escrevam por toda a parte!"
"Abraça o teu amor sem largar a tua arma."
"Enraiveçam-se!"
"Ser rico é se contentar com a pobreza?"
"Um homem não é estupido ou inteligente: ele é livre ou não é."
"Adoro escrever nas paredes."
"Decretado o estado de felicidade permanente."
 
"Milionários de todos os países, unam-se, o vento está mudando."
 
 
"Não tomem o elevador, tomem o poder."
   












"Abaixo o realismo socialista. Viva o surrealismo."
   "Abaixo a sociedade de consumo."

Gabriela....


do facebook de Cleusa Piana

BESOS - GABRIELA MISTRAL.

"Hay besos que pronuncian por sí solos
La sentencia de amor condenatoria,
Hay besos que se dan con la mirada
Hay besos que se dan con la memoria.
...
Hay besos silenciosos, besos nobles
Hay besos enigmáticos, sinceros
Hay besos que se dan sólo las almas
Hay besos por prohibidos, verdaderos.

Hay besos que calcinan y que hieren,
Hay besos que arrebatan los sentidos,
Hay besos misteriosos que han dejado
Mil sueños errantes y perdidos.

Hay besos problemáticos que encierran
Una clave que nadie ha descifrado,
Hay besos que engendran la tragedia
Cuántas rosas en broche han deshojado.

Hay besos perfumados, besos tibios
Que palpitan en íntimos anhelos,
Hay besos que en los labios dejan huellas
Como un campo de sol entre dos hielos.

Hay besos que parecen azucenas
Por sublimes, ingenuos y por puros,
Hay besos traicioneros y cobardes,
Hay besos maldecidos y perjuros.

Judas besa a Jesús y deja impresa
En su rostro de Dios la felonía,
Mientras la Magdalena con sus besos
Fortifica piadosa su agonía.

Desde entonces en los besos palpitan
El amor, la traición y los dolores,
En las bodas humanas se parecen
A la brisa que juega con las flores.

Hay besos que producen desvaríos
De amorosa pasión ardiente y loca,
Tú los conoces bien, son besos míos
Inventados por mí para tu boca.

Besos de llama que en rastro impreso
Llevan los surcos de un amor vedado,
Besos de tempestad, salvajes besos
Que sólo nuestros labios han probado.

¿Te acuerdas del primero...? Indefinible;
Cubrió tu faz de cárdenos sonrojos
Y en los espasmos de emoción terrible,
Llenaronse de lágrimas tus ojos.

¿Te acuerdas que una tarde en loco exceso
Te vi celoso imaginando agravios,
Te suspendí en mis brazos... vibró un beso,
Y qué viste después? Sangre en mis labios.

Yo te enseñe a besar: los besos fríos
Son de impasible corazón de roca,
Yo te enseñé a besar con besos míos
Inventados por mí para tu boca."

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Na prefeitura da Má-ringa: reclamou, morreu!

Na Má-ringa e para variar na pre-feitura

Perseguição aos servidores revolta até aliados

Secretários municipais da gestão Pupin estão retaliando servidores. Isso não chega a ser novidade, principalmente para quem lê este modesto blog, mas chama a atenção quando a notícia é veiculada e o expediente é repudiado pelo presidente da Câmara de Maringá, que é do mesmo partido do prefeito. Está na fan page de Ulisses Maia (PP): “O servidor Rodrigo Alessandro trabalhava na Semat (serviços gerais). Ele foi na Câmara reivindicar EPI (luvas etc…) e insalubridade porque carregavam móveis, sucatas, contâineres, sem nenhuma proteção. Resultado: secretários ficaram bravos e a Semat transferiu ele para a Semusp. Lá o secretário mandou ele para o cemitério trabalhar como coveiro. Esse é o tratamento para com o servidor. Absurdo, falta de respeito. Chega!!!”.
Rodrigo é o terceiro servidor a ser relotado para o cemitério nas últimas semanas – Gilberto Purpur e Edson Paliari, o Edinho também estão lá, vitimas de perseguição da desadministração de Carlos Fantoche Pupin.
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COMENTÁRIO:

Daqui a pouco a prefeitura terá que se transferir para o cemitério. São muitos os insatisfeitos. Coveiro da política, o Pupin pensa que administra mortos.

Fatiando o intelecto em multi artigos

FERNANDO REINACH

Início do conteúdoenviado pela colega Cristina Amorim 

Darwin e a prática da 'Salami Science'

27 de abril de 2013 | 2h 03
FERNANDO REINACH - O Estado de S.Paulo
Em 1985, ouvi pela primeira vez no Laboratório de Biologia Molecular a expressão "Salami Science". Um de nós estava com uma pilha de trabalhos científicos quando Max Perutz se aproximou. Um jovem disse que estava lendo trabalhos de um famoso cientista dos EUA. Perutz olhou a pilha e murmurou: "Salami Science, espero que não chegue aqui". Mas a praga se espalhou pelo mundo e agora assola a comunidade científica brasileira.

"Salami Science" é a prática de fatiar uma única descoberta, como um salame, para publicá-la no maior número possível de artigos científicos. O cientista aumenta seu currículo e cria a impressão de que é muito produtivo. O leitor é forçado a juntar as fatias para entender o todo. As revistas ficam abarrotadas. E avaliar um cientista fica mais difícil. Apesar disso, a "Salami Science" se espalhou, induzido pela busca obsessiva de um método quantitativo capaz de avaliar a produção acadêmica.
No Laboratório de Biologia Molecular, nossos ídolos eram os cinco prêmios Nobel do prédio. Publicar muitos artigos indicava falta de rigor intelectual. Eles valorizavam a capacidade de criar uma maneira engenhosa para destrinchar um problema importante. Aprendíamos que o objetivo era desvendar os mistérios da natureza. Publicar um artigo era consequência de um trabalho financiado com dinheiro público, servia para comunicar a nova descoberta. O trabalho deveria ser simples, claro e didático. O exemplo a ser seguido eram as duas páginas em que Watson e Crick descreveram a estrutura do DNA. Você se tornaria um cientista de respeito se o esforço de uma vida pudesse ser resumido em uma frase: Ele descobriu... Os três pontinhos teriam de ser uma ou duas palavras: a estrutura do DNA (Watson e Crick), a estrutura das proteínas (Max Perutz), a teoria da Relatividade (Einstein). Sabíamos que poucos chegariam lá, mas o importante era ter certeza de que havíamos gasto a vida atrás de algo importante.
Hoje, nas melhores universidade do Brasil, a conversa entre pós-graduandos e cientistas é outra. A maioria está preocupada com quantos trabalhos publicou no último ano - e onde. Querem saber como serão classificados. "Fulano agora é pesquisador 1B no CNPq. Com 8 trabalhos em revistas de alto impacto no ano passado, não poderia ser diferente." "O departamento de beltrano foi rebaixado para 4 pela Capes. Também, com poucas teses no ano passado e só duas publicações em revistas de baixo impacto..." Não que os olhos dessas pessoas não brilhem quando discutem suas pesquisas, mas o relato de como alguém emplacou um trabalho na Nature causa mais alvoroço que o de uma nova maneira de abordar um problema dito insolúvel.
Essa mudança de cultura ocorreu porque agora os cientistas e suas instituições são avaliados a partir de fórmulas matemáticas que levam em conta três ingredientes, combinados ao gosto do freguês: número de trabalhos publicados, quantas vezes esses trabalhos foram citados na literatura e qualidade das revistas (medida pela quantidade de citações a trabalhos publicados na revista). Você estranhou a ausência de palavras como qualidade, criatividade e originalidade? Se conversar com um burocrata da ciência, ele tentará te explicar como esses índices englobam de maneira objetiva conceitos tão subjetivos. E não adianta argumentar que Einstein, Crick e Perutz teriam sido excluídos por esses critérios. No fundo, essas pessoas acreditam que cientistas desse calibre não podem surgir no Brasil. O resultado é que em algumas pós-graduações da USP o credenciamento de orientadores depende unicamente do total de trabalhos publicados, em outras o pré-requisito para uma tese ser defendida é que um ou mais trabalhos tenham sido aceitos para publicação.
Não há dúvida de que métodos quantitativos são úteis para avaliar um cientista, mas usá-los de modo exclusivo, abdicando da capacidade subjetiva de identificar pessoas talentosas, criativas ou simplesmente geniais, é caminho seguro para excluir da carreira científica as poucas pessoas que realmente podem fazer descobertas importantes. Essa atitude isenta os responsáveis de tomar e defender decisões. É a covardia intelectual escondida por trás de algoritmos matemáticos.
Mas o que Darwin tem a ver com isso? Foi ele que mostrou que uma das características que facilitam a sobrevivência é a capacidade de se adaptar aos ambientes. E os cientistas são animais como qualquer outro ser humano. Se a regra exige aumentar o número de trabalhos publicados, vou praticar "Salami Science". É necessário ser muito citado? Sem problema, minhas fatias de salame vão citar umas às outras e vou pedir a amigos que me citem. Em troca, garanto que vou citá-los. As revistas precisam de muitas citações? Basta pedir aos autores que citem artigos da própria revista. E, aos poucos, o objetivo da ciência deixa de ser entender a natureza e passa a ser publicar e ser citado. Se o trabalho é medíocre ou genial, pouco importa. Mas a ciência brasileira vai bem, o número de mestres aumenta, o de trabalhos cresce, assim como as citações. E a cada dia ficamos mais longe de ter cientistas que possam ser descritos em uma única frase: Ele descobriu...

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Poizé!


Jornal do Terra, entrevista de Roberto Romano com Maria Lins.

Mãe boa ...


Imagem: do SOLDA
por Vladimir Safatle, 21.5.13

Estado-mãe

Os liberais gostam de criticar o Estado-providência por ver nele o paradigma de um funcionamento institucional da vida social que acomodaria os sujeitos a benefícios sem responsabilidades, desprovendo-os de capacidade de empreendedorismo e deixando-os sem coragem para assumir riscos. Tal como se fosse uma mãe superprotetora, tal Estado produziria apenas filhos letárgicos e sempre chorando por amparo.

É fato que há algo de verdadeiro nessa crítica ao caráter de "mãe má" próprio ao Estado-providência. Seu único problema é que ela erra de alvo quando procura identificar quem são, afinal, os filhos em questão. Vejam, por exemplo, o caso brasileiro. Na verdade, eis aí um verdadeiro Estado-providência, mas seus filhos são apenas certos setores da burguesia nacional e da sociedade civil associada ao governo. Há dois exemplos paradigmáticos ocorridos nas últimas semanas.

Durante os últimos anos, o governo investiu mais de R$ 1 bilhão na reforma do estádio do Maracanã. Obra feita a toque de caixa devido ao calendário da Copa do Mundo. Dias atrás, ficamos sabendo que um consórcio composto pela Odebrecht e pelo onipresente empresário Eike Batista ganhou o direito de administrar o estádio por (vejam só vocês) R$ 180 milhões pagáveis em 30 anos. Ou seja, só em reformas o Estado, principalmente via BNDES, gastou mais de R$ 1 bilhão para entregar a seus filhos, por menos de 20% do valor investido, um complexo esportivo com o qual nem mesmo o mais néscio dos administradores seria capaz de perder dinheiro.

Na mesma semana, descobrimos também que o governo paulista resolveu inventar um cartão que dá R$ 1.350,00 para viciados que queiram se internar em comunidades terapêuticas cadastradas. Nada de mais, à parte o Estado acabar por financiar comunidades terapêuticas privadas, normalmente vinculadas a igrejas e com abordagens "espirituais" de atendimento psicológico bastante questionáveis, enquanto sucateia vários Caps (Centro de Atenção Psicossocial) pelo Estado.

Assim caminha o paulatino abandono da capacidade governamental de formular políticas públicas em saúde mental. Mas pelo menos alguns de seus filhos, por coincidência com grande influência nos próximos embates eleitorais, serão amparados.

Diante da generalização de ações dessa natureza, há de perguntar se a crítica liberal clássica ao Estado-providência não é, no fundo, uma cortina de fumaça que visa esconder quem são os verdadeiros protegidos. O que demonstra como precisamos, na verdade, de uma crítica aos processos de privatização branca do Estado brasileiro. Privatização feita à base de negócios de mãe para filho.

...


Do Blog De Roberto Romano


Vi, ontem, a contragosto, na TV, a propaganda do Aécio. Imita Lula como diz o jornalista José Nêumane. Começa dizendo que participou - com seu avô - das lutas pela democracia no BRAZIU. E dá seu currículo. Mini currículo. Faltam dados como sua participação na privatização do país com seu orientador FHC; de sua real política em Minas Gerais, dos boatos que circulam sobre sua juventude eterna. Um bom moço nos é oferecido pelos tucanos. nem todos porque Alkimin quer pular fora do ninho, Zé Serra ninguém viu... ninguém vê. E não há união que sustente um PSDB de FHC. Rima dura.  

Estado

Tucano não aprende a cuspir no 'burrai'




José Nêumanne
Aécio não vai ganhar se se limitar a reabilitar legado de Fernando Henrique e imitar Lula
O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), fundado a partir de uma dissidência paulista do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), foi embalado num berço socialista light, intelectualizado e grã-fino do “partido-ônibus” (em que sempre tem lugar para mais um) que comandou a resistência de dissidentes civis à ditadura militar. É, por isso, um mostrengo disforme, com uma cabeça imensa e pequenos pés de barro, incapazes de suportar a egolatria da cúpula. Diz-se, com razão, que tem caciques demais e índios de menos. Chefões destacam-se circunstancialmente: Fernando Henrique na Presidência da República, José Serra no repeteco de disputas eleitorais nacionais, estaduais e municipais em São Paulo.
Agora chegou a vez de Aécio Neves, presidente nacional, ex-governador bem-sucedido administrativa e eleitoralmente num Estado importante da Federação, Minas Gerais, senador e pule de dez para tentar tirar da chefia do governo a presidente petista, Dilma Rousseff. A seu favor conta com boa reputação como gestor em Minas, as vitórias sucessivas para o governo de seu Estado e a aliança bem-sucedida no comando da prefeitura da capital, Belo Horizonte, com um aliado eventual que pode virar adversário na mesma disputa: o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, senhor de baraço e cutelo do Partido Socialista Brasileiro (PSB), herdado do avô, Miguel Arraes.
Mas contra ele pesa sua inexpressiva atuação no Senado em dois anos e meio, em que muito pouco fez ou disse – de prático mesmo, absolutamente nada E há óbices maiores para realizar sua ambição. O partido que preside nunca foi nem está unido na luta por esse objetivo. O aliado Democratas (DEM) desmilinguiu, espremido pela ambição de um antigo militante de peso, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, que levou para o Partido Social Democrata (PSD), que fundou, um número relevante de antigos correligionários dispostos a beijar a mão de Dilma.
Aécio assumiu o lugar a que não conseguiu chegar há quatro anos, quando perdeu a indicação para o ex-governador paulista José Serra. Seu avô, Tancredo Neves, ensinou que ninguém tem condições de disputar a Presidência se não unir o Estado de origem – e isso ele fez. Mas o mesmo não se pode dizer do PSDB. Aécio chegou prometendo resgatar o legado de Fernando Henrique, o único presidente que o partido teve e que ganhou as duas disputas de que participou no primeiro turno. Isso nunca foi levado em conta. Nem o fato de o tucano ter promovido a maior revolução social da História, com o Plano Real, que pôs fim à inflação e levou proteína à mesa da massa dos trabalhadores.
Isso de nada adiantou para a sonhada permanência do PSDB no poder. Fernando Henrique cruzou os braços na campanha de 2002, deixando Lula esmigalhar o sonho do tucano José Serra. Este, por sua vez, fez uma campanha como se o tal legado, que agora Aécio quer restaurar, fosse algo de que se envergonhar. Quatro anos depois, Lula reelegeu-se contra o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que chegou a vestir uma camiseta da Petrobrás para garantir que era mentiroso o boato de que privatizaria a maior estatal brasileira. Com isso passou ao eleitorado a mensagem de que a cúpula tucana tinha a privatização de Fernando Henrique na conta de titica. Na disputa contra Dilma, em 2010, Serra continuou cuspindo e pisando no melhor que o partido fizera.
Após 12 anos, tentar reabilitar a estabilidade, a austeridade fiscal e a privatização pode ser tarde demais. Até a estabilidade da moeda, uma conquista da Nação, e não de governo algum, parece ser um dado do passado distante, sob a ameaça da volta da inflação sem prejudicar os artífices desse prenúncio de desastre. Além disso, é inútil: o passado não elegerá Aécio. E ele não fala do futuro, que de fato interessa ao eleitor.
De tanto perder para Lula, o PSDB resolveu reagir a esse destino, que parece manifesto, imitando o que o maior adversário faz. Alckmin sugeriu que Aécio repita as caravanas da cidadania do petista-mor como estratégia eleitoral. A intenção é maravilhosa: há muito tempo os tucanos precisam mesmo de um banho de povo. A prática pode não ser, contudo, eficaz. Não basta visitar alguém para conhecê-lo bem. Como dizia um sábio conterrâneo de Tancredo e Aécio, o coronel Francisco Cambraia de Campos, Chichico Cambraia, de Oliveira, o bom político se conhece na cuspida no “burrai”. Ou seja, tem de entrar na casa do eleitor, sentar-se à beira do fogo, tomar um café demorado até esfriar e cuspir no borralho. Quanto mais cusparadas, melhor! Não basta o candidato se fazer conhecer. Ele tem de conhecer o eleitor.
Luiz Inácio Lula da Silva voltou de suas caravanas conhecido e conhecedor do Brasil. Elas lhe permitiram aprender com suas derrotas seguidas, uma para Fernando Collor e duas para Fernando Henrique. Os tucanos não têm demonstrado a mesma capacidade. Talvez fosse menos difícil convencer o adversário-mor a disputar a Presidência pelo PSDB do que tirar proveito das estratégias contra ele próprio e sua afilhada.
Ora, direis, isso é impossível! E é. Mas quem garante ser mais possível convencer o cacique José Serra a se empenhar para valer na campanha de Aécio, que nada fez por ele na disputa contra Dilma? Os sinais de má vontade que Serra tem dado de público deverão repetir-se na campanha. Pois o paulista atribui em parte sua derrota ao desinteresse do mineiro em 2010. Não deixa de ter razão. Mas não tirará proveito dela, pois seu futuro depende do êxito do outro. E se a economia não derreter, Dilma se reelegerá com facilidade, restando aos tucanos parodiar o mantra dos metalúrgicos do ABC, liderados por Lula, nos anos 70 e 80. Eles diziam: “O povo unido jamais será vencido”. E os tucanos entoarão: “O PSDB desunido será sempre vencido”.
Jornalista, poeta e escritor
(Publicado na Pag. A2 do Estado de S. Paulo da quata-feira 22 de maio de 2013)

AZUL? nem tudo é azul na AZUL!


Do Blog de Roberto Romano

Diante do inominável, a ANAC petista "pede"explicações dos selvagens "capitalistas". É o fim do mundo!

Ribeirão Preto

22/05/2013 - 05h17

Anac pede explicações à Azul após cegos serem barrados em voo

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VENCESLAU BORLINA FILHO
DE RIBEIRÃO PRETO
A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) pediu explicações à Azul Linhas Aéreas por ter impedido o embarque de três cegos em um voo de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) a Belo Horizonte (MG), no último domingo (19). 

Os deficientes visuais participaram de um campeonato em Altinópolis, no final de semana, e estavam na sala de embarque do aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão, quando foram impedidos pelo comandante de entrar na aeronave.
A empresa alegou motivo de segurança para a medida. Os três foram encaminhados para um hotel da cidade e embarcaram no dia seguinte, porém em três voos diferentes. 

O último só conseguiu entrar no avião rumo a Belo Horizonte 24 horas depois do primeiro voo.
Segundo os cegos, a Azul agiu com preconceito e não ofereceu alternativas ou um questionário onde pudessem informar sobre o problema. A empresa nega. 

Um deles afirmou que vai solicitar indenização à Justiça por danos morais sofridos. 

"Houve constrangimento porque nos impediram de embarcar na sala de embarque. Vou entrar na Justiça com uma ação por danos morais para que esse preconceito não se repita", disse o analista de sistemas Crisolon Terto Vilas Boas, 54. 

Ele afirmou que já viajou a 28 países e que essa foi a primeira vez que foi barrado. "Nunca tive problema e nunca fui perguntado se era deficiente. Em algumas ocasiões [em voos em outros países], houve reforço na tripulação." 

Vilas Boas contou inclusive que, num campeonato de xadrez para pessoas com deficiência visual na Polônia, um grupo de 192 cegos pegou um único voo da Air France com destino à Alemanha e que não houve incidente. 

"Sou 100% cego e não preciso de ajuda para me locomover. Sempre viajei sozinho e não teria problemas dessa vez", disse ele, que embarcou apenas às 18h de segunda-feira (20). 

'VETO SEM MOTIVO'
 
O enxadrista Davi de Souza Lopes, 36, afirmou que viaja muito e que nunca havia passado por essa situação. "Apesar de ser 100% cego, tenho uma mobilidade muito boa, uma noção de espaço boa."
Ele contou que as empresas aéreas têm que ter uma atenção maior com deficientes, mas que houve exagero da Azul. "A atenção é a mesma para os cegos. Se conduz um, conduz dois, três, cinco. Na prática, essa proibição não tem motivo", disse. 

A terceira enxadrista, a assistente de vendas Priscila Melo Cândido, 21, afirmou que comprou o bilhete pela internet e que em nenhum momento foi questionada se ela é deficiente visual.
Um estudo realizado no aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão Preto, apontou que dos 26 pontos verificados quanto a conforto, segurança e acessibilidade, 13 foram classificados insuficientes.

...


Eu fico muito emocionada. Ainda mais porque no cargo (super provisório de presidenta de um sindicato de docentes). Muito agradecida!


Roberto Romano: A mulher e a Desrazão Ocidental. Uma retomada que ofereço à Marta Bellini.


O texto abaixo foi publicado pela primeira vez no Folhetim da Folha de São Paulo, em 03/04/1987, pp. 5-7. Depois integrou a coletânea intitulada Lux in Tenebris (Unicamp/Cortez, 1987). Eu o copiei e o publico neste Blog, com alguns acréscimos, sobretudo nas referências bibliográficas. Acho que num país onde as mulheres ainda são massacradas pelos seus maridos, namorados, amantes, e onde o machismo  impera no Estado (nas suas três faces, Executiva, Legislativa, Judiciária), é preciso pensar sobre as raízes venenosas que nutrem semelhante cultura da morte. Nada falo de fanatismos exteriores ao pensamento cristão. Creio que os fatos, nas estruturas sob o controle supostamente islâmico, são tão graves quanto os vividos no catolicismo ou protestantismo. Mas genocídio é genocídio, qualquer que seja o símbolo que o justifica, se a cruz, se o crescente. RR

A mulher e a desrazão ocidental

Roberto Romano

“Chamamos contra a natureza o que ocorre contra o costume (…)
Que esta razão universal e natural expulse de nós o erro e
o espanto trazidos pela novidade”(Montaigne, D’un enfant monstrueux).




Razões e lógica não raro engendram monstros. Acostumados a certas identificações entre figura e fundo, os virtuosos eternizam sínteses efêmeras ao produzirem atos e falas. Controlando o mutável, o intelecto agarra todas as manifestações espirituais alheias às normas. Heidegger: nas sociedades onde se olvidou o Ser e o tempo o mando impiedoso do “se” opaco define as relações dos humanos entre sí e com a natureza. Face ao inesperado, surgem gargalhadas mordentes e recusa espantada, ironia voraz e anátema fanático. Reações conformes à regra impessoal e absurda : aqui “nós” pensamos assim.

Definidas as formas corretas, desviantes são lançados no registro da morte e doença. Vítimas propiciatórias, cuja missão é corrigir o curso normal da existência. Para acalmar a sede inesgotável de segurança, que permeia as dobras da alma ocidental e cristã, foi preciso produzir para tudo, e todos, um “significado” estável. A doença, como a monstruosidade, arranca o filistino deste conforto ideal, ameaçando seu Ego pequeno com a pura insignificância do zero absoluto, a morte. Com ela, ficam claras as linhas assintóticas que deslizam entre forma e conteúdo, fazendo a vida inteira brotar como infinita surpresa, anamorfose.

Vemos hoje, ao lado das habituais presenças da morte, a desagregação causada pela AIDS. Atingindo sua pessoas que sempre estiveram for a das trilhas oficiais, da “normalidade”, sua irrupção espalha o terror entre os apologetas do costumeiro e da moral. Os seus portadores são empurrados para o deserto, carregando todas as angústias sociais. Não comovem as iniciativas eclesiásticas para instalar um hospital isolado, visando ao tratamento dos novos monstros: “o religioso”, diz René Girard, visa sempre o controle da violência, impedindo-a de se desencadear”. Administração das fobias populares, não significa abolir seu perigo latente. Pelo contrário: o poder religioso, com seus mandamentos terroristas, gera fúrias punitivas. Controlando racionalmente os impulsos primitivos, o padre define limites para a tolerância caridosa, mas idealiza a figura do Outro a ser expulso pelos zelotas. Quando a loucura coletiva escapa das mãos ungidas ( e untuosas), o Estado assume o comando do sacrifício ritual. Sacralidade identifica-se com separação.

Sábias frases de Girard: “o relacionamento entre a vítima potencial e a vítima atual não deve ser definido em termos de culpa ou inocência. Nada há para ser ‘expiado’. A sociedade procura desviar, em direção a uma vítima indiferente, vítima ‘sacrificável’, a violência que ameaça ferir seus próprios membros, os que ela pretende proteger acima de tudo”. Lí, recentemente, o seguinte comentário: “Se não for controlada, a AIDS destruirá toda a humanidade antes do século 21. O governo, com a dengue, mata os mosquitos e não busca ‘compreendê-los’. Com a AIDS o mesmo deve ser feito. Urge extinguir os homossexuais, os drogados, etc.”. Tamanha solicitude encontra-se numa revista protestante que, por ironia, chama-se Palavra da Vida.   

Se a norma fosse o horror, a própria identidade, hoje costumeira, seria um acaso na voragem do existente. Puro jogo, racional e irracional. O que fascina no monstro é seu desafio à percepção estulta do necessário. O ser que está aí, na sua irredutível diferença, não é passível de justificação lógica. Diante dele o discurso se esgarça, perde o sentido. Surge o desejo e a inveja: ele não está preso pelo banal, o bom senso cotidiano, o “se”.

O medo, o pavor da morte em vida, o desespero do lugar comum se desdobram, face ao monstruoso, em delírio povoado por fantasmas. A maneira estranha de corpos e ações impressiona o intelecto pelo artifício da memória e do sonho. Esmaecem as fronteiras entre consciência e alienação, tempo e espaço, masculino e feminino. As palavras adquirem a superfície singela do físico, de sons que, reunidos, significam o Nada.

Pergunta Hamlet: “que é um homem?”. Única resposta possível : “a beast, no more”. A razão pode ser dita de muitos modos, bem como a necessidade por ela determinada. São tênues os cordões entre o mais refinado convívio democrático e a violência tirânica dos humanos, sem nenhuma exceção, salvo a dos hipócritas:
                                               
Parecemos alegres, mas no fundo somos todos mal-humorados, e temos grande apetite. Lobos não são mais esfaimados; tigres são menos cruéis. Devoramos como lobos (…) como tigres, tudo o que é bem sucedido (Diderot.O Sobrinho de Rameau).


O próprio diabo teme a racionalidade quando exercida para a destruição do Outro : “Er nenn’ts Vernunft und braucht’s allein, Nur tierischer als jedes Tier zu sein”. (Goethe, Fausto).

Estas reflexões sobre o monstro e a necessidade, a inteligência nos seus brilhos e sombras, o natural e o costumeiro  –physis e nomos–  surgem ao considerarmos certos homens e mulheres jogados a toda hora no fogo propiciatório. Refiro-me aos indivíduos denominadosAussenseiter por Hans Meyer: o judeu, a mulher, o homossexual. Os três foram estigmatizados pela marca da monstruosidade, perseguidos pelas inquisições e também pela política totalitária. As maneiras de seu holocausto variaram. Mas o ímpeto de abafar, de forma racional, sine ira et studio, sua existência ameaçadora, se origina já nas primeiras representações masculinizantes do Ocidente, potenciando-se com a unidade entre o Logos da Grécia e a catequese cristã.

No Simpósio sobre a Inquisição, cuja primeira parte já se efetivou em Portugal (a segunda se realizará brevemente no Brasil), muito se falou, e se discutirá, sobre a razão eclesiástico-estatal e seus perseguidos. Muita luz será lançada em pontos sórdidos do catolicismo, várias hermenêuticas serão revistas, documentos encontrarão explicações mais concretas. Comunicações sobre os judeus, os heterodoxos sexuais, as mulheres acusadas de bruxaria, serão lidas e publicadas para refrescar a memória das bestas feras e para reconforto dos humilhados.

Evocando o signo da monstruosidade, agora, pretendo apenas chamar a atenção para as figurações lógicas do Necessário, tecidas pelo pensamento masculinizante e suas consequências terríveis, sobretudo para as mulheres. Não por acaso as bruxas serviram como alvo exemplar na moderna domesticação feminina. Os famosos K (Kirche, Küche, Kinder), símbolo do nazismo, não caíram na Alemanha e no mundo como raio em dia claro. Tiveram atrás de si uma lenta e cruel elaboração teórica que, somada à disciplina costumeira e às injunções da fé, encerrou as mulheres nos estábulos da moralidade viril, enquanto seus parceiros de exclusão foram arrastados para os campos e fornos crematórios.

Os monstros, diz o crítico contemporâneo, não brilham sob a luz do imperativo categórico kantiano: sua atividade não se converte em norma universal. Assim, ou é preciso pensar o próprio estatuto da teratologia ou identificá-la ao Todo natural, predicando-lhe essencialmente a falsidade. O regular, no humano, é apenas aparente.

Consta a humanidade (…) só de elementos igualitários, homens, mulheres, raças, complexos espirituais, corporais, anímicos? Ou mais exatamente: os monstros de toda espécie entram na Humanidade de forma que também para eles esteja destinada a luz da Aufklärung? Esta fracassou, até hoje, diante desta antinomia. Falhou face aos marginalizados (Hans Mayer).

O mesmo Kant, que defendeu a saída corajosa da Humanidade de seu estado infantil, menor, mantém este último para a mulher, assim definindo seu estatuto:

Para a (…) indissociabilidade de uma união, o encontro ocasional de duas pessoas não basta; um elemento deve submeter o outro, e, recíprocamente, deve ser superior para poder comandar e governar (…)  a mulher, pela faculdade natural de submeter-se à inclinação que o homem tem por ela e a governar  (Antropologia do ponto de vista pragmático). ([1])

O controle utiliza a máscara da natureza. Se há repressão do mais forte sobre o mais fraco, é culpa da sábia Natura. Se quisermos modificar este ponto, loucos seremos nós.

Sigo a citação do famoso iluminista:

Não é possível caracterizar o sexo feminino pelo fim que propomos a nós mesmos, mas servindo-nos do fim da natureza, na constituição da feminilidade; uma vez que este fim, por meio da loucura (Torheit) dos homens, deve ser sabedoria segundo as intenções da natureza, estes fins supostos poderão servir para indicar o princípio desta característica : este princípio não depende de nossa escolha, mas de uma intenção mais elevada relativa à sexualidade humana. Trata-se: a) da conservação da espécie; b) da cultura da sociedade e de seu refinamento pela feminilidade. (op. cit). ([2])

Se há um plano onde não ocorreu a “revolução copernicana”, é este. Ainda notamos, aqui, a sombra de um ente exterior , a “natureza”, intrometendo-se nas relações dos sujeitos humanos. Neste palimpsesto filosófico revela-se, sob a camada crítica, a doutrina aristotélica dos “fins naturais”e sua meticulosa necessidade interna.

Lembremos a Física: “Natural é aquilo que tem em si mesmo um princípio de movimento ou de fixidez, uns quanto ao lugar, os outros quanto ao crescimento ou diminuição” ([3]) O perfeito possui em si mesmo o seu próprio fim. Que significa o vocábulo “mulher”? A resposta carregada pelo saber masculino foi dada de modo interrogativo e maroto por Rabelais: “o que faz o lobo sair do bosque? Falta de carne. O que torna as mulheres rebeldes? Vós me compreendeis muito bem”. A mulher não se pertenceria, sendo submetida aos movimentos das paixões que nela se agitam de acordo com a sua natureza geradora, “para o bem da espécie”.

A essência da mulher seria uterina. A matriz genital engendra humores:

Quando o flegma ácido ou salgado, ou quando humores amargos e biliosos, quaisquer que eles sejam, erram pelo corpo sem encontrar uma via de escape e, girando pelo interior o impregnam fortemente com sua humidade, misturando-se uns aos outros (…) produzem doenças de toda espécie na alma, mais menos fortes, mais ou menos numerosas”(Galeno).

Considerada a sua peça mais importante, a doença feminina por excelência é a histeria, “sufocação da matriz”. Em Aristóteles o útero é o orgão essencial da mulher. Mas ele nao produz semente fértil, pois a mulher gere e não gera o embrião. Procriar um garoto é sinal de perfeito acabamento. Já o contrário…([4]) Não se trata apenas de uma antropologia, mas de um sistema masculinizante que abrange o universo. Aristóteles explica: os termos “macho”e “fêmea”usados pelos homens comuns para designar o cosmos mostram bem que “a natureza da terra é algo feminino e por isto ela é chamada ‘mãe’. Eles dão ao céu e ao Sol e tudo o mais desta espécie o título de ‘gerador’ e ‘pai’ (Geração dos Animais, 716a). ([5])

O macho possui o princípio (arché) do movimento e da geração. A fêmea, o princípio da matéria (hylé). O macho gera em outro, a fêmea em si mesma. Assim, macho e fêmea diferem segundo seu próprio logos. Na fêmea a parte especial é o útero e no macho os testículos e o pênis. Dedução política da taxinomia: o homem é superior à mulher pelo uso do logos. “A relação do macho face à fêmea é naturalmente a de superior para inferior, o macho é o governante, a fêmea é súdito” (Política, 1254b). No mesmo trecho, o filósofo estabelece relação homóloga entre senhor e escravo. ([6])

A fêmea fornece a matéria, o macho a forma. A matéria cobiça a forma (a natureza busca o melhor…) “como a fêmea deseja o macho e o feio, o bonito”(Física, 192a). ([7]) A semente masculina supre o princípio ativo da geração e da alma racional e sensitiva. A mulher, macho infértil ou “macho deformado” tem descarga menstrual que é sêmen “em condição impura; falta-lhe um constituinte e um apenas, o princípio da alma” (Geração dos Animais, 737a) ([8])

Na Idade Média Santo Alberto Magno afirma : para a produção de um feto masculino, semelhante ao pai, é preciso “uma vitória total da semente viril sobre a matéria feminina”. O tema é tratado nas “Questões sobre os animais”. ([9]) Para Tomás de Aquino a mulher (mas occasionatus, homem falho) é naturalmente sujeita ao homem porque neste último predominaria a faculdade racional. Deus, em sua sabedoria, deixou o homem livre para perseguir fins intelectuais, superiores à capacidade da mulher. “Nisi ergo esset aliqua virtus quae intenderet femineum sexum, generation feminae esset omnino a casu, sicut et aliorum monstrorum”. (Questiones Disputatae De Veritate 5, 9, d. 9) Ou seja: “Se não fosse por algum poder que trouxe o sexo feminino à existência, o nascimento da mulher bem poderia ser um outro acidente, como o dos monstros”. ([10])

O homem é em si e para si, a mulher é apenas em outro. Logo, trata-se de um ser imperfeito definido por uma das suas partes. Famosa é a distinção do tratado hipocrático De locis in homine, 47 : “o útero é a causa de todas as doenças da mulher”. ([11]) O aforismo percorreu todo o saber médico até data recente. Se abrirmos o livro de Frei Antonio de Fientelapeña, El ente dilucidado, tratado de monstruos y fantasmas (1676), veremos o frade refutando uma opinião espalhada em seu tempo. Poder-se-á instar, diz ele, “que também a mulher é monstro e prvá-lo assim: a causa de uma coisa monstruosa segundo Aristóteles (…) provém de não alcançar a natureza seu fim perfeitamente, que é o de engendrar cada um o seu semelhante, de sorte que, não o alcançando, é monstro o que se engendra segundo aquela parte em que se diferencia de seu princípio. As mulheres não chegam à perfeição de seu gerador que é o homem. Logo, de algum modo, elas são monstros”. ([12])

Embora negando tal extremo o religioso citado aduz, em poucas palavras que o

Sexo masculino é mais perfeito (…) pois a mulher está sujeita ao varão e não o contrário, e as mulheres são incapazes para o sacramento da Ordem por direito divino (…) isto é tão certo que alguns quiseram dizer que na Ressurreição geral, toda a linhagem humana ressuscitaria no sexo viril… (idem).

Rondibilis, personagem de Rabelais, diz o seguinte das mulheres:

Platão[13] não sabe em que lugar devemos colocá-las: ou entre os racionais ou entre as feras; pois a natureza lhes colocou no interior do corpo (…) um animal, um membro não possuído pelos homens. Nele, algumas vezes se engendram ceros humores nitrosos (…) acres, mordentes, lancinantes, que coçam com amargor. Por sua picada dolorosa (…) todo o corpo é abalado, tomados todos os sentidos, todas as afecções substituídas, todos os pensamentos confundidos; se a natureza não lhes tivesse colocado sobre o rosto um pouco de vergonha, vós a veríeis correr (…) como nas Bacanais… ([14])


Histéricas, as mulheres vivem para o acasalamento, onde encontram cura para seu mal, sob domínio do corpo e da fala masculinos. Dito já recolhido por Jean de Meung de forma satírica:Toutes estes, serez ou futes/ De fait ou de volonté putes. Doutrina da histeria já enunciada pelos egipcios, vinte séculos antes de Cristo e ampliada nos seus “refinamentos. Cura proposta por Ambroise Paré no século 16 de uma histérica: “Tire-se os cabelos de suas temporas e os localizados atrás do pescoço ou então o das suas parte vergonhosas, a fim de que não apenas ela seja despertada mas ainda que, pela dor excitada embaixo, o vapor que sobe para o alto e a sufoca seja retirado e trazido para baixo por revulsão”. O autor que cita uma longa série desses tratamentos  assim se exprime de forma distinta:

Claro, esta concepção da doença histérica nos parece insólita –e no entanto a cura que ela sugere vale mais do que as fogueiras das bruxas acesas às centenas no momento em que surge a obra de Ambroise Paré. Além disso, sob uma forma simplificada este tratamento durou até o século 20. Os vidros de ‘sais’amoníacos que toda mulher do mundodeveria ter em caso de vapores, nada mais eram afinal em seu princípio ativo do que as ‘velhas urinas’ que Areteu da Capdócia aplicava nas narinas de suas pacientes, no primeiro século de nossa era.([15])


Constatação banal: nos últimos dias do século 19 os Annales médico psychologiques trazem novas figuras do tratamento. Não mais agir sobre o útero, mas causar terror na sua proprietária:

Se ameaça, com efeito, a doente de lhes colocar ferros em brasa nos ovários, indo até, para garantir a ilusão, a lhe aplicar sobre o abdomem o cautério, ‘subrepticiamente esfriado’(idem).

Se esta é a concepção do espírito do renascimento e na da modernidade “progressista”, por que o espanto se, em 1486, na pena dos inquisidores dominicanos a mulher é considerada como a principal acolhedora do demônio enquanto feiticeira, justamente devido ao seu fraco intelecto e à sua excessiva luxúria? Assim diz o Malleus Maleficarum, uma das grandes manchas na história do catolicismo: “toda feitiçaria nasce da luxúria carnal e esta, nas mulheres é insaciável. Leia-se Provérbios XXX : ‘Há três coisas que nunca estão satisfeitas’ sim, e uma quarta que não é dita, e que é o bastante, a lingua do ventre. Para satisfazer sua luxúria elas unem-se sempre com os diabos”.  Como discute Brian Easlea parafraseando o Malleus : “os demônios são onipresentes. Em particular como súcubos eles visitam os feiticeiros masculinos à noite, e de cujo sêmen usam, agora como íncubos, para impregnar fêmeas feiticeiras e, pois, aumentar o número dos servos de Satã”. ([16])

A conclusão genocida e religiosa (nos século 16 e 17 os crimes de feiticaria imputados às mulheres produziram mais condenações à morte do que todos os demais crimes reunidos) recolhe toda uma sistematização racional sobre a mulher, sua essência e qualidade. Mas, como ainda mostra Brian Easlea, trata-se de uma ratio masculinizante mais do que machista. Não se reúnem naquela fala apenas o preconceito e a truculência, ditados por conjunturas das várias sociedades e suas experiências econômicas ou políticas/ É uma fria forma mentistransformada em transcendental, verdadeiro a priori nos livros e atos modernos. Mesmo Trevor Roper, tão preocupado em denunciar o terror inquisitorial, aceita sem maiores prudências a tese da histeria na versão de Vicente de Moray para explicar a bruxaria. “O diabólico íncubo é apenas a forma do século 16 de um tipo de histeria sexual, familiar para todo psiquiatra do século 20”. Ou então

No passado, os neuróticos e histéricos da cristandade centralizaram suas ilusões ao redor da figura do Diabo, como os místicos centralizaram as suas ao redor de Deus ou Cristo ([17])

Este conjunto ideal tornou-se avassalador pela aceitação feminina de sua própria figura, astuciosamente construída pelo homem:

A imagem da mulher significa a imagem masculina que a mulher toma, aceita voluntariamente e imita, até o ponto de poder apresentar, de fato, esta imagem para si mesmam como se ela fosse a imagem feminina. (Hans Mayer, comentando o livro de Pascal Lainé, La femme et ses images).

Da cosmologia masculinizante à antropologia que assegura a forma feminina como imperfeição, seguindo-se a consequência violenta de sua minoridade politico-social e sua constante qualidade de ente adoecido, histérico, chegamos ao Malleus maleficarum. Nada há, substancialmente que separe a recta ratio do fanatismo praticado por machos responsáveis pela purificação mental e corpórea do gênero humano. Isto foi justificado por filósofos, de Aristóteles até Kant. Sobre este último diz certeiramente Gérard Lebrun:

Com efeito, como poderia a razão orientar a ação humana, se não propusesse a esta última pelo menos o equivalente de uma certeza teórica? É justamente isto que torna tão ambiguo, em Kant, o estatuto da ‘existência de Deus’ ou da ‘imortalidade da alma’ enquanto postulados práticos. Certamente, já não se trata de enunciados teóricos, mas de enunciados pseudo-teóricos são autorizados pela razão prática. O que não temos direito de afirmar teoricamente, diz Kant, devemos pelo menos admitir como real em função do interesse prático. ([18])

O que diz Lebrun sobre “Deus” ou “imortalidade da alma”, pode ser enunciado para o estatuto da mulher na Antropologia kantiana. Trata-se certamente de fórmulas pseudo-teóricas mas com uma história muito antiga. Aliás, serve também para nosso assunto a conclusão que tira Lebrun da estranha idéia de uma razão prática: “A este respeito”, diz ele, “podemos nos perguntar se a idéia de ‘postulação prática’ não contem em germe a justificação de muitos fanatismos. O que é um fanatismo senão o fato de aceitar a contaminação da teoria pelo interesse prático?”. O teólogo, canonista e intelectual formado na escola aristotélica, Kramer, autor do Malleus, bem poderia responder a esta interrogação….

Entre a austera filosofia de Aristóteles e suas consequências, se estabelecem atos loucos, estarrecedores recolhidos por Trevor-Roper, Robert Mandrou, Keith Thomas, Norman Cohn e todos os autores sensíveis e inteligentes horrorizados com o crime definido e feito em nome da Fé e da Razão por sacerdotes da Igreja e de certa ciência. Nem todos pensaram e agiram deste modo. Mas o “nós”, o costume, garantiu a predominância do maior número. E não foi só no registro filosófico ou histórico que tal misoginia trouxe graves consequências. Basta ler os escritos de Mario Praz (La carne, la morte e il diavolo nella litteratura romantica), Shoshana Felman (La folie et la chose littéraire, e também Le scandale du corps parlant), Hans Mayer (Aussenseiter). Alí, de forma plasticamente superior discutem-se as metamorfoses do monstro sem alma (como quer Aristóteles)  nas figuras de Judite, Dalila e Salomé ([19]passando por Lady Macbeth, Joana d’Arc e atingindo Lulu, todas mulheres vampiro (este, como a fêmea na sabedoria masculinizante, vive em outro, sua vítima), do teatro e cinema.

Hoje, no Brasil, as mulheres buscam definir seu espaço político. Não se animem as inteligentes que nesta tarefa pretendem encontrar alguma ajuda na filosofia “dialética”. Basta abrir aFilosofia do Direito hegeliana, escrita situada entre as mais tolas da razão ocidental, para perder as ilusões.

Se as mulheres estão no ápice do governo, o Estado corre perigo pois elas não agem segundo as exigências do Universal mas segundo inclinações e opiniões contingentes. A formação das mulheres se faz, não sabemos bem como, por impregnação da atmosfera difundida pela representação, ou seja, mais pelas circunstâncias da vida do que pela aquisição de conhecimentos. O homem, ao contrário, só impõe a si mesmo pela conquista do pensamento e numerosos esforços de ordem técnica. (§ 166, nota).

A irmã de Hegel enlouqueceu. “Ela acreditava ter-se transformado num pacote que, selado, seria posto no Correio; a cada vez que percebia um estranho, tremia com todos os seus membros; terminou jogando-se na água”. ([20]) Com semelhante irmão, este era o único fim previsível. Hoje, felizmente, o eixo da racionalidade inclina-se para as mulheres. Resta esperar que elas não o forcem demasiado, para si. A reação poderá ser violenta, como a definida em dois mil anos de racionalismo cristão, em conúbio com a tese aristotélica da vida. E da morte…

Roberto Romano da Silva
Professor do Departamento de Filosofia, Unicamp.




[1] “Zur Einheit und Unauflöslichkeit einer Verbindung ist das beliebige Zusammentreten zweier Personen nicht hinreichend; ein Theil musst dem andern unterworfen und wechselseitig einer dem andern irgendworin überlegen sein, um ihn beherrschen oder regieren zu können”.

[2] “Mann kann dadurch, dass man, nicht was wir uns zum Zweck machen, sondern was Zweck der Natur bei Einrichtung der Weiblichkeit war, als Princip braucht, zu der Charakteristik dieses Geschlechts gelangen, und da dieser Zweck selbst vermittelst der Thorheit der Menschen doch der Naturabsicht nach Weisheit sein muss: so werden diese ihre muthmasslichen Zwecke auch das Princip derselben anzugeben dienen können, welches nicht von unserer Wahl, sondern von einer höheren Absicht mit dem menschlichen Geschlecht abhäng. Sie sind 1. Die Erhaltung der Art, 2. Die Cultur der Gesellschaft und Verfeinerung derselben durch die Weiblichkeit”.  


[3] Livro II, 192b in Aristote, Physique (Paris, Belles Lettres, 1952), p.58.
[4] Knibiehler, Yvonne e Fouquet, Catherine : La femme et les medecins (Paris, Hachette, 1983), p. 33.
[5] Cf. Aristotle, Generation of animals in Loeb Classical Library, V. XIII (Cambridge, Harvard University Press, MCMLXXIX), p. 10. “Segundo Aristoteles (Geração dos animais, 716a, 727a–729b, 765b) a fêmea proporciona não só espaço mas também a matéria para o desenvolvimento do embrião. Esta matéria, no entanto, é vista como totalmente passiva;  o macho supre o princípio do movimento e da vida. A geração ocorre quando o ingrediente ativo, o sêmen, entra em contacto com o sangue menstrual e dá forma a este material inerte. A criança, diz o filósofo, pode ser dita originária do pai e da mãe apenas no sentido de que uma cama tem origem no lenho e no carpinteiro. Esta análise do processo reprodutivo é baseado na crença aristotélica sobre a inferioridade essencial da mulher: ‘a mulher é um macho infértil. Ela é mulher, de fato, devido a um tipo de inadequação’(Geração dos Animais, 728a). Blundell, Sueli : Women in Ancient Greece (Harvard University Press, 1995) p. 106
[6] Todo o contexto elogia a dominação do homem sobre animais, escravos, mulher. A passagem inteira fala da vantagem para o dominado (corpo, animal, escravo mulher) em ser dominado. Cf. Política, I, II, 9-13, 1254b:  Aristotle Politics in Loeb Classical Library, V. XXI, pp. 20-21. Cf. Easlea, Brian: Witch-hunting Magic & the new philosophy, an introduction to the debates of the scientific Revolution, 1450-1750 (Sussex, Harvest Press, 1980). Retiro a maior parte destes pontos daquela obra.
[7] Cf. Stephen David Ross: The gift of touch: embodying the good (Albany, State of New York Press, 1998). p. 60 e ss.
[8] Cf. Aristóteles, Geração dos Animais in Loeb Classical Library, XIII, pp. 174-175. Cf. Allen, Prudence: “Woman as infertile, imperfect and deformed man”in The concept of Woman, the aristotelian revolution, 750B.C. –A.D. 1250(Michigan, B. Eerdmans Publishing &Co. 1985), p. 95 e ss.
[9] Jacquart, Danielle e Thomasset, Claude: Sexualité et savor médical au Moyen Âge (Paris, PUF, 1985), p. 194. Cf. Albert the Great, Questions concerning Aristotle’s on Animals, in The fathers of the Church (Washington, The Catholic University of America Press, 2008).
[10] 9. Differentiation of the sexes must be attributed to celestial causes. Our reason for saying this is as follows: Every agent tends to form to its own likeness, as far as possible, that which is passive in its respect. Accordingly, the active principle in the male seed always tends toward the generation of a male offspring, which is more perfect than the female. From this it follows that conception of female offspring is something of an accident in the order of nature-in so far, at least, as it is not the result of the natural causality of the particular agent. Therefore, if there were no other natural influence at work tending toward the conception of female offspring, such conception would be wholly outside the design of nature, as is the case with what we call “monstrous” births. And so it is said that, although the conception of female offspring is not the natural result of the efficient causality of the particular nature at work—for which reason the female is sometimes spoken of as an “accidental male”—nevertheless, the conception of female offspring is the natural result of universal nature; that is, it is due to the influence of a heavenly body, as Avicenna suggests.” De veritate, Sobre a Providência, in Questiones Disputatae de Veritate, by Thomas Aquinas, Html edition by Joseph Kenny, O.P. http://dhspriory.org/thomas/QDdeVer.htm

[11] Elaine Hobby (ed.) The midwives Book, or the whole art of midwifry discovered (Oxford, University Press, 1999),  p. 100; Manuli, P. “Fisiologia e patologia del femminile”in III Colloque International Hippocratique, Grmek, M.D. (ed.) :  Hippocratica (Paris, CNRS, 1980), p. 397. Cf. Helen King: “Once upon a text: hysteria from Hippocrates” in Sander L. Gilman (e outros, ed.) Hysteria before Freud (Berkeley, University of California Press, 1993), p. 3 e ss.
[12] Madrid, Ed. Nacional, re-edição de 1978, pp. 162-163.
[13] Timeu, 42 e 90c-91d. Como demonstra Charpentier (nota abaixo), em Platão os dois sexos possuem uma espécie de animal dentro de si que não escuta  a razão no desejo do acasalamento para procriar.  É conhecida a diferença entre o pensamento de Platão sobre as mulheres e os pósteros, a começar com Aristóteles.
[14] Pantagruel, Livro Terceiro capítulo 32. Cf. Charpentier, Françoise: “Notes pour le Tiers Livre de Rabelais, chap. 32: le discours de Rondibilis”in Revue Belge de philologie et d’histoire, 1976, volume 54, pp. 780-796
[15] Morel, P. e Quêtel, Cl, : Les médecins de la folie (Paris, Hachette, 1985), pp. 34-35.
[16] (Tradução inglêsa editada por Digireads. Com Book, 2009). Em 1490 O Malleus foi posto no Index librorum prohibitorum, livros vetados pela Igreja, mas os estragos foram feitos.
[17] Trevor-Roper, H. R. : The european Witch-Craze of the 16th and 17th Centuries (Penguin /books, 1969), pp. 50-53. Sob outro aspecto, cf. Céard, J.: “Folie et démonologie au XVIe siècle” in Folie et déraison à la renaissance(Paris, Vrin, 1976), pp. 129 e ss.
[18] Passeios ao Léu (São Paulo, Brasiliense, 1983), p. 71.
[19] Cf. o belo estudo de René Girard, “La danse de Salomé”in L ‘auto-organisation, de la physique au politique(Paris, Seuil, 1983), p. 336 e ss.
[20] Grasset, Idées médicales (Paris, Plon, 1910), p. 282.