Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Na Universidade Estadual de Maringá


 
 
CARTA ABERTA À POPULAÇÃO (Protocolo 10279/13-PRO)

 

A PRIMEIRA DO PARANÁ SEM AUTONOMIA E SEM PROJETO POLÍTICO-ADMINISTRATIVO PARA UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA!

Na noite do dia 05 de setembro de 2013, quinta-feira, por volta das 23h, um grupo de aproximadamente 25 alunos de diversos cursos da Universidade Estadual de Maringá (UEM) estava reunido pacificamente no Centro Acadêmico Florestan Fernandes, para discutir acerca de impasses criados em relação às políticas culturais e de segurança na Universidade.

Nesse momento, os estudantes perceberam nos arredores uma concentração incomum de vigilantes patrimoniais da instituição. Intimidados e constrangidos, os estudantes, por medida de segurança - levando em conta os recentes casos de truculência por parte de vários vigilantes -, decidiram se deslocar até as imediações do Bloco 6, sede do Diretório Central dos Estudantes (DCE), e lá continuar a reunião e discussão sobre os aspectos políticos inerentes à universidade. Meia hora depois, aproximadamente às 23h30, os vigilantes, apoiados pela presença do diretor da Diretoria de Serviços e Manutenção (DSM) e o chefe da Vigilância, abordaram os alunos de forma intimidadora e exigiram a retirada dos mesmos, alegando existir uma decisão da administração central da Universidade que não permite a circulação de estudantes ou de qualquer pessoa no campus universitário após as 23h30. No momento, estavam presentes dois estudantes do curso de Direito que questionaram em qual regimento e/ou regulamento da Universidade consta tal determinação. A única resposta foi a intimidação verbal.

Sem resposta a esta e outras perguntas feitas pelos estudantes, o grupo de vigilantes — cerca de 30 (trinta) supostos servidores — se afastou por poucos momentos, para, em seguida, retornar encurralando os jovens e os constrangendo ainda mais, até chegar ao extremo de alguns agirem de forma desmedida, agressiva e brutal, com pontapés, socos, empurrões e ameaças, em um covarde ato de violência claramente premeditada. Um completo e inconsequente abuso de autoridade.

Resultados dessa truculência: 03 (três) estudantes foram violentamente agredidos. Um deles teve seu nariz quebrado e outras lesões por ter sido empurrado contra a grade e espancado por pelo menos três vigilantes. Outra estudante tentou socorrê-lo para evitar maiores danos físicos e foi agredida covardemente pelos vigilantes; e ainda, outra estudante, já fora do campus e em busca de socorro, foi atingida por uma pedra lançada de dentro da Universidade pelos vigilantes agressores, resultando em fratura no crânio e oito pontos na testa. Vale ressaltar que muitos outros estudantes, indefesos, foram agredidos e sofreram algum tipo de lesão - física, moral, intelectual, emocional. Enfim, lesão a sua dignidade enquanto ser humano.

Já era madrugada quando os pais de um dos estudantes chegaram revoltados ao Hospital Universitário (HU), para acompanhar o estado de saúde do seu filho e das outras vítimas. Após ver o filho com o rosto e o corpo lesionado, a mãe expressou sua indignação com choro, dizendo que seu filho é defensor de justiça e não gosta de coisa errada, e que esperava que a UEM, como Universidade, garantisse segurança e proteção ao seu filho. Vê-lo com o nariz quebrado pelos vigilantes da própria Universidade era a última coisa que esperava.

Como se não bastasse tamanha barbaridade numa Instituição Pública de Ensino Superior — dita a “melhor do Paraná” —, vários estudantes, que são militantes políticos em defesa da autonomia e da dignidade da comunidade universitária, foram ameaçados de morte e continuam sendo perseguidos por esses vigilantes, que, contraditoriamente, também fazem parte desta mesma comunidade.

Os fatos narrados, ou seja, a agressão, a violência e a ameaça de morte - injustificáveis e desumanos - contra dezenas de estudantes, estão registrados na 9ª Subdivisão Policial de Maringá/PR, por meio dos Boletins de Ocorrência (BO) sob os números 2013/863124 e 2013/862886.

A nota oficial divulgada na imprensa pela Reitoria da Universidade sobre o incidente, afirmando que “os servidores da UEM conversaram pacificamente com os estudantes” e que “segundo informações internas, em nenhum momento a vigilância cometeu excessos”, é de extrema má-fé, de omissão e conivência, para dizer o mínimo.

Por isso, perguntamo-nos: quem, e por qual instrumento jurídico, autorizou tamanha violência praticada desnecessariamente pelos próprios vigilantes dentro do campus de uma Universidade Pública? Qual a responsabilidade política e administrativa, talvez até criminal, da Reitoria em relação aos fatos desleais ocorridos recentemente no campus? Quem determinou a proibição da circulação de membros da comunidade universitária e externa dentro do campus após as 23h30? Qual a razão de supostos vigilantes estarem sem uniforme e sem identificação em horário de expediente? Por que a equipe de vigilância patrimonial desviou a sua função de vigiar e zelar pelo patrimônio da Universidade, que se baseia em todo o corpo humano que a compõe e lhe dá vida orgânica, e perseguir estudantes que estavam legitimamente fazendo uso do espaço público e do direito de reunião para discussões políticas? Isto, então, significa a instalação de um estado de sítio, com características fascistas, dentro do campus universitário? Será que existe um grupo político reacionário que usa os braços de vigilantes truculentos sem controle dos seus instintos mais baixos e animalescos? Se sim, com qual objetivo? Certamente para coibir qualquer ato ou ação política que coloque em risco a “ordem e controle” do sistema que beneficia um grupo específico e corporativista da UEM.

Para além do direito de ir e vir, o direito de reunião e associação livre é constitucional. A UEM, portanto, ao instalar equivocada e arbitrariamente um “toque de recolhimento”, está adotando uma postura pior do que da direita conservadora e reacionária pertencente à classe dominante deste país. Mas por quê?

O fato é que temos, há muito tempo, na UEM, um modelo de política administrativa pautado na incompetência, no obscurantismo e nos “vícios” do clientelismo. E é exatamente este tipo que gerou e continua gerando esse e tantos outros casos de confusão e contradição, chegando, hoje, ao ápice de uma concreta crise política e administrativa.

Podemos refletir que este e outros casos semelhantes, que historicamente ocorrem na UEM, revelam a ausência de um Projeto de Universidade Pública em que o ensino-pesquisa-extensão, enquanto processo de formação humana, seja realmente o foco. Ao invés disso, temos um plano de manutenção do poder baseado na política neoliberal que atende aos interesses de apenas um determinado grupo, que desconhece e/ou ignora a essência e função social de um ambiente universitário. No caso dos estudantes, especificamente, pela ausência do direito ao campus, de uma política cultural, de assistência, permanência e acessibilidade à Universidade, cria-se uma lógica irracional de criminalização de todo e qualquer tipo de manifestação política-artística-didática-cultural realizada por estudantes e outros membros da comunidade universitária. Não é, pois, reprimindo-os que encontraremos uma saída inteligente, mas abrindo uma discussão ampla e responsável com toda a comunidade sobre o rumo que a UEM deve tomar, sem repressão, sem autoritarismo e sem violência – tanto física e moral quanto política.

Em aspectos gerais, sabemos que atualmente no Brasil existe um processo de militarização para reforçar e exigir a “ordem” no país, no sentido de proteger ainda mais o conservadorismo por meio das forças e ações retrógradas do Estado. Também sabemos que 44% de todo o orçamento da União é usado para pagar e beneficiar banqueiros nacionais e internacionais, enquanto o mínimo é aplicado em educação, transporte e saúde. Esses e outros elementos, em parte, nos ajudam a entender as constantes pressões políticas que a UEM — e outras instituições do ensino público — recebe dos governos municipal, estadual e federal, deixando-a mais vulnerável às extremas precarizações, como as relatadas acima.

Diante dos trágicos e injustificáveis fatos de repressão e violência, da política obscurantista adotada pela administração da Universidade e do amplo contexto neoliberal que se utiliza de meios irracionais e fascistas para sua manutenção, EXIGIMOS:

  1. Imediato afastamento dos vigilantes agressores, assim como daquele(s) que autorizou(aram) e coordenou(aram) tal ato brutal de violência, para que a integridade dos estudantes e de toda a comunidade universitária seja mantida e preservada. E, consequentemente, a exoneração destes por meio de sindicância e/ou processo administrativo;
  2. Total, irrestrito, gratuito e digno suporte médico e psicológico a todas as vítimas até a sua completa recuperação, bem como o ressarcimento financeiro pelos custos que estas já tiveram e ainda terão com remédios e outras necessidades;
  3.  Imediata retratação pública por parte da administração da Universidade, como respeito às vitimas e à comunidade universitária;
  4. Imediata liberação e publicação da lista completa dos servidores da vigilância que estavam trabalhando no período noturno do dia 05/09/2013 e madrugada do dia 06/09/2013;
  5. Imediata discussão e instalação, a partir de uma comissão formada por sorteio, de um regimento/estatuto que condene concretamente atos de agressão, opressão, repressão e violência praticados no campus da UEM (sede e extensão);
  6. Imediata convocação de uma Assembleia Universitária, com foco nos aspectos de autonomia e democratização da Universidade.

ABAIXO A IRRACIONALIDADE E REPRESSÃO! Lutamos por um Autêntico Projeto de Universidade Pública, que valorize o ser humano enquanto essência do processo de transformação social, e que tenha vistas ao ensino autônomo e responsável nos âmbitos político, cultural, de acessibilidade, permanência, pesquisa e extensão.

 

Cordialmente,

 

DCE – Diretório Central dos Estudantes - UEM.

SESDUEM – Sindicato dos Docentes da UEM.

MEK – Movimento em defesa da Educação para Além do Capital.

Drogados pelo Ódio

DROGADOS PELO ÓDIO

 MOÇÃO DE REPÚDIO AO ATENTADO CONTRA A VIDA DOS ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

 Marta Bellini
Docente da UEM
 

 O ATENTADO À VIDA DOS ESTUDANTES OCORRIDO NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ NO DIA 5 DE SETEMBRO DE 2013 MOSTRA COMO A DOUTRINA DA MILÍCIA, TÃO CARA AOS DITADORES E À DITADURA, AINDA VIVE NA CIDADE DE MARINGÁ E AINDA SOBREVIVE NA UNIVERSIDADE PÚBLICA. 

 AO LERMOS AS CENAS DO VÍDEO FILMADO PELOS ALUNOS(AS)FICA CLARO: FOI UMA AÇÃO PREMEDITADA DO GRUPO DE 20 VIGIAS E DO DIRETOR DO DSM. O DIRETOR DO DSM ESTAVA DE PLANTÃO NO DIA 5 DE SETEMBRO ÀS 23H? QUAL O TURNO DELE? E QUAIS OS TURNOS DOS OUTROS VIGIAS? POR QUE O DIRETOR DO DSM OLHA O RELÓGIO E DIZ: DEZ MINUTOS SE PASSARAM E LOGO EM SEGUIDA O VIGIA C. AGRIDE UM ESTUDANTE? ESTAVAM COMBINADOS PARA A SURRA?

 QUEM É O DIRETOR DO DSM? TEM FUNÇÃO GRATIFICADA PARA LEVAR VIGIAS EM GRUPO E ATENTAR CONTRA A VIDA DOS ESTUDANTES? POR QUE ESTAVAM TODOS OS 20 VIGIAS NO MESMO LOCAL E MESMO HORÁRIO? ELES NÃO TÊM SETORES ESPECÍFICOS? ELES NÃO TÊM QUE TRABALHAR PARA ZELAR O PATRIMÔNIO MATERIAL DA UNIVERSIDADE?

 QUEM TREINA OS VIGIAS? ESSES PROBLEMAS NÃO SÃO OCORRERAM AGORA; FAZ TEMPO QUE O CAMPUS PASSA PELAS MÃOS DO ÓDIO. POR QUE AS SUCESSIVAS ADMINISTRAÇÕES NÃO ZELAM POR SEUS ALUNOS E ALUNAS? PODEMOS MANDAR NOSSOS FILHOS PARA A UEM SEM QUE RECEBAMOS UM CORPO MORTO DE VOLTA? EU TENHO UMA FILHA FORMADA NA UEM E VEJO O RISCO QUE ELA CORREU OS 5 ANOS EM QUE ESTUDOU AQUI.

 A JUSTIFICATIVA DOS VIGIAS É O USO DE DROGAS. ESTÁ BEM. E SE OS ESTUDANTES ESTIVESSEM COM DROGAS? ELES MATARIAM OS ALUNOS E ALUNAS POR ISSO? NÃO HÁ LEI NESSA UNIVERSIDADE? NESSE BRASIL? A IMPRENSA MARROM AJUDA OS VIGIAS. QUER IBOPE NA FALIDA MASSA DA TV. CHEGAMOS AO RIDÍCULO DE OUVIR OU LER QUE ESTUDANTES FAZEM ORGIA. MORALISMO MASSIFICADO.

 VI ÓDIO NOS VIGIAS. UM ATAQUE PRÓPRIO DAQUELES QUE ODEIAM A REBELDIA, A BELEZA DOS JOVENS. VI INVEJA, RESSENTIMENTO. VI UMA HORDA SEM LEI, VI DROGADOS DE ÓDIO.

 A ADMINSITRAÇÃO DA UNIVERSIDADE TEM QUE ZELAR POR SEUS ALUNOS. SÃO PATRIMÔNIO CULTURAL. NÃO PODEM SER OS FUTUROS AMARILDOS DE MARINGÁ. SERÁ UMA VERGONHA PARA A UEM SE HOUVER UM DESAPARECIMENTO, UM SEQUESTRO, UMA MORTE ESTRANHA AQUI.
 

 Professora Marta Bellini
Maringá, 10 de setembro de 2013.

NÃO ÀS MILÍCIAS!


MOÇÃO DE REPÚDIO DA SEÇÃO SINDICAL DO ANDES ADUNICENTRO

MOÇÃO DE REPÚDIO

 A ADUNICENTRO, Sindicato dos Docentes da UNICENTRO, manifesta repúdio à perseguição que, há algum tempo, vem sendo relatada pelos estudantes e participantes do movimento estudantil da UEM. É inaceitável a falta de respostas e a conivência da administração Central da Universidade, frente ao episódio de agressão física realizada por uma parcela dos vigilantes patrimoniais, contra diVersos estudantes que se encontravam nas dependências da universidade no dia 05/09/2013 e em várias outras situações.

Se já não bastassem os diversos relatos de coerção, perseguição e pequenas agressões contra estudantes anteriormente registrados, esse lamentável fato finda tragicamente com mais de dois estudantes seriamente feridos.

Entendemos que uma Universidade que recorre à violência e coação contra membros da sua comunidade, apenas por insistirem em fazer uso do seu direito às liberdades políticas, representa o que de pior restou do entulho dos períodos da ditadura militar.

Deixamos explícito nosso apoio aos estudantes agredidos, às entidades que se solidarizaram frente a esta situação e, principalmente, aos estudantes que se colocaram à frente no processo de esclarecimento dos fatos ocorridos e cobrança das medidas cabíveis contra os agressores diretos e indiretos.

Nos colocamos a favor de um projeto de Universidade verdadeiramente aberta à ser construída conjuntamente pela comunidade acadêmica e comunidade externa e, não, aristocraticamente, como vem ocorrendo.

Guarapuava e Irati, 09 DE SETEMBRO DE 2013
 
 

Moção SEÇÃO SINDICAL DO ANDES UNIOESTE

MOÇÃO DE REPÚDIO AO ATO VIOLENTO DOS VIGIAS CONTRA ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

DA SEÇÃO SINDICAL DA UNIOSTE, CASCÁVEL, TOLEDO

ADUNIOESTE – S.Sindical
MOÇÃO
A Adunioeste, Sindicato dos Docentes da UNIOESTE, manifesta repúdio à perseguição
sofrida há tempos pelos estudantes da UEM. Em especial, repudia as agressões sofridas por
estudantes no último dia 5 de setembro, já registradas em delegacia, mas ainda sem qualquer
esclarecimento da Reitoria.
Estaremos, a partir de hoje, divulgando nacionalmente, por meio do ANDES-Sindicato
Nacional, o ocorrido. Também acompanharemos os esforços da Reitoria, inexistentes até o
momento, para apurar a situação e oferecer segurança aos estudantes da UEM.
Ao mesmo tempo nos solidarizamos com os estudantes agredidos e com o movimento
estudantil da UEM, cuja resistência não faltará para enfrentar a repressão e as agressões
criminosas que parecem campear soltas pela instituição.
____________________________________________
Antônio de Pádua Bosi
Presidente da ADUNIOESTE-S.Sind. (2011-2013)
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Solidariedade!

Grata, professor ROBERTO ROMANO!
 
Marta Bellini. Pena que eu não domine a arte de republicar vídeos a partir de outros blogues. Mas o texto terrível e profético fala mais do que muitas imagens. Minha solidariedade aos estudantes, funcionários e professores da UEM. Infelizmente vivemos sob a maldição de Pedro Aleixo: quando disseram ao então vice presidente da república que o general Costa e Silva jamais abusaria do AI-5, ele, conhecedor da índole autoritária que é transmitida ao nosso povo, refletiu ""talvez não o presidente, mas e o guarda da esquina?". É isso aí, temos a república dos guardas da esquina, ditatorial e truculenta, mas que deveria estar sob a responsabilidade de professores, no caso da universidade. Ou os referidos professores compactuam com a violência, ou a temem. De qualquer modo, é a barbárie. Que, infelizmente, para desmentir Spinoza, não é a última (me refiro ao fato do filósofo, diante da violência e do assassinato, ter feito um cartaz onde se dizia : 'ultimi barbarorum"). Só podemos dizer, para aceitar o grito de Spinoza, que "últimos"significa "os piores". Pode ser. Pode ser.

sábado, 7 de setembro de 2013

Violência, atentado e irresponsabilidade na Universidade Estadual de Maringá

Na noite de quinta-feira, dia 5 de setembro, alguns jovens alunos estavam, as 23h, reunindo-se na frente do DCE da Universidade Estadual de Maringá. Um grupo de 20 vigias, pois sim, VINTE (poderiam ser menos porque a universidade inteira tem que ser vigiada, mas não os 20 estavam no mesmo lugar e na mesma hora, estranho?! Não!) atacaram cerca de 10 estudantes e logo foram gritando para eles saírem do campus porque naquela hora estudante NÃO PODE MAIS FICAR NA UEM.
 
Imediatamente esses guardas pretorianos do reitor começaram a surrar os alunos e alunas. Quebraram o nariz do Renan, estudante de Ciências Sociais, rasgaram a roupa de uma aluna, jogaram pedra em uma aluna das Artes Cênicas. Luiz André com perna roxa de um chute. Os próprios estudantes chamaram a polícia. Dois professores foram chamados pelos alunos (as), Professor Julio Damasceno e Márcio da geografia. A assistente social Catarina também foi chamada. De madrugada todos ensanguentados na polícia fazendo boletim de ocorrência. Depois foram ao hospital.
 
Fui ao DCE de manhã e lá fiquei até as 22 horas com muito medo dos guardas que não paravam de rondar a nossa roda de estudantes, professores (as) e técnicos. Quase uma hora da tarde, duas alunas foram ao DCE e disseram que tinham sido expulsas de onde estavam, no Museu de Ciências. Mesmo com a concentração, com o violento atentado à vida dos estudantes, os vigias continuaram a banir os alunos de seus lugares. As 15 horas uma colega professora relatou que fora assediada e agredida verbalmente no bloco onde estava, o C 23.Gravou a fala dos vigias no local. Disseram que os estudantes tinham que apanhar mesmo.
 
Nesse vídeo que hoje de manhã foi removido, mas postamos novamente, vemos os vigias com seus rostos e nomes, vemos os estudantes e pais.
 
Politicamente posso ter uma explicação: os estudantes depois da OCUPAÇÃO  da reitoria em 2011 estão sendo hostilizados dia a dia. Isso em uma administração que não vem a público dizer para que serve e a quem serve a Universidade. Uma vazio. Nesse vazio cresce um ninho de serpentes, que aliás, está na UEM desde antes de 1986 quando entrei para aqui trabalhar.
 
Essas serpentes tomam a Resolução 08/2011 que proíbe sarau dos estudantes e manda bala a qualquer hora. Nada justifica a quase matança de estudantes no dia 5 de setembro. Mas esse nada nasce do vazio político, como disse, da atual administração e por que não dizer da anterior, da anterior e da anterior.
 
O fato é grave porque poderíamos ter tido uma ou mais mortes de alunos (as). Não tivemos por mero acaso dada a violência e truculência dos guardas.
 
O mais incrível é que na reunião ontem dos estudantes e alguns professores (as), quando o nome do principal violador da guarda foi citado ele disse que estava sendo ofendido e saiu da sala. Deixou-nos às moscas. ou nas mãos dos vigias.
 
O que eu penso. Que esse vazio político de onde emerge a serpente da truculência, tem que ser visto pela psicologia. Os vigias parecem sentir um ódio de casta. Explico: parecem ver os estudantes com raiva. Raiva da classe social, da suposta vantagem econômica (vejam eu disse suposta), ódio pela rebeldia com causa dos alunos e alunas, ódio da juventude bonita. Ora, esses jovens são o maior patrimônio da Universidade, logo esses guardas estão no lugar errado. Talvez o reitor também.
 
Se o reitor se exime da punição dos guardas, será que amanhã não teremos mortes? Sequestros? Desaparecimentos? se tivermos, diremos, infelizmente: nós avisamos, senhor reitor. TEMO PELA VIDA DOS ESTUDANTES.   Eu sei o terreno onde piso.
 
Solicitamos o envio de moção de repúdio ao reitor no e-mail: sec-gre@uem.br ou jspfilho@uem.br
e a mim para endereçar aos estudantes do DCE
 
Eu acredito na solidariedade!
 
Vídeo da Ocupação da reitoria por estudantes. Isso gerou a mais escabrosa caçada aos estudantes.

Braziu

de ROBERTO ROMANO

Jornal da Unicamp. Há no livro de Gustavo Corção (que era conservador, mas ajudou muito a entender a alma humana), cujo título é "Lições de Abismo", uma passagem terrível sobre a moça que servia café nos balcões. Li aos 17 anos e até hoje tenho na mente a cena tremenda, algo insuspeitado quando pedimos uma porção de café no bar. Agora, com a tese comentada abaixo, o terrível se mostra antes do bar, no terreno, no corpo dos trabalhadores.

Campinas, 02 de setembro de 2013 a 08 de setembro de 2013 – ANO 2013 – Nº 573

Tese avalia a carga física de trabalho na lavoura de café

Estudo da Feagri faz um raio-X das atividades desempenhadas pelos trabalhadores do setor

O brasileiro consome, em média, 83 litros de café ao ano, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Cada vez que leva uma xícara à boca, no entanto, o consumidor dificilmente se lembra de que na base da cadeia cafeeira existe um batalhão formado por milhões de trabalhadores rurais, que cumprem tarefas frequentemente fatigantes e, não raro, causadoras de doenças ocupacionais. Ao contrário da maioria dos apreciadores da bebida, o fisioterapeuta e educador físico Marco Antônio Gomes Barbosa sempre esteve atento às atividades desempenhadas por esses agricultores. Tanto é assim que ele investigou as características da carga física de trabalho na lavoura café, sob a perspectiva da ergonomia, em sua tese de doutorado, defendida recentemente na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp.


A pesquisa de Barbosa foi desenvolvida com a participação de 12 trabalhadores vinculados à Associação dos Agricultores Familiares de Santo Antônio do Amparo, cidade localizada no Sul de Minas Gerais, região responsável pela produção de alguns dos melhores cafés do Brasil. Os agricultores, que atuam em sete propriedades produtoras de café, foram avaliados durante a realização de diferentes tarefas, como adubação a lanço e foliar, desbrota, aplicação de herbicida e colheita, entre outras. “Procuramos avaliar tanto a postura quanto as ações operacionais dos trabalhadores”, explica o autor da tese, que contou com a orientação do professor Roberto Funes Abrahão e coorientação do professor Mauro José Andrade Tereso.

Segundo o professor Mauro Tereso, o estudo fez uso de diferentes metodologias, que se complementaram. Os cafeicultores tiveram, por exemplo, a frequência cardíaca aferida durante o expediente de trabalho. Além disso, as atividades foram filmadas e depois analisadas por um software denominado CAPTIV L3000, que gerou dados estatísticos e historiogramas, além de ter permitido uma descrição pormenorizada das tarefas executadas. Ao final do dia, os trabalhadores também receberam diagramas, nos quais apontavam quais regiões do corpo apresentavam dores ou desconfortos. “Nós ainda perguntamos a esses trabalhadores que percepção eles tinham acerca do grau do esforço despendido [leve, médio ou severo]”, acrescenta o autor da tese.

O uso das metodologias, entende Barbosa, enriqueceu muito o trabalho e gerou uma massa de dados relevante, que permitiu fazer uma espécie de raio-X das atividades desempenhadas pelos trabalhadores rurais. Um dado importante relacionado ao estudo é que as tarefas foram cumpridas em duas condições: em terreno plano e em terreno inclinado. A hipótese adotada pelo pesquisador e orientadores era de que haveria diferença na resposta fisiológica entre uma situação e outra. Para surpresa deles, no entanto, não foram registradas diferenças estatísticas significativas.

Depois de analisarem detidamente os dados, os cientistas concluíram que as alterações não foram importantes por causa da estratégia de trabalho adotada pelos cafeicultores. Conforme o professor Mauro Tereso, os pés de café são plantados em curva de nível. Dessa forma, na maior parte do tempo, os trabalhadores atuam em terreno plano. “Somente depois de fazer a colheita ou adubação numa rua, por exemplo, é que eles sobem para outra, onde vão permanecer por mais um longo período atuando em nível. Isso significa que esses trabalhadores utilizam o conhecimento adquirido ao longo de anos de prática para criar estratégias que ajudam a preservar o seu corpo e energia”, afirma o docente.

Barbosa aponta outro tipo de manobra empregada pelos cafeicultores familiares para evitar o esgotamento físico. No caso de adubação a lanço, eles deixam uma quantidade de adubo em cada rua de café. Somente depois é que passam lançando o produto no solo. “Esse cuidado prévio faz com que o trabalhador carregue menos peso durante as tarefas, o que reflete positivamente na sua produtividade e também no gasto energético”, diz. O autor da tese revela esperar que seu estudo possa contribuir futuramente para que a atividade dos trabalhadores na cafeicultura ganhe em qualidade. Isso pode se dar de algumas maneiras, como esclarece o professor Mauro Tereso.

Uma delas é o que os especialistas chamam de devolutiva. Em outras palavras, sempre que possível os integrantes dos grupos liderados pelos professores Mauro Tereso e Roberto Abrahão compartilham os resultados das pesquisas com as pessoas que colaboraram com elas. O objetivo é fazer com que o conhecimento gerado pelos estudos possam ser apropriados e utilizados, em alguma medida, por esses colaboradores. Em novembro, Barbosa fará a apresentação da sua tese na Associação dos Agricultores Familiares de Santo Antônio do Amparo. “Queremos que os principais dados apurados cheguem de forma clara ao conhecimento dos trabalhadores rurais daquela região. Espero que a iniciativa possa contribuir para a melhoria das condições de trabalho deles”, imagina o autor da tese.

CONCEITOS ERGONÔMICOS

Segundo o professor Mauro Tereso, a pesquisa também pode colaborar ao oferecer elementos para que projetistas concebam ferramentas e equipamentos dotados de conceitos ergonômicos. “Esse aspecto é muito importante. Está comprovado que os projetos que contam com a participação de um ergonomista apresentam melhores resultados, visto que a possibilidade de erro é menor e a necessidade de promover eventuais correções, também”, pontua o docente da Feagri. Por último, mas não menos importante, a tese de Barbosa também pode fornecer subsídios para a definição de políticas públicas que concorram para oferecer melhores condições de trabalho no campo, na cafeicultura em particular.

Embora a questão da epidemiologia não tenha feito parte da pesquisa, o professor Mauro Tereso lembra que o trabalho na agricultura é um dos que acarretam, no Brasil, um elevado índice de doenças ocupacionais. “Lembrando que as informações sobre esse setor não são as mais precisas, pois no país ainda há um enorme contingente de trabalhadores rurais sem carteira de trabalho assinada. Com isso, a notificação sobre doenças ocupacionais ou mesmo acidentes de trabalho fica aquém do que realmente acontece”.

O trabalho desenvolvido por Barbosa foi indicado pela Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de Lavras (UFLA), onde ele é docente, para representar a instituição no prêmio Péter Murányi, que é gerido pela fundação de mesmo nome. Concedido anualmente, o objetivo da premiação é distinguir, em sistema de rodízio, iniciativas inovadoras nas áreas de educação, saúde, alimentação e desenvolvimento científico & tecnológico. A edição de 2014 contemplará um projeto ou pesquisa na área da Saúde.

Para Barbosa, somente o fato de a tese ter sido indicada pela UFLA para concorrer ao Péter Murányi já representa um importante reconhecimento ao trabalho. “Fico muito satisfeito, pois sempre tive uma atenção especial em relação aos trabalhadores na lavoura do café. Numa reunião que tive com representantes dessa categoria, um deles me disse algo que me deixou muito satisfeito. Segundo ele, normalmente os cientistas vão para a plantação e enxergam o café, mas eu fui para o campo e enxerguei os trabalhadores”, conta. Além disso, a tese de Barbosa também despertou o interesse de pesquisadores do Centro de Estudo de Café da própria UFLA, que deverá aproveitar os dados gerados em novas investigações.

De acordo com o professor Mauro Tereso, o projeto de pesquisa desenvolvido na Feagri foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Já Barbosa contou bolsa concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão vinculado ao Ministério da Educação.

Publicação

Tese: “Caracterização da carga física de trabalho na cafeicultura do Sul de Minas Gerais”
Autor: Marco Antônio Barbosa
Orientador: Roberto Funes Abrahão
Coorientador: Mauro Tereso
Unidade: Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri)

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Blog de ROBERTO ROMANO

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Agência Patrícia Galvão.


02 de Setembro de 2013
A mesma proposta estabelece que também estará incurso no mesmo crime quem, em qualquer relação familiar ou afetiva, independentemente de coabitação, submete alguém a situação de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental como forma de exercer domínio
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Jornal da Unicamp. Matéria importante.

Campinas, 02 de setembro de 2013 a 08 de setembro de 2013 – ANO 2013 – Nº 573

Brasil vive crise de confiança política, diz Rachel Meneguello

Livro coorganizado pela cientista política da Unicamp ajuda a entender antecedentes que desencadearam as manifestações de rua ocorridas no país

“A desconfiança política é um fenômeno associado à percepção da ausência de representação, de distância da política, de resposta ineficaz das instituições às demandas básicas da população, constituindo uma lacuna entre os cidadãos e o sistema, uma incongruência forte entre cidadãos e Estado.” A avaliação é da cientista política Rachel Meneguello, docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, coordenadora do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) e coorganizadora do livro “A Desconfiança Política e os seus Impactos na Qualidade da Democracia”, que acaba de ser lançado pela Editora da Universidade de São Paulo (Edusp).

Baseado em uma pesquisa realizada no Brasil sobre desconfiança dos brasileiros nas instituições democráticas, em 2006, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o livro reúne textos de oito pesquisadores que escrevem sobre democracia, representatividade, “cidadão crítico”, além da percepção dos brasileiros a respeito da Justiça, polícia e dos serviços públicos.

Se tivesse saído antes das manifestações de rua ocorridas neste ano, teria ajudado a entender um pouco melhor, quase como uma previsão, as origens dos múltiplos protestos que tomaram conta do país.

A crise de confiança política não é de hoje, muito menos é uma exclusividade do Brasil; é mesmo uma questão central para as sociedades democráticas, como destaca a autora, que assina o livro com o professor José Álvaro Moisés, da Universidade de São Paulo (USP), diretor científico do Núcleo de Políticas Públicas (Nupps) da instituição. “Estamos em uma fase de mudança que resulta em uma grande crise de desengajamento cívico; estamos desengajados civicamente”, afirma Meneguello. Leia a entrevista:

Jornal da Unicamp – Como nasceu a ideia do livro?
Rachel Meneguello – O livro é fruto de um projeto temático da Fapesp, que eu e o professor José Álvaro Moisés [coordenador] desenvolvemos, com a participação do Nupps [Núcleo de Políticas Públicas, da USP) e do Cesop [Centro de Estudos de Opinião Pública, da Unicamp]. Em 2006, fizemos uma pesquisa nacional com dois mil entrevistados e um dos principais temas foi investigar do que se tratava democracia para as pessoas, e quais seriam as bases da confiança política para constituição da legitimidade do sistema político. Nós sabemos que o apoio à democracia é um fenômeno crescente no Brasil, na América Latina, e em vários outros países de democratização recente.
Ao mesmo tempo, as pessoas são muito insatisfeitas com o funcionamento do regime, com a forma como funcionam as instituições, com os serviços em geral do Estado. Assim, no projeto, buscamos, por um lado, entender a natureza das relações que explicariam os determinantes da avaliação predominantemente negativa das instituições encontrada no cenário brasileiro e, por outro, compreender as associações da atitude de desconfiança com um conjunto de outras atitudes, opiniões e comportamentos do público relacionados ao regime democrático.
JU – E o que, de fato, encontraram na pesquisa?
Rachel Meneguello – Para os vários temas analisados e associados com o debate sobre a democratização, encontramos que as atitudes de confiança ou desconfiança política não constituem isoladamente explicações suficientes. Seus determinantes recorrem a múltiplos fatores, como as dimensões socioeconômicas e demográficas, a avaliação do desempenho da economia, da política e de governos específicos, assim como os fatores associados com a cultura política. Esse conjunto de relações explicativas responde à própria natureza do fenômeno estudado: a desconfiança política é estrutural e afeta a grande maioria das instituições.
Além disso, ela não é um fenômeno transitório, associado a uma situação específica, como denúncias de escândalos ou crises políticas. A desconfiança é um fenômeno persistente da relação entre os cidadãos brasileiros e as instituições, tal como já mostravam as pesquisas conduzidas ao longo das últimas duas décadas. [No livro, os autores analisam questões como o fenômeno da adesão ao regime democrático e da legitimidade política; as relações entre corrupção e democracia; o papel da mídia e a confiança política; confiança, cidadania, participação e envolvimento político; confiança na justiça e na polícia e, finalmente, a avaliação do desempenho de ações estatais observadas através dos serviços públicos].
Com relação ao sistema representativo, encontramos que, apesar das inquestionáveis conquistas de procedimentos e mecanismos democráticos e do crescente apoio à democracia no país, esse contexto não foi capaz de desfazer a percepção negativa que se tem do Congresso e das instituições representativas. Foi esse cenário que vimos em junho, nas manifestações de rua no Brasil, quando grupos de manifestantes excluíam os partidos como sujeitos legítimos dos protestos. Mas a crítica aos políticos e ao sistema representativo não é de hoje. Se você toma pesquisas de décadas anteriores, a percepção negativa da política institucional já estava presente. Queríamos saber até que ponto isso poderia estar se transformando no curso da consolidação democrática, e observamos que esse processo não alterou a percepção que se tem da política institucional.
O livro apresenta reflexões que se utilizam de dados de 2006, mas que dão uma ideia de quais são as bases potencialmente explicativas do que hoje estamos vendo no país. No caso dos serviços públicos, em um dos capítulos, aponta-se que os indivíduos mais escolarizados e com maior estímulo para busca de informações políticas são os mais críticos às ações estatais.
JU – Como é possível definir o que é confiança e desconfiança no contexto da democracia?
Rachel Meneguello – A confiabilidade no funcionamento do sistema é fundamental para a credibilidade na democracia. É um fenômeno necessário para que você apoie a maneira como as coisas vêm funcionando. A confiança é uma dimensão que regula a relação entre pessoas, amigos, parentes, e refere-se às expectativas que as pessoas têm a respeito do comportamento dos outros com quem convivem. É preciso confiar nas pessoas para que seu cotidiano tenha parâmetros estáveis de funcionamento e é preciso confiar nas instituições para que o cotidiano tenha bases suficientes para que o sistema seja apoiado. A democracia precisa desse comprometimento do cidadão que, por sua vez, constitui-se com a crença de que o papel dos intermediários, ou instituições, é desempenhado adequadamente. Assim, é com essa expectativa que as pessoas deveriam procurar a justiça, a polícia, deveriam votar e procurar seus representantes.
JU – E quando falamos de perceber o funcionamento das instituições, estamos tratando de um processo de múltiplas influências, não só apenas da mídia?
Rachel Meneguello – No processo de formação de opinião, o papel da mídia é fundamental, mas não é o único. A mídia tem sido vista como responsável por alimentar o cinismo e a desconfiança entre os cidadãos ou, por outro lado, como fonte de informações capaz de estimular o seu engajamento político. Os estudos no âmbito do projeto, nessa direção, apontam que as mensagens da mídia interagem com outras dimensões, como o apoio aos governos e o grau de sofisticação política das pessoas. Há ainda a experiência dos indivíduos com as próprias instituições, como ocorre no caso dos serviços públicos e da justiça.
JU – No cenário brasileiro, há confiança ou desconfiança nas instituições?
Rachel Meneguello – Desconfiança. Esse é o problema. A democracia é um regime que requer altos níveis de confiança pública nos mecanismos institucionais de formação de governos, em razão da delegação de soberania e de poder que os cidadãos fazem aos seus representantes eleitos. Mas essa desconfiança não é acompanhada pela opinião de que é possível o país viver sem Congresso e sem partidos; a grande maioria das pessoas afirma a importância da presença das instituições representativas e esse é o ponto interessante. Nos mais de 25 anos de democracia constituiu-se um significativo apoio normativo à democracia e às instituições representativas.
Os dados obtidos mostram que os cidadãos brasileiros apoiam a presença dos partidos, apoiam a existência do Congresso, mas estão completamente insatisfeitos e desconfiados. São as instituições que acolhem as mais negativas avaliações sobre seu desempenho: apenas 19% do total de entrevistados avaliam positivamente os partidos, e 28% avaliam positivamente o Congresso, contra, por exemplo, a instituição da Igreja, com uma avaliação de mais de 87%. Constituiu-se ao longo desse período uma importante defasagem entre a percepção da necessidade das instituições e a avaliação de sua atuação e desempenho.
JU – Existe ume relação entre confiança política e participação, mobilização?
Rachel Meneguello – Esse cenário é mais complexo, porque as dimensões da participação e mobilização estão ligadas à capacidade de engajamento das pessoas. Isso tem relação direta com os graus de associativismo, que por um lado, encontra hoje baixos níveis no Brasil e no mundo em suas formas mais convencionais, como a participação em sindicatos e associações. Por outro lado, há uma capacidade inovadora nas novas formas de mobilização viabilizadas pelas novas tecnologias.
De toda forma, no caso das recentes mobilizações que testemunhamos, entendo que traduzem, em parte, um contexto de forte desengajamento cívico, que resulta da incapacidade dos partidos, dos políticos e das instituições de intermediar o descontentamento e a crítica. Cabe apontar que esse é um fenômeno amplo, encontrado nos vários países, e relacionado à forma do governo representativo. A desconfiança, o desengajamento cívico e o distanciamento com a política estão interligados. Um não causa o outro, mas estão conectados.
JU – E qual o risco disso?
Rachel Meneguello – Se esse cenário adquire patamares altos, condiciona-se a legitimidade democrática. A legitimidade democrática deve ser entendida como um tipo ideal relacionado às crenças dos cidadãos de que a política democrática e as instituições sobre as quais ela se estabelece são a forma mais apropriada para estruturar-se o sistema político. Dessa forma, ela precisa de bases de sustentação. Mas isso não significa que o regime está em risco de ruptura, não há indicadores que apontem esse cenário. O que está em risco é a qualidade da democracia. No caso do sistema representativo, se não houver confiança das pessoas nos partidos, o risco de cair em sistemas populistas é grande. O populismo é uma vertente que não interessa ao funcionamento democrático. Ele prescinde da relação formal com os cidadãos. A liderança personalista que se sustenta sem partidos é um risco.
JU – Por que é tão importante ter as pessoas confiando nas instituições?
Rachel Meneguello – As instituições políticas são os intermediários entre os cidadãos e o Estado, elas conferem as garantias de direitos e procedimentos e é a percepção de que de fato elas se desempenham nessa direção é o que garante o compromisso de cooperação dos cidadãos com o regime. Se as novas tecnologias e redes sociais agilizam mobilizações e ações políticas, falta-lhes capacidade de integrar e agregar demandas de forma a canalizá-las para o sistema político. São as instituições que têm essa função.
JU – O livro aborda a questão do “cidadão crítico”, um interessante personagem para as sociedades democráticas. Como podemos defini-lo?
Rachel Meneguello – São cidadãos que acreditam na democracia, mas são altamente críticos sobre o seu funcionamento. Não entendem que os partidos os estejam representando adequadamente, não entendem que o governo responda adequadamente às demandas, não entendem que o cotidiano e o bem-estar estejam sendo devidamente providos pelo Estado, e etc. Entendem que há lacunas importantes para esse grau de congruência entre cidadãos e Estado.
JU – Esse cidadão crítico é o mesmo que foi para as ruas brasileiras em junho?
Rachel Meneguello – Não creio que seja possível juntar todos os manifestantes em um único conceito. Com toda certeza, boa parte deles era esse cidadão crítico. Mas entendo que o que observamos ali foi um quadro de insatisfação generalizada baseado em múltiplas demandas expressa a partir de formas distintas de organização. Ainda é preciso maior clareza sobre as mobilizações.
JU – Podemos dizer que o desafio para as sociedades democráticas é aprender a conviver com esse cidadão crítico?
Rachel Meneguello – A democracia representativa é um sistema que originalmente distancia o indivíduo da política, porque ele confere a sua soberania de escolha e decisão ao representante eleito. A cobrança pelo desempenho de seus agentes e mecanismos é consequência das suas bases de funcionamento. Esse movimento crítico pela qualidade da democracia é parte integrante do funcionamento democrático.
“A democracia é um regime
que requer altos níveis de
confiança pública nos
mecanismos institucionais de
formação de governos”
“Os cidadãos apoiam a presença
dos partidos, apoiam a existência do Congresso, mas estão
completamente insatisfeitos e
desconfiados”
“Se as novas tecnologias
e redes sociais agilizam
mobilizações e ações políticas,
falta-lhes capacidade de integrar
e agregar demandas”

Destaque
“CONFIANÇA em linguagem comum designa segurança de procedimentos diante de diferentes circunstâncias que afetam a vida das pessoas. Ela se refere às expectativas que as pessoas alimentam a respeito do comportamento dos outros com quem convivem e interagem; e diz respeito à ação desses outros quanto aos seus interesses, aspirações ou preferências. Nas ciências sociais, o interesse pelo conceito está associado à preocupação com os processos informais por meio dos quais as pessoas enfrentam incertezas e as imprevisibilidades que decorrem da crescente complexificação da vida, no contexto de um mundo crescentemente globalizado, interdependente e fortemente condicionado por avanços tecnológicos que afetaram profundamente a comunicação social [...]” José Álvaro Moisés e Rachel Meneguello

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Hoje acordei assim: Arthur Bispo do Rosário











 
sublime

30 de agosto, DIA NACIONAL DE MOBILIZAÇÃO em Maringá



.. Médicos



sábado, 31 de agosto de 2013

De Roberto Romano: Folha de São Paulo, 31/08/2013. Um médico que merece ser lido e ouvido, ao contrário dos inspetores de exames, e diagnosticadores via internet, que cobram 700 reais dos clientes, que eles ajudam a ficar doentes de remédios, na maioria dos casos perigosos. Algo precisa melhorar na medicina, de modo geral. Por enquanto, só a mesquinharia dos doutores (não raro, apenas bacharéis em medicina) e a sua arrogância preconceituosa se destacam. Bem vindos, cubanos!

31/08/2013 - 03h00

David Oliveira de Souza: Carta aos médicos cubanos

Ouvir o texto

Bem-vindos, médicos cubanos. Vocês serão muito importantes para o Brasil. A falta de médicos em áreas remotas e periféricas tem deixado nossa população em situação difícil. Não se preocupem com a hostilidade de parte de nossos colegas. Ela será amplamente compensada pela acolhida calorosa nas comunidades das quais vocês vieram cuidar. 

A sua chegada responde a um imperativo humanitário que não pode esperar. Em Sergipe, por exemplo, o menor Estado do Brasil, é fácil se deslocar da capital para o interior. Ainda assim, há centenas de postos de trabalho ociosos, mesmo em unidades de saúde equipadas e em boas condições.
Caros colegas de Cuba, é correto que nós médicos brasileiros lutemos por carreira de Estado, melhor estrutura de trabalho e mais financiamento para a saúde. É compreensível que muitos optemos por viver em grandes centros urbanos, e não em áreas rurais sem os mesmos atrativos. É aceitável que parte de nós não deseje transitar nas periferias inseguras e sem saneamento. O que não é justo é tentar impedir que vocês e outros colegas brasileiros que podem e desejam cuidar dessas pessoas façam isso. Essa postura nos diminui como corporação, causa vergonha e enfraquece nossas bandeiras junto à sociedade. 

Talvez vocês já saibam que a principal causa de morte no Brasil são as doenças do aparelho circulatório. Temos um alto índice de internações hospitalares sensíveis à atenção primária, ou seja, que poderiam ter sido evitadas por um atendimento simples caso houvesse médico no posto de saúde.
Será bom vê-los diagnosticar apenas com estetoscópio, aparelho de pressão e exames básicos pais e mães de família hipertensos ou diabéticos e evitar, assim, que deixem seus filhos precocemente por derrame ou por infarto. 

Será bom vê-los prevenindo a sífilis congênita, causa de graves sequelas em tantos bebês brasileiros somente porque suas mães não tiveram acesso a um médico que as tratasse com a secular penicilina.
Será bom ver o alívio que mães ribeirinhas ou das favelas sentirão ao vê-los prescrever antibiótico a seus filhos após diagnosticar uma pneumonia. O mesmo vale para gastroenterites, crises de asma e tantos diagnósticos para os quais bastam o médico e seu estetoscópio. 

Não se pode negar que vocês também enfrentarão problemas. A chamada "atenção especializada de média complexidade" é um grande gargalo na saúde pública brasileira. A depender do local onde estejam, a dificuldade de se conseguir exame de imagem, cirurgias eletivas e consultas com especialista para casos mais complicados será imensa. Que isso não seja razão para desânimo. A presença de vocês criará demandas antes inexistentes e os governos serão mais pressionados pelas populações. 

Para os que ainda não falam o português com perfeição, um consolo. Um médico paulistano ou carioca em certos locais do Nordeste também terá problemas. Vai precisar aprender que quando alguém diz que está com a testa "xuxando" tem, na verdade, uma dor de cabeça que pulsa. Ou ainda que um peito "afulviando" nada mais é do que asia. O útero é chamado de "dona do corpo". A dor em pontada é uma dor "abiudando" (derivado de abelha). 

Já atuei como médico estrangeiro em diversos países e vi muitas vezes a expressão de alívio no rosto de pessoas para as quais eu não sabia dizer sequer bom dia --situação muito diferente da de vocês, já que nossos idiomas são similares. 

O mais recente argumento contra sua vinda ao nosso país é o fato de que estariam sendo explorados. Falou-se até em trabalho escravo. A Organização Pan-americana de Saúde (Opas) com um século de experiência, seria cúmplice, já que assinou termo de cooperação com o governo brasileiro. 

Seus rostos sorridentes nos aeroportos negam com veemência essas hipóteses. Em nome de nosso povo e de boa parte de nossos médicos, só me resta dizer com convicção: Um abraço fraterno e muchas gracias. 

DAVID OLIVEIRA DE SOUZA, 38, é médico e professor do Instituto de Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês. Foi diretor médico do Médicos Sem Fronteiras no Brasil (2007-2010)

Sobre o danadão e os donadinhos!

Radio Globo, 29/08/2013

Professor de Ética comenta a rejeição da cassação do deputado Natan Donadon na Câmara dos Deputados - Gente como a Gente - Rádio Globo - http://radioglobo.globoradio.globo.com/gente-como-a-gente/2013/08/29/PROFESSOR-DE-ETICA-COMENTA-A-REJEICAO-DA-CASSACAO-DO-DEPUTADO-NATAN-DONADON-NA-CAMAR.htm

Professor de Ética comenta a rejeição da cassação do deputado Natan Donadon na Câmara dos Deputados

'Acho que eles perderam a chance de mostrar que são necessários para o povo brasileiro', disse o professor

29 de agosto de 2013 18:54:39

  • Ouça o papo entre o professor Roberto Romano e Vanessa Di Sevo e Luiz Torquato

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