Do coração e outros corações

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sexta-feira, 26 de setembro de 2014


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Com ‘dança da chuva’, MTST cobra Sabesp por racionamento na periferia

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Aproximadamente 5 mil manifestantes estiveram no ato, que foi acompanhado por 800 policiais sem Tropa de Choque ou armaduras
Por Rodrigo Gomes, da RBA 
Em ato carregado de ironia, manifestantes doMovimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)simularam uma “dança da chuva” em frente a sede da Sabesp, na tarde de ontem (25). O ato incluiu um “pedido” para que o santo católico São Pedro auxilie a empresa e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) a garantir o fornecimento de água ao estado.
Aproximadamente 5 mil pessoas ligadas ao MTST cobraram a Sabesp por praticar “cortes de água em bairros da periferia da capital paulista”. Os sem teto saíram da estação Faria Lima da Linha 4 – Amarela do Metrô eforam até a sede da companhia, na rua Sumidouro, em Pinheiros, zona oeste da cidade, para apresentar uma lista de bairros das zonas sul e leste, além de municípios da região metropolitana, onde há falta de água no período da noite e, às vezes, durante o dia.
“Uma coisa é fazer racionamento. Outra coisa é dizer que não está e, na periferia, cortar a água de noite. Nós já avisamos o governador que o problema estava ocorrendo e a Sabesp nada fez”, disse o coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos. Para ele, a crise não pode ser atribuída somente ao problema da falta de chuvas. “O governador Alckmin tinha conhecimento de que era preciso reduzir a dependência do Sistema Cantareira”, completou.
No documento de outorga de 2004, que autoriza a Sabesp a retirar água do Sistema Cantareira e fornecê-la para oito milhões de pessoas na capital paulista e na região metropolitana, já constava a diretriz para reduzir a demanda, pois o sistema poderia não suportar situação como a atual.
As regiões do Jardim Ângela, Capão Redondo e Paraisópolis (zona sul), Cidade Tiradentes e Itaquera (zona leste), Taboão da Serra, Itapecerica e Embu das Artes, na região metropolitana, são alguns dos locais em que a falta de água é constante nos últimos meses. A RBA visitou também as regiões norte e oeste da capital paulista e encontrou famílias sofrendo com a escassez no período da noite.
O MTST cobrou que a Sabesp pare de se preocupar somente em remunerar acionistas e cumpra os investimentos necessários para garantir o fornecimento de água. “Todos viram o que houve na cidade de Itu esta semana (na última segunda-feira, cerca de 2 mil moradores da cidade interiorana protestaram contra a falta de água). Se começar a faltar cada vez mais água, a situação aqui também vai chegar a esse limite. Queremos que a Sabesp elabore um plano emergencial para atender as regiões”, disse Boulos.
Cinco integrantes do movimento foram recebidos na sede da estatal para entregar a pauta de reivindicações. Segundo representantes da Sabesp, a presidenta da companhia, Dilma Pena, estava de licença médica e não participaria do encontro. Ela usou a mesma justificativa para não ir a uma audiência na Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara Municipal de São Paulo que investiga a falta de água na cidade.
Após duas horas de discussão com uma comissão do MTST, a Sabesp se comprometeu a manter diálogo com os sem teto e realizar reuniões em cada uma das regiões, para receber as reclamações e avaliar os problemas. Os primeiros encontros serão em 7 e 8 de outubro. Segundo o movimento, os técnicos e diretores que os atenderam negaram o racionamento, mas admitiram que a redução da pressão da água pode fazer com que ela não chegue a alguns lares.
Na terça-feira (23), o secretário Estadual de Recursos Hídricos, Mauro Arce, admitiu que o procedimento poderia ser o fator determinante para a água não chegar em todas as casas e culpou as pessoas que não têm caixa de água em casa. “Pode não chegar. Mas são bairros que você vê que, numa casa falta, na outra casa, não falta”, disse.
Após a reunião, os sem teto seguiram da rua Sumidouro até a avenida das Nações Unidas (Marginal Pinheiros). A via foi fechada pela PM. Os manifestantes realizaram uma nova “dança da chuva” e encerraram o protesto.
Tranquilidade 
Segundo o coronel da Polícia Militar Glauco Carvalho, 800 policiais, em 140 viaturas, acompanharam a manifestação. O objetivo era evitar depredações ou quebra-quebra durante o ato, mas “não do MTST, que nós conhecemos e nos respeitamos mutuamente”, disse o coronel, que deu a entender que outros grupos poderiam se aproveitar da ocasião para causar tumulto. Nenhum incidente ocorreu.
O clima era tranquilo. Durante as quase duas horas em que os sem teto ficaram em frente a sede da Sabesp, houve até discussão entre policiais e manifestantes sobre os rumos do Campeonato Brasileiro de futebol, quem seria rebaixado, quem seria campeão. Os PMs não utilizavam as já tradicionais armaduras e a Tropa de Choque não apareceu no local.
Situação muito diferente da semana passada, quando famílias da Frente de Luta por Moradia (FLM) exigiram mais caminhões para transportar pertences durante uma reintegração de posse no centro da capital e foram bombardeadas com gás lacrimogênio pelo Choque.
Para Boulos, apesar do clima de tranquilidade, a grande presença de policiais é significativa de como a gestão Alckmin lida com as demandas da população pobre. E comentou a fala do governador na tarde de ontem, dizendo que não fazia sentido os sem teto protestarem na Sabesp. “Não tem sentido é tratar o descontentamento do povo com polícia, despejar com violência, dar tiro na cabeça de um camelô. Isso é que não faz sentido, governador Alckmin”, destacou.
Ele ressaltou que a forma como os despejos são realizados em São Paulo levará à  expansão das ocupações e à organização para maior resistência.
Perguntado sobre a atuação do MTST em temáticas para além da moradia – só neste ano, os sem teto já fizeram protestos por melhorias em transporte público e telefonia, e contra os gastos da Copa do Mundo – Boulos disse que tudo que envolve a melhoria da condição de vida da população está na pauta da reforma urbana, defendida pelo movimento.
“Não adianta ter casa e não ter transporte. Ter casa e não ter creche ou escola na região. Ou mesmo, ter casa e não ter água. Nós lutamos por uma vida melhor nas cidades”, afirmou.

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