quarta-feira, 13 de março de 2013
Jornal da Unicamp do Blog de Roberto Romano
Campinas, 11 de
março de 2013 a 17 de março de 2013 – ANO 2013 – Nº 553
Extrato da casca da jabuticaba
Composto com ação antioxidante foi empregado
em produtos como queijos e iogurtes
Pesquisadores
da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp obtiveram um extrato
natural a partir da casca da jabuticaba, fruta nativa e abundante no país,
bastante cultivada em pomares domésticos. O composto bioativo foi utilizado em
alimentos com probióticos, como queijos petit suisse e iogurtes, desenvolvidos
especificamente para o estudo. A utilização do extrato da jabuticaba nestes
produtos possibilitou dois benefícios: aumento da sobrevida dos microrganismos
probióticos e ação antioxidante natural, benéfica para a saúde.
“Utilizamos
uma tecnologia ecologicamente correta para obtermos este composto bioativo. Além
disso, estamos apresentando um produto natural de alta qualidade e com duplo
benefício à saúde por ter propriedade funcional e antioxidante”, destaca o
engenheiro de alimentos Rodrigo Nunes Cavalcanti. Coube a ele a extração do
composto a partir do resíduo da geleia da jabuticaba, processo que foi orientado
pela professora Maria Angela Meireles.
Extrato da casca da jabuticaba
prolonga a vida de probióticos
Composto com ação antioxidante foi empregadoem produtos como queijos e iogurtes
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Fotos:
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Edição de Imagens:

Alimentos com probióticos são aqueles que
possuem organismos vivos capazes de ajudar a manter o equilíbrio intestinal
quando consumidos adequadamente. Entre os principais produtos, também
considerados funcionais, estão alguns tipos de queijos, iogurtes e bebidas
lácteas. Já os alimentos com função antioxidante natural retardam a formação de
radicais livres no organismo, que podem causar o envelhecimento precoce e
doenças degenerativas.
O estudo, de caráter interdisciplinar, foi
desenvolvido pelos pesquisadores Rodrigo Nunes Cavalcanti e Adriano Gomes Cruz
nos laboratórios de Separação Física (Lasefi) e de Embalagem e Estabilidade de
Alimentos. A investigação foi orientada pelos docentes Maria Angela de Almeida
Meireles, do Departamento de Engenharia de Alimentos, e José Assis Fonseca
Faria, do Departamento de Tecnologia de Alimentos. A pesquisa foi financiada
pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

“O diferencial em relação aos produtos
convencionais é que, utilizando um resíduo da indústria de alimentos, obtivemos
um extrato que prolonga a vida do microrganismo. Adicionalmente, ele oferece o
benefício de ser um agente antioxidante, propriedade da casca da jabuticaba.
Todos os elementos bioativos importantes para a ação antioxidante ficam retidos
na casca, que antes era descartada”, reforça a docente da Unicamp.
Naturais x sintéticos
A indústria alimentícia faz largo uso de
antioxidantes sintéticos para aumentar a vida útil dos seus produtos, explica
Maria Angela Meireles. Só que, ao contrário dos naturais, eles podem estar
associados a malefícios à saúde.
O composto, ainda de acordo com ela, não
interfere no sabor nem na cor original do iogurte ou do queijo petit suisse,
características próprias de um bom antioxidante. “Se o extrato for adicionado no
iogurte ou no queijo, eles não vão ficar com sabor de jabuticaba. Utilizamos uma
quantidade bastante pequena justamente para não interferir nisso”, justifica a
docente.
Maria Angela Meireles explicou também que o
pesquisador Adriano Cruz, sob a coordenação do docente José Fonseca Faria,
produziu um lote de iogurte e queijo para testes. Eles conduziram toda a análise
sobre a interação do extrato com os probióticos.
Tanto no petit suisse como no iogurte foram
utilizados dois tipos de microrganismos probióticos, o Lactobacillus
acidophillus e o Bifidobacterium longum. Estes microrganismos atuam na
restauração da flora intestinal e vêm sendo muito empregados em produtos
funcionais.
O engenheiro químico Adriano Cruz informa que é
necessária uma determinada quantidade na porção do produto para que existam
benefícios à saúde. O problema, no entanto, é que a presença de oxigênio se
constitui em fator prejudicial à existência destes microrganismos, observa o
pesquisador.
“Eles possuem metabolismo anaeróbio ou
microaerofílico. E o processo de fabricação do iogurte e queijo petit suisse
envolve uma etapa de incorporação de ar. Este oxigênio que entra no produto
pode, portanto, ser prejudicial à vida dos microrganismos. Ocorre o chamado
estresse oxidativo”, esclarece. Ainda de acordo com Adriano Cruz, o extrato da
jabuticaba foi adicionado nos dois produtos, sendo realizado um monitoramento
das contagens de ambos os microrganismos ao longo de 28 dias.
Outras substâncias tradicionalmente utilizadas
para minimizar o estresse oxidativo também foram utilizadas para comparar os
resultados com o extrato da jabuticaba. Para esta verificação foram empregadas a
cisteína, o ácido ascórbico e a glucose oxidase. “O extrato de jabuticaba
apresentou desempenho superior a todas estas substâncias”, revela o engenheiro
químico.
Situações
Os resultados da interação dos probióticos com
o queijo e o iogurte se mostraram mais favoráveis em duas situações: o extrato
foi eficiente para prolongar a vida do Bifidobacterium no iogurte e do
Lactobacillus no petit suisse.
“O objetivo da utilização do bioativo foi
manter os microrganismos vivos por mais tempo para que, quando o produto for
ingerido, ele tenha a sua ação desejada”, complementa Maria Angela Meireles.
Nestas duas situações o extrato manteve os microrganismos vivos durante 30 dias,
tempo considerado apropriado para estes tipos de alimentos.
Processos limpos
A obtenção do composto da casca da jabuticaba
foi realizada por meio de dois processos considerados ‘limpos’: a extração com
fluido supercrítico e com líquido pressurizado. A técnica com fluido
supercrítico consiste na utilização do dióxido de carbono (CO2) que em alta
pressão se transforma em solvente.
Em alta pressão, o CO2 atinge densidade próxima
de um líquido, o que facilita a extração dos compostos bioativos da matriz
vegetal, no caso o resíduo da jabuticaba. “A extração por fluido supercrítico é
geralmente mais rápida que a extração líquida e quando se usa o dióxido de
carbono como solvente, muito mais ecológica”, pontua o pesquisador Rodrigo Nunes
Cavalcanti.
Etanol e água também foram empregados em
pequenas quantidades como solventes, em complemento à extração supercrítica.
Este processo é conhecido como Extração com Líquido Pressurizado (PLE, do termo
em inglês pressurized liquid extraction).
Além do benefício ecológico do uso do dióxido
de carbono, os processos permitem que os compostos extraídos fiquem livres de
resíduos e solventes tóxicos. Os métodos convencionais fazem a extração sob
baixa pressão utilizando grandes quantidades de solventes, deixando possíveis
toxinas nos alimentos.
“O resíduo secundário da extração ainda é,
posteriormente, tratado no laboratório por meio de um processo que nós chamamos
de hidrólise ou hidrotermólise. Deste modo, o resíduo da casca da jabuticaba
pode ser empregado como matéria-prima em várias outras aplicações, como por
exemplo, na produção de etanol de segunda geração”, ilustra a docente da
Unicamp.
A matéria-prima utilizada no estudo foi obtida
na centenária fazenda Santa Maria, localizada no distrito de Joaquim Egídio, em
Campinas. A fazenda é conhecida pela tradicional colheita de jabuticabas e pela
produção de geleias. A pesquisa utilizou resíduos da jabuticaba oriundos da
produção do doce da fruta.
Publicações
Doutorado: Extração de
Antocianinas de Resíduo de Jabuticaba (Myrciaria cauliflora) utilizando líquido
pressurizado e fluido
Autor: Rodrigo Nunes Calvacanti
Orientadora: Maria Angela de Almeida Meireles
Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
Autor: Rodrigo Nunes Calvacanti
Orientadora: Maria Angela de Almeida Meireles
Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
Pós-doutorado: Aplicação da
Análise de Sobrevida para minimização do estresse oxidativo em iogurte
probiótico
Autor: Adriano Gomes Cruz
Orientador: José Assis Fonseca Faria
Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
Autor: Adriano Gomes Cruz
Orientador: José Assis Fonseca Faria
Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
Financiamento: Conselho
Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico (CNPq) e Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
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