Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Quando uma instituição mente, que país teremos?


do Blog de Roberto Romano

UOL.Notícias

21/05/2013 - 12h14

Marinha mentiu para Presidência já na democracia, diz Comissão da Verdade


MATHEUS LEITÃO
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DE BRASÍLIA
A Comissão Nacional da Verdade acusou nesta terça-feira (21) a Marinha de mentir, já após o final da ditadura militar (1964-1985), para a Presidência da República, para o Ministério da Justiça e para a Câmara dos Deputados sobre o que aconteceu com desaparecidos durante o regime. A informação foi dada no balanço de um ano de trabalho do colegiado. 

Questionada em 1993, durante o governo Itamar Franco, por esses três órgãos sobre o destino de militantes de esquerda desaparecidos, a Marinha deu versões diferentes das contidas em documentos produzidos por ela própria. A pesquisadora e assessora da comissão Heloísa Starling, ao apresentar essa conclusão, afirmou que esses documentos são prontuários produzidos pelo Cenimar (órgão de espionagem da Marinha). 

 
Na época, Itamar Franco pediu ao então ministro da Justiça, Maurício Corrêa, que questionasse a Marinha sobre violações. Na resposta, o órgão omitiu informações sobre 11 nomes detalhados nos prontuários. A comissão comparou os documentos e chegou a essa conclusão. 

A comissão mostrou também documentos que delineiam a linha de comando da repressão nos DOI-CODIs, centros de repressão aos movimentos contrários à ditadura. Segundo a comissão, os papéis mostram a cadeia de comando até os ministros militares, o que evidencia a responsabilidade do Estado brasileiro, e não apenas de indivíduos isolados, nas violações. Apontar os responsáveis, mesmo nos altos graus da hierarquia, é uma das funções do colegiado. Durante a apresentação, Starling nomeou parte desse comando --como o almirante Ivan Serpa. 


Sérgio Lima/Folhapress
Comissão Nacional da Verdade divulga balanço de um ano de pesquisas sobre violações dos direitos humanos durante a ditadura
Comissão Nacional da Verdade divulga balanço de um ano de pesquisas sobre violações dos direitos humanos durante a ditadura  
Starling fez uma apresentação demonstrando como, diferentemente do que a historiografia mostra, as violações, em especial as torturas, começaram mesmo antes de 1968, quando é instituído o Ato Institucional 5, medida que endurece ainda mais o regime. 

"Ela [tortura] está na origem do golpe de 1964, antes do início da luta armada", disse Starling, contradizendo a principal argumentação dos militares: a de que eles estavam lutando contra grupos organizados que queriam instalar uma ditadura comunista no país. 

A pesquisadora lembrou que o general Ernesto Geisel, em 1965, chegou a produzir um relatório sobre as crescentes denúncias de torturas na imprensa à época. O chamado "relatório Geisel" negou as denúncias e, assim, disse Starling, "inoculou" a prática de tortura no sistema. Ao menos 32 centros de tortura foram encontrados pela comissão em sete Estados só entre 1964 e 1965. 

Para demonstrar que o próprio Cenimar reconhecia práticas de violência contra seus próprios agentes infiltrados em grupos de esquerda, Starling mostrou um documento produzido pelo órgão. Ela disse que, nesse papel, a violência aparece como "um dado", não havendo nenhum pedido de investigação sobre o ocorrido. 

Os membros da comissão confirmaram que, em seu relatório final, devem fazer algum tipo de recomendação para possibilitar que agentes da repressão sejam judicialmente responsabilizados pelas violações. Hoje, eles estão livres de qualquer processo graças ao entendimento de que eles são beneficiados pela Lei da Anistia --corroborado pelo Supremo Tribunal Federal em 2009.
Não está claro o que será feito. Uma das possibilidades, como a Folha revelou no domingo, é que seja recomendado que o STF mande executar decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, de 2010. A Corte determinou que o Estado brasileiro encontre e puna os responsáveis pelo desaparecimento de 62 guerrilheiros no Araguaia (maior levante armado contra a ditadura, organizado pelo PC do B na Amazônia). 

Dos sete membros, não apareceram dois deles: Claudio Fonteles e Gilson Dipp --o segundo está há meses doente e tem estado ausente dos trabalhos. 

BALANÇO
Criada para desvendar as milhares de violações aos direitos humanos ocorridas na ditadura, a comissão não apresentou no balanço de hoje a resolução de nenhum caso. 

O relatório parcial --o prazo de funcionamento do grupo foi estendido, e agora terminará no fim de 2014-- fez um apanhado geral do que a comissão fez até agora. Os integrantes do grupo afirmam que só será apresentado um relato detalhado de todas as violações no relatório final. Hoje, Paulo Sérgio Pinheiro, que deixa a coordenação do grupo e dá lugar à colega Rosa Cardoso, afirmou que é impossível dizer se a solução de cada uma das violações de fato ocorrerá. 

O relatório parcial do grupo lembra que a comissão tem hoje 13 subgrupos de pesquisa, que se foca na pesquisa documental e na coleta de depoimentos. 

Durante o trabalho, foram localizados mais de 400 rolos de filmes da divisão de informações da Petrobras e identificadas, no Ministério das Relações Exteriores da Argentina, 66 caixas com informações sobre o país durante a ditadura, por exemplo. 

Sobre os depoimentos, foram feitos 268 deles --37 de militares envolvidos nas violações, 24 de vítimas militares e 207 de vítimas civis. Os depoimentos públicos com agentes da repressão, no entanto, só começaram há duas semanas, com a fala do coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra. 

BUSCA E APREENSÃO
 
Rosa Cardoso afirmou que não está descartada que a comissão peça à Justiça ordens para entrar em órgãos do Exército, da Aeronáutica e da Marinha em busca de documentos que as Forças não tenham cedido.

A COMILANÇA...



PREZADO PROFESSOR ROMANO:

vou processar os ministros porque me causam depressão. Como não aodecer em um páis assim? 

Marta

do Blog de ROBERTO ROMANO

O republicano STF, o republicano STF, o republicano STF. Vá ser republicano assim....naquele lugar!

Supremo paga voos para mulheres de ministros e viagens no período de férias

STF gastou R$ 903 mil com passagens para esposas e deslocamentos de magistrados na época de recesso

20 de maio de 2013 | 2h 07
Eduardo Bresciani e Mariângela Gallucci - O Estado de S.Paulo
 
Brasília - O Supremo Tribunal Federal (STF) reproduz hábitos que costumam ser questionados em outros poderes sobre o uso de recursos públicos para despesas com passagens aéreas. Levantamento feito pelo Estado com base em dados oficiais publicados no site da Corte, conforme determina a Lei de Acesso à Informação, mostra que ministros usaram estes recursos, no período entre 2009 e 2012, para realizar voos internacionais com suas mulheres, viagens durante o período de férias no Judiciário, chamado de recesso forense, e de retorno para seus Estados de origem.


O total gasto em passagens para ministros do STF e suas mulheres em quatro anos foi de R$ 2,2 milhões - a Corte informou não ter sistematizado os dados de anos anteriores. A maior parte (R$ 1,5 milhão) foi usada para viagens internacionais. De 2009 a 2012, o Supremo destinou R$ 608 mil para a compra de bilhetes aéreos para as esposas de cinco ministros: Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski - ainda integrantes da Corte -, além de Carlos Ayres Britto, Cezar Peluso e Eros Grau, hoje aposentados.

O pagamento de passagens aéreas a dependentes de ministros é permitido, em viagens internacionais, por uma resolução de 2010, baseada em julgamento de um processo administrativo no ano anterior. O ato diz que as passagens devem ser de primeira classe e que esse tipo de despesa deve ser arcado pela Corte quando a presença do parente for "indispensável" para o evento do qual o ministro participará. No entanto, o Supremo afirma que, quando o ministro viaja ao exterior representando a Corte, não precisa dar justificativa para ser acompanhado da mulher. 

No período divulgado pelo STF, de 2009 a 2012, as mulheres dos cinco ministros e ex-ministros mencionados realizaram 39 viagens. Dessas, 31 foram para o exterior.

As passagens incluem destinos famosos na Europa, como Veneza (Itália), Paris (França), Lisboa (Paris) e Moscou (Rússia), e Washington, nos Estados Unidos. A lista também inclui cidades na África - Cairo (Egito) e Cidade do Cabo (África do Sul) - e na Ásia (a indiana Nova Délhi e Pequim, na China).

As viagens realizadas pelos ministros são a título de representação da Corte, fazendo com que o maior número seja dos magistrados que ocupam a presidência e a vice-presidência da Corte. 

Recesso. Os ministros também usaram passagens pagas com dinheiro público durante o recesso, quando estão de férias. Foram R$ 259,5 mil gastos em viagens nacionais e internacionais realizadas nesses períodos. Não entram na conta passagens emitidas para presidentes e vice-presidentes do tribunal, que atuam em regime de plantão durante os recessos. 

O Supremo informou que, em 2005, foi formalizada a existência de uma cota de passagens aéreas para viagens nacionais dos ministros. A fixação do valor teve como base a realização de um deslocamento mensal para o Estado de origem do ministro. A Corte ressaltou que, como a cota tem valor fixo, o magistrado pode realizar mais viagens e para outros destinos com esse montante. O tribunal, porém, não informou à reportagem qual é esse valor.

O atual vice-presidente do Supremo foi quem mais gastou em viagens nos recessos do período de 2009 a 2012. Ricardo Lewandowski usou R$ 43 mil nesses anos. Os ministros Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Joaquim Barbosa, Luiz Fux e Rosa Weber também usaram bilhetes aéreos durante o período de recesso, assim como os ex-ministros Carlos Ayres Britto, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Eros Grau.

Estados. Praticamente todos os magistrados da Corte, atuais e já aposentados, usaram passagens do STF para retornar a seus Estados de origem. Os ministros podem exercer o cargo até completar 70 anos e não têm bases eleitorais, justificativa dada no Congresso para esse tipo de gasto. São Paulo e Rio são os destinos das viagens da maioria, como Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski e Luiz Fux. Porto Alegre é o principal destino de Rosa Weber, assim como Belo Horizonte costuma aparecer nos gastos de Cármen Lúcia.

Entre os ex-ministros há diversos deslocamentos de Carlos Ayres Britto para Aracaju (SE), de Cezar Peluso para São Paulo e de Eros Grau para Belo Horizonte e São João Del-Rei, cidades próximas a Tiradentes, onde possui uma casa.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Freud


Do facebook de Jorge Sesarino.
Freud escreveu essa carta em 19 de Abril de 1935, em resposta a carta de uma mãe americana, que relatava a Freud de seu filho homossexual, e solicitava a Freud que o analisasse e o “curasse”.

“Minha querida Senhora,

Lendo a sua carta, deduzo que seu filho é homossexual. Chamou fortemente a minha atenção o fato de a senhora não mencionar este termo na informação que acerca dele me enviou. Poderia lhe perguntar por que razão? Não tenho dúvidas que a homossexualidade não representa uma vantagem, no entanto, também não existem motivos para se envergonhar dela, já que isso não supões vício nem degradação alguma. Não pode ser qualificada como uma doença e nós a consideramos como uma variante da função sexual, produto de certo desajuste (resultado de uma certa interrupção) no desenvolvimento sexual. Muitos homens de grande respeito da Antiguidade e Atualidade foram homossexuais, e dentre eles, alguns dos personagens de maior destaque na história como Platão, Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci, etc. É uma grande injustiça e também uma crueldade, perseguir a homossexualidade como se esta fosse um delito. Caso não acredite na minha palavra, sugiro-lhe a leitura dos livros de Havelock Ellis.

Ao me perguntar se eu posso lhe oferecer a minha ajuda, imagino que isso seja uma tentativa de indagar acerca da minha posição em relação à abolição da homossexualidade, visando substituí-la por uma heterossexualidade normal. A minha resposta é que, em termos gerais, nada parecido podemos prometer. Em certos casos conseguimos desenvolver rudimentos das tendências heterossexuais presentes em todo homossexual, embora na maioria dos casos não seja possível. A questão fundamenta-se principalmente, na qualidade e idade do sujeito, sem possibilidade de determinar o resultado do tratamento.

A análise pode fazer outra coisa pelo seu filho. Se ele estiver experimentando descontentamento por causa de milhares de conflitos e inibição em relação à sua vida social a análise poderá lhe proporcionar tranqüilidade, paz psíquica e plena eficiência, independentemente de continuar sendo homossexual ou de mudar sua condição.”
(seguem-se as despedidas e as questões técnicas que dizem respeito ao início de um tratamento psicanalítico.

Sigmund Freud

Afeto que não se encerra...

Minha avó paterna, Dona Rosalina Bertini Bellini, com cujo rosto me deparei milhares de vezes e ajudou a me tornar gente. Na foto com mais de 70 anos, creio. Dona de uma alegria imensa, se chorava eu nunca vi. Mas a vi, a ouvi fazer piadas boas. 

A ex-querda, como diz Roberto Romano


Recebido a matéria abaixo do amigo virtual Grozny Arruda. 

O governo Dilma, PT (e do Lula) fez e faz o que o PSDB queria fazer e quer fazer. A Reforma da Previdência, em 2003, que nos jogou na vala comum, era objetivo do FHC, esse bruto tucano que privatizou o Brasil. A expertise petista foi fazer a privatização aos poucos, minando o público aos poucos quando a oposição de esquerda estivesse dizimada. Deu certo. Agora estamos em um governo de direita. Com colegas de esquerda nos matando. Desculpem-me a falta de alegria, de humor. 


Estranho nacionalismo
por André Singer  -  Folha de SP, 18.5.13

A MP dos Portos, aprovada depois de impressionante guerra político-empresarial no Congresso, deverá marcar o governo Dilma, talvez comprometendo de maneira indelével o caráter nacional-desenvolvimentista que a presidente procurou imprimir aos anos iniciais de seu mandato.

Em primeiro lugar, porque a orientação do projeto é privatista, embora o Executivo não goste que se fale em privatização. É verdade que os portos já estavam parcialmente em mãos privadas desde a reforma de 1993. No entanto, em lugar de restabelecer o primado do Estado numa área vital, a 595 abriu o espaço dos negócios portuários para outras empresas (as quais também já operavam no setor, porém em caráter, digamos, provisório).

Daí a disputa que se estabeleceu na Câmara dos Deputados nesta semana. Os que já estavam não queriam sair. Os "de fora" queriam substituir os antigos donos do pedaço.

Como se trata de interesses que envolvem bilhões de reais, vastos recursos foram usados para mobilizar parlamentares de um lado e de outro. Empresários como Daniel Dantas e Eike Batista e conglomerados como Odebrecht e Oetker (que detém a companhia de navegação Hamburg Süd) foram alguns dos nomes famosos que circularam nas notícias da semana. Ou seja, além de aumentar a privatização dos portos, a MP acelerou a galopante privatização do Legislativo brasileiro.


Em segundo lugar, a pretexto de aumentar a concorrência, o novo marco regulatório parece ter dado a alguns gigantes econômicos benefícios de tal ordem que, no médio prazo, os portos estatais irão quebrar. É o que afirmaram o senador Roberto Requião (PMDB-PR) e, por incrível que pareça, a nota técnica da liderança do PT. Isso explica por que o partido votou em bloco a favor da medida, mas com defesas tímidas do conteúdo, apelando para uma vaga ideia de modernização, tão a gosto dos liberais.

Ao aceitar o argumento neoliberal de que só o mercado é capaz de controlar o mercado, deixou-se de lado a alternativa de reconstruir a capacidade pública para ordenar um setor-chave da economia brasileira. Em outras palavras, aprofundando o viés liberalizante da política iniciada na década de 1990, Dilma pode ter enterrado o sonho de recuperar a soberania nacional em terreno estratégico.

Ainda que possa estar satisfeita com a vitória de última hora, não creio que o instinto desenvolvimentista da presidente a deixe dormir em paz com a perspectiva acima, que o grande capital evidentemente comemora. Resta ver se, pelo menos, tantas concessões irão trazer os frutos esperados em matéria de crescimento do PIB. A conferir.

Vesalius
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MALA


Numa estimativa de quem sabe fazer esse tipo de conta, na mala que fortalecia as opiniões dos adversários do projeto original da Medida Provisória dos Portos havia pelo menos R$ 200 milhões. Talvez mais, nunca menos.   -   Elio Gaspari, 19.5.13

...


Roberto Romano disse:

Marta Bellini, duas notícias de morte. Uma do passado presente que pode, sim, se transformar em novos pesadelos futuros, porque ditadores surgem como cogumelos da humidade e mofo que se instalam nas democracias. Ditadores, como os tsunamis, aparecem, matam, fazem desaparecer, são adorados e odiados, mas servem para matar almas e corpos. E Videlas existem na América, na África, na Asia, nos EUA, no Brasil (ah, quantos Videlas que ontem mesmo, a exemplo de Mussolini, se diziam socialistas!). Quanto à outra morte presente do futuro é a de Angelina Jolie. Tenho muitas dúvidas sobre a medicina norte-americana. Ela é avançada, sim, mas a cada dia menos medicina. Basta ler os livros de Jonathan Moreno, bio-ético respeitado até mesmo nos EUA. Recomendo sobretudo Minds Wars e Undue Risk. Este último, parece feito de encomenda, anos atrás, para casos como a da artista. Sinais de morte em toda parte. Busquemos, como Violeta Parra, dar graças à vida que ainda resta. Por quanto tempo?




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Grata pela Indicação, professor Roberto Romano. Vou ler os livros de Jonathan Moreno. A tão propalada notícia de Angelina Jolie é estarrecedora. Pretende levar outras tantas mulheres às mãos de cirurgiões especialistas em extirpar seios. Essa ciência que localiza genes para o câncer pode esquecer que o ambiente é um tipo de regulador interno. Nem sempre nossas predisposições genéticas aparecem. Escrevo isso lembrando aqui do excelente geneticista inglês, Conrad Hall Waddington, cuja teoria só foi mais conhecida depois do Projeto Genoma, um não mendeliano. Para Waddington nosso organismo é produto das relações ambiente e genomas, um produto da epigênese. Mas, para certa medicina ... isso está longe de ser compreendido. Resta o show da vida, ôps do mercado.

abraços!

Marta

Remédios, medicalização ....


Estes textos são do médico Paulo Roberto Donadio, professor do Departamento de Medicina da Universidade Estadual de maringá. Vale a pena ler!



Para quê tanto congresso?
Paulo Roberto Donadio*

“No meu tempo...
Parenteses: sempre que algum cronista começa
a crônica com “no meu tempo” significa que está
sentimentalizando a sua velhice para não precisar
lamentá-la, o que não interessaria a ninguém”.
Luiz Fernando Veríssimo (31-03-2013)

Nenhum receio de ser rotulado como saudosista, mas . . . no meu tempo . . . quando ainda fazia o curso de medicina na UFPR, concluído em 1976, e nos três anos seguintes, durante a Residência em Medicina Interna e a Especialização em Reumatologia, era uma verdadeira epopéia fazer uma revisão de qualquer assunto científico. Caso alguém quisesse levantar os artigos publicados no último ano, teria que consultar um a um os volumes mensais do Index Medicus, livros pesados com letrinhas miúdas. Neles estavam apontados na ordem alfabética todos os artigos das revistas indexadas. As referências escolhidas eram anotadas em pequenos papéis, as revistas que existiam na biblioteca eram separadas para fazer a fotocópia destas referências, e, as que não estavam ali disponíveis, eram solicitadas através do COMUT (Comutação bibliográfica). Por vezes, dependendo do assunto, todo este processo poderia demorar mais de um mês.
Naquela época os congressos médicos eram o ponto alto na atualização dos assuntos de qualquer especialidade. Grandes conferências traziam o que de mais novo existia. Mesas redondas com experts nos diversos assuntos atraiam a atenção de todos os participantes. Obviamente também eram momentos de grandes confraternizações entre colegas que passavam muito tempo sem se encontrarem.
Eis que surge a internet. Inicialmente utilizada para fins militares nas décadas de 1970-80, expandiu-se vertiginosamente nos anos 90, tornando-se uma poderosa ferramenta de comunicação no meio acadêmico.
Hoje, aqueles levantamentos bibliográficos que poderiam levar meses para serem finalizados, podem estar a nossa disposição em frações de segundos. Filtros possibilitam tantas opções de seleção, tais como de períodos, faixa etária, sexo, tipo de publicações, etc., que não deixam mais nenhuma margem para desculpas de qualquer profissional no que diz respeito a sua possibilidade de manter-se atualizado. Os mais velhos às vezes alegam que não sabem nem ligar o computador. Não se acanhem, peçam ajuda aos seus filhos ou até netos, que eles, ao contrário de vocês, que costumam naufragar, navegam como bons timoneiros.
Além disso, essa rede fantástica permite a comunicação simultânea entre vários profissionais de uma mesma área ou de áreas correlatas através de teleconferências, para troca de experiências, teleconsultorias e outras tantas opções.
Os assuntos que hoje são levados aos congressos médicos já estão na rede, ou estarão nas próximas horas ou dias, e podem ser consultados por qualquer pessoa com mínimo conhecimento de como manusear um computador.
A maioria das, senão todas, revistas científicas lançam as suas edições na versão online muito antes da impressa. Muitas das mais importantes revistas científicas têm acesso livre, ou podem ser acessadas através de sites institucionais, como por exemplo, Periódicos CAPES, PubMed, emedicine.com, entre outras.
Cabe aqui um alerta: não basta acessar o que de mais atualizado está a disposição na rede virtual, mas saber filtrar o que pode ser considerado confiável é fundamental. Isto porque a indústria também influencia, e muito, na qualidade do que é publicado. Denúncias sobre esta prática também são freqüentes na literatura1.
Mesmo assim, embora com alto custo, o número de congressos aumentou. Esta realidade traz implícita uma contradição: ao mesmo tempo em que temos uma poderosa ferramenta facilitadora de transmissão de conhecimentos, e a um custo muito baixo, cresce a opção de difusão de conhecimento mais cara, ou seja, os congressos, simpósios, ou jornadas, que mobilizam um sem número de pessoas, incluídos aí os próprios médicos, boa parte deles à custa da indústria farmacêutica e de equipamentos.
Essa contradição é apenas aparente. O interesse pelos congressos apenas mudou de grupo. Dos prescritores de medicamentos e equipamentos médico- hospitalares, passou para os produtores. 
O que assistimos hoje nos congressos médicos é uma verdadeira feira para vender estes produtos. Esta situação já vem sendo discutida há muito tempo tanto nas revistas científicas quanto na imprensa leiga.
Ashley Wazana publicou no JAMA de 19 de janeiro de 2000, artigo de revisão detalhando e ao mesmo tempo denunciando o gritante conflito de interesses que existe na relação entre médicos e indústria farmacêutica. Vale conferir2.
Em reportagem publicada na Folha de São Paulo intitulada “Com brinde e massagem, congresso médico parece parque de diversões”, a jornalista Cláudia Collucci fez um relato do que viu em um congresso da Associação Americana de Oncologia Clínica. Finaliza afirmando que “Os brindes oferecidos nos estandes são apenas uma pequena parte dos mimos dados pelos laboratórios aos médicos. A maioria deles participa do congresso (o maior da área e o que define novas condutas médicas em oncologia) a convite da indústria farmacêutica, com, ao menos, passagens aéreas e hospedagem gratuitas. O mesmo acontece com grande parte dos quase 600 jornalistas de todo o mundo que fazem a cobertura do evento. Só a Merck, produtora do remédio "estrela" do congresso (Erbitux), trouxe para Chicago 850 pessoas entre médicos e jornalistas de todo o mundo3.
Diante desta breve exposição cabe o questionamento: “Para quê tanto congresso”?, ou, a quem interessa o crescimento do número de congressos médicos?
1. Miguelote VRS, Camargo Jr. KR. Indústria do conhecimento: uma poderosa
   engrenagem. Rev Saúde Pública 2010;44(1):190-6.
2. Wasana A. Physicians and the Pharmaceutical Industry: is a Gift Ever Just a  
    Gift? JAMA, 2000, 283(3):373-380.

*Médico Reumatologista. Prof. de Reumatologia do Departamento de Medicina da UEM.

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A perversidade dos preços dos medicamentos.
Paulo Roberto Donadio*
“Se você entrar na farmácia tossindo, paga 34%
de imposto; se entrar latindo, paga só 14%”.
(Joelmir Beting -1936-2012)

Frases de efeito como esta, sempre carregadas de bom humor, eram a tônica nas crônicas diárias do jornalista Joelmir Beting. Em que pese o humor explícito, esta frase encerra uma perversidade a qual é submetida a população brasileira.
A indústria farmacêutica, isoladamente ou através das suas entidades representativas, aproveitando-se desta discrepância tributária, sempre vem a público justificar o porquê dos altos preços dos medicamentos. Não deixa de ter razão: a alta tributação é sem dúvida um dos fatores que mantém o preço dos medicamentos nas alturas.
No entanto, os altos preços dos medicamentos, principalmente os novos, escondem outra perversidade. Os preços apresentados (sugeridos) pelos produtores dos medicamentos são aprovados pela ANVISA, órgão de regulação ligado ao Ministério da Saúde. Ocorre que, quase como uma regra, estes preços são altos, muito altos, por vezes até extorsivos, e são mantidos elevados até o vencimento das suas patentes, 10 anos em média, após o seu lançamento. E digo isso sem nenhum receio de cometer alguma injustiça ou agressão gratuita. Uma das justificativas da indústria é que necessita recuperar o investimento feito na pesquisa de um novo medicamento. Nada mais justo, mas “... Empresas farmacêuticas americanas investem muito mais na promoção dos remédios do que em seu desenvolvimento”. (Lown, Bernard. A Crise das Drogas III: Corrupção da ciência. Diag. & trat. 9(4), 2004.)

Resolução 1939/2010-CFM
Art. 1º. É vedado ao médico participar, direta ou indiretamente, de qualquer espécie de promoção relacionada com o fornecimento de cupons ou cartões de descontos aos pacientes, para a aquisição de medicamentos. Parágrafo único. Inclui-se nessa vedação o preenchimento de qualquer espécie de cadastro, formulário, ficha, cartão de informações ou documentos assemelhados, em função das promoções mencionadas no /caput/ deste artigo.

Durante este período, da reserva de mercado permitido pela lei de patentes, a indústria farmacêutica lança mão de estratégias de marketing que, no mínimo, deveriam ser questionadas pelas autoridades responsáveis pela regulação do setor.
O Conselho Federal de Medicina, através da Resolução 1939/2010, proibiu os médicos de divulgarem junto aos pacientes os chamados cartões de desconto, entendendo que através desta prática, além de deixar explícito um conflito de interesse, viola o necessário sigilo do paciente (Box). A indústria, também conhecida como BigPharma, rapidamente eliminou o cartão de descontos e lançou um número para chamadas telefônicas gratuitas, através das quais o próprio paciente faz o seu cadastro e é “presenteado” com um desconto. Quem fornece este número ao paciente? Obviamente o médico, alvo direto da propaganda de medicamentos, uma vez que a legislação, salvo algumas exceções, proíbe a propaganda dirigida diretamente ao consumidor final.
Editorial do periódico Folha de São Paulo abordou o assunto por ocasião da publicação da resolução do CFM.

“... o estratagema de solicitar a médicos o preenchimento de formulários com dados acerca de seus pacientes e da prescrição fere o sigilo que protege a relação entre profissional e cliente. Com tal expediente, terceiros -as empresas- ganham acesso a informações clínicas que não deveriam sair do consultório.
Além disso, o médico se torna cúmplice de um processo de "fidelização" que só interessa aos laboratórios. O procedimento pode induzir o uso continuado do remédio sem controle periódico, ou dificultar a troca do medicamento em promoção por outro princípio ativo ou fabricante. Ainda que o profissional não obtenha vantagens pessoais, sempre haverá suspeitas. Se o laboratório tem condições de oferecer descontos significativos para alguns clientes, deveria fazê-lo no mercado propriamente dito. Concorrência direta ainda constitui a forma mais eficiente e transparente de conquistar clientes; transformar médicos em atravessadores é na realidade uma forma de burlá-la.”


Fonte: Folha de São Paulo, Editorial, 14.02.2010



Ao entrar em contato com o 0800 o paciente tem que fornecer todos os seus dados pessoais, assim como informações sobre quem receitou o medicamento e, por vezes, todas as suas condições econômicas, para que possa definir qual o percentual de desconto ao qual terá direito. Para qualquer pessoa fica claro que tudo que motivou a publicação da Resolução 1939/2010 está sendo perpetrado através desta prática de fidelização de clientela (médicos e pacientes).
Vários medicamentos alcançam com esta prática, e somente através dela, descontos que chegam a ultrapassar 60%. Apenas dois exemplos práticos: 1. Duloxetina (Cymbalta®), antidepressivo que tem ação sobre dores crônicas. Preço máximo ao consumidor oferecido no balcão da farmácia R$ 300,09 (trezentos reais e nove centavos) por uma caixa com 28 cápsulas de 60 miligramas. Ligando para o 0800 e mentindo muito, ou seja, reduzindo o número de cômodos da sua casa e dizendo que não tem nenhum eletrodoméstico que possa ser considerado supérfluo, o desconto pode chegar até a 66%. 2. Nexium (Esomeprazol®), medicamento para problemas gástricos. Preço máximo ao consumidor R$ 213,59 (duzentos e treze reais e cinqüenta nove centavos) por uma caixa com 28 comprimidos de 40 miligramas. Ligando para o 0800 o preço é reduzido em 50%. Muitos outros exemplos poderiam ser citados.
Ora, se é possível dar descontos desta ordem, qual a razão da ANVISA aprovar o preço extorsivo apresentado pela indústria no processo de registro?
Até quando médicos e população ficarão reféns destas armadilhas que movem a economia e tratam medicamentos como se fossem um produto de consumo como outro qualquer e não um bem da saúde pública?

*Médico Reumatologista. Prof. de Reumatologia do Departamento de Medicina da UEM.


sexta-feira, 17 de maio de 2013

VIDELA: es un muerto de mierda...


Obituario con hurras (Mario Benedetti)

Vamos a festejarlo
vengan todos
los inocentes
los damnificados los que gritan de noche
los que sueñan de día
los que sufren el cuerpo
los que alojan fantasmas
los que pisan descalzos
los que blasfeman y arden
los pobres congelados
los que quieren a alguien
los que nunca se olvidan
vamos a festejarlo
vengan todos
el crápula se ha muerto
se acabó el alma negra
el ladrón
el cochino
se acabó para siempre
hurra
que vengan todos
vamos a festejarlo
a no decir
la muerte
siempre lo borra todo
todo lo purifica
cualquier día
la muerte
no borra nada
quedan
siempre las cicatrices
hurra
murió el cretino
vamos a festejarlo
a no llorar de vicio
que lloren sus iguales
y se traguen sus lágrimas
se acabó el monstruo prócer
se acabó para siempre
vamos a festejarlo
a no ponernos tibios
a no creer que éste
es un muerto cualquiera
vamos a festejarlo
a no volvernos flojos
a no olvidar que éste
es un muerto de mierda.

Antecipando o futuro...

A confissão de Angelina Jolie foi uma grande notícia. Cortou os dois seios para evitar o câncer porque tinha um gene que a indicava como a próxima vítima depois de sua mãe. Todos elogiaram-na. Eu fiquei estarrecida. Quem antecipa assim o futuro com tanta precisão? Nesse caso, a medicina, ou melhor, uma certa medicina.
Perguntas que ficam:

1 - Serão tão pontuais nossos genes? Para certa medicina genética sim. Para outra, não. 

2 - Extirpar os seios dá. E os pulmões? O fígado?

3 - As mulheres estão tão dispostas assim a evitar câncer dos seios? Obedecem seus médicos tão prontamente? Ou o fantasma da mãe falou mais alto?

A imprensa fez dos seios de Angelina Jolie um espetáculo. Afinal, vivemos de espetáculos, diz Guy Debord. Eu fiquei encolhida diante da notícia. Não é um espetáculo que aprecio. Nem sei se aprecio espetáculos. 

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Fluxograma...


quinta-feira, 16 de maio de 2013

Gulosos! Comem os pobres e lambem os beiços...

 

do Blog de Angelo RIGON, na Má-ringa

Vereadores podem dar muito aos ricos e uma esmola aos pobres

Ontem os vereadores de Maringá decidiram que não votariam o caso Eurogarden, empreendimento imobiliário que une Jefferson Nogaroli e Ricardo Barros. A outorga onerosa implica em coisa de R$ 30 milhões, que ao invés de irem para a habitação popular vão ser transformados em infraestrutura que vai beneficiar os próprios empreendedores. Para fazer a base aliada mudar de ideia – e olha que tem hora que a gente até acredita que o Legislativo vai ser independente… -, Barros “catracou” os que lhe devem favores. Decidiu incluir uma emenda que também acrescenta a infra-estrutura para 150 casas populares. Transformando em miúdos: os vereadores devem aprovar R$ 30 milhões para os ricos e abastados e menos de 3% deste valor – uma esmola – para os pobres.
O poder de convencimento do chefe de todos impressiona; um homem sem mandato, mas com muita sede, consegue comandar sem maiores problemas a terceira maior cidade do Paraná, com ações que beneficiam, claro, seus próprios interesses.

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Comentário:

Como comem esses empresários! Em 2002 quando Lerner queria privatizar a Universidade Estadual de Maringá com o famigerado projeto de Autonomia número 32, Jeferson Nogarolli era candidato à compra.

Os pobres, ah, esses miseráveis que atrapalham!

Sublime!


Grata, professor Romano!!
Sublime!


Para Marta Bellini, Images & Visions


© Foto do acervo da família. Frida Kahlo, aos quatro anos de idade. México, 1911.

Esta mocinha brincando com o seu boneco é Frida Kahlo, aos quatro anos de idade. Frida nasceu em 1907, na casa de seus pais, que ficou conhecida como “La Casa Azul”, em Coyoacán, um distrito nos arredores da Cidade do México. Em 1913, aos seis anos de idade, Frida contraiu poliomielite, o que a deixou com uma lesão no pé direito, época em que ganhou o apelido de Frida pata de palo (Frida perna de pau).

quarta-feira, 15 de maio de 2013

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Imagem: Antoine Josse

«Criar felicidade para protestar contra o universo da infelicidade.» Albert Camus, Cartas a um amigo alemão.

cap-tirado do Blog de Rui bebiano, Portugal

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Propaganda enganosa?

No programa do pepê, PP, partido progressista, vemos o ex-prefeito da cidade da Má-ringa dizendo que as ATI - Academias da Terceira Idade - são pioneiras na cidade vindas de fora do Brasil. Correção: as ATIs vieram da China ao Brasil, primeiro para cidades do estado de São Paulo; depois Santa Catarina e depois para o Paraná. Isso está documentado em trabalho de TCC - trabalho de conclusão de curso - . da Universidade Estadual de Maringá.

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Na Má-ringa: é dando que se recebe....


Maringá

Prefeitura vai terceirizar o Parque do Japão


Depois de enterrar milhões de reais de recursos públicos no Parque do Japão, a administração Pupin vai entregá-la agora para terceiros explorarem por um período de 30 anos, renovável por mais 5, inclusive com a possibilidade de cobrança de ingressos e contraprestação do município. O projeto foi assinado pelo prefeito Carlos Roberto Pupin (PP) antes de sua viagem aos Estados Unidos. Uma área parcial de terra e edificações serão entregues a uma entidade privada sem fins lucrativos e que defenda a preservação e difusão da cultural japonesa; apesar da autorização para a concorrência, ela já teria vencedor: a Oscip Parque do Japão – Memorial Imin 100, presidida por Massayoshi Siraichi, criada durante o governo Silvio Barros II para, hipoteticamente, construir com recursos privados o Parque do Japão, o que nunca aconteceu. A entidade é dona inclusive do domínio de internet do Parque do Japão. A Oscip não poderá explorar o ginásio de esportes

Nós, os fracassados


 
Enviado ao meu facebook por Marta Saia
Além-Tédio" - Mário de Sá Carneiro
(Lisboa, 19.5.1890 — Paris, 26.4.1916)

Nada me expira já, nada me vive —
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
... Fartam-me até as coisas que não tive.

Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.

Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.

Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!

Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.

E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...