Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Na máquina de gastar gente...


Do Blog do Sérgio Fajardo



"O produtivismo e suas anomalias" (artigo)

Trecho do Artigo de Christiane Kleinübing Godoi e Wlamir Gonçalves Xavier, publicado nos Cadernos EBAPE/FGV (Junho, 2012)


"A reflexão sobre o produtivismo no plano de coletividade não pode deixar de incluir no ciclo de anomalias o sistema de competição entre instituições de ensino superior, que se estende aos programas, aos docentes e  aos discentes. A competição deixa de ser saudável, porque a partir do momento em que instituições e programas contratam, remuneram, promovem, bonificam e descartam profissionais prioritariamente, em função da sua contribuição ao desempenho do programa, e ignoram outros tipos de contribuição, surgem os efeitos patológicos. Por exemplo, instituições que optam pelo atalho do aumento da sua pontuação pela troca de profissionais pouco produtivos por bons pontuadores. Contratar professores produtivos e usar a chancela de qualidade conferida pelos órgãos regulamentadores abrevia o tempo de capacitar docentes, adquirir experiência e reputação. Esse expediente é útil na avaliação periódica do curso e fundamental no reconhecimento de cursos novos. Cria-se, portanto, a partir daí um novo tipo de professor, o pontuador, aquele cuja única atribuição é produzir artigos ou “fabricar” pontos. Um professor que não está presente na vida do  campus, não troca experiências com os pares, não ensina, nem compartilha conhecimento. Ironicamente, o pontuador é frequentemente descartado após a obtenção do reconhecimento, já que, uma vez cumprido seu papel, torna-se muito oneroso e alvo de descontentamento entre os demais docentes. Além disso a competição interinstitucional pelos mais profícuos pontuadores gera mais um tipo de interessado no produtivismo: os profissionais que se destacam como produtores de artigos. Salários e bonificações aumentam, ofertas de emprego assomam, e o reconhecimento profissional evidencia-se. Aos pesquisadores que, com seriedade, dedicação e competência, desenvolvem trabalhos científicos dentro 
da lógica temporal de maturação necessária à pesquisa reflexiva e, efetivamente, produzem conhecimento, as recompensas pelo esforço de anos são: sacrifício do ensino, da extensão e de si mesmo, para não ser sacrificado pela baixa pontuação; perda do emprego quando ancião, já que o jubileu é a cada 3 anos e, como o seu passado não interessa, o ostracismo vem a galope. O produtivismo, nesta dimensão institucional, atua como “máquina de gastar gente”, para emprestar o dizer de Darcy Ribeiro e, de forma perversa, produz uma total distorção nas atividades acadêmicas. Terminamos aqui, compartilhando espanto de Walters (2006): como foi que chegamos a departamentos cheios de acadêmicos infantilizados?" (p. 461-462).

GODOI, C. K.; XAVIER, W. G. O produtivismo e suas anomalias. Cad. EBAPE.BR, v. 10, nº 2,  Rio de Janeiro, Jun. 2012 p.456–465.

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