Desbragada humilhação
Qualquer que venha a ser o resultado da proposta da transformação da Grécia em protectorado, feita (obviamente…) pela Alemanha, toda a indignação possível nunca é demasiada, nem sequer suficiente. Chegou-se, como muitos já escreveram, ao «fim da linha». E onde está «Grécia», leia-se amanhã «Portugal».
Um dia, talvez a Europa acorde gerida por um funcionário de um outro continente. Se não estivéssemos a falar de coisas muito sérias e desgraçadas, apetecia dizer: «Bem feito!».
A reter, dois textos de hoje:
Ana Sá Lopes, Acordar os monstros desbragadamente
«A história da decadência da União Europeia entrou num novo estádio e a mais desbragada humilhação está em curso. (…)
A soberania já tinha sido hipotecada a troco do empréstimo externo. Agora a Alemanha espera que lhe seja oferecida de boa-vontade – como se houvesse uma espécie de quinta coluna em todos os países europeus prontos a facilitar a ocupação alemã sem resistência. (…)
O que é espantoso é a naturalidade com que a Alemanha – a quem a Europa perdoou a dívida da Segunda Guerra – acorda agora todos os monstros possíveis sem tremer. (…)
A degenerescência europeia atingiu o seu ponto de não retorno.»
Manuel António Pina, Passa para cá a soberania
«Os olhos cobiçosos da sra. Merkel não são substancialmente distintos, senão nos processos, dos que uma outra Alemanha deitou há décadas à soberania dos países vizinhos, Grécia incluída. Taxas de juro usurárias e batalhões de burocratas com "certos poderes de decisão" que reforcem "o controlo dos programas e das medidas 'in loco'" são coisa mais discreta mas não menos arrasadora do que "panzers" e exércitos de ocupação. O seu efeito prático é, porém, o mesmo: a sujeição de um país e de um povo.»
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