Por que, filho, te perturbas a ponto de retardar os passos? Em que te incomoda o murmurar desta gente? Dante Alighieri
Do coração e outros corações

quinta-feira, 6 de junho de 2013
quarta-feira, 5 de junho de 2013
Nuno Crato, na Veja, Braziu e em Portugal...
O Exército Brasileiro publicou a entrevista da Veja: http://goo.gl/xnmq7
Contra a demagogia na escola
03 Jun 2013
Entrevista
Nuno Crato
Um dos grandes divulgadores da ciência, o ministro da
Educação de Portugal diz que uma turma entusiasta do politicamente correto está
deixando de lado o conteúdo e o mérito
O matemático Nuno Crato, 61 anos, notabilizou-se por
divulgar e traduzir para o cotidiano os grandes teoremas e equações — trabalho
que o fez merecedor do cobiçado European Science Award, em 2008. Há dois anos
como ministro da Educação e da Ciência em Portugal, ele comanda hoje uma
radical reforma no ensino que se baseia em metas, avaliações e mérito. Mesmo
antes, Crato já era figura conhecida e muito discutida por seus colegas da
educação. É do ministro o livro O "Eduquês" em Discurso Direto: uma Crítica da Pedagogia Romântica e
Construtivista — em que disseminou o termo "eduquês” para se referir à
linguagem empolada e vazia adotada por uma ala de educadores. Lisboeta que
adora o Brasil, Crato falou a VEJA em uma de suas visitas ao país.
0 senhor provocou debate acirrado entre educadores do
mundo todo ao afirmar que a escola moderna é vítima do “eduquês”. Por que o
assunto causou tanto barulho? (Começa pela pergunta: escola moderna? Queremos escolas mais medievais do que as nossas? São modernas no sentido benjaminiano, ou seja, um lugar onde a palavra é cassada (do professor e do aluno), onde o sistema fabril moderno, capitalista foi implantado: cada aluno com sua carteira, um professor para todos, um livro para todos). A pergunta do entrevistador já revela a resposta.).
Minha crítica bate de frente com uma linha muito
celebrada nas escolas de hoje. É uma corrente que dá ênfase excessiva às
atitudes e à formação cívica do aluno e deixa em segundo plano o conhecimento
propriamente dito. (a escola não está dando ênfase nas atitudes cívicas? éticas? que bom. Mas, estará mesmo?) Pergunto: como investir em formação cívica se o estudante
não consegue nem ler o jornal ? ( Não consegue ler o jornal? Imaginemo-nos lendo o jornal em Portugal dizendo que a aposentadoria tem que ser banida; que não há desemprego quando o país morre em emprego, sem salários... De que jornal fala o Ministro?) Vejo vários educadores (quais, senhor Ministro? É também científico dizer quem são os educadores aos quais o senhor detrata) por aí se perdendo em
uma linguagem hermética, dúbia e demagógica (queremos coisa mais dúbia, hermética e difusa do que essa entrevista?) — que é o mais puro “eduquês"
— para falar sobre seus objetivos difusos para a sala de aula. Essa turma não
só resgata como radicaliza teorias do passado (teorias do passado? O que dizer da filosofia de Aristóteles? e ele que é da matemática ousaria dizer que a geometria de Euclides evaporou-se da Terra?) para combater práticas na
educação que já tiveram sua eficiência amplamente atestada pela ciência (qual ciência?). Alguns
me acusam de ser insensível ao dizer tais coisas, mas sou um entusiasta do
saber científico e desprezá-lo, a meu ver, só prejudica o ensino. (não, o Ministro não é insensível; é um detrator da escola, dos professores, um amigo da escola empresa, é um anti-cientista, vai citando as coisas difusamente).
Quais boas práticas exatamente essa ala de educadores
rejeita? ( Ala? qual ala?)
Muitos batem na tecla de que prova faz mal. Acham que ela submete o aluno a um alto grau de
stress, sem necessidade. Vão aí na contramão do que afirmam os grandes
pesquisadores. Eles já sabem que, ao ser questionada e posta a refletir sobre
um conteúdo (conhecimento, senhor ministro!), a criança consegue absorvê-lo (absorver? Eita, célebo que absorve como o papel a água! Um ministro empirista ingênuo. O cérebro é um recipiente passivo que absorve...) melhor, avançando no conhecimento.
Também a disciplina é um ponto em que a condescendência e a leitura enviesada
de velhas teorias ofuscam a razão. Esse grupo de educadores (qual?) admite que o aluno
pode ser no máximo incentivado a respeitar a ordem na sala de aula (ordem? que ordem?), mas nunca,
sob nenhuma hipótese, ele deve ser forçado a fazer isso. Nesse caso, não é
preciso de muita ciência para saber que o resultado final será muita bagunça e
pouco aprendizado.
No Brasil, mais da metade das escolas se define como construtivista.
Isso é bom ou ruim? (metade? metade do quantas escolas?Nossa, quantas escolas!ah! a ala à qual se refere o entrevistador é a ala do construtivismo! Huum)
Antes de tudo, é bom esclarecer que, embora muita gente
não saiba, o construtivismo de hoje é uma interpretação livre da teoria sobre o
aprendizado lançada pelo psicólogo Jean Piaget há um século. Para mim, sua
vertente mais radical é um equívoco pedagógico completo. Ela se baseia na ideia
de que o professor não passa de um mero "facilitador" do aprendizado — esse um termo muito em voga na linha
politicamente correta. Soa bonito, mas é prejudicial ao ensino por derrubar pilares
fundamentais.
(Uau! como o ministro resume Piaget! Soa bonito também, mas é um monte de bobagem. Psicólogo Piaget. Epistemólogo, senhor Ministro! Professor, mero facilitador. Por que facilitador está entre aspas? facilita o quê? Como definiria facilitador? Aquele que faz o aluno absorver mais rápido?)
Quais são esses pilares?
Um mestre tem o dever de transmitir (empirismo do Ministro avança) a seus alunos os
conteúdos nos quais se graduou (se a graduação garantisse bons conhecimentos...) E, sim, precisa ter objetivos bem claros e
definidos sobre o que vai ensinar. É ingênuo achar que o estudante vai
descobrir tudo por si mesmo e ao seu ritmo, quando julgar interessante (onde ele leu isso em Piaget?). Quem de
bom-senso tem dúvida de que, se a criança puder esperar a hora que bem lhe
apetecer para mergulhar num assunto, talvez isso nunca aconteça?
A neurociência vem mapeando os caminhos que a informação
percorre no cérebro de uma criança até ser assimilada. As escolas já começaram
a fazer uso desse conhecimento? (ah, está aí: um pulo para o futuro! do empirismo ingênuo para a neurociência, eita entrevistador!).
Infelizmente, a grande maioria passa ao largo dessas
descobertas. E isso as mantém congeladas no tempo, aferradas a pensamentos anacrônicos.
A neurociência descobriu que é possível acelerar, e muito, o aprendizado de uma
criança à base de incentivos permanentes.
Isso tromba de frente com os principais postulados de
Piaget (em que tromba, senhor Ministro?). Ele acreditava que o processo de retenção (RETENÇÃO???? EMPIRISTA! EMPIRISTA...) de conhecimentos se dava por
etapas muito bem definidas, divididas segundo as faixas etárias (FAIXAS? ETÁRIAS? NOSSA QUE METÁFORAS!).
Muitas escolas ainda se fiam nisso e perdem grandes
oportunidades de fazer seus alunos dispararem. Outro problema comum é a
demonização da decoreba (vejam o que diz o ministro: DECOREBA! ESCOLHE O TERMO PEJORATIVO PARA DAR AR DE CIÊNCIA!) por essas correntes que se autoproclamam modernas. A
memorização não é descartável como querem fazer parecer.
Em que medida a memorização pode ser útil? (O entrevistador entende que decoreba é memorização; nenhum dos dois fala em memória, termo diferente de memorização, de decoreba)
Embora o construtivismo ingênuo pregue que a memorização
prejudica a compreensão, os cientistas afirmam o contrário — que ela é
essencial ao aprendizado. Isso porque tem o papel de automatizar (automatizar, metáfora máquina para o aluno autômato) certos
raciocínios (quais? é preciso dizer quando se é cientista!), ajudando justamente a fazer pensar melhor sobre questões mais
relevantes e complexas (quais?). Numa operação básica de soma ou de subtração, por
exemplo, a criança não precisa a cada nova conta parar para refletir sobre por
que passa o número 1 para cá ou para lá (passa o 1? Senhor ministro, tenha dó: não se passa 1, é uma dezena. esse é um erro crasso ou crato).. Seria um desperdício de energia
valiosa, que pode ser bem despendida nos desafios que verdadeiramente
interessam. (Quais são esses desafios, ministro? A quem interessam?)
Afinal, o que deve ser memorizado por uma criança? (ai, esses entrevistadores!)
É importante decorar a tabuada (até a do dez ou até a mil? medieval pensamento), o nome e a localização de
certos rios e cidades e as datas mais importantes no curso da história (meu bisavô fez isso), ainda
que elas não sejam precisas. Não há como o estudante não saber, no mínimo, que
a Independência do Brasil aconteceu no século XIX ou que Aristóteles viveu
antes de César (e o processo da Independência? Pensar que não houve exatamente independência?). Se ele se recusa a ter esses marcos básicos na cabeça acha que pode sempre associar os fatos para
chegar a uma resposta, está perdido. A experiência deixa claro que uma pessoa
passa a fazer conexões cognitivas (conexões? quais?) de muito mais qualidade (de que tipo de qualidade?) e valor quando já
detém um bom repertório de conhecimentos elementares. Não é preciso
relacioná-los com o universo todo o tempo inteiro.Do que fala o ministro?
Um pensamento muito em voga nas escolas modernas é o de
que a criança só aprende de verdade aquilo de que ela realmente gosta. 0 senhor
concorda? (de que lugar esse entrevistador tirou isso? My god!)
Esse é um pensamento limitado. Veja o caso da leitura.
Muitos educadores acham que para ler bem a criança precisa, antes de qualquer
coisa, ser despertada para o gosto pela literatura (podemos sim, levar a criança a admirar a literatura, é só ler, senhor Ministro o livro do psicanalista Bruno Betehheim e Karen Zelan, Psicanálise da Alfabetização). Só assim ela lerá muito e
ganhará fluência, dizem. A neurociência lança uma luz interessante sobre essa
questão, colocando-a exatamente ao avesso. Ela mostra que ter fluência na
decodificação dos grafemas é crucial para ler bem (de que neurociência fala o ministro?). Em resumo: tem de se ler
muito, mesmo sem gostar. O treino precisa ser permanente, exaustivo. Quanto
mais automática se tomar a leitura, mais chances ela terá de ser prazerosa.
0 senhor se notabilizou pela divulgação da matemática, a
mais temida e odiada de todas as disciplinas escolares. Que caminhos sugere
para tomá-la mais atraente?
A fórmula que eu defendo não tem nada de mirabolante. A
maior pane dos estudantes repudia a matemática porque não consegue ultrapassar
os obstáculos (quais?) que ela vai colocando pelo caminho. Eles não entendem bem os
conceitos, mas, ainda assim, o professor faz com que avancem na matéria. Assim,
deficiências elementares acabam ficando para trás. É uma bola de neve. Numa
disciplina como história, mesmo sem ter assimilado toda a narrativa sobre a
colonização no Brasil, o aluno pode se embrenhar pelo capítulo da Revolução
Industrial na Inglaterra.
Mas na matemática não é possível progredir sobre uma base
frágil e cheia de lacunas. Nessa área, o conhecimento é cumulativo — um depende
do outro. Sem dominar a aritmética, não dá para passar à trigonometria. Se isso
acontecer, e acontece muito, o estudo vai se tomar improdutivo e frustrante.
0 que falta então para um bom ensino da matemática?
Organização do conteúdo por parte dos professores e muito
treino do lado dos alunos (organização de quais conteúdos? Treino?). O ensino deve ser progressivo, sem pular etapas e
sempre reforçando o mais básico. Se for preciso, que se volte ao início. As
sociedades hoje frequentemente não valorizam o conhecimento rigoroso, aquele
que exige método, empenho e exercício para ser bem sedimentado. Acham que as
crianças vão acabar aprendendo matemática por osmose. Mas elas não aprendem. As
avaliações costumam ser impiedosas ao escancarar as deficiências. Na maioria
das disciplinas, o aluno pode chegar à resposta certa por aproximação, mas na
matemática é diferente. Não canso de repetir que também os pais têm um papel
importante aí. No lugar de enfatizar a
aversão aos números (fala de números sem localizar essa dimensão como uma área da matemática complexa e sem muita compreensão dos professores) , eles devem, isto sim, reforçar a ideia de que a matemática
é essencial para o crescimento de qualquer pessoa em qualquer área (assim diziam os iluministas, mas entendiam do que falavam). Também
podem falar aos filhos sobre a importância do esforço e do treino mental (treino mental!).
Enfim, devem ajudar a consolidar em casa o valor e o
hábito do estudo.
Currículos muito detalhados costumam suscitar
resistências por parte de educadores que se dizem tolhidos em sua liberdade de
ensinar. 0 senhor concorda?
Sempre aparece uma turma
para empunhar a bandeira da liberdade do aluno, dizendo que ele deve
aprender sem as amarras de um currículo.(ah, é claro, a liberdade faz mal aos conservadores! liberdade de pensamento muda os hábitos!)
Esse pessoal sustenta ainda que os currículos são um
limitador da aula porque podam as asas do professor. Felizmente, em Portugal,
são uma minoria. É verdade que, as
vezes, o diálogo fica duro com os sindicatos. Reconheço seu papel de brigar por
melhorias para sua própria classe, mas nem sempre eles têm colocado as questões
fundamentais e inadiáveis do ensino à frente das outras que pouco interessam à
sociedade.
Que resultados a implantação da política de reconhecer e
premiar as melhores escolas tem alcançado em seu país?
As boas escolas recebem mão de obra extra de qualidade
para que ajudem a consolidar o ensino de alto nível. Essas escolas conseguem
assim dar reforço a alunos com mais dificuldade e apoiar os que estão prontos para evoluir em um patamar mais
avançado. Sim, os alunos são diferentes entre si e por isso mesmo devem ser
tratados de forma diferenciada. A utopia do igualitarismo, essa que muitos na
educação defendem, só seria possível num único e não desejável cenário — aquele
em que todos são medíocres. Esse é ainda um tabu. Dizer que uma criança
precisa de um apoio especial não significa que ela será excluída. Num outro
espectro, os ótimos alunos também não devem ser escondidos, mas, sim,
radicalmente incentivados a seguirem frente. É um fundamento básico da
meritocracia, de eficiência provada no setor privado.
Que princípios empresariais uma escola poderia adotar? (enfim, o entrevistador mostrou-se: a escola deve ser uma empresa!)
Toda escola pública deveria poder escolher quem contrata
e quem demite, com base no mérito. É o que planejo para os próximos anos em
Portugal. Visto como um todo, o modelo de gestão da educação do século XXI
ainda faz lembrar muito o velho sistema soviético, em que um comitê central
concentra todas as decisões. As escolas públicas precisam de mais autonomia
para atrair os melhores cérebros e avançar mais rapidamente. (faltou falar dos salários).
A falta de dinheiro é sempre citada como um fator que
impede a melhoria do ensino. 0 senhor concorda?
Acho que nossos desafios dependem menos de dinheiro (está aqui! uma empresa que gasta pouco e deve render muito) e
mais de objetivos claros, ambiciosos e de organização. Para avançarmos, precisamos
formar mais e mais engenheiros, médicos
e cientistas. As crianças devem ser despertadas desde cedo para o interesse por
essas áreas. Não será à base do velho e empolado "eduquês" que
conseguiremos dar o grande salto.
Portugal ocupa apenas o 27° lugar entre os 65 países do
ranking mundial de ensino da OCDE Qual é a estratégia para melhorar?
As escolas portuguesas
sempre se basearam em recomendações pedagógicas mais gerais e amplas do
que propriamente em objetivos claros e organizados. Estou mexendo justamente
ai, ao sistematizar metas de aprendizado ano a ano, matéria a matéria, no
detalhe. Ter metas para a sala de aula é crucial para orientar não só os
professores como também os próprios pais. Sim, porque, bem informados sobre os
objetivos da escola, eles podem ir lá cobrar se um determinado conteúdo foi mal dado ou ficou para trás.
FIM
Pátria das chuteiras...
Enviada pelo amigo virtual, Grozny Arruda
Grata!
De
volta ao Brasil Grande?
por Jacques Gruman
É
lamentááável ! (bordão do grande humorista, poeta e chanchadeiro Zé Trindade)
Em julho de 2004, visitei Santiago. Fiz questão de conhecer o Palácio de La
Moneda, céu e inferno da experiência socialista de Salvador Allende. Fazia um
frio polar, desses de congelar pinguim de geladeira. No portão, uma guarda
solene recebia os visitantes e fazia uma revista discreta. Afinal de contas,
ali era o local de trabalho do presidente da República. Educadamente, o
sentinela encapotado falou-me alguma coisa que não entendi. De imediato, e por
conta e obra de fantasmas inapagáveis, levantei os braços. Aí aconteceu o
inusitado. O soldado disse-me, visivelmente constrangido, que aquilo não era
necessário, que a situação lhe trazia “lembranças ruins”. Percebi a mancada a
tempo de manifestar-lhe solidariedade. Éramos irmãos atemporais de memórias
sofridas.
Quando Allende assumiu a presidência do Chile, em 1970, a barra andava pesada
na Ilha do Fundão, onde eu cursava engenharia química. Soldados invadiam a
ilha, fazendo arrastões e prendendo a rodo. As engrenagens do terror de Estado
surfavam no apoio da classe média, do Milagre Econômico (arquitetado pelo
“neoprogressista” Delfim Netto, oráculo sinistro da caserna). Naquele ano, o
Brasil ganhou a Copa do Mundo de futebol com uma seleção brilhante e uma
campanha publicitária recheada de clichês patrioteiros. Os 90 milhões em ação
do Miguel Gustavo serviram de trilha sonora para a repressão, a censura e a tortura.
Presos políticos da época contam que os torturadores interrompiam o suplício
para acompanhar as partidas. Patriotadas oficiais escondiam o Brasil real, que
sangrava e estava amordaçado.
O guarda chileno e suas lembranças tristes surgiram das brumas quando vi a
inacreditável campanha que o governo federal acaba de lançar para promover a
Copa de 2014 (http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2013/05/27/campanha-publicitaria-para-a-copa-2014-traz-brasil-como-a-patria-de-chuteiras).
É duro ter aguentado os “ame-o ou deixe-o”, “integrar para não entregar” e
“esse é um país que vai p’ra frente” e vê-los ressuscitados numa retórica
ufanista e debiloide. Reafirmando o mito surrado de que somos o país “da
alegria”, a propaganda passeia pelo patriotismo tacanho e garante que somos
“200 milhões de brasileiros que jogam juntos, acreditam até o último instante e
transformam tudo em paixão”. Usaram recursos públicos para produzir este lixo
de aroma verde-oliva, que não resiste a três neurônios de análise. Chamem o Zé
Trindade !!
Os sábios de Brasília dizem que “o Brasil não vai fazer só uma Copa do Mundo,
vai fazer a melhor Copa de todos os tempos”. De onde tiraram isso ? O que vimos
até agora foi a construção de um colar de elefantes brancos e corrupção a céu
aberto. O estádio Mané Garrincha, em Brasília, teve a capacidade aumentada para
mais de 70 mil lugares, o equivalente a quase 3% de toda a população
brasiliense. As obras do Maracanã, que já havia sido reformado para o Pan de
2007, custaram 50% a mais do que foi orçado no início. Quem vai investigar ?
Quem se beneficia disso ? Après moi, le deluge. A cobertura do estádio da Fonte
Nova, em Salvador, não resistiu a uma chuva mais forte.
O grand finale da peça publicitária é o retorno à pátria de chuteiras. Criada
pelo Nélson Rodrigues em plena ditadura, no estilo reacionário-elegante típico
do grande escritor, a expressão serviu para desenhar uma perigosa cartada: a de
que é desejável que os brasileiros esqueçam suas diferenças e se unam em torno
da seleção nacional. Nada mais conveniente para o general Médici com o radinho
de pilha. Nada mais adequado para qualquer governo em ano de eleição. Nada mais
estúpido e antiesportivo do que o fanatismo por trás de sagradas chuteiras.
Nada mais patético do que as vítimas do arbítrio repetirem mantras dos algozes.
O ufanismo serve a vários senhores. A galvãobuenização do país nutre a apatia,
mediocrizando temas e análises. A megalomania fixa no imaginário popular uma
falsa ideia de potência e cria alvos fantasiosos (“somos melhores e maiores do
que os outros”, que, por consequência, devem se curvar a nós). A lobotomia
propagandística esteriliza a capacidade crítica e torna o povo refém de
interesses não revelados. Quem tem a ousadia de papaguear que somos “200
milhões de brasileiros que jogam juntos” perdeu o rumo e o prumo. Será que
empreiteiros brasileiros jogam no mesmo time dos operários que
construíram/reformaram os estádios e jamais poderão frequentá-los (os ingressos
terão preços inacessíveis à grande maioria) ? Será que os pais e alunos da
Escola Municipal Friedenreich, ameaçada de demolição para facilitar o
escoamento de torcedores no Maracanã, vestem a mesma camisa dos que querem
destruí-la ? Será que o Brasil chegou, meio sem querer e assobiando, à
sociedade sem classes ?
Ainda sobre a pátria de chuteiras, cabe um derradeiro comentário. O futebol,
hoje, não tem nada a ver com aquele que se jogava na época de Nélson Rodrigues.
Virou, como registrei na semana passada, um negócio. A seleção rodrigueana
tinha cacoete local, todos os jogadores atuavam em times brasileiros. A torcida
tinha contato permanente com eles. Assistia aos treinos, via-os aos domingos. O
que se vê hoje é uma legião multinacional, reunida circunstancialmente, para a
qual a noção de pátria passa batida. Capital não tem fronteira, tem interesses.
Longe de ser fenômeno caboclo, virou regra. A bobagem que o governo federal
divulga nas televisões ignora essas mudanças e nos faz retroceder a oba-obas de
triste memória.
Gostaria que isso não passasse de um pesadelo. Amanhã acordaria e, aliviado,
constataria que tudo não passara de imaginação. Bem ao estilo de um maravilhoso
samba de breque do imortal Moreira da Silva, Acertei no milhar (http://letras.mus.br/moreira-da-silva/393251/).
O malandro sonha que ganhou no jogo do bicho, faz planos delirantes e, no
final, descobre que tinha sonhado. Temo, entretanto, que vem por aí uma
avalanche eufórico-nacionalista, com uma parceria amigável entre governos e
imprensa (para isso a PIG será muito útil aos projetos oficialistas ...).
Afinal de contas, dona Dilma pagou o mico de balançar a caxirola e não vai
perder uma oportunidade dessas.
Especulação ruralista...
O
Governo Dilma, o agronegócio e os Povos Indígenas
Fonte da notícia: Cimi - Conselho Indigenista Missionário
O
Governo Federal dá mostras cada vez mais evidentes que não entende e que não
está disposto a entender os povos indígenas brasileiros. As medidas anunciadas
pelo governo com o intuito de superar os conflitos em torno das questões
indígenas no Brasil parte do pressuposto equivocado segundo o qual os povos
indígenas estariam causando os conflitos e agindo sob o comando de organizações
não indígenas, de modo especial o Cimi. Além de preconceituosa e racista, uma
vez que considera os povos seres inferiores e incapazes de decisões próprias, o
pressuposto é sociologicamente falho. Julgamos que algumas informações acerca
da realidade que envolve a temática são importantes e suficientes para
entendermos a situação. Vejamos.
O
governo Dilma aprofundou o processo de retração de demarcações das terras
indígenas. É o governo que menos demarca terras indígenas desde a ditadura
militar. O governo também tomou medidas administrativas lesivas aos direitos
dos povos, tais como a Portaria 419/11, a Portaria 303/12 e o Decreto 7957/13.
A presidente Dilma ainda não recebeu os povos indígenas para qualquer conversa
ao longo destes mais de dois anos de mandato. No entanto, somente no mês de
maio, a presidenta reservou tempo em sua agenda para ao menos cinco encontros
com representantes dos ruralistas, inimigos históricos dos povos indígenas.
Somente em maio, Dilma esteve, oficialmente, duas vezes reunida com a senadora
Kátia Abreu (PSD/TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Os povos indígenas sabem que a CNA representa o ruralismo anti-indígena,
responsável pelo ataque à legislação ambiental, que resultou na aprovação do
novo Código Florestal em 2012, e pelo atual ataque aos seus direitos no
Congresso Nacional.
A
bancada ruralista ataca os direitos dos povos por meio de diferentes
instrumentos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Há mais de uma
centena de proposições legislativas contrárias aos direitos dos povos em
tramitação nas duas casas do Congresso. Dentre elas destacam-se as Propostas de
Emendas Constitucionais 215/2000, 038/1999 e 237/2013. Os povos indígenas sabem
que os ruralistas querem fazer com a PEC 215/2000, hoje, o mesmo que fizeram
com o Código Florestal em 2012. Flexibilizar os direitos dos povos e ter nas
próprias mãos o poder para não demarcar as terras indígenas no país.
Os
povos indígenas, acampados em beiras de estradas ou confinados em reservas
diminutas, tem demonstrado uma resistência e uma paciência históricas diante
das violências do agronegócio e da parcimônia do Governo Federal. No entanto,
certamente não estão dispostos a continuar sobrevivendo em condições
sub-humanas, morrendo vítimas de desassistência, de assassinatos, de suicídios
e de atropelamentos, exilados de suas terras até o fim de sua existência
enquanto pessoas e povos.
Demarcações
paralisadas pelo Governo Federal e ruralistas no ataque para impedir novas
demarcações, rever as demarcações já realizadas e explorar as terras
demarcadas. É isso que os povos indígenas enxergam na conjuntura político
indigenista do Brasil. É contra este ataque sincronizado do Governo Federal e
do agronegócio que os povos reagem na perspectiva de que seus direitos sejam
preservados e efetivados. Uma reação, portanto, em legítima defesa de suas
existências enquanto indivíduos e povos.
Será
tão difícil para Dilma e seu governo entender isso? Sem falar com os povos e
falando a todo o momento com o agronegócio, Dilma e seu governo continuarão sem
entender os 305 povos indígenas existentes em nosso país.
Assim,
partindo de um pressuposto equivocado, o governo adota e anuncia medidas
equivocadas para tentar resolver os conflitos por ele criados.
Protelar
reintegrações de posse não irá resolver o conflito. Os povos já foram expulsos
pelos fazendeiros de suas terras e nem por isso deixaram de lutar pelo retorno
às mesmas. Não será a expulsão pelas forças do Estado, com dois ou três dias de
protelação, que mudará a relação dos povos com suas terras tradicionais.
Mudar
o processo de demarcação das terras indígenas não irá resolver o conflito. Essa
medida irá aprofundar ainda mais a retração nas demarcações, uma das causas
centrais destes conflitos. Os povos indígenas sabem que a protelação das
demarcações é parte da estratégia dos ruralistas, que querem “ganhar tempo”
enquanto eles atuam para ter o poder acerca das não demarcações das terras, que
se daria com a aprovação da PEC 215/2000.
Por
fim, amordaçar o Cimi não irá resolver o conflito. Primeiro porque os povos são
autônomos, cientes e senhores de suas decisões e do que é necessário para
defender seus direitos. Segundo porque o Cimi não deixará de denunciar os
ataques desferidos pelo governo e pelos ruralistas contra os povos indígenas no
Brasil. O Cimi faz isso desde 1972 quando foi criado, em plena ditadura
militar, e o fará até o último suspiro de sua existência. O compromisso do Cimi
é com a vida dos povos indígenas.
Para
resolver efetivamente os conflitos que envolvem o tema, o Cimi entende que o
governo deve organizar uma força tarefa para, dentre outras medidas urgentes e
estruturantes: a) destravar os processos de demarcação, tanto no campo
administrativo, quanto no campo judicial; b) ouvir os povos indígenas; c)
revogar os próprios instrumentos de ataque aos povos, tais como, as portarias
419/2011 e 303/2012 e o Decreto 7957/2013; d) mobilizar sua ampla base de apoio
no Congresso a fim de que se evite os retrocessos almejados pelos ruralistas
quanto aos direitos dos povos.
Brasília,
DF, 03 de junho de 2013.
Conselho
Indigenista Missionário – Cimi
...
A respeito do jeito brasileiro dos bônus, Jairo disse:
Excelente, professora Marta.
Gostei muito de ler este texto. Sou professor de escola pública do estado de
São Paulo, e concordo plenamente com as colocações sobre o bônus. Eu costumo
dizer aos colegas que a ideia da meritocracia em si não é ruim, mas da forma
como é empregada aqui em São Paulo ela se tornou muito injusta. E olha que não
estou pensando em mim, pois recebi quase R$ 7.ooo,oo de bônus este ano, simplesmente
porque quase não faltei o ano passado, e os estudantes da minha escola foram
bem na prova do Saresp. Eu falo pelos outros colegas meus, muito competentes no
que fazem, mas que não receberam quase nada, porque os alunos da escola em que
dão aulas, por sinal uma escola muito boa que já atingiu índices elevados, não
conseguiu este ano subir estes índices. Não consigo ver critérios mais injustos
do que estes. Exemplo. Os colegas de uma escola que teve o índice elevado de 3
para 4, receberam prêmios altos. Os outros, de uma boa escola que mencionei, e
que não conseguiram elevar o índice de 7 para 8, convenhamos, uma tarefa mais
difícil, não receberam quase nada.
Já estamos percebendo na minha escola que talvez no próximo ano não consigamos
atingir a meta estabelecida pelo governo, pois nosso índice já está
relativamente alto. Não se trata, no entanto, no caso de São Paulo, de se criar
estímulos para que maus profissionais não resistam à tentação de dar uma nota
boa nas provas dos alunos para forjar uma situação artificial, e ganhar mais
dinheiro com isso, como sugere uma das charges acima, pois a avaliação é feita
pela prova do SARESP, mas achei que o texto foi direto ao ponto, sobre a
necessidade de melhorar as formas de avaliação do desempenho dos professores.
Do jeito que está não dá.
***********************
Jairo:
Grata pelo retorno. Você deixou mais claro o que ocorre com os bônus para as escolas. Chega-se em um ponto que atrás de um bônus, terá que vir mais bônus. Os problemas dos professores que trabalham no nível fundamental e médio são (eu já trabalhei como professora do ensino fundamental e médio em SP):
1 - carga horária elevadíssima. Quem ministra 40 horas e consegue pensar, fazer suas aulas, ter autonomia diante dos famigerados livros didáticos? Aliás, os livros didáticos, a indústria dos livros didáticos vem a calhar para essa maneira de ter escolas e professores. Tenho dito (seguindo os estudos de Tarso Mazzotti) que os livros didáticos tornam-se a partitura do professor (ver Comenius). Como em uma fábrica, os livros didáticos atuam como as máquinas de dar aulas.
Teríamos que ter no máximo 20 horas aula por semana.
2 - os baixos salários.
MANIFESTO
GRUPO
LEPEL/FACED/UFBA
Linha de Estudo e Pesquisa em Educação Física e Esporte e
Lazer
Faculdade de Educação - UFBA
MANIFESTAÇÃO DO GRUPO LEPEL/FACED/UFBA SOBRE A
QUESTÃO DA REFORMA AGRARIA E DA DEMARCAÇÃO E RESPEITO AOS TERRITÓRIOS INDIGENAS
NO BRASIL POR OCASIÃO DA
III SEMANA SOBRE O MEIO AMBIENTE DA UFBA
Considerando
o violento ataque sofrido pela classe trabalhadora frente a investida
destruidora do capital no Brasil;
Considerando
as violências e assassinatos ocorridos contra os povos do campo, das florestas
e das águas, no Brasil;
Considerando
que as investidas contra os povos indígenas, os quilombolas, os ribeirinhos, os
extrativistas e seus territórios, se acentuam com os avanços dos empreendimentos
de mineração, hidroelétricas, rodovias, ferrovias, dos monocultivos do
agronegócio e o emprego dos agrotóxicos;
Considerando
os retrocessos na legislação como é o caso do código florestal já
aprovado, o código da mineração em discussão noparlamento, que não
protegem osterritórios tradicionalmente ocupados;
Considerando
o desmonte da proteção dos territórios dos povos indígenas evidente nas
propostas de emendas constitucionais, portarias, decretos;
Nos
MANIFESTAMOS:
1) Repudiando o tratamento brutal e desumano dado
aos camponeses, povos indígenas, quilombolas e pescadores deste país.
2) Reivindicando que devem ser demarcados e
respeitados os Territórios tradicionalmente ocupados(camponeses, indígenas,
quilombolas e pesqueiros).
3) Exigindo que o Estado Brasileiro, governos e
governantes, cessem de negligenciar sobre a questão da reforma agrária e da
demarcação de terras dos povos indígenas, atendam as reivindicações dos povos
indígenas e cessem com a barbárie contra os povos do campo, das florestas e das
águas.
GRUPO LEPEL/FACED/UFBA
Brasil: somos todos indesejáveis!
Dentista morre depois de ter sido queimado por assaltantes.
Dona de casa leva tiro no rosto no caixa eletrônico.
Trabalhador de escola em São Paulo é morto quando voltava para a escola depois de ter tirado R$3 mil reais de banco (detalhe: para pagar pedreiros e conta de material de construção para ampliação de sua casa).
Demarcação de terras indígenas é tirada da FUNAI (para favorecer ruralistas).
Maracanã ficou moderno (com bilhões de reais para as empreiteiras).
SUS não funciona; não há vagas para doentes no Brasil inteiro.
Governos dão Bônus aos professores...
etc etc...
e a oposição ainda discute o preço do tomate.
Cito Cioran:
O REAL ME DÁ ASMA.
(Silogismos da amargura, Rocco, 2011, referência do facebook de Mariana Festucci).
segunda-feira, 3 de junho de 2013
Na Má-ringa, a comilança
Enquanto se fala em eficiência, em terceirização, em diminuição dos gastos públicos, as tetas,
as mamas dos governos ardem de tantos dentes...
Políticos derrotados na região viram CCs de Pupin
do Blog do Angelo Rigon
Começou oficialmente a campanha do capo Ricardo Barros (PP), o homem que mete medo no governador Beto Richa (PSDB), para as eleições de 2014. Ele aposta em Dias Toffoli, que há quase um ano segura o processo da Tenda dos Milagres, e na ineficiência do Ministério Público em Maringá. Os últimos exonerados de cargos comissionados feitas pelo fantoche de plantão estão sendo substituídos por cabos eleitorais (políticos derrotados nas ultimas eleições) de cidades da região, agora com salários pagos pelo IPTU do contribuinte maringaense. É de Iguaraçu o mais recente nomeado.
E o Braziu...
As gestões (merecem aspas, mas me recuso a usá-las) dos diferentes governos atacam com bônus, na velha conhecida rota do é dando que se recebe. Dando bônus e não aumento de salários, quer se privilegiar o indivíduo acima do sistema, do coletivo. Aqui entramos em um terreno difícil que é o debate coletivo versus indivíduo. Todavia, para os governos nem é essa discussão (de cunho filosófico, sociológico, psicológico) que que está em cena. Ao dar bônus vai ao estímulo das mercadorias, nem é do sujeito. Qual a mercadoria/sujeito que trabalhará mais, será mais eficiente, renderá mais? No RJ a polícia ganha bônus e o governo diz que isso melhorou sua eficiência. Que eficiência? Mais prisões, mais vigilância. Até quando? Quando tiver mais bônus.
A falácia é tão evidente que, na matéria abaixo, a Falconi, uma consultoria de resultados que presta serviço a órgãos públicos, diz que "a estratégia é premiar toda a equipe envolvida em um projeto e não individualizar o cumprimento das metas". O bônus aos indivíduos continua, mas o elogio é ao coletivo.
Isso ocorre na saúde. Médico com bônus é melhor médico? Como? Atendendo mais pacientes? Onde?
O SUS como mostra a matéria foi completamente terceirizado. A política pública de saúde é privada. FHC inveja o PT. Começou e o PT ex-terminou.
Enfim, joga-se com o indivíduo, com as supostas liberdades dos indivíduos, mas dentro de um Estado corrupto, inepto por um lado e pelo outro com uma concepção de sujeito descolado do mundo social, mas colado na ideia de mercadoria. Quem compra esse indivíduo só pode dar os bônus. Salários, aposentadoria integral são coisas ineficientes. Para os bonistas.
Do Blog de Roberto Romano
Gazeta do Povo, os donos do Estado e suas idéias de jerico para "melhorar"o rendimento dos funcionários.

Engessado, Brasil busca eficiência
Governos adotam táticas empresariais, como pagamento de bônus por metas atingidas. Mas operar “máquina enferrujada” é o maior obstáculo do serviço público
Publicado em 02/06/2013 | Rosana Félix
Na tentativa de melhorar os serviços de saúde, educação e segurança, muitos governantes têm adotado estratégias tipicamente empresariais. Mas os resultados obtidos ainda levantam dúvidas quanto à eficácia delas no sistema público. O pagamento de bônus a servidores públicos, a avaliação de desempenho com base no cumprimento de metas e a terceirização de serviços básicos são defendidas como medidas úteis do ponto de vista da gestão, mas a falta de mecanismos de controle dessas medidas pode deixar o cidadão ainda mais desprotegido.
Meio ambiente

A conservação do meio ambiente, outro direito difuso do brasileiro, também está passando por uma onda de “mercantilização”. O novo Código Florestal, promulgado há um ano, prevê a negociação de títulos de preservação, as Cotas de Reserva Ambiental (CRA). Quem conservar mais vegetação nativa do que o necessário pode vender o excedente, permitindo que outros produtores rurais compensem o déficit de reserva legal.
Para especialistas, a principal desconfiança é quanto aos indicadores selecionados e à forma de análise. “Em qualquer parte do mundo, mecanismos de reconhecimento e premiação por produtividade são interessantes. O que coloco em dúvida são os critérios e o poder discricionário do gestor público para premiar algum servidor, por exemplo”, avalia Sir Carvalho, consultor na área de gestão estratégica. Para ele, o país precisa ter uma instituição de alta credibilidade para verificar essas questões. “De preferência, que atue junto com um conselho de notáveis da sociedade.”
Para o filósofo Roberto Romano, professor de Ética na Universidade de Campinas, a máquina pública brasileira é muito grande e desorganizada, impossibilitando uma avaliação justa. “Se um médico atende em uma unidade de periferia, onde não há instrumentos, como vai atender mais ou melhor? Se você está num escritório, pode até despachar os processos mais rapidamente, cumprindo metas, mas qual a validade disso? Não é o indivíduo, mas a máquina que está enguiçada”, avalia.
Argumento semelhante apresentam os sindicalistas. “O bônus indica que a falha ou demora seria um problema individual, do servidor. Mas como avaliar o desempenho de um único profissional que atua em uma grande estrutura?”, questiona Marlei Fernandes, uma das coordenadoras do Fórum das Entidades Sindicais do Paraná.
Objetividade
A Falconi, consultoria de resultados que presta serviço a órgãos públicos, sustenta que é possível fazer uma medição objetiva das metas e da produtividade dos servidores. “Em algumas áreas há indicadores bem formatados para verificar os principais resultados entregues à população, como educação e segurança”, explica Alvaro Guzella de Freitas, sócio-consultor da empresa.
Segundo ele, a estratégia é premiar toda a equipe envolvida em um projeto e não individualizar o cumprimento das metas. Além disso, é fundamental selecionar indicadores compatíveis com a realidade e não estipular metas universais. “É preciso respeitar as particularidades e selecionar metas compatíveis com o potencial de cada escola, por exemplo.”
Saúde
SUS é o exemplo mais notório de parceria público-privada
SUS é o exemplo mais notório de parceria público-privada

O Brasil se orgulha de ter um dos poucos sistemas públicos de saúde, mas, na verdade, o SUS é uma das áreas com maior número de terceirizações e parcerias entre o poder público e o privado. Para fugir da burocracia do serviço público (leia-se licitações e realização de concurso), muitos estados, entre eles o Paraná, têm permitido a criação de organizações sociais (OS) para gerir hospitais. Além disso, o poder público repassa dinheiro do SUS a hospitais filantrópicos e beneficentes, mas estes têm direção e gestão independentes.
No Paraná, esses hospitais aderiram ao programa HospSUS, pelo qual é feito o repasse de dinheiro público – 50% de forma fixa e 50% de acordo com o cumprimento de metas. Entre elas estão taxa de cesáreas, taxa de mortalidade, dias de permanência do paciente etc.
“Estudos sobre OSs, que são mais antigas, já mostram que não há boa resolução dos problemas. A preocupação é com quantidade, para atender as metas de produtividade. E há uma grande taxa de rotatividade, não há vínculo, os trabalhadores ficam desmotivados com a falta de carreira”, diz a pesquisadora Maria de Fátima Siliansky, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Drogas
O atendimento ao dependente químico também é terceirizado. Desde 2010, o governo tem lançado editais para contratar comunidades terapêuticas, com repasse de até R$ 1,5 mil para acolhimento mensal por pessoa. O governo de São Paulo criou um cartão com crédito de R$ 1,3 mil para a família do dependente usar em clínicas do tipo, que geralmente têm perfil religioso e não contam com estrutura médica de plantão. Para o antropólogo Maurício Fiore, que tem várias críticas a esta forma de tratamento, o Estado precisa garantir atendimento laico em unidades públicas, garantindo o acesso universal a dependentes.
Educação
Gratificação extra a professores é realidade em quatro estados
Gratificação extra a professores é realidade em quatro estados

O pagamento de bônus a professores também está se disseminando. Além de São Paulo, Minas Gerais e Ceará, que já adotam a prática há alguns anos, o Rio de Janeiro anunciou que passará a pagar a gratificação neste ano. Para Maria Carolina Nogueira Dias, pesquisadora da Fundação Itaú Social, não é possível discutir o bônus como um fato isolado. “Há algo anterior, que é a responsabilização pelo ensino. Tem de olhar o sistema de apoio técnico que os professores têm ao longo do ano. Não é uma discussão sobre pagar ou não, ou jogar o problema só no professor. São avaliadas competências, mas com uma política estruturada por trás e dados consistentes de avaliação”, explica.
A gestão compartilhada, tal como ocorre na saúde, é pouco usada na educação brasileira. Em Pernambuco, vigorou por alguns anos o modelo charter, em que uma empresa ou fundação divide as decisões com o governo. Apesar dos bons resultados obtidos, o sistema foi suspenso. “A escola charter não é solução para a escola pública, mas é preciso ver como esse modelo pode contribuir para a escola pública”, acrescenta Maria Carolina.
No ensino público superior não há avaliação ou bônus, mas a iniciativa privada têm muitas oportunidades de atuação. O Programa Universidade para Todos (ProUni), por exemplo, é uma forma de “mercantilização” do ensino superior, diz Roberto Leher, professor titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Ao conceder isenções tributárias milionárias ao setor empresarial da educação, o governo Lula inovou nesse apoio, inclusive se comparado à ditadura militar. A efetividade do programa, contudo, é baixa, visto que grande parte das vagas anunciadas em dispendiosas peças publicitárias não é ocupada”, declara. Ele critica ainda a falta de controle e a necessidade de direcionar o dinheiro perdido com isenção tributária para as universidades públicas.
Segurança pública
São Paulo cria bônus para policial que reduzir a criminalidade
São Paulo cria bônus para policial que reduzir a criminalidade

Na semana passada, o governo de São Paulo divulgou que pagará um bônus semestral de até R$ 10 mil a policiais que conseguirem reduzir as taxas de criminalidade em suas áreas. O anúncio feito no estado mais rico e populoso reacendeu a discussão sobre o tema. Minas Gerais já adota essa estratégia há alguns anos, mas o número de crimes continua variando, com altos e baixos. O mesmo ocorre em Pernambuco. A Bahia implantou a remuneração variável em março, e ainda não há avaliações.
Para o sociólogo Pedro Bodê, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná, esse tipo de proposta não resolve em nada o problema da criminalidade. “A adoção de metas pode produzir subnotificação de crimes ou notificação excessiva. O que se tem de pensar é em condições permanentes de trabalho para policiais”, analisa.
Para Alvaro Guzella de Freitas, da Falconi Consultoria, há meios de evitar manipulação nas notificações. “O roubo de veículos, geralmente, está associado à notificação do seguro, então não há como haver subnotificação.” Ele pondera, entretanto, que a adoção de indicadores nacionais, como os de educação, facilitam o controle e verificação.
do Blog de Roberto Romano
Diderot, a ciência para a democracia.
Roberto Romano - Conhecimento para todos - YouTube
www.youtube.com/watch?v=NrUINdJYhsU
29/04/2013 - Vídeo enviado por Fronteiras do Pensamento
Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp ...
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