A METÁFORA GUERRA NO ARTIGO DO
PROFESSOR OZAI: MAS GUERRA DE TRABALHADOR CONTRA TRABALHADOR. O ESTADO BURGUÊS?
Ora, esse fica para lá!
Marta Bellini
Professora do Departamento de Fundamentos da Educação da
Universidade Estadual de Maringá
O artigo do Professor Ozaí, do Departamento de Ciências
Sociais, da Universidade Estadual de Maringá, As lições da greve, defendendo a greve dos funcionários da Universidade, e atacando o que ele chama de minoria mandante (professores) foi unanimidade entre os diferentes matizes de
esquerda e por que não dizer também, de direita. É incrível como, no caso das
esquerdas, foram esquecidas algumas lições centenárias tanto do velho Marx
quanto dos velhos anarquistas.
Fez sucesso entre alunos, funcionários e alguns docentes sua
declaração de que o caráter antidemocrático da Universidade sustenta-se na
separação entre servidores, na “pretensa superioridade de uma minoria titulada
e no domínio docente amparado na regra 70%, 15% e 15% quanto ao peso dos votos
decisórios”.
O professor aproveita-se de várias questões, mas não as
explicita. Pois bem: toma a não paridade para argumentar sobre a greve dos
funcionários da Universidade Estadual de Maringá como e ataca os docentes
chamando-os de “minoria supostamente superior” e de “elite” da qual faz parte, (tanto
que assina seu artigo como professor doutor) e está incluído na carreira desses
supostamente superiores. Uma advertência: se
essa minoria não seguir a carreira não tem aumento salarial. Então, toda a
suposta minoria superior, inclusive o professor, também fez jus ao seu aumento
salarial.
Mas, deixando de lado, essas contradições do Professor Ozaí
e de seu jargão de sucesso veiculado pelo slogan
“minoria de elite”, sabemos que os velhos anarquistas e marxistas nunca
deixaram se corroer pelos problemas de uma corporação, mas atacaram o Estado
burguês. Uma lição cara aos anarquistas.
O caráter antidemocrático das universidades decorre, antes
de tudo, por ser uma instituição do ESTADO. É nisso que reside o problema
central. Uma instituição universitária como parte do ESTADO tem uma burocracia
formada por funcionários e professores. Às vezes, mais de funcionários do que
professores. Outras mais de professores. E aí onde o professor localiza uma
minoria elitista e uma maioria de trabalhadores não elitistas, a coisa se
complica. A burocracia, meu caro
Professor Ozaí, a mesma burocracia que liquida professores e funcionários, é
formada por professores e funcionários! Essa é uma das dimensões do caráter
burguês da Universidade.
Então, o que temos? Uma primeira falácia em seus
argumentos. A simples divisão entre minoria que manda e uma maioria que tem que
obedecer, mostra um pensamento maniqueísta e arrivista. Maniqueísta porque
divide a Universidade em uma aritmética social ingênua, a de duas partes.
Arrivista porque mesmo sendo professor, se identifica com a maioria supostamente frágil e vocifera
palavreados em detrimento da outra. Ingenuidade ou má fé?
É um artigo politicamente ingênuo, mas carrega na má fé. Quando
o Professor Ozaí diz que os professores “estão acostumados a mandar”, aí
acredito que chegamos ao cúmulo da má fé. É um artigo com tintas de
revanchismo! Onde procurar o núcleo subjetivo que leva o professor ao auto-ataque?
Não podemos esquecer a lição dos velhos anarquistas. E o
professor esqueceu de que quando falamos em eleições para reitoria, por
exemplo, sua aritmética social se evapora. Esqueceu que essa burocracia de
funcionários e professores barganha votos. Podemos falar em COMÉRCIO DE VOTOS.
Um comércio tão poderoso que mantém um grupo por mais de 20 anos no poder
administrativo! E essa burocracia é ajudada por sindicalistas de plantão que
domam seus filiados para esse comércio. Mais forte é essa burocracia quanto
mais firme é a aliança entre sindicatos e administrações.
Veja professor Ozaí, se
podemos falar de minorias aqui, temos duas, a de professores e a de
funcionários que não se aceitam cargos, funções gratificadas em trocas de votos
em reitores.
Resumindo seu pensamento: querendo vislumbrar uma Universidade
dividiu-a em duas. Uma rica e uma pobre. E se esqueceu da banda do meio (que
também rivaliza entre si formando várias facções) composta por docentes e
funcionários que comandam de fato a Universidade em troca de cargos e funções
gratificadas. E isso com as beneficies do ESTADO. O ESTADO, nesses casos, fecha os olhos para as irregularidades
cometidas por docentes e técnicos. É bom para o ESTADO e é bom para as
administrações não mexer em vespeiros. Essa burocracia apoia os governantes.
A segunda falácia do texto do professor: “greve é greve. É
tão difícil de compreender assim?”. Não, professor Ozaí, não é difícil. O
senhor se esqueceu de completar a frase: Greve
é greve ... de funcionários. Nós, docentes, fizemos greve em agosto de
2012. E nossas assembleias respeitaram o trabalho dos funcionários e nelas
discutimos democraticamente o que fazer na UEM enquanto um comando de greve
estadual estava em Curitiba negociando com o Chefe da Casa Civil. Nós não
ficamos em casa, nem mandamos os alunos de volta para casa, nem impedimos os
funcionários de entrarem em suas salas. Nós, sabíamos que nossa pauta naquele
momento era a equiparação salarial de 31,73%, equiparação defendida desde 2006
quando os técnicos negociaram com o reitor da época, sua carreira e o sindicato
– que era das duas categorias – negociou com apenas a dos técnicos.
Concordo com o professor Ozaí em um quesito: a greve deu
visibilidade aos funcionários, sobretudo aos funcionários que vivem uma
situação dramática: zeladoras, vigilantes. Mas, a direção do sindicato e a sua
visão de universidade partida em duas, mandou os professores ficarem em casa.
Quem se politiza em casa? Os alunos foram para casa. Quem se politiza em casa,
repito? O que os alunos dirão quando souberem que terão aulas em janeiro e
fevereiro, caso a greve se prolongue? A direção do Sinteemar fez uma greve
contra os professores. Por que não contra o ESTADO?
Porque – justifica o professor Ozaí – “acostumados a mandar
têm dificuldade de assmilar um simples fato: a greve significa a paralisação de
todas as atividades”. O professor pensa apenas a realidade cotidiana como se
essa não pudesse mudar. Ninguém de nós docentes foi consultado se não
poderíamos nós mesmos abrir e fechar as portas. O professor diz que nossa
atividade é exclusivamente com alunos. Ora, seria ótimo se só fosse com alunos!
E essa é uma função importante, o núcleo da Universidade. Mas, nós docentes
somos apanhados por comissões mais diversas, para dar pareceres e dar vida às
revistas da Universidade, inclusive a que o professor coordena pela PPG. Somos
orientadores, trazemos centenas de bolsas para a Universidade. Essa ideia
exclusiva para o aluno é verdadeira, sim: mas das salas de aulas às bolsas, das
bolsas aos artigos, às pesquisas, aos inúmeros atendimentos de alunos. Isso é
pouco?
E se ela é exclusivamente de sala de aula, por que não
pudemos dar aulas? Se somos tão
insignificantes, por que se preocupar conosco? Na verdade, aqui há uma
contradição enorme, há uma falha lógica
mesmo. O professor Ozaí rebaixando os professores joga a a Universidade no
poço. Diz abertamente e em bom som que somos meros prestadores de serviço assim
como diz o ESTADO.
Ora, leiam os discursos dos governadores. Desde Lerner
passando por Requião e agora por Richa não somos professores, somos meros
prestadores de serviço. Tanto é essa filosofia de prestação de serviços que o
Secretário Alípio Leal propôs nesse início de ano, aqui na UEM, um banco de
professores. Tem aula na UEM, um pouco na UEL e disse ele, “dá tempo para dar
aulas aí fora (nas privadas)”. Afinal, somos apenas prestadores de serviço.
Essa é a dimensão menos dignificante do texto do professor
Ozai. Para manter sua lógica de “greve é greve” alia-se ao pensamento
neoliberal. Marx morreu. Proudhon morreu. Morreu meu querido Gustave Coubert. Estamos efetivamente na era neoliberal.
Meire Calegari
ResponderExcluirMarta Bellini, parabéns pela clareza e profundidade que tratou as questões levantadas pelo professor Ozaí.Não é preciso depreciar uma categoria para valorizar a outra.Todas são legitímas, necessárias e interdependentes.
O que me preocupa é o crescente aparelhamento funcional...Não essa ou aquela ideia..De um modo ou de outro não poderíamos sustentar esse embate...Isonomia não se compreende assim em um país onde a regra jurídico-legais vêm dominando nossa singularidade...
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