Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Esporte nacional predileto: confundir para corromper.

 
 
A respeito da morte do cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago, muitas questões emergem e quebram meu bem estar, já precário. Uma delas é - se foi mesmo um Balck bloc que detonou o rojão - é pensar a militância desse grupo que respeito como ideologia (anarquismo) em um momento de idiotice geral.
Outra, é ver a TV Globo fazer disso um espetáculo sobre o cadáver de um trabalhador e ocultar dados de outras mortes. Como disse a Gleice Antonia de Oliveira em seu facebook morreram também:
 
1. a gari Cleonice Vieira de Moraes, em Belém (PA), vítima do gás lacrimogêneo lançado pela polícia militar;
2. 13 mortos na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré (RJ) - neste caso, a imprensa sequer se deu ao trabalho de informar todos os nomes;
3. o estudante Marcos Delefrate, de 18 anos, em Ribeirão Preto (SP), atropelado por um carro que furou um bloqueio de manifestantes;
4. Valdinete Rodrigues Pereira e Maria Aparecida, atropeladas em protesto na BR-251, no distrito de Campos Lindos, em Cristalina (GO);
5. Douglas Henrique de Oliveira, de 21 anos, que caiu do viaduto José Alencar, em Belo Horizonte (MG), por ter sido acuado pela polícia militar;
6. o marceneiro Igor Oliveira da Silva, de 16 anos, atropelado por um caminhão que fugia de uma manifestação, numa ciclovia próxima à Rodovia Cônego Domênico Rangoni, na altura de Guarujá (SP);
7. Paulo Patrick, de 14 anos, atropelado por um táxi durante manifestação em Teresina (PI);
8. o senhor que foi atropelado por um ônibus, ao tentar fugir da polícia, na mesma manifestação em que o cinegrafista Santiago foi atingido - sobre esta outra vítima, nenhuma linha na imprensa.
 
Outra dimensão da trágica morte de Santiago é ver na rede, colegas desafiando minha compreensão de mundo. Esses colegas usam argumentos do PT e do PSDB para chamar a Lei antiterrorismo que o petista Jorge Viana quer liberar nas costas de toda a esquerda que não o PT (sic). Isso adianta um desejo de impedir as manifestações na Copa. Enoj0-me do PT, dos tucanos e enojo-me das mídias, em especial da Globo. Esses partidos se importam com a morte do Santiago? Claro que não!
Importam-se em manter tudo como está para que nada mude e concorram as eleições para presidente.
 
ah, detalhe, meus colegas chegam a execrar e pedir prisão porque os manifestantes usam máscaras. Meu Deus, quem não usa máscara, morre na próxima esquina pela PM.  
 
Repasso uma reflexão do face da Ana Helena:
 
Num momento em que se quer ressuscitar a Lei de Segurança Nacional, a pretexto de combate ao terrorismo (o mesmo pretexto usado pelos EUA para barbarizar o mundo), transcrevo abaixo um trecho de entrevista concedida a mim pela Dra. Rosa Cardoso, advogada, que presidiu a Comissão da Verdade:

“A discordância quanto ao procedimento desses manifestantes (Black Blocks) não tem a ver com o tipo de abuso de autoridade que tem havido para confrontar as atividades deles. Tem havido ab...usos de autoridade contra os advogados que querem defendê-los. Qualquer pessoa, que tenha feito a coisa mais absurda, detestável e condenável, não se torna um monstro. Continua tendo o direito de que seus direitos de humano sejam defendidos. Os advogados deles não podem ser humilhados nem criminalizados, como tem acontecido. Uma coisa são os crimes que eles podem estar cometendo – e que tem que ser enquadrados dentro da legislação existente – outra coisa os abusos cometidos contra eles e contra seus defensores”.

 "A PM é uma deformação completa da forma como um cidadão deve ser tratado, vigiado, de como a segurança deve se dar num Estado Democrático. Porque é subordinada a um poder militar, a um general, e funciona com as regras do sistema militar, em que os soldados são preparados para a guerra. Os soldados não são preparados para lidar com a população de uma forma democrática. São preparados para usar armas e um tipo de violência que se legitima na guerra. Queremos chegar a uma situação em que não se legitime sequer na guerra, mas atualmente ainda é assim. Aí você coloca essas pessoas, que estão preparadas para atuar de forma militar, para controlar manifestações e tudo isso… Gera os problemas que temos visto…”.

“Acho que é inadequada a aplicação de uma Lei de Segurança Nacional. Porque é uma lei que requer uma motivação política. Então, ela, em princípio, não deve ser aplicada às manifestações. Acho que a natureza da atuação dos Black Blocks não está ainda definida. Eu não consegui ainda ouvir deles próprios uma definição de que são ativistas políticos que querem destruir o sistema capitalista. Isso ainda não está esclarecido. Eles estão situados no âmbito dessas manifestações como pessoas que estão extrapolando os limites de uma manifestação legítima. Acho que devem ser punidos. Não há nenhuma indicação clara de que eles sejam de partidos políticos, mesmo que não seja legalizado, nem de que estejam pretendendo mudar a natureza do Estado. Então, não há nada que justifique enquadrá-los numa Lei de Segurança Nacional. Acho que devem ser enquadrados nos crimes previstos no código penal.”

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