ROBERTO ROMANO:
Como digo desde longa data, não existiu ditadura militar. O que se deu foi uma ditadura civil e militar, sendo que os militares, não raro, serviram de "mão de gato"para ardilosos civis. Em minha Aula Magistral para a Unicamp, sobre Democracia e Razão de Estado, insisto em tal ponto.
Endereço da aula que dei na Unicamp, sobre o assunto : http://cameraweb.ccuec.unicamp.br/video/76B3RH83KYNO/
Comissão da Verdade vai apurar ida de civis ao Dops
Deputados estaduais querem investigar relação entre visitas de representantes da Fiesp e do Consulado dos EUA a centro de repressão
17 de fevereiro de
2013 | 16h 20
Roldão Arruda, de O
Estado de S. Paulo
A Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva
quer investigar as possíveis relações entre os serviços de repressão e a
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) no período da ditadura
militar. O anúncio oficial da investigação deve ocorrer nesta segunda-feira, 18,
durante uma audiência pública programada para as 14 horas, no Auditório Paulo
Kobayashi, na Assembleia Legislativa.

Arquivo/AE
A decisão da comissão foi tomada dias atrás,
após o Arquivo Público do Estado tornar público o conteúdo de uma série de
livros com o registro de pessoas que entravam e saíam da ala de delegados e
diretores do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Aqueles
documentos revelam que um dos visitantes mais assíduos era Geraldo Resende de
Mattos, identificado pelos funcionários que faziam as anotações nos chamados
livros de portaria como representante da Fiesp.
De acordo com levantamento feito pelo Estado
publicado ontem, em sua fase mais ativa no Dops, entre 1971 e 1976, Mattos
realizou mais de 200 visitas à sede da instituição, no Largo General Osório, no
bairro da Luz. Seu nome aparece em todos os seis livros divulgados no site do
Arquivo Público, que cobrem o período entre março de 1971 e janeiro de
1979.
O Dops de São Paulo era um dos principais
centros de investigação e repressão de dissidentes políticos no regime militar.
Era o palco de operações do delegado Sérgio Paranhos Fleury Filho, apontado por
pesquisadores daquele período como o agente público que levou para a área de
repressão políticas métodos que eram empregados contra criminosos comuns.
Embora ampla, a cobertura dos livros de
portaria que foram tornados públicos é precária, com lacunas. Quem consultá-los
(estão disponíveis na internet) vai constatar, entre outras falhas, que não há
informações sobre 1977.
Negativa. Procurada pela reportagem, a Fiesp
informou que Mattos nunca fez parte do seu quadro de funcionários. Em nota
pública, a entidade de representação do empresariado industrial paulista também
enfatizou que sua atuação tem se pautado "pela defesa da democracia e do Estado
de Direito, e pelo desenvolvimento do Brasil". Ainda segundo a nota, "eventos do
passado que contrariem esses princípios (democráticos) podem e devem ser
apurados".
A Comissão Estadual, segundo seu presidente,
Adriano Diogo (PT), também vai investigar as relações entre o Consulado dos EUA
em São Paulo e o Dops. "Queremos saber por qual razão o senhor Claris Halliwell,
que aparece identificado nos livros como cônsul americano, ia tanto ao Dops",
diz o deputado.
Pelo levantamento divulgado pelo Estado,
Halliwell frequentou o Dops durante mais de três anos. Em 1971, a média de suas
visitas chegou a duas por mês - o que era incomum para representantes
diplomáticos. O presidente da comissão, que pediu a ajuda de um colaborador nos
Estados Unidos para investigar o passado de Halliwell, não descarta a hipótese
de que ele tenha assessorado os serviços de repressão.
"Queremos esclarecer os fatos, tendo em vista
que a CIA, o serviço secreto americano, assessorou regimes autoritários na
América Latina", diz ele.
O Consulado dos EUA informou não ter registro
de antigos funcionários e, por isso, não poderia confirmar a presença de
Halliwell em São Paulo, o cargo que ocupava nem o motivo de suas idas ao Dops. A
assessoria de comunicação observou que quase todos os representantes
diplomáticos costumam se apresentar como cônsul.
Segundo um parente próximo de Geraldo Resende
de Mattos, que pediu para não ser identificado, ele era ligado ao Serviço Social
da Indústria (Sesi) e havia se especializado na análise de informações do
movimento sindical.
A audiência de hoje é a primeira de uma série
que a Comissão Estadual deve realizar no mês.
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