PT da Câmara submete Comissão de Direitos Humanos a um novo risco de vexame
Josias de Souza
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, reúne-se com os líderes partidários nesta terça-feira para promover o rateio das 21 comissões temáticas da Casa. Podendo aproveitar a oportunidade para retomar o controle da Comissão de Direitos Humanos, o PT decidiu submeter-se ao risco de virar uma oportunidade que Jair Bolsonaro aproveita.
Dono da maior bancada, o PT tem a preferência na escolha das comissões. Porém, no rol de prioridades do petismo, o colegiado dos Direitos Humanos frequenta apenas a terceira posição. O partido reivindicará de saída a Comissão de Constituição e Justiça, a maior e mais importante da Câmara.
Segundo a escolher, o PMDB pedirá a também poderosa Comissão de Finanças e Tributação. A bola será, então, devolvida ao PT. Direitos Humanos? Ainda não. Antes, o petismo quer assegurar a Comissão de Seguridade Social e Família, por onde passam os projetos sobre saúde.
Na sequência, caberá ao PSDB fazer a sua opção. Deve ficar com a Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática. O próximo da fila será o PSD. Que anunciou a intenção de ficar com a Comissão de Minas e Energia. Aqui começa a se desenhar a encrenca. As duas escolhas seguintes serão feitas pelo PP e, de novo, pelo PT.
O PP também reivindica a Comissão de Minas e Energia. Desatendido, o partido ameaça escolher a Comissão de Direitos Humanos para entregá-la ao deputado mais reacionário de sua bancada: Jair Bolsonaro (RJ). “Todo mundo vai ter saudades do Marco Feliciano”, diz Bolsonaro, que não costuma trazer seus instintos primitivos na coleira.
Nessa hipótese, quando chegar a sua vez de escolher a terceira comissão a que tem direito, não restaria ao PT senão exercitar a mesma atividade a que se entregou no ano passado: a lamentação depois do fato. Ao farejar o cheiro de queimado, Henrique Alves convidou os líderes a levar as mãos à consciência. Trocar Feliciano por Bolsonaro será o mesmo que substituir o inaceitável pelo inacreditável.
Até a noite passada, os partidos não haviam costurado uma saída. A reunião da partilha está marcada oara as 14h30. Quer dizer: os líderes têm poucas horas para negociar uma solução que livre o Legislativo de um novo e profundo desgaste. O bom senso indica que a conversão de Bolsonaro em presidente da Comissão de Direitos Humanos fará da Câmara uma Casa em que o pesadelo será melhor do que o despertar.
“Os líderes estão preocupados em evitar radicalismos. E eu confio que chegaremos a um acordo'', afirma Henrique Alves. “Em ano de eleições, temos um prazo mais curto. Não convém iniciar os trabalhos com decisões que podem levar à paralisia.''
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