Do coração e outros corações

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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Na Má-ringa, a vergonhosa V Conferência da Mulher


RECEBI E REPASSO

do Coletivo Maria Lacerda · 429 curtiram isso
há 3 horas · 


  • Manifesto contra posturas racistas, homofóbicas e o desrespeito com as jovens na V Conferência da Mulher de Maringá
    Viemos a público manifestar nossa indignação contra algumas posturas racistas, homofóbicas e contra o desrespeito com as jovens militantes feministas presentes na V Conferência da Mulher de Maringá, que aconteceu nos dias 08 e 09 de junho de 2013.

    A Conferência foi avaliada por algumas lideranças de movimentos de mulheres como uma das piores que aconteceram nesta cidade. Quem esteve presente e faz parte de movimentos sociais pode presenciar a vergonhosa invasão de pessoas com cargos comissionados (ccs) visivelmente orientadas para votar à favor das propostas da atual administração. 

    Na abertura do evento tivemos a coerente palestra da Dra Isadora Machado que iniciou sua fala enfatizando a necessidade de dizermos: “as mulheres”, no plural, pois, isso significa um respeito à pluralidade via linguagem inclusiva, já que somos muitas, somos negras, brancas, mestiças, trabalhadoras, empresárias, mães, idosas, jovens, lesbianas, bissexuais, etc. Palavras possuem uma força política, servem tanto para incluir como excluir parcela da população. A linguagem inclusiva não é novidade para as autoridades da Secretaria da Mulher, pois, já insistimos em informá-las sobre a existência de uma Cartilha com a proposta de uso de uma linguagem não sexista elaborada pela Unesco, divulgada mundialmente desde os anos 1990 . Mesmo assim as autoridades insistiram em nos chamar de “senhores”.

    Será que a insistência das autoridades em nos chamarem de “senhores” em uma Conferencia das Mulheres não representa a reprodução dos interesses e ideologias dos homens de seus partidos, que na maioria das vezes apontam os problemas das mulheres como secundários? Como pode uma mulher representar todas as outras mulheres se ela mesma não enxerga suas problemáticas como prioridade? Como pode uma mulher representar todas as outras mulheres se ela mesma não considera importante acabar com o sexismo linguístico?

    A Conferência teve como tema: "Prevenção e Enfrentamento a Toda Forma de Violência Contra a Mulher", de início, a plenária teve o desprazer de ouvir de uma autoridade municipal uma demonstração grotesca de racismo. Na fala do senhor vereador Ulisses Maia, que é também presidente da câmara de Maringá ouvimos que quando tratamos de violência da mulher, estamos tratando do LADO NEGRO do assunto. A reação foi de repúdio, e algumas militantes do movimento de mulheres negras se retiraram em forma de protesto. É através da linguagem que utilizamos no dia-a-dia que transparecemos muitos de nossos preconceitos. 

    No segundo dia, as senhoras que presidiram a mesa nos violentaram pela segunda vez quando insinuaram dentro de uma instituição laica que todas fizessem uma oração, obviamente uma manifestação de fé monoteísta e cristã. Questionamos então: qual mulher está sendo representada pela Secretaria da Mulher e todas as entidades governamentais? A mulher branca, heterossexual, cristã, classe média/alta e unicamente preocupada com o chá da tarde? 

    Para piorar a situação a secretária da mulher tentou infantilizar e tirar todo o crédito do discurso das companheiras jovens do Coletivo Maria Lacerda - mesmo sabendo que dentre o grupo também tínhamos presente uma delegada – ela e, sua turma de ccs convocados para boicotar a Conferência, desconhecendo grande parte das informações fornecidas pelas jovens militantes foram explicitamente preconceituosas com relação ao grupo.

    Um exemplo disso foi à questão levantada por algumas companheiras do Coletivo Maria Lacerda sobre a Violência Obstétrica, que é tão presente no cotidiano das mulheres grávidas e considerado tema atual nos debates feministas e de grupos de mulheres. A mesa, composta por mulheres da Secretaria da Mulher perguntou: "O que é violência obstétrica?". Ou seja, a própria secretária da mulher, vale ressaltar que é um cargo de confiança, deixou com essa pergunta explicito que não está por dentro das diversas violências que as mulheres sofrem. Uma companheira da área da saúde se levantou e fez uma bela fala relatando diversos casos de violência obstétrica, e só assim o assunto foi visto com relevância e incluído na pauta.

    Mais uma vez, pudemos assistir que o fato de ser uma jovem falando, cai no discreto. Como se a juventude não soubesse o que estava falando. Nossas jovens companheiras se sentiram violentadas todas as vezes que a senhora que presidiu a mesa da conferência tentava infantilizar as estudantes e ativistas jovens!

    Ainda no mesmo evento no grupo de trabalho sobre Preconceito e Diversidade, presenciamos falas carregadas de racismo, homofobia e preconceito. Uma mesma senhora disparou duas pérolas: primeiro falou que as cotas são o maior exemplo de discriminação, ressaltando - "Ah, eu sou negrinho, eu preciso de uma cota na universidade" - além de mencionar a existência de leis contra o racismo, contra a homofobia que no fim, as pessoas “normais” é que são as maiores discriminadas. "Não tenho nada contra negros e gays, até tenho amigos que são", "Ai, então quer dizer que eu, uma mulher normal (branca, classe média, heterossexual, cristã) tenho que aceitar que pessoas que não são normais expressem suas opiniões?" A senhora que proferiu essas falas podia ter sido presa em flagrante sob a acusação de racismo! 

    Mesmo Ulisses Maia e Flor Duarte tendo pedido desculpas publicamente, insistimos que as pessoas que ocupam cargos públicos (bem) remunerados deveriam se atualizar sobre os assuntos dos quais tratam e, principalmente respeitar os direitos humanos e a Constituição de 1988. 

    Além disso, queremos ressaltar que as representantes do Instituto de Mulheres Negras, do Coletivo Maria Lacerda, do Coletivo Maria do Ingá, as representantes do Fórum Maringaense de Mulheres e de muitas outras que ficaram até o final da Conferência, merecem nosso respeito e admiração, deram uma aula de cidadania e merecem nossos parabéns pelas falas na assembléia denunciando as posturas racistas, homofóbicas e preconceituosas. É preciso falar, vimos a força coletiva de quem está lá por que luta para um mundo melhor e a turma de cargos comissionados, pelegos do governo que estão lá loucos para irem para o conforto de suas casas e esquecerem que existem mulheres sendo violentadas a cada minuto nas nossas ruas. As pessoas que conduziram a Conferência não tinham estudo sobre temas atuais feministas, por isso insistimos em dizer que a ignorância alimenta os preconceitos. Racismo é crime, não podemos nos calar! À luta!

    Aquelas senhoras autoridades governamentais ali presentes não nos representam!

    Oportunamente convidamos à população maringaense, os grupos que militam pelo fim da violência sexista e essas autoridades à juntarem-se à II Marcha das Vadias de Maringá e lutarem contra todo tipo de violência, principalmente o sexismo, racismo e homofobia. 

    À LUTA, COMPANHEIRAS!

2 comentários:

  1. Consideramos a pior conferência na história da cidade...

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  2. Marta, ainda bem que não esteve na II Conferência Intermunicipal de Cultura, penso que, no mínimo, teria uma síncope. O secretário de cultura não é culto, pelo menos não acerca de conferências. O palestrante, Silvio Barros, aplaudido quando anunciado, tratou de meio ambiente, emissão de resíduos, grãos e etc, além de menosprezar uma cidade pequena com sua fala preconceituosa: "Se até Fulana consegue, qualquer uma consegue". Não sei para onde caminhamos, nem se caminhamos, mas do jeito que está, não dá.

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