Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

domingo, 16 de outubro de 2011

Quem reprime sente tesão na repressão?

Na semana passada um ex-aluna disse-me: "Você viu o que escreveram nas paredes da biblioteca da UEM (Universidade Estadual de Maringá)?"
 Falou em um tom que lembro-me era parecido com o tom das fofoqueiras de muro da cidade onde nasci. "Você viu a fulana como se vestiu ontem? Parecia uma puta!"
E eu ouvi-a - tão nova - falando como as velhas invejosas da minha cidade. Enfim, vi as paredes antes de sexta-feira passada. Na sexta, os moralistas de plantão pintaram as paredes. Eu não entendi o porquê. Afinal, dessa frase "Cuidado, estudantes egocêntricos" não fede nem cheira. É uma frase até ingênua. Mas, o inconsciente coletivo administrativo moralista e punitivo se assustou! Estão se assustando à toa. Essa coisa de apagar uma simples frase me soou assim: quem muito apaga o muro público esconde-se de sua vida privada.



Eu adorei essa frase. As flores da filosofia não nascem na Universidade. SIM, qual é o "pobrema" (sorry, pró-reitor, hoje uso aspas por causa da ortografia).

E essa frase é sublime! Dá a dimensão do que passam os estudantes mais inteligentes, menos cordeiros, mais lutadores. Os estudantes não são rebanhos que atendem os administradores da direita e da esquerda que assolam a Universidade.

Lembro-me da USP de RibeirãoPreto, década de 1970, quando iniciei minha graduação. Logo que entrei na cantina vi a frase: FALA BAIXO SENÃO EU GRITO! Nome da peça de Leilah Assumpção, protagonizada por Marília Pera. Em 1968, na maior parede de minha escola, em tintas vermelhas um grupo de trocos lascou a frase: SODRÉ CÃO!
Em 1993, quando estava terminando o doutorado na USP de São Paulo, choveu muito em janeiro. Cairam alguns prédios da Psicologia Social. Cheguei de manhã para pegar uns documentos e vi a lindíssima frase na parede de um bloco da psicologia:  FREUD NÃO MORA MAIS AQUI!

 Na Universidade Estadual de Maringá o apagar das frases mostra que estamos na baixa Idade Média. Baixa não em termos de data. Of course. Parece que o Kominter não suporta saraus, festas, cultura e grafitos.

ah!
Os grafitos existem desde a antiguidade. Quando os arqueólogos estavam em Pompéia soterrada pelo Vesúvio em 24 de agosto em 79 d.C., encontraram grafitos. Diziam: FULANO DE TAL COMI SUA MULHER.
Eu não entendo e não aceito a realpolitik de apagar os grafitos. São humanos, são históricos e são manifestações importantes.

Eu tenho vontade de grafitar, mas não o farei. Tenho medo de ser presa e deportada para a Albânia.

as fotos: cap-tirei do flick do Ozaí, professor de Ciências Sociais da UEM aqui

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