Do Blog do Sérgio Fajardo
"O produtivismo e suas anomalias" (artigo)
Trecho do Artigo
de Christiane Kleinübing Godoi e Wlamir Gonçalves Xavier, publicado
nos Cadernos EBAPE/FGV (Junho, 2012)
"A
reflexão sobre o produtivismo no plano de coletividade não pode deixar de
incluir no ciclo de anomalias o sistema de competição entre instituições
de ensino superior, que se estende aos programas, aos docentes e aos
discentes. A competição deixa de ser saudável, porque a partir do momento em
que instituições e programas contratam, remuneram, promovem, bonificam e
descartam profissionais prioritariamente, em função da sua contribuição ao
desempenho do programa, e ignoram outros tipos de contribuição, surgem
os efeitos patológicos. Por exemplo, instituições que optam pelo atalho do
aumento da sua pontuação pela troca de profissionais pouco produtivos por
bons pontuadores. Contratar professores produtivos e usar a chancela de
qualidade conferida pelos órgãos regulamentadores abrevia o tempo de capacitar
docentes, adquirir experiência e reputação. Esse expediente é útil na
avaliação periódica do curso e fundamental no reconhecimento de cursos
novos. Cria-se, portanto, a partir daí um novo tipo de professor, o
pontuador, aquele cuja única atribuição é produzir artigos ou “fabricar”
pontos. Um professor que não está presente na vida do campus, não
troca experiências com os pares, não ensina, nem compartilha
conhecimento. Ironicamente, o pontuador é frequentemente descartado após a
obtenção do reconhecimento, já que, uma vez cumprido seu papel, torna-se
muito oneroso e alvo de descontentamento entre os demais docentes.
Além disso a competição interinstitucional pelos mais profícuos
pontuadores gera mais um tipo de interessado no produtivismo: os
profissionais que se destacam como produtores de artigos. Salários e
bonificações aumentam, ofertas de emprego assomam, e o reconhecimento
profissional evidencia-se. Aos pesquisadores que, com seriedade, dedicação
e competência, desenvolvem trabalhos científicos dentro
da
lógica temporal de maturação necessária à pesquisa reflexiva e, efetivamente,
produzem conhecimento, as recompensas pelo esforço de anos são: sacrifício
do ensino, da extensão e de si mesmo, para não ser sacrificado pela baixa
pontuação; perda do emprego quando ancião, já que o jubileu é a cada 3 anos e,
como o seu passado não interessa, o ostracismo vem a galope. O
produtivismo, nesta dimensão institucional, atua como “máquina de gastar
gente”, para emprestar o dizer de Darcy Ribeiro e, de forma perversa, produz
uma total distorção nas atividades acadêmicas. Terminamos aqui,
compartilhando espanto de Walters (2006): como foi que chegamos a departamentos
cheios de acadêmicos infantilizados?" (p. 461-462).
GODOI,
C. K.; XAVIER, W. G. O produtivismo e suas anomalias. Cad. EBAPE.BR,
v. 10, nº 2, Rio de Janeiro, Jun. 2012 p.456–465.
Texto
Completo: http://www.scielo.br/pdf/cebape/v10n2/v10n2a12.pdf
Leia mais em: http://hipocrisiaacademica.blogspot.com.br
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