Numa Albânia atlântica
Pelas acusações que continuam a ser feitas por comentadores, economistas e políticos do arco do governo aos infinitos desmandos e desperdícios praticados ao longo de décadas pela nossa malvada classe média, percebo agora que esta realmente abusou. Não deveria ter passado a comer tantos bifes, a ler demasiados livros e jornais, a estudar mais, a comprar cds e dvds, a assistir a concertos, a passear aos fins-de-semana, a gozar regularmente férias, a adquirir casa própria, a recorrer ao dentista, a corrigir as lentes dos óculos, a frequentar ginásios, a comprar roupa nova, a ir todos os dias ao café, a almoçar fora, a fumar cigarros com filtro, a ver jogos de futebol, a dançar em discotecas, a mudar de automóvel, a usar telemóvel, a comprar televisões e computadores, a comemorar os aniversários dos filhos, a trocar prendas na consoada, isto é, a viver tanto e «acima das suas possibilidades». Se o não tivesse feito, trabalhando mais, muito mais, e ficando-se pelo carapau frito, pelas camisas de popelina, pelos rádios de pilhas e pelos matraquilhos, não teríamos os problemas que temos. Viveríamos em paz, pobres mas honrados, ignorantes mas sem dívidas, deprimidos mas livres do pecado da gula, numa Albânia maravilhosa e atlântica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário