Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

No Paraná....

Notícia de aumento a reitores causa indignação em professores de universidades públicas paranaenses

27/02/2012
A notícia intitulada “Reitores negociam aumento para eles e deixam os professores de lado”, publicada em 25 de fevereiro de 2012, no site da Seção Sindical dos Docentes da UEM – SESDUEM / ANDES / SN, gerou perplexidade, indignação e revolta por parte de professores do ensino superior que pertencem ao quadro geral de servidores públicos do estado do Paraná.
De forma semelhante, o jornal Gazeta do Povo havia publicado a notícia sobre os aumentos aos cargos comissionados ou de indicação política no dia 18 de outubro de 2011, com a seguinte manchete: “Cargos de indicação política do PR ganham aumento de até 128%”. Esta reportagem não citou o aumento específico do cargo de reitor em universidades públicas e não anexou a tabela de cargos com suas remunerações. Como a maioria dos cidadãos, inclusive os professores, não estão muito acostumados a ler as leis e decretos, é provável que, por isso, não perceberam, já nessa época, o magnífico aumento dado aos cargos de reitores. E, obviamente, não se poderia esperar que os reitores divulgassem massivamente tal fato à comunidade acadêmica, não é mesmo? Mas essa reportagem citou o Decreto Estadual número 2.970/2011 (anexo neste texto), que foi publicado na página 4, doDiário Oficial número 8.567, de 11/10/2011, véspera de feriado, no qual consta o cargo de reitor na lista de beneficiados pelo aumento gordo do governo estadual.
De acordo com tais documentos, e outros citados a seguir, públicos e disponíveis na internet, a remuneração ou comissão pelo cargo de indicação política dereitor, o qual possui o código/símbolo DAS-1 passou de R$ 2.956,94 (conforme Decreto 3.105/1997 e a respectiva tabela anexa onde constam os valores das comissões) para R$ 7.494,62 (Decreto 2.970/2011) para os servidores com vínculo, que é o caso dos reitores, haja vista que todos são professores universitários, portanto, com o devido vínculo com a instituição. Assim, considerando-se tais valores, houve um magnífico aumento de 153,45% no valor das comissões destes cargos (percentual que supera em muito a inflação acumulada do período, segundo o IPC-FGV). Convém observar que, além do cargo de reitor, outros cargos de indicação política foram beneficiados pelo mesmo Decreto.
Agora, vamos entender o motivo dessa compreensível indignação de professores. Toda a sociedade paranaense tem conhecimento das constantes reivindicações de professores por melhores remunerações e condições de trabalho. Aliás, essa luta por direitos ocorre não apenas em nível de ensino superior, mas em todos os níveis (ensino básico, médio e superior). A precarização das condições de trabalho e a desvalorização da atividade de magistério por meio de baixa remuneração repetem-se por sucessivos governos, ainda que a categoria possa ter sido mais ouvida e mais respeitada por alguns deles.
O fato é que os professores do ensino superior (assim como outras categorias!) estão, desde 2011, em pleno processo de reivindicações por reajustes salariais com o governo do estado do Paraná, administrado, neste momento, por Beto Richa (PSDB). Inclusive, ao que tudo indica, o ano de 2012 será marcado por grandes manifestações, dentre elas, as greves de professores, haja vista as dificuldades nas negociações com o atual governo.
De tais reivindicações, citadas na reportagem da Gazeta do Povo, de 05/10/11 – “Professores universitários pressionam governo do estado por reajuste” – um dos pedidos é a equiparação salarial entre as funções dos servidores contratados pela Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), já que um técnico administrativo do estado do Paraná ganha mais que um professor de ensino superior. Um professor auxiliar recebe R$ 1.808,82, enquanto que um técnico, que também tem curso superior, ganha R$ 2.382,77. Além da equiparação, os professores pedem aumento salarial conforme a titulação (especialista, mestre ou doutor) e a semelhança dos pisos iniciais das carreiras.
Outra queixa da categoria é que o salário dos professores das universidades estaduais está defasado em relação aos docentes das federais em até 20%. E as universidades federais estão em processo de mobilização e querem reajuste em torno de 15%. Então, os salários ficariam mais defasados ainda, o que poderia provocar, consequentemente, a evasão de professores de universidades estaduais em busca das federais. Ressalte-se que esse fenômeno já ocorre.
Portanto, o momento atual de luta da categoria de professores por reajustes em seus salários defasados vai de encontro com esses inexplicáveis aumentos para cargos de indicação política do governo do estado. É, no mínimo, muito contraditório o comportamento do governo Beto Richa – PSDB, que insiste em enrolar a categoria de professores universitários, conforme a notícia do site do Sindicato dos Professores da UNICENTRO – ADUNICENTRO, em 03/02/12: “Governo do Paraná volta atrás da sua proposta, nega revisão da carreira docente e empurra categoria para possibilidade de greve nas IEES”, com argumentos infundados como a falta de recursos para os reajustes salariais de professores.
Em outras palavras, quando se trata de aumentar a remuneração de cargos de indicação política, existe dinheiro, e aos milhões, não faltam recursos nos cofres do estado. Mas, quando se trata de reajustes à categoria de professores, não tem recursos. Este fato lamentável e vergonhoso nos faz perceber que a educação está apenas no discurso de muitos políticos. Quando estes mesmos políticos tem a oportunidade e o poder de mudar algo, de investir na área e melhorá-la, em diversos aspectos, não o fazem. A prática de muitos políticos não condiz com seus discursos!
Aliás, questiona-se: seria uma estratégia do governo do estado proporcionar esse grande aumento aos reitores, a fim de que os mesmos, satisfeitos com suas remunerações, tentem acalmar os ânimos e controlar a massa de professores das universidades, insatisfeitos com suas remunerações? Os reitores negociaram aumentos para si próprios de forma paralela às reivindicações e negociações da grande massa de professores e funcionários de universidades? Como e em que circunstâncias esses aumentos para cargos de indicação política foram conseguidos? Quem pressionou o governo do estado? Houve reuniões específicas para discussões e revindicações desses aumentos? Quando? Onde? Enfim, os reitores negociaram, legislaram e/ou reivindicaram em causa própria, utilizando-se de seus cargos (como representantes de universidades e de seu quadro de servidores) e da natural proximidade com a estrutura de poder do estado, em detrimento às reivindicações da categoria de professores e de funcionários/agentes universitários? Ou seriam os reitores “pobres vítimas” nessa história?
São questões muito importantes neste contexto de indignação com o comportamento contraditório do governo do estado ao negar reajustes para determinadas categorias e, ao mesmo tempo, promover reajustes enormes, fora da realidade, para ocupantes de cargos de indicação política. Será que teremos respostas? Será que teremos as devidas explicações? Será que existem explicações convincentes para este fato? Será que adianta explicações para algo inexplicável e/ou moralmente inaceitável?
Talvez a indignação diante deste controverso acontecimento tenha uma grande utilidade: despertar ainda mais na categoria de professores do ensino superior do Paraná (e outras) a necessidade de lutar por seus direitos, que são legítimos! 

No Paraná, o tucanato arrasa

 da ADUNICENTRO, PARANÁ

Depois da polícia, professores das universidades estaduais ameaçam parar

Categoria quer que o governador Beto Richa cumpra acordo.

Depois da polícia, professores das universidades  estaduais ameaçam parar
Após o perigo iminente de policiais civis e militares entrarem em greve o governador Beto Richa enfrentará outra “saia justa”. Os professores das universidades estaduais do Paraná, incluindo a Unicentro, ameaçam entrar em greve a partir do dia 14 de março, caso o governo não atenda às reivindicações da categoria. Para deflagrar o movimento, um ato público será realizado no dia 7 de março, em Curitiba, onde os professores cobrarão a retomada das discussões sobre o plano de carreira, que começou ainda em 2011.



Os professores querem que haja equiparação salarial com os técnicos administrativos do estado, alegando que estes têm a mesma formação. Entretanto, um técnico recebe hoje R$ 2.382,77, um professor auxiliar ganha apenas R$ 1.808,82.

Outra reivindicação importante a ser abordada entre governo e os sindicatos da categoria é a revisão dos cortes dos cortes dos recursos para custeio das universidades, estabelecidos no início de 2012.


O Governo do Paraná alega não ter recursos, mas sindicato apontam dados que mostram o contrário. O investimento com folha de pagamento está abaixo dos limites da Lei de Responsabilidade Fiscal, que é de 49%. Atualmente o gasto com folha de pagamento está em 46%. O impacto da equiparação salarial do piso dos docentes em três parcelas de 9,62%, significa algo entre 0,1 e 0,2% da folha de pagamento total do Estado a cada ano. 
“Um valor pequeno”, avalia a Adunicentro, , entidade que congrega os professores da Unicentro.

Segundo o DIEESE o governo do Paraná também investiu menos em educação em 2011 (30,17%) do que em 2010 (31,79%). Os números absolutos aumentaram, mas não se comparados à arrecadação, que aumentou 15% (de 14 para R$ 16 bilhões). A lei obriga que se gaste no mínimo 30%.


E tem mais um dado. A estimativa do DIEESE é que o crescimento da arrecadação do Estado seja de 6%. Mas este é um valor subestimado e que deve ficar entre 10% e 12%, aponta o Dieese. 


“Caso o governo não mude sua posição intransigente em relação ao rompimento do acordo salarial com os docentes, haverá discussão de indicativo de greve geral a partir de 14 de março”, avisa a Adunicentro. 

sábado, 25 de fevereiro de 2012

E o Ka-sabe muito bem o que faz!

Já para os professores, policiais NADA!

DECRETO DO GOVERNO DO PARANÁ QUE PERMITE O AUMENTO DA GRATIFICAÇÃO DOS REITORES DAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS DO PARANÁ E DE SEUS ASSESSORES E PARA OS PROFESSORES NADA!!!!

DECRETO Nº 2970 - 11/10/2011
Publicado no Diário Oficial Nº 8567 de 11/10/2011


Súmula: Passa a vigorar de acordo com o Anexo único deste Decreto a gratificação pelo exercício de encargos especiais-SEAP...
.


O GOVERNADOR DO ESTADO DO PARANÁ, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo art. 87, incisos V e VI, da Constituição Estadual e considerando as disposições do Decreto nº 3.105, de 07 de maio de 1997 e suas alterações,

DECRETA:

Art. 1º A gratificação pelo exercício de encargos especiais, de que tratam os artigos 172, inciso VIII e 178, ambos da Lei nº 6.174, de 16 de novembro de 1970, a que se refere o artigo 1º do Decreto nº 3.105, de 07 de maio de 1997 e suas alterações, passa a vigorar de acordo com o Anexo único deste Decreto.
Art. 2º As disposições do presente Decreto não se aplicam aos cargos de provimento em comissão da Coordenação da Receita do Estado – CRE.
Art. 3º Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, com efeitos financeiros a partir de 1° de outubro de 2011.

Curitiba, em 11 de outubro de 2011, 190º da Independência e 123º da República.

CARLOS ALBERTO RICHA,
Governador do Estado

LUIZ EDUARDO SEBASTIANI,
Secretário de Estado da Administração e da Previdência

DURVAL AMARAL,
Chefe da Casa Civil

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ANEXOS:



--------Este texto não substitui o publicado no Diário Oficial.

© 2008 - Casa Civil do Governo do Estado do Paraná
Palácio das Araucárias - Rua Jacy Loureiro de Campos, s/n - 80.530-915 - Centro Cívico - Curitiba - Paraná

Economia para todos

do Blog Portugal Uncut

5 coisas que precisas de saber sobre o défice

1. Défice não é o mesmo que despesa pública

O défice é a diferença entre a despesa pública (quantia gasta pelo Governo) e a receita fiscal (a quantia proveniente de impostos). Assim sendo, a despesa pública não é a única coisa que interessa: se a receita fiscal diminui, o défice aumenta. Esta é uma das razões porque a evasão fiscal é tão prejudicial para a economia.

2. O défice aumentou por causa da crise financeira e da recessão que se lhe seguiu

Desde 1995 até 2007, o défice público médio de Portugal foi de 3,6% do PIB; de 2008 a 2010, em plena crise financeira, este valor subiu para 7,9% do PIB. A crise financeira e a recessão fizeram com que a receita fiscal diminuísse (as empresas tiveram lucros menores e por isso pagaram menos impostos) e com que a despesa pública subisse (o desemprego aumentou e por isso aumentaram as prestações sociais).

3. Cortar nas despesas públicas leva a uma diminuição da receita fiscal

Cortar nas despesas públicas lança para o desemprego os trabalhadores do sector público. Isto significa que deixarão de pagar impostos ou de consumir no comércio e negócios locais, o que leva a um agravamento da recessão. Portanto, cortar no sector público tem um efeito reflexo no sector privado – e o resultado é que o Governo recolhe menos dos impostos que poderiam ajudar a diminuir o défice.

4. Cortes na despesa podem levar ao aumento da despesa pública

Sim, percebeste bem. Os Governos pode optar por fazer cortes em instituições de apoio a crianças ou idosos, por exemplo. Mas ao colocar as pessoas na dependência de subsídios que façam face a estas carências, estes cortes aumentam a despesa alocada a subsídios de desemprego, etc. Esta despesa é determinada em larga medida pelo estado da economia e não por objectivos orçamentais. Em vez de pagar às pessoas para produzirem serviços públicos úteis, o Governo acaba por gastar mais em prestações sociais.

5. O crescimento da economia pode diminuir o défice

Em última análise, precisamos de crescimento económico para fazer diminuir o défice. Não de um crescimento autofágico, predador e autodestrutivo mas de um crescimento verde, sustentável e respeitador dos limites do planeta e da dignidade do trabalho, das pessoas. De outro modo ficamos presos a um sistema económico sem futuro e a um ciclo vicioso, com mais cortes a conduzir a menos receita fiscal, e ao empobrecimento das populações, e maiores despesas em prestações sociais – o que, por sua vez, leva a mais cortes. Neste momento, a procura na economia é incipiente e os investidores não estão com vontade de investir; a única forma de romper este ciclo é ter o Governo a preencher este espaço, investindo em vez de cortar.

Tradução adaptada de Sandra Paiva.

Dados relativos ao défice público de Portugal entre 1995 e 2010 retirados do portal Pordata.

Documento original - 5 things you need to know about the deficit, False Economy.

Grécia, Portugal...


SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012 do Blog Portugal UNCUT aqui

Porque é que a Grécia e Portugal deviam falir


Há dois anos atrás, a maioria dos responsáveis europeus pela formulação de políticas acreditava ainda que a Grécia conseguiria sobreviver. Faltava-lhes a experiência de gestão de crises financeiras e não consultaram, sequer, aqueles que em outras partes do mundo tiveram que lidar com crises em décadas anteriores. Armados de ignorância e arrogância, acabaram a repetir os erros de todos os outros. Pensaram estar ser espertos quando tiveram a ideia de uma contracção fiscal expansionista. E acharam que o envolvimento voluntário do sector privado (PSI) poderia realmente ajudar.
Não tendo conseguido aprender com os erros dos outros, alguns deles estão agora a aprender à sua própria custa. Em algumas capitais do norte da Europa, os responsáveis pelas políticas europeias começam a perceber que o programa grego tem sido um falhanço absoluto. Perderam a confiança na política grega; com a entrada no quinto ano de uma depressão, e a certeza de que o produto interno grego cairá ainda mais sob a influência da austeridade, estão à beira de desistir da Grécia.
Mas eles são também intrinsecamente avessos ao risco e propensos ao cumprimento dos formalismos. Sentem que precisam de aparentar levar o último programa de austeridade grego a sério, e ao mesmo tempo mostrar que salvaguardarão os interesses dos seus próprios contribuintes. Os partidos da coligação grega chegaram a um acordo que deveria, pelo menos formalmente, satisfazer as exigências dos ministros europeus das finanças. O parlamento grego aceitou-o. O conjunto do euro também o aceitará. Individualmente, os detentores de obrigações gregas chegarão a um acordo quando ao envolvimento do sector privado.
O Bundestag pode ainda sabotar este acordo, dado o crescente nervosismo da opinião pública alemã relativamente à expectativa de inutilidade de um novo programa de €130bn. Mas a minha expectativa é de que o programa se concretize. Haverá um período inicial de calma, mas em poucos meses será claro que os cortes gregos nos salários e pensões terão agravado a depressão. Os formuladores europeus de políticas descobrirão que, neste contexto desolador, até uma meta reduzida para as privatizações é irrealista. O PIB grego desceu 6% em 2011, e continua a decrescer a uma taxa semelhante este ano. E em breve uma nova vaga de cortes se fará anunciar.
Este não é, sequer, o cenário mais pessimista. Ele assume que a situação política grega se mantém colaborante. Mas com a renovação das greves e demissões ministeriais a saudar o último programa, é de facto expectável que Antonis Samaras, líder da Nova Democracia e provável vencedor das eleições em Abril, pactue com a estratégia em curso? Não vejo de que forma isto poderá funcionar politicamente. Para um primeiro-ministro que pondera um mandato completo de 4 anos, deve ser grande a tentação de se desvincular dos compromissos agora assumidos e culpar os seus predecessores pelo caos. Ele terá então quatro anos para levantar o país dos destroços da saída da zona euro. Politicamente seria muito mais arriscado aderir a um programa que ele próprio afirma não funcionar e que manterá o país em depressão durante todo o seu mandato e, possivelmente, para além dele.
Mas, aceitemos o argumento e admitamos que o Sr. Samaras se mantém no programa e que a armadilha da dívida pode ser evitada. Tudo funciona como oficialmente planeado. Seria esse o fim da crise grega? Nesse caso, o rácio grego da dívida face ao PIB cairia dos actuais 160% para cerca de 120% do PIB no fim da década.
Mas este valor seria ainda demasiado elevado. Devemos lembrar-nos que 120% é um número político a que falta justificação económica. Não é por acaso que este é o actual rácio italiano da dívida face ao PIB. Se admitíssemos que 120% não é sustentável para a Grécia, estaríamos a criar o pressuposto que o mesmo seria verdade para a Itália.
E no entanto as duas economias são muito diferentes. A Grécia viu a sua economia entrar em colapso. Para se reconstruir, a Grécia precisa de uma infra-estrutura económica operativa, de um mercado de trabalho moderno e de um sistema político menos tribal. Os mercados financeiros não voltarão a confiar na Grécia até tudo isto ser uma realidade. Mas isso pode levar décadas.
Por isso, mesmo neste cenário improvável, segundo o qual tudo resultaria conforme planeado, a sustentabilidade da dívida está longe de ser assegurada. Acredito que o rácio grego da dívida face ao PIB precisaria de descer para um nível muito mais baixo – algo como 60% do PIB – para que o país tivesse alguma hipótese de sobreviver à crise. Este valor faria desaparecer a maior parte da dívida externa, incluindo aquela detida pelo sector público.
Há quem diga que seria melhor expulsar a Grécia da zona euro imediatamente e usar os fundos para salvar Portugal. Eu discordo. Pessoalmente, acredito que seria melhor tomar consciência do estado desolador de ambos os países, deixá-los entrar em default dentro da união monetária, e usar então um fundo de resgate suficientemente reforçado que os ajude a reconstruir-se, e que simultaneamente impeça o efeito de contágio.
Isto será muito caro. Mas ignorar a realidade por mais dois anos será ruinoso.

Wolfgang Munchau, FT.com, 12/02/2012
Traduzido por Sandra Paiva e Paulo Coimbra.
Artigo original aqui.

QUINTA-FEIRA, 23 DE FEVEREIRO DE 2012

Grécia: Haverá Sangue




Para começar, clarifiquemos que o “resgate” não é de facto o resgate da Grécia mas é sobretudo o resgate dos bancos franceses e alemães. Porquê? Ao longo dos últimos 10 anos, a Alemanha impediu o crescimento dos salários o que lhe permitiu acumular um enorme excedente comercial relativamente à Grécia e outros países da periferia da zona euro. Este excedente foi reciclado por bancos privados que o emprestou à periferia, muito à semelhança do que se passou em 1973/79 quando os excedentes do petróleo foram convertidos por Londres em empréstimos altamente rentáveis à América Latina. E tal como a América Latina (e outros países da periferia) entrou numa crise da dívida nos anos 80, com as medidas de austeridade impostas e desenhadas pelo FMI para fazer face ao pagamento da dívida a causar tumultos e resistência dos sindicatos, assistimos agora à mesma situação na zona euro. Em nenhum lado mais que na Grécia as medidas de austeridade impostas pela troika causaram tanta dor, com o PIB nacional a diminuir 15% desde o início de 2009 e o desemprego a afectar praticamente metade de toda a população mais jovem.
Agora que os bancos da UE reduziram a sua exposição à dívida grega, a Alemanha e outros têm dúvidas acerca da permanência da Grécia no euro. Quer surja nas próximas semanas ou nos próximos meses, uma decisão da troika no sentido de que a Grécia não está a cumprir as regras do endividamento pode levar o Banco Central Europeu a suspender as operações semanais de financiamento ao Banco Central da Grécia, provocando assim, e de forma imediata, o default grego. É generalizadamente aceite que se o default tivesse um efeito de contágio na zona euro, as consequências económicas para a União Europeia seriam desastrosas.
Muito menos exaustiva tem sido a análise das consequências políticas internas de um default grego. A Grécia é um Estado relativamente frágil, tendo sido governada desde 1974 pela alternância de dois partidos populistas que mantiveram o poder, em larga medida, recorrendo a práticas de clientelismo e corrupção: o Partido Nova Democracia, de centro-direita, sob a alçada da família Karamanlis; e o PASOK, de centro-esquerda, sob a alçada dos sucessores de Papandreou. As eleições gerais de Abril irão quase certamente mostrar que o resultado da austeridade foi o descrédito total destes dois partidos do centro, enquanto nos bastidores se preparam para avançar o Partido Comunista Grego (KKE), à esquerda, e o LOAS (Concentração Popular Ortodoxa), o partido de extrema-direita liderado pelo ultra-nacionalista Georgios Karatzaferis. Ambos assumiram o compromisso de sair do euro.
Suponhamos que a Grécia abandona o euro a seguir às eleições – uma aposta bastante segura dado que, mesmo que uma coligação do centro pudesse ser formada sem o KKE ou o LOAS, é difícil perceber como seria possível uma governação eficaz à medida que as condições económicas continuamente se deterioram. A saída do euro resultaria, para a Grécia, num crescimento da inflação por três motivos. Primeiro, o Novo Dracma (ND) depreciar-se-ia de um dia para o outro tornando as importações (incluindo de alimentos) muito mais caras. Segundo, o sistema bancário da Grécia necessitaria de ser totalmente recapitalizado. Finalmente, impedido de se refinanciar junto da troika e dos mercados financeiros, o défice público, que ronda agora os 10% do PIB, teria que ser financiado em ND através da emissão de dinheiro. A desvalorização seguida de monetarização à escala exigida pelo financiamento do défice e recapitalização dos bancos conduziria, com toda a certeza, a hiperinflação.
A peça que falta neste puzzle é o exército grego. As despesas militares situam-se nos 5% do PIB, cerca do dobro da média da NATO. Até recentemente, este aspecto da “prodigalidade grega” não foi questionado pela troika; por um lado, porque o país importa o seu armamento da França, Alemanha e EUA; por outro, porque os militares (à semelhança da oligarquia grega) detêm uma enorme influência política.
As ilações a tirar são claras. As acções da troika na Grécia são desastrosas. Sem um Governo estável, a saída da Grécia do euro levará a um caos político crescente, e este caos conduzirá à intervenção militar como meio de repor a ordem. Aqueles com idade suficiente para se lembrarem da guerra civil de 1946-48 ou do golpe dos coronéis de 1967 lembrar-se-ão de que o Ocidente fez vista grossa à repressão que se seguiu; milhares foram torturados ou mortos e ambos os partidos comunista e social-democrata foram tornados ilegais por mais que uma geração. A história pode estar prestes a repetir-se.
George Irvin, Social Europe Journal, 21 Fev 2012.
Tradução de Sandra Paiva; revisão de Paulo Coimbra.
 Roberto Romano comenta o filme sobre Margareth Tatcher, a Tatá dos tucanos:


Tatá, o filme.

Badalado, chamativo e blá blá. Mas eu não darei um cento de meu dinheiro para assistir a um filme sobre uma mulher de direita, que destruiu a Inglaterra. Nem mesmo com a atriz que gosto muito.
Na Inglaterra o filme estreou com polêmica. Que bom!
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Porém em Garopaba, SC, Braziu!

do Blog do Catatau Ver aqui
Psicólogo de município? Até a divulgação de novos editais já coloca um “porém”

Há quase 6 anos, divulgamos diversos concursos curiosos de psicologia em municípios. Via de regra, o salário para esse tipo de cargo era baixíssimo, incompatível com as atribuições do cargo e função.
Quem já trabalhou no ramo sabe da grande demanda da sociedade quando esse tipo de serviço se torna acessível. Mas sabe também que, Brasil afora, os editais divulgam curiosas condições de trabalho, e às vezes salários até menores do que o de coveiro (!).
Nesse sentido, é muito curioso como o bom senso às vezes beira a ironia: até divulgadoras de concurso, como o PCI, já começam a alertar o próprio candidato (ou, se foi ato falho, esse ultrapassou qualquer conteúdo individual). Veja-se a abertura de concurso para Psicólogo na prefeitura de Garopaba (SC):
A profissão de psicólogo também é cargo de ensino superior; PORÉM
Haveria mesmo algum porém para encarar, a partir da grande demanda social e do salário incompatível de R$ 1416, esse tipo de cargo?
Que os outros editais respondam, e não precisa procurar muito: no mesmo Estado e trabalhando as mesmas 40h, seguem alguns salários em Jardinópolis:
- “fiscal de vigilância sanitária”  e “fiscal de tributos e serviços municipais: R$ 1625,66
- “telefonista”: R$ 1351,30
Ambos requerem apenas o segundo grau.

Inquietos...

Inquietos humanosdo Blog de Maria João Freitas ver aqui

Num mundo cada vez mais dedicado a ignorar a morte (com o culto da juventude, o prolongamento da esperança de vida e a ilusão da imortalidade), Inquietos (Restless), de Gus Van Sant é o filme em que dois adolescentes olham a morte de frente. Ele chama-se Enoch (Henry Hopper) e esteve em coma (e ao que parece morto durante 3 minutos) na sequência do acidente de automóvel que vitimou os seus pais. Tem por amigo o fantasma de um soldado kamikaze morto na 2ª Guerra, com quem atira pedrinhas aos comboios que passam e joga à batalha naval. Ela é Annabel (Mia Wasikowska),apaixonada por Darwin, estuda a natureza (sobretudo os pássaros)e tem apenas três meses de vida, devido a um tumor cerebral em fase terminal. Conhecem-se por acaso num funeral, porque ele tem o hábito de assistir a funerais de estranhos e passam o filme, que começa e acaba numa cerimónia fúnebre, a viver a morte. Ele apresenta-lhes os pais no cemitério, observam cadáveres na morgue, tentando adivinhar como as pessoas morreram, comemoram a noite de Halloweeen, passam dias no hospital e demarcam os seus corpos de mãos dadas a giz no asfalto, simulando a sua morte. Porque é a morte que está na origem de todas as suas (e nossas) inquietações, apesar de como escreveu o fantasma kamikaze na carta de amor amarrotada que traz consigo e que nunca entregou à sua namorada, a morte ser fácil, o amor é que é difícil. E se o cinema sabe eternizar o amor, também promete vencer a morte, esse carimbo que valida, desde que nascemos, a nossa condição de inquietos humanos.
Cap-tirado do Solda

Tatá, o filme.

Badalado, chamativo e blá blá. Mas eu não darei um cento de meu dinheiro para assistir a um filme sobre uma mulher de direita, que destruiu a Inglaterra. Nem mesmo com a atriz que gosto muito.
Na Inglaterra o filme estreou com polêmica. Que bom!

Portugal, comemoração Zeca Afonso

cartaz feito para a Associação José Afonso, para capa de brochura comemorativa dos 25 anos da associação (e da falta que o zeca nos faz), a partir de um vídeo de uma entrevista dele, de 1984, que ficou sempre a martelar-me a cabeça... 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Sublime!

Comprei uma série de filmes sobre filósofos feitos pelo Rosselini.

Assisti-os nesses dias de carnaval. Não que eu aproveite o carnaval para ver filmes. É que uma vez em casa, ...
Enfim, Blaise Pascal é um filme comovente. Vi o filme pensando nos dias de hoje. Quanto e quais esforços faria Pascal na chamada Universidade? Dá outro roteiro de filme.

Vale a pena ver.

Nem os heróis são poupados! E por que seriam?

Repressão em Atenas

Manolis Glezos
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Está neste momento a circular pelas redes sociais uma fotografia particularmente perturbante que funciona como eloquente sinal do Estado de guerra social total no qual se encontra a Grécia. Nessa imagem (que pode ver aqui; a que ilustra este post é diferente) observa-se a polícia a tentar manietarManolis Glezos, de 90 anos, um antigo herói da resistência ao nazismo e um experiente político de esquerda que chegou a ser deputado europeu, sem o menor respeito pelas razões, pela idade e pelo papel na história do país do símbolo que tinham pela frente. Um péssimo exemplo da vaga de desprezo pelos direitos democráticos e sociais mais elementares que começa a varrer a Europa.
Adenda – As imagens foram-me transmitidas como se fossem de agora. Acabo de saber que são de 2010. No entanto, Manolis Glezos esteve nos protestos de ontem e terá sido hospitalizado.