Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

quinta-feira, 29 de novembro de 2012


do blog A terceira noite, Portugal

Sobre o fascismo na América

«Estamos realmente em guerra – uma guerra longa, global, uma guerra pela nossa civilização», mas também «para salvar a nossa democracia.» A ensaísta e consultora política americana Naomi Wolf deixa estas palavras como um aviso e um apelo no último capítulo de O fim da América. Mas afinal de contas que guerra é essa e que padrão de democracia é este, merecendo ser salvo e que se combata por ele? A guerra, para a autora, ocorre dentro dos próprios Estados Unidos da América e é travada para que os fundamentos da democracia, propostos durante o processo de constituição da Nação pelos seus Pais Fundadores, não sejam esmagados por uma insidiosa «viragem fascista», capaz de replicar, e não apenas por analogia, a experiência que levou à queda da Alemanha da República de Weimar e à fatídica emergência do Terceiro Reich. Já a democracia da qual fala a ensaísta tem a forma daquela que, recorrendo à Carta dos Direitos, à Constituição, ao habeas corpus e a uma continuada tradição de diversidade e acolhimento, projetou a utopia de liberdade e de igualdade presente no momento de formação da nação americana e conservada ao longo de uma grande parte da sua história, definindo o essencial da sua identidade profunda. Continuar a ler 

Em Portugal

do blog de Joana Lopes

A grosseira inconstitucionalidade da tributação sobre pensões


@Paulete Matos 

Se há «inconstitucionalidades grosseiras», já existentes mas que se agravam com o Orçamento de Estado ontem aprovado, algumas delas visam, sem qualquer espécie de dúvida, os pensionistas. António Bagão Félix é uma das pessoas que mais o tem sublinhado e fá-lo, detalhadamente, no Público de hoje (sem link) (Os realces são meus.) 

«Aprovado o OE 2013, Portugal arrisca-se a entrar no "Guinness Fiscal" por força de um muito provavelmente caso único no planeta: a partir de um certo valor (1350 euros mensais), os pensionistas vão passar a pagar mais impostos do que outro qualquer tipo de rendimento, incluindo o de um salário de igual montante! Um atropelo fiscal inconstitucional, pois que o imposto pessoal é progressivo em função dos rendimentos do agregado familiar [art.º 104.º da CRP], mas não em função da situação activa ou inactiva do sujeito passivo e uma grosseira violação do princípio da igualdade [art.º 13.º da CRP].

Por exemplo, um reformado com uma pensão mensal de 2200 euros pagará mais 1045 € de impostos do que se estivesse a trabalhar com igual salário ( já agora, em termos comparativos com 2009, este pensionista viu aumentado em 90% o montante dos seus impostos e taxas!). 

Tudo isto por causa de uma falaciosamente denominada “contribuição extraordinária de solidariedade” (CES), que começa em 3,5% e pode chegar aos 50%. Um tributo que incidirá exclusivamente sobre as pensões. Da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações. Públicas e privadas. Obrigatórias ou resultantes de poupanças voluntárias. De base contributiva ou não, tratando-se por igual as que resultam de muitos e longos descontos e as que, sem esse esforço contributivo, advêm de bónus ou remunerações indirectas e diferidas. 

Nas pensões, o Governo resolveu que tudo o que mexe leva! Indiscriminadamente. Mesmo – como é o caso – que não esteja previsto no memorando da troika.

Esta obsessão pelos reformados assume, nalguns casos, situações grotescas, para não lhes chamar outra coisa. Por exemplo, há poucos anos, a Segurança Social disponibilizou a oferta dos chamados “certificados de reforma” que dão origem a pensões complementares públicas para quem livremente tenha optado por descontar mais 2% ou 4% do seu salário. Com a CES, o Governo decide fazer incidir mais impostos sobre esta poupança do que sobre outra qualquer opção de aforro que as pessoas pudessem fazer com o mesmo valor… Ou seja, o Estado incentiva a procura de um regime público de capitalização (sublinho, público) e logo a seguir dá-lhe o golpe mortal. Noutros casos, trata-se – não há outra maneira de o dizer – de um desvio de fundos através de uma lei: refiro-me às prestações que resultam de planos de pensões contributivos em que já estão actuarialmente assegurados os activos que caucionam as responsabilidades com os beneficiários. Neste caso, o que se está a tributar é um valor que já pertence ao beneficiário, embora este o esteja a receber diferidamente ao longo da sua vida restante. Ora, o que vai acontecer é o desplante legal de parte desses valores serem transferidos (desviados), através da dita CES, para a Caixa Geral de Aposentações ou para o Instituto de Gestão Financeira da S. Social! O curioso é que, nos planos de pensões com a opção pelo pagamento da totalidade do montante capitalizado em vez de uma renda ou pensão ao longo do tempo, quem resolveu confiar recebendo prudente e mensalmente o valor a que tem direito verá a sua escolha ser penalizada. Um castigo acrescido para quem poupa. 

Haverá casos em que a soma de todos os tributos numa cascata sem decoro (IRS com novos escalões, sobretaxa de 3,5%, taxa adicional de solidariedade de 2,5% em IRS, contribuição extraordinária de solidariedade (CES), suspensão de 9/10 de um dos subsídios que começa gradualmente por ser aplicado a partir de 600 euros de pensão mensal!) poderá representar uma taxa marginal de impostos de cerca de 80%! Um cataclismo tributário que só atinge reformados e não rendimentos de trabalho, de capital ou de outra qualquer natureza! Sendo confiscatório, é também claramente inconstitucional. 


Aliás, a própria CES não é uma contribuição. É pura e simplesmente um imposto. Chamarlhe contribuição é um ardil mentiroso. Uma contribuição ou taxa pressupõe uma contrapartida, tem uma natureza sinalagmática ou comutativa. Por isso, está ferida de uma outra inconstitucionalidade. É que o já citado art.º 104.º da CRP diz que o imposto sobre o rendimento pessoal é único. 

Estranhamente, os partidos e as forças sindicais secundarizaram ou omitiram esta situação de flagrante iniquidade. Por um lado, porque acham que lhes fica mal defender reformados ou pensionistas desde que as suas pensões (ainda que contributivas) ultrapassem o limiar da pobreza. Por outro, porque tem a ver com pessoas que já não fazem greves, não agitam os não têm organizados. 

Pela mesma lógica, quando se fala em redução da despesa pública há uma concentração da discussão sempre em torno da sustentabilidade do Estado social (como se tudo o resto fosse auto-sustentável…). Porque, afinal, os seus beneficiários são os velhos, os desempregados, os doentes, os pobres, os inválidos, os deficientes… os que não têm voz nem fazem grandiosas manifestações. E porque aqui não há embaraços ou condicionantes como há com parcerias público-privadas, escritórios de advogados, banqueiros, grupos de pressão, estivadores. É fácil ser corajoso com quem não se pode defender. 

Foi lamentável que os deputados da maioria (na qual votei) tenham deixado passar normas fiscais deste jaez mais próprias de um socialismo fiscal absoluto e produto de obsessão fundamentalista, insensibilidade, descontextualização social e estrita visão de curto prazo do ministro das Finanças. E pena é que também o ministro da Segurança Social não tenha dito uma palavra sobre tudo isto, permitindo a consagração de uma medida que prejudica seriamente uma visão estratégica para o futuro da Segurança Social. Quem vai a partir de agora acreditar na bondade de regimes complementares ou da introdução do “plafonamento”, depois de ter sido ferida de morte a confiança como sua base indissociável? Confiança que agora é violada grosseiramente por ditames fiscais aos ziguezagues sem consistência, alterando pelo abuso do poder as regras de jogo e defraudando irreversivelmente expectativas legitimamente construídas com esforço e renúncia ao consumo. 

Depois da abortada tentativa de destruir o contributivismo com o aumento da TSU em 7%, eis nova tentativa de o fazer por via desta nova avalanche fiscal. E logo agora, num tempo em que o Governo diz querer “refundar” o Estado Social, certamente pensando (?) numa cultura previdencial de partilha de riscos que complemente a protecção pública. Não há rumo, tudo é medido pela única bitola de mais e mais impostos de um Estado insaciável. 

Há ainda outro efeito colateral que não pode ser ignorado, antes deve ser prevenido: é que foram oferecidos poderosos argumentos para “legitimar” a evasão contributiva no financiamento das pensões. “Afinal, contribuir para quê?”, dirão os mais afoitos e atentos. 

Este é mais um resultado de uma política de receitas “custe o que custar” e não de uma política fiscal com pés e cabeça. Um abuso de poder sobre pessoas quase tratadas como párias e que, na sua larga maioria, já não têm qualquer possibilidade de reverter a situação. Uma vergonha imprópria de um Estado de Direito. Um grosseiro conjunto de inconstitucionalidades que pode e deve ser endereçado ao Tribunal Constitucional.

Frida


Grata, Professor ROMANO!

Artes do A 'Uwe. Uma lembrança para Marta Bellini

 
Artes do A 'Uwe
Frida Khalo

Dipromas fauços ...


QUINTA-FEIRA, 29 DE NOVEMBRO DE 2012

Diz Roberto Romano: Veja. Mais um feito da universidade privada....diplomas falsos para dar cargo a pessoas do poder. Nunca antes neste país....os campi particulares ajudaram tanto no processo de corrupção...

do Blog de Roberto Romano

Operação Porto Seguro

Com diploma falso, Rose emplacou ex na seguradora do BB

PAULO VIEIRA, EX-DIRETOR DA ANA, ENCOMENDOU CERTIFICADO ACADÊMICO FAJUTO PARA QUE JOSÉ CLAUDIO NORONHA, EX-MARIDO DE ROSEMARY NÓVOA, PUDESSE SER INDICADO A CARGO NA ALIANÇA DO BRASIL SEGUROS, REBATIZADA COMO BB SEGUROS

Ana Clara Costa e Laura Diniz
Rosemary Nóvoa de Noronha: ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo
Rosemary Nóvoa de Noronha: ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo (Estadão Conteúdo)

As trocas de favores entre a ex-chefe de gabinete da Presidência da República, Rosemary Nóvoa de Noronha, a Rose, e o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Rodrigues Vieira, foram muito além das indicações de cargos. Ela costumava usar os serviços de seus afilhados políticos para resolver problemas pessoais, como o divórcio e a pensão do atual marido e o diploma de curso superior para o ex-marido, José Cláudio Noronha, de quem ela ainda herda o sobrenome.
Leia também:
Rubens Vieira é convidado para falar no Senado
Quadrilha negociou a liberação de obra de R$ 2 bilhões
Segundo trechos obtidos por VEJA da investigação que deflagrou a Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, Rose e Vieira trocaram dezenas de e-mails em 2009 sobre o tema identificado como "diploma para o JCN" – sigla que ela usava para se referir ao ex nas mensagens. A ex-chefe de gabinete queria indicar o pai de suas duas filhas a uma vaga na Aliança do Brasil Seguros – a seguradora do Banco do Brasil, posteriormente rebatizada como BB Seguros. Noronha, que trabalha como assessor especial na Superintendência da Infraero em São Paulo, não cursou faculdade e, por proibição regimental, não poderia assumir cargo na empresa. Ciente do obstáculo, Rose não se intimidou. Procurou Vieira para conseguir um certificado falso que permitisse ao marido abocanhar a vaga de suplente no conselho de administração da Aliança, o que já lhe garantiria uma polpuda remuneração.
"Graças a Deus saiu o que eu esperava. Preciso do diploma urgente. Para adiantar, tenho que colocar no currículo a formação. Qual é o nome?”, questionou a ex-chefe de gabinete do governo petista em e-mail enviado a Paulo em 4 de maio de 2009. Segundo o inquérito, o que Rose tanto esperava era a vaga para seu ex-marido. Ela, aparentemente, demonstrava total desconhecimento do título que Claudio receberia – afinal o que lhe interessava era apenas o papel que lhe permitiria dar prosseguimento à negociação para sacramentar a indicação. No passo seguinte, coube ao ex-diretor da ANA não apenas forjar o diploma como também obter o reconhecimento oficial do Ministério da Educação (MEC).
Reprodução
Trecho de e-mail interceptado pela PF na operação "Porto Seguro"
Trecho de e-mail interceptado pela PF na operação "Porto Seguro"
Dois meses depois, após seguidas súplicas envidas via e-mail por Rose – muitas delas escritas em letras garrafais –, o diretor da ANA respondeu: "Desculpe só responder agora. É que fiquei muito gripado e o pessoal do MEC tá (sic) dando muito trabalho. Quanto ao JCN, não se preocupe. Essa questão está resolvida. Os documentos devem chegar a qualquer momento", disse Paulo Vieira, que é apontado pela PF como o chefe da quadrilha que comprava relatórios de funcionários públicos para favorecer empresas privadas.
Reprodução
Trecho de e-mail interceptado pela PF na operação "Porto Seguro"
Trecho de e-mail interceptado pela PF na operação "Porto Seguro"
A demora em receber o diploma prosseguiu por mais quatro meses – período em que Rose cobrou e questionou Vieira de forma incansável. Em novembro daquele mesmo ano, para alívio da ex-chefe de gabinete, o documento foi finalmente registrado pelo MEC. Como resultado, o ex-marido de Rose acabara de ganhar um título oficial de Bacharel em Administração de Empresas. Em setembro de 2010, a nomeação de Noronha na Aliança do Brasil foi publicada no Diário Oficial da União (DOU). Como era usual em seus e-mails, Rose agradeceu com um “Finalmente! Obrigada!”
Reprodução
Trecho de e-mail interceptado pela PF na operação "Porto Seguro"
Trecho de e-mail interceptado pela PF na operação "Porto Seguro"
Demissão – O envolvimento de Rosemary Nóvoa – demitida pela presidente Dilma Rousseff por seu envolvimento com a quadrilha que vendia pareceres fraudulentos de órgãos do governo – na indicação de José Claudio Noronha, o JCN, pode lhe custar o cargo na BB Seguros. Segundo a Agência O Globo, o BB já teria decidido por sua destituição.
A instituição financeira deve pedir a substituição do ex-marido de Rose no próximo encontro do conselho, que deve ocorrer semana que vem. Uma reunião extraordinária deve ser convocada para oficializar o afastamento.
Participação do MEC – As benesses de Paulo Vieira no MEC lhe permitiram muito mais que forjar um diploma. Citado amplamente no inquérito, o ex-consultor jurídico do MEC, Esmeraldo Malheiros Santos, é acusado pela Polícia Federal de entregar a Vieira pareceres da pasta que seriam utilizados por faculdades ameaçadas de descredenciamento.
A polícia interceptou um e-mail de dezembro de 2010, no qual Paulo Vieira afirma: "Peça para a sua amiga fazer um bom relatório e logo", referindo-se à manifestação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela avaliação das faculdades.

Vieira também obteve uma senha privativa de um funcionário do MEC para alterar números de uma de suas faculdades, a Faculdade de Ciências Humanas de Cruzeiro, no interior de São Paulo.

Pense ...


VLADIMIR SAFATLE   -   Folha de SP, 29.11.12
Enviado pelo Grozny Arruda. Grata, Grozny!
O pensar como doença

"O estado de reflexão é contra a natureza. O homem que medita é um animal depravado." Tais afirmações de Rousseau parecem servir de guia involuntário para setores hegemônicos da clínica do sofrimento psíquico.

Há anos, a filósofa francesa Joëlle Proust foi capaz de afirmar que o sofrimento psíquico não teria relações com a forma com que o paciente reflete sobre seus sintomas a partir de suas próprias convicções e motivações.

Com isso, ela apenas dava forma a um princípio que parece guiar dimensões maiores da psiquiatria contemporânea. Ou seja, tudo se passa como se não houvesse relações entre a maneira com que sofremos e a maneira com que pensamos e procuramos justificar nossas vidas a partir de valores e normas.

Essa é uma boa maneira de evitar o trabalho mais doloroso exigido pelo tratamento de modalidades de sofrimento psíquico, a saber, a crítica dos valores, normas e formas de pensar que constituem, tacitamente, nosso horizonte de uma vida bem-sucedida.A fim de evitar tal trabalho crítico, que certamente é o que há de mais difícil, parece que nos tranquilizamos com ideias como as da professora Proust. Elas acabam por servir para fortalecer a crença de que só haveria cura lá onde abandonássemos o esforço de pensar sobre nós mesmos. No fundo, talvez porque ainda estejamos presos a resquícios deste antigo paralelismo que associava, por exemplo, a melancolia ao ato de "pensar demais".

Décadas atrás, François Truffaut fez um belo filme (Fahenait 451) sobre uma sociedade no futuro onde a polícia queimava livros porque eles trariam infelicidade. Melhor seria garantir a felicidade social por meio de uma política de uso exaustivo de medicamentos.

Tal filme foi a metáfora perfeita para um fenômeno que o sociólogo Alain Ehrenberg chamou, décadas depois, de "uso cosmético" de antidepressivos e afins.

Por "uso cosmético" entendamos o uso de larga continuidade que acaba por visar conservar performances sociais bem avaliadas, evitando ao máximo a experiência com transtornos de humor. Ele é o resultado inevitável do modelo de medicação que impera atualmente. Trata-se de uma distorção daquilo que deveria ser a regra, a saber, o uso focal ligado exclusivamente a situações e momentos de crise aguda.

Tal uso focal procura apenas garantir as condições de possibilidade para que o verdadeiro tratamento ocorra. Um tratamento que poderá mostrar como, se é a reflexão que nos adoece, é ela também que nos cura.
**************************************
Comentário:
Foi bom ler esse texto logo após chegar do trabalho. É que ouvi de um ex-aluno de pós (que agora faz doutorado) uma reclamação. Fazendo uma disciplina de pós, ouviu de um palestrante ou ministrante que a educação vai mal porque há "muita matemática e português" e nada disso modifica a escola e a escolarização.
A ausência da reflexão, da profundidade e por que não dizer da ética faz um jovem professor doutor um bobo que nos ofende com tanto besteirol. Pensar mais é a única condição que nos resta.  

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Em Portugal...e lá como cá...


Pedintes, não 

blog  A TERCEIRA NOITE

PORTUGAL

 

Uma das práticas mais detestáveis, comum no Portugal que desapareceu com a queda do decrépito Estado Novo, foi a instituição do «pedido». Numa sociedade profundamente desigual e impedida pela censura de alimentar a vigilância pública, a distribuição de cargos, empregos e sinecuras raramente era feita de um modo transparente, pela via do mérito premiado ou do concurso público. O caminho mais habitual, em particular nos cargos de nomeação oficial ou na área dos serviços, era seguir-se a via hereditária, sendo rotineira a prática do nepotismo, ou então da amizade associada a relações de proximidade e de dependência. Fora desta modalidade, a distribuição de lugares era quase sempre obtida, com poucas exceções, através do «pedido» e do consequente «favor». A proteção ou a promoção eram imploradas a quem tinha capacidade para as conceder, ou para influenciar o decisor, fazendo-o em regra às custas de outros candidatos com patrocinadores menos fortes ou com manchas curriculares causadas, por exemplo, por atitudes sociais menos conformistas. Continuar a ler 

...


Jornal da Unicamp

do Blog de Roberto Romano

Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 26 de novembro de 2012 a 02 de dezembro de 2012 – ANO 2012 – Nº 547

TESE MERGULHA NO UNIVERSO DE
VICIADOS EM SEXO E AMOR

Estudo desenvolvido no IFCH por antropóloga
é constituído por três frentes etnográficas

 
O Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (Amiti), do Hospital das Clínicas de São Paulo, nasceu focado principalmente no jogo patológico – compulsão para jogos de azar que traz prejuízos emocionais, financeiros e sociais a muitas pessoas. Certo dia, um médico foi procurado pela paciente cuja compulsão era discar o número 145 da Telesp, serviço de linhas cruzadas para bate-papo entre três ou mais participantes; acabava marcando encontros com vários deles e assim seu dinheiro esvaía. “Mas qual é o jogo? Sua história não bate com jogo patológico”, indagou o médico. A resposta: “Como não? Eu jogo o jogo do amor”.
Ainda que o diálogo não esteja transcrito fielmente, ilustra o surgimento no país da especialidade voltada à adicção (ou vício) em sexo e amor. Foi no Amiti que a antropóloga Carolina Branco de Castro Ferreira realizou parte do trabalho de campo para a sua tese de doutorado, orientada pela professora Adriana Grácia Piscitelli. Intitulada “Desejos regulados: grupos de ajuda mútua, éticas afetivo-sexuais e produção de saberes”, a tese foi defendida em outubro junto ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp.

“O vício em sexo e amor é uma categoria relativamente nova, datada de meados da década de 1960, vindo a ser divulgada em diversas mídias e popularizada com mais intensidade nos últimos 20 ou 30 anos”, explica Carolina.

Segundo Carolina Ferreira, seu estudo foi constituído por três frentes etnográficas. A primeira junto a associações anônimas de autoajuda frequentadas por pessoas com compulsão sexual e amorosa. A segunda envolvendo a análise e reflexão sobre a circulação desses sujeitos e de livros e outros materiais de autoajuda, bem como da propagação e visibilidade de noções afetivo-sexuais por meio da mídia, novelas e filmes. E a terceira sobre o surgimento de categorias médicas e conceitos “patologizadores” relacionados ao amor e ao sexo.

“Na maioria dos trabalhos em ciências sociais, pensa-se o surgimento de uma categoria médica e como esta categoria influi na vida das pessoas. Eu fiz o contrário, começando o trabalho de campo pelos grupos anônimos, considerados como produtores de saberes, de uma expertise leiga”, informa a antropóloga. “Fui até o Mada – Mulheres que Amam Demais Autônomas – e percebi que as mulheres não frequentavam apenas aquele grupo, mas muitos. Isso porque elas explicam a adicção sexual e amorosa a partir, também, de um endividamento pessoal por causa do uso de medicamentos, álcool ou drogas; havia uma narrativa que conectava vários vícios.”

Ao seguir o circuito percorrido por essas pessoas, Carolina constatou que não valia a pena se ocupar de apenas um grupo, mas observar o fluxo dentro de uma rede de variados grupos. “A primeira dessas entidades no Brasil foi dos Alcoólicos Anônimos (AAA), que teve a sua metodologia adaptada para outras categorias, como de neuróticos, introvertidos e narcóticos anônimos. Eles funcionam baseados sobretudo na experiência: se digo que sou alcoólatra ou viciado em sexo, este dizer legitima a experiência e por isso posso participar do grupo. Não há mediação de especialistas, embora muitos se relacionem com médicos ou psicólogos.”

Mas, afinal, quem é o viciado em sexo e amor? “Segundo eles próprios, é aquele que não fica sem se apaixonar, sem um relacionamento”, diz a pesquisadora. “Existem vários jogos nisso. Quando surge a figura do adicto sexual, a sua cara é de homem. Dez anos depois o problema é associado à mulher, que só aparece como viciada em sexo quando o amor entra em cena. No limite, é para não perder a parceria de determinados homens que a mulher, segundo discursos de especialistas, se submete a fazer sexo na hora que não quer ou com quem não quer. Produzindo a noção de dependência emocional, de amor. Vejo esta forte marca de gênero, tanto por parte de quem frequenta os grupos, como na visão médica.”

Carolina Ferreira afirma na tese que o conjunto de informações colhidas revelou que a socialidade produzida nos grupos anônimos opera a partir de ideias e categorias específicas. “Nesta socialidade, o engajamento emocional envolve a produção de teorias nativas da doença e horizontes éticos afetivo-sexuais criados a partir de práticas pedagógicas no âmbito amoroso-sexual. Há uma espécie de bricolagem entre saberes médicos e psicológicos. Também entram noções de uma religiosidade laicizada: a crença em um poder superior,  não de um Deus como o concebido, mas de um deus transcendente, criado na imanência das relações colocadas em jogo nos grupos.”

Um exemplo de teoria nativa da doença, de acordo com a autora da pesquisa, é a ideia de uma anorexia social, sexual e emocional, que ela não encontrou no hospital ou nos livros de autoajuda. “A teoria é para um transtorno de outra ordem, não a anorexia como a conhecemos, mas de uma metáfora para tratar de determinadas tensões, principalmente nas relações sociais: a busca de parcerias afetivo-sexuais por parte das mulheres e, no caso dos homens, as relações travadas no mercado do sexo, como por clientes de prostitutas ou viciados em vídeos e revistas de pornografia. Para lidar com uma suposta falta, eles utilizam esta categoria de anorexia, que seria um transtorno físico-moral.”

Regulação dos desejos

Na tese, Carolina procurou abordar o aparecimento de determinadas categorias médicas e psicológicas que “patologizam” a sexualidade, no intuito de regular alguns comportamentos e desejos. “A adicção em sexo e amor está dentro do conceito de vício, de compulsão. Existe uma diferencial na produção e nas relações de saberes entre os grupos de autoajuda e o campo médico, principalmente diante de toda uma discussão sobre o uso de medicamentos. Embora o Amiti, no caso, priorize bastante os tratamentos terapêuticos em grupos, uma questão que merece atenção no que se refere à regulação da sexualidade é o uso de medicamentos e da relação pejorativa que pode se estabelecer entre identidades e práticas sexuais.”

Agora em 2012, lembra a antropóloga, o chamado hypersexual disorder aparece incluído na quinta revisão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, na sigla em inglês), publicação da Associação Americana de Psiquiatria que lista diferentes categorias de transtornos mentais e critérios para diagnosticá-los. “Os grupos,  produzem as próprias categoria, mas vejo um diferencial na relação de poder quando certas convenções saem do campo leigo e entram para o campo médico-científico. É uma janela de pesquisa que se abre.” 

Segundo Carolina, as categorias leigas que circulam dentro dos grupos anônimos produzem conhecimentos que acabam bastante difundidos, por exemplo, através dos livros de autoajuda. “Desde a década de 90, houve no Brasil um aumento de 270% desses títulos no mercado editorial. Essas categorias vulgatas servem um pouco como intermediários culturais, tradutores de um saber médico-científico para a linguagem mais popular, mas também acabam produzindo conhecimento.”

Outro aspecto interessante ressaltado por Carolina Ferreira é o que os participantes buscam dentro dos grupos. “Há uma busca de éticas afetivo-sexuais em que essas pessoas nem são bonecos normatizados pelo que o grupo diz, tampouco possuem livre arbítrio para fazer escolhas que não estejam reguladas por questões sociais. Os grupos abrem um horizonte de gradientes pelos quais as pessoas vão se movimentando, se aproximando ou se afastando de noções consideradas transgressoras, adquirindo competências emocionais com as quais vão jogar em outros campos sociais, como por exemplo, na busca de parcerias amorosas e de um trabalho melhor, produzindo noções de mobilidade e de ascensão social. No começo da pesquisa, imaginava que os grupos eram  frequentados por pessoas de classes alta e média, que vão ao psicanalista. Mas eu sugeriria que vem ocorrendo uma popularização cada vez maior, abrindo o leque para classes média/média e média/baixa.”

Publicação
Tese: “Desejos regulados: grupos de ajuda mútua, éticas afetivo-sexuais e produção de saberes”
Autora: Carolina Branco de Castro Ferreira
Orientadora: Adriana Grácia Piscitelli
Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)

...


Jornal da Unicamp

Do Blog de Roberto Romano

Jornal da Unicamp

Baixar versão em PDF Campinas, 26 de novembro de 2012 a 02 de dezembro de 2012 – ANO 2012 – Nº 547

FALTA SINERGIA

Estudo aponta ausência de complementariedade
entre as políticas sociais de combate à pobreza

4
 
O Brasil conta com políticas sociais de combate à pobreza bem-estruturadas, mas o país ainda não conseguiu fazer com que elas cheguem de forma integrada a todos os necessitados. A constatação faz parte da tese de doutoramento da economista Cláudia Regina Baddini Curralero, defendida recentemente no Instituto de Economia (IE) da Unicamp, sob a orientação do professor Claudio Salvadori Dedecca. De acordo com a autora do trabalho, o problema ocorre porque existe uma fragmentação no interior dessas políticas sociais, que debilita a complementariedade entre elas. “O que ocorre com frequência é que uma política não atua reforçando os resultados da outra ao longo do ciclo de vida das famílias pobres”, afirma.
Em sua tese, Cláudia Curralero promoveu uma ampla análise das políticas sociais implementadas no Brasil entre os anos de 2003 e 2010, com especial atenção ao Bolsa Família, programa de transferência direta de renda lançado na administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Considerada um sucesso pelo governo federal, a iniciativa, que completou nove anos no último dia 20 de outubro, alcança aproximadamente 50 milhões de pessoas com renda familiar per capita inferior a R$ 140,00 mensais, a um custo de 0,46% do Produto Interno Bruto (PIB).
Quando o Bolsa Família foi implementado, conforme a pesquisadora, as áreas de saúde e educação no Brasil já estavam bem-estruturadas no país, o que possibilitou que o programa atuasse de forma a reforçar o direito de acesso a esses serviços básicos. “Isso assegurou, além do alívio imediato da pobreza por meio da transferência de renda, o apoio para a superação do ciclo intergeracional de pobreza”, diz Cláudia Curralero.
Pelas normas do programa, as famílias beneficiárias assumem o compromisso de acompanhar o cartão de vacinação e o crescimento e desenvolvimento das crianças menores de 7 anos. Já as mulheres na faixa de 14 a 44 anos também se comprometem a fazer acompanhamento médico e, se gestantes ou nutrizes (lactantes), devem realizar o pré-natal e a verificação contínua da sua saúde e a do bebê.
Na área da educação, todas as crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos devem estar devidamente matriculados e com frequência escolar mensal mínima de 85% da carga horária. Os estudantes entre 16 e 17 anos devem ter frequência de, no mínimo, 75%. “São questões importantes, e que experimentaram avanços nos últimos nove anos. A despeito disso, ainda é possível identificar desigualdades dentro dessas áreas. Ao analisarmos os indicadores, constatamos que os mais pobres continuam apresentando menor nível de escolaridade e maiores dificuldades de acesso à saúde. Ou seja, ainda que sejam universais, essas políticas continuam reproduzindo desigualdades já presentes na sociedade brasileira”, sustenta.
Uma das origens do problema, no entender de Cláudia Curralero, está na fragmentação e na falta de articulação entre as políticas sociais. “Um exemplo que costumo citar é o das mães que têm à sua disposição cursos profissionalizantes. Entretanto, elas encontram muitas dificuldades para frequentar as aulas porque não contam com creches, e, portanto, não têm com quem deixar os filhos. Assim, mesmo que conseguissem concluir o curso, elas dificilmente teriam como ingressar no mercado de trabalho, pois continuariam não dispondo de creches. Ou seja, as políticas, por mais positivas que sejam, não se complementam. O resultado da soma dos esforços de cada área, dada a fragmentação e pouca articulação na implementação, é menor do que poderia ser caso fossem contabilizados os ganhos de sinergia de uma atuação mais articulada e integrada. Dessa forma, ainda que o gasto social no Brasil seja considerável, ele pode se tornar mais eficiente para o enfrentamento da pobreza”, considera a autora da tese. 
A busca por ações mais articuladas e integradas, reconhece Cláudia Curralero, não é uma tarefa trivial de ser cumprida. De acordo com ela, alguns fatores dificultam esse trabalho. Mesmo estando bem-estruturadas, as áreas de saúde e educação servem novamente como exemplo dos problemas que ainda esperam por solução. Na primeira, por exemplo, existe a dificuldade de um “diálogo” mais efetivo entre atenção básica e os níveis mais complexos de atendimento à população. No caso da segunda, os obstáculos são ainda maiores. “Na educação, o retrato é ainda mais fragmentado, pois não existe um sistema único como na saúde. O ensino fundamental, por exemplo, é de responsabilidade dos municípios. O ensino médio, por sua vez, cabe aos estados. Na realidade, temos milhares de sistemas educacionais no país, o que dificulta a coordenação e monitoramento por parte do governo federal”, diz.
Mesmo admitindo toda essa complexidade, Cláudia Curralero pensa ser possível desenhar e integrar as políticas sociais de tal forma que elas cheguem às famílias pobres. A economista destaca que cabe aos agentes públicos [nos níveis federal, estadual e municipal] buscar um diálogo nesse sentido. “Penso que isso é perfeitamente exequível, pois existem instrumentos que podem auxiliar nessa tarefa”, afirma. Uma das ferramentas a que a autora da tese se refere é o Cadastro Único. Ele permite conhecer a realidade socioeconômica das famílias de baixa renda.  Entre as informações disponíveis estão as características do domicílio, as formas de acesso a serviços públicos essenciais e dados sobre cada um dos componentes da família.
Em suma, o Cadastro Único possibilita observar as diferenças existentes entre o pobre que vive numa região metropolitana como a de São Paulo e aquele que mora na caatinga nordestina, para ficar em um único exemplo. Cada um deles, obviamente, apresenta carências específicas. “Através das informações contidas no cadastro é possível desenhar políticas públicas de acordo com as necessidades regionais. Dessa forma, além de trabalhar ações mais integradoras, que garantam o acesso a todos os necessitados, é possível articular também um plano de desenvolvimento regional. Nesse caso, os estados teriam um papel importante a cumprir, pois cada um tem uma vocação econômica própria”, pondera a autora da tese.
Questionada sobre se essas deficiências poderiam significar que os investimentos feitos pelo país em políticas sociais estariam sendo desperdiçados, Cláudia Curralero responde que o que ocorre é que os investimentos não estão surtindo o máximo de resultado possível, por causa justamente das falhas mencionadas. “Eu me lembro de um caso que chegou ao MDS, sobre uma mãe, beneficiária do Bolsa Família, que estava em depressão. Por causa da doença, a mulher não tinha condições de cuidar dos filhos menores. Assim, a filha mais velha teve que deixar de ir à escola para olhar os irmãos, por falta de creche. Ou seja, a oferta de vaga existia, mas a adolescente não tinha condições de frequentar a escola. No caso de quem tem dinheiro, esse é um problema superável. Basta pagar uma creche particular ou contratar uma babá. No caso dos pobres, não tem saída. Se a política pública não é abrangente, acentuam-se as vulnerabilidades. É por isso que as ações precisam ser mais integradas e sinérgicas”, reforça a autora da tese.
Quanto às críticas que algumas correntes fazem de que programas como o Bolsa Família são meramente assistencialistas e não promovem a autonomia dos beneficiários, a economista observa que as políticas buscam conferir essa independência, mas nem sempre conseguem. Isso se dá, segundo ela, por causa das vulnerabilidades anteriores relacionadas às próprias condições de vida, escolarização, acesso à saúde e condições de moradia, que condicionam a inserção produtiva dos mais pobres. “A pobreza, com todas as suas facetas, dificulta a inserção no mercado de trabalho. Questões como o nível de escolarização, as condições gerais de vida e até mesmo a aparência acabam pesando nas oportunidades que se colocam para os mais pobres. A transferência de renda possibilita que as famílias se mobilizem para buscar trabalho e mais acesso a outras políticas. Por isso, não são assistencialistas, pois complementam a ação das outras políticas sociais”, acrescenta.
A pesquisadora adverte, por fim, que o seu estudo não levou em consideração o Plano Brasil Sem Miséria, lançado em junho de 2011. O objetivo da iniciativa é retirar da pobreza extrema cerca de 16 milhões de pessoas que, de tão desamparadas, podem não ter conseguido se inscrever em outros programas sociais, como o Bolsa Família, e ainda tem dificuldades de acessar serviços essenciais como água, luz, educação, saúde e moradia. “Aparentemente, o Brasil Sem Miséria responde a algumas das deficiências que são discutidas na minha tese”, conclui Cláudia Curralero.

Publicação
Tese: “O enfrentamento da pobreza como desafio para as políticas sociais no Brasil: uma análise a partir do Programa Bolsa Família”
Autora: Cláudia Regina Baddini Curralero
Orientador: Claudio Salvadori Dedecca
Unidade: Instituto de Economia (IE)

Doçura...


...


...


As mães por QUINO


Sublime Sabato!


segunda-feira, 26 de novembro de 2012



 do Blog DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO

O relato de uma jornalista israelense sobre quem está morrendo em Gaza

AMIRA HASS 21 DE NOVEMBRO DE 2012 

Crianças e civis dominam a lista de palestinos mortos por Israel. Militantes são pequena minoria

Gaza, durante a Operação Pilar da Defesa



Fazendeiros a caminho do mercado para vender legumes, vendedores de água potável e pessoas que simplesmente moravam perto demais dos alvos aéreos de Israel estavam entre os 34 palestinos que se calcula que morreram nos ataques do exército israelense apenas nos primeiros dois dias da Operação Pilar de Defesa. (Este o nome dado por Israel para sua recente ofensiva em Gaza.)
Somente seis das vítimas eram comprovadamente membros de grupos militantes.
Entres os palestinos mortos em Gaza esta semana, estão os 12 integrantes das famílias Daloo e Manzear, incluídas quatro crianças pequenas. Todos foram mortos quando o piloto da Força Aérea de Israel bombardeou sua casa por engano, de acordo com fontes oficiais israelenses.
Calcula-se que entre 94 e 96 palestinos foram mortos do início da Operação Pilar da Defesa até as 6 horas da tarde de segunda-feira. Pelo menos 58 eras civis e 18  crianças.  Os números foram reunidos pelo Centro Palestino de Direitos Humanos, pelo Centro de Direitos Humanos Al-Mezan e por fontes médicas em Gaza. A confirmação imediata de todos os nomes das vítimas é complicada, e os números fornecidos por diferentes fontes nem sempre batem.
Por isso é difícil afirmar quantos palestinos foram mortos precisamente e quem exatamente eram eles. Reunir essa informação exige visitar casas que foram destruídas, bem como hospitais e áreas abertas, uma tarefa realmente difícil dadas as frequentes explosões na densamente povoada área residencial de Gaza.
Fontes palestinas confirmam que Israel tem advertido os habitantes de Gaza quando algum ataque está prestes a ser feito a uma casa, dando aos civis a chance de escapar. À uma hora da madrugada desta terça-feira, Israel disparou três pequenos foguetes de advertência para uma casa de cinco pisos antes de destruí-la com ataque aéreo. Vários residentes disseram que também receberam avisos de Israel pelo celular. Muitos moradores do prédio e das redondezas saíram da área a tempo de escapar das explosões, mas 15 pessoas, incluindo quatro crianças, ficaram feridas. Cerca de 18 prédios na região foram fortemente afetados.
Observadores disseram que quando essas bombas causam tantos estragos, é porque os explosivos estavam escondidos na área. A informação não foi nem confirmada e nem desmentida.
Mas os avisos de Israel de um ataque iminente nem sempre dão aos moradores  tempo suficiente para escapar. Às duas horas da madrugada de segunda-feira, o exército israelense soltou foguetes de advertência para uma casa vazia nas vizinhanças de um bairro chamado Zeitun. O prédio explodiu um minuto depois. Os integrantes da família Abu Zur não conseguiram escapar dos efeitos colaterais da bomba. Foram pegos dentro de sua própria casa. Um garoto de cinco anos foi morto, junto com dois homens e uma mulher. Ao todo, 28 membros da família foram feridos no ataque e 20 casas atingidas.
Fora os mais de 100 palestinos mortos  desde que a Operação Pilar começou, outros 700 foram feridos, incluídas aí pelo menos 215 crianças. Calcula-se que 585 prédios tenham sido alcançados pelas bombas, e 46 deles completamente destruídos, de acordo com o Centro de Direitos Humanos Al-Mezan.
Quatro fazendeiros de Gaza estão entre os palestinos mortos em dois diferentes ataques israelenses na manhã de terça-feira. Pouco antes das 6 da manhã, Rahman Attar, de 51 anos, foi morto a caminho de um mercado. Cerca de 90 minutos depois, um caminhão cheio de tomates foi atingido por um míssil. O motorista Tamer Bashir, 31 anos, e os dois passageiros, um de 41 e outro de 51, também morreram.
Uma mulher de Gaza contou que para comprar comida no mercado ela teve que enganar as suas filhas, que tinham ouvido as informações sobre as mortes dos fazendeiros e não queriam que sua mãe corresse perigo.  Na tarde de domingo, Israel disparou dois mísseis contra um veículo distribuindo água potável numa região de Gaza, matando o motorista e seu filho de 10 anos.
Aproximadamente 95% da água de Gaza não é adequada para ser bebida, o que força os residentes a comprar água potável ou receber da prefeitura. Outro garoto de 10 anos foi morto com seu pai no final de domingo quando eles estavam tentando consertar um cano no teto de sua casa. Fragmentos de mísseis ou bombas frequentemente causam estragos nos canos de água, e os moradores arriscam a vida ao ir ao telhado para tentar consertá-los.
Às 22 horas de domingo, Jalal Nasser, de 42 anos, e seu filho Hussein, foram mortos por um míssil de Israel. Mais tarde naquela noite um homem de 31 anos, cujos parentes o descrevem como mentalmente retardado, foi morto num ataque aéreo quando estava em frente à sua casa.
O artigo acima foi publicado originalmente no jornal israelense Haaretz.

https://mail.google.com/mail/images/cleardot.gif

POSTED IN » Mundo

About the author: Amira HassView all posts by Amira Hass

A jornalista Amira Hass é correspondente no Território Ocupado do jornal israelense Haaretz. Nascida em Jerusalém em 1956, Hass entrou no Haaretz em 1989 e exerce o seu cargo desde 1993. Como correspondente do território, ela passou três anos vivendo em Gaza, que serviram de base para o seu aclamado livro "Bebendo o Mar de Gaza". Ela vive desde 1997 na Cisjordânia.



Do Sponholz


Notícias de Portugal...


Recolhido por aí

do Blog de Joana Lopes, Portugal



«Na verdade, os portugueses também já "ajustaram" os governantes. "Miúdos", "garotos", como o povo manifestante bem intui, percebendo a sua inexperiência da "vida", saídos da pior escola, carreiristas e espertos, obcecados pela "imagem" mediática, conhecedores de mil e um truques, tão vingativos como ignorantes, deslumbrados pelo seu poder actual, subservientes face a todos os poderosos, e que incorporaram um profetismo grandioso sobre "refundar" o país, que rapidamente se torna numa luta pela própria sobrevivência política, custe o que custar. O resto é expendable, no inglês técnico de que gostam.»  
José Pacheco PereiraPúblico de ontem (sem link)

«É legítimo - e aconselhável - apresentar um projecto de revisão constitucional ou iniciar uma discussão sobre quais devem ser as tarefas e funções do Estado. O projecto será aprovado ou não, a discussão será mais ou menos profícua.
O que não pode ser feito é alterar a Constituição duma maneira clandestina secando financeiramente serviços, prestações ou o que seja que o texto prescreva.
Não é que eu pense que o Governo quer fazer isso. Acho que, coitado, a única coisa que sabe fazer é cortes cegos e seguir as ordens de Gaspar e dos loucos da troika, mas que pode ser a consequência dos seus actos, lá isso pode.» 

 «Aa verdade é que o Conselho Europeu, com todo o seu aparato exótico de reuniões de "confessionário", revela bem que a Europa está completamente sem rumo e sem escala. Vivemos uma crise sistémica da Europa. Temos desafios internos e externos gigantescos. A União Económica e Monetária é hoje uma camisa de forças, que esmaga a periferia, e não ficará por aí. (...) Quinhentos milhões de europeus aguardam quem os defenda. Mas esperamos em vão. Somos governados pela pior forma de mediocridade: a cegueira voluntária.»

Viver...

Do QUINO

Para pessoas que conheci hoje de manhã e que me foram muito gentis. Sopro de vida. Viver.

Homo ludens

Lembrei-me do grande livro de  Johan Huizinga: HOMO LUDENS.
Em pdf aqui:
[PDF] 

Homo Ludens

jnsilva.ludicum.org/Huizinga_HomoLudens.pdf
Formato do ficheiro: PDF/Adobe Acrobat
que, depois de Homo faber e talvez ao mesmo nível de Homo sapiens, a expressão Homo ludens merece um lugar em nossa nomenclatura. Seria mais ou ..

Midnight Cowboy

Midnight Cowboy, John Schlesinger,1969, EEUU, Dustin Hoffman, John Voight, Sylvia Miles
A Mariana Festucci em seu facebook relembra o filme Midnight cowboy. Ou perdidos na noite.
Lembrei-me em Porto Ferreira, SP, com 15 anos, assistindo essa pérola que marcou minha vida. O toque é a solidariedade humana em um mundo subterrâneo, sombrio. Super comovente. 

Veja o belo comentário abaixo.
do blog: http://oqueassistirhojeanoite.blogspot.com.br/2012/08/perdidos-na-noite.html

Esqueça tudo o que você já viu sobre filmes de cowboy. Esqueça o herói durão, que nunca chora e desperta suspiros nas mulheres. Esqueça a violência como gloriosa e a lei da força. Este filme é diferente! Você não vai esquecê-lo tão facilmente.

Midnight cowboyCom a histórica performance de Dustin Hoffman e do um pouco menos conhecido Jon Voight, o que temos aqui é um jovem texano muito, muito, ingênuo, chamado Joe. Tamanha é a ingenuidade que sai de sua terra natal, inspirado num herói cowboy da TV, indo para Nova Iorque ganhar dinheiro "fazendo as mulheres suspirarem". Ele vai para se prostituir.

Mal chega na cidade perde todo seu dinheiro com pessoas que se aproveitam da ingenuidade, e acaba precisando fazer um programa com um rapaz para poder comer, mas o cliente não o paga e ele o espanca.
Na Nova Iorque ele conhece um golpista deficiente por quem é novamente passado para trás. Mas acabam se tornando amigos e indo viver num prédio abandonado. É das dificuldades e pequenos crimes que cometem que o nosso protagonista vai descobrindo a real e triste face da vida. Na sequência temos cenas curiosas e inesperadas, que acaba mostrando o lado frágil e os temores de Joe. Temos então um novo rumo na história, trágico, que é o agravamento de uma doença de Ratso (o golpista).

Vemos ser criada uma forte amizade ao longo da trama, e, pessoalmente, acho que uma paixão também, embora nada explícito, o expectador que deve ter suas conclusões.

É brilhante e originalíssimo o filme. Sombrio e comovente na dose correta, revelando o lado triste e suburbano de Nova York, ao mesmo tempo que despe a alma dos protagonistas humanamente imperfeitos. Não é a toa que foi tão bem aclamado pela crítica especializada e vem figurado em listas dos melhores filmes de sempre.