Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

quarta-feira, 15 de maio de 2013

 
Enviado ao meu facebook por Marta Saia
Além-Tédio" - Mário de Sá Carneiro
(Lisboa, 19.5.1890 — Paris, 26.4.1916)

Nada me expira já, nada me vive —
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
... Fartam-me até as coisas que não tive.

Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.

Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.

Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!

Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.

E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...

segunda-feira, 13 de maio de 2013



Entrevista de 2012, UNISINOS

"Deus não morreu. Ele tornou-se Dinheiro". Entrevista com Giorgio Agamben

"O capitalismo é uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro", afirma Giorgio Agamben, em entrevista concedida a Peppe Salvà e publicada por Ragusa News, 16-08-2012.

Giorgio Agamben é um dos maiores filósofos vivos. Amigo de Pasolini e de Heidegger, Giorgio Agamben foi definido pelo Times e por Le Monde como uma das dez mais importantes cabeças pensantes do mundo. Pelo segundo ano consecutivo ele transcorreu um longo período de férias em Scicli, na Sicília, Itália, onde concedeu a entrevista.

Segundo ele, "a nova ordem do poder mundial funda-se sobre um modelo de governamentalidade que se define como democrática, mas que nada tem a ver com o que este termo significava em Atenas". Assim, "a tarefa que nos espera consiste em pensar integralmente, de cabo a cabo, aquilo que até agora havíamos definido com a expressão, de resto pouco clara em si mesma, “vida política”, afima Agamben.

A tradução é de Selvino J. Assmann, professor de Filosofia do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.

Eis a entrevista.

O governo Monti invoca a crise e o estado de necessidade, e parece ser a única saída tanto da catástrofe financeira quanto das formas indecentes que o poder havia assumido na Itáli. A convocação de Monti era a única saída, ou poderia, pelo contrário, servir de pretexto para impor uma séria limitação às liberdades democráticas?

“Crise” e “economia” atualmente não são usadas como conceitos, mas como palavras de ordem, que servem para impor e para fazer com que se aceitem medidas e restrições que as pessoas não têm motivo algum para aceitar. ”Crise” hoje em dia significa simplesmente “você deve obedecer!”. Creio que seja evidente para todos que a chamada “crise” já dura decênios e nada mais é senão o modo normal como funciona o capitalismo em nosso tempo. E se trata de um funcionamento que nada tem de racional.

Para entendermos o que está acontecendo, é preciso tomar ao pé da letra a ideia de Walter Benjamin, segundo o qual o capitalismo é, realmente, uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro. Deus não morreu, ele se tornou Dinheiro. O Banco – com os seus cinzentos funcionários e especialistas - assumiu o lugar da Igreja e dos seus padres e, governando o crédito (até mesmo o crédito dos Estados, que docilmente abdicaram de sua soberania ), manipula e gere a fé – a escassa, incerta confiança – que o nosso tempo ainda traz consigo. Além disso, o fato de o capitalismo ser hoje uma religião, nada o mostra melhor do que o titulo de um grande jornal nacional (italiano) de alguns dias atrás: “salvar o euro a qualquer preço”. Isso mesmo, “salvar” é um termo religioso, mas o que significa “a qualquer preço”? Até ao preço de “sacrificar” vidas humanas? Só numa perspectiva religiosa (ou melhor, pseudo-religiosa) podem ser feitas afirmações tão evidentemente absurdas e desumanas.

A crise econômica que ameaça levar consigo parte dos Estados europeus pode ser vista como condição de crise de toda a modernidade?

A crise atravessada pela Europa não é apenas um problema econômico, como se gostaria que fosse vista, mas é antes de mais nada uma crise da relação com o passado. O conhecimento do passado é o único caminho de acesso ao presente. É procurando compreender o presente que os seres humanos – pelo menos nós, europeus – são obrigados a interrogar o passado. Eu disse “nós, europeus”, pois me parece que, se admitirmos que a palavra “Europa” tenha um sentido, ele, como hoje aparece como evidente, não pode ser nem político, nem religioso e menos ainda econômico, mas talvez consista nisso, no fato de que o homem europeu – à diferença, por exemplo, dos asiáticos e dos americanos, para quem a história e o passado tem um significado completamente diferente – pode ter acesso à sua verdade unicamente através de um confronto com o passado, unicamente fazendo as contas com a sua história.

O passado não é, pois, apenas um patrimônio de bens e de tradições, de memórias e de saberes, mas também e sobretudo um componente antropológico essencial do homem europeu, que só pode ter acesso ao presente olhando, de cada vez, para o que ele foi. Daí nasce a relação especial que os países europeus (a Itália, ou melhor, a Sicília, sob este ponto de vista é exemplar) têm com relação às suas cidades, às suas obras de arte, à sua paisagem: não se trata de conservar bens mais ou menos preciosos, entretanto exteriores e disponíveis; trata-se, isso sim, da própria realidade da Europa, da sua indisponível sobrevivência. Neste sentido, ao destruírem, com o cimento, com as autopistas e a Alta Velocidade, a paisagem italiana, os especuladores não nos privam apenas de um bem, mas destroem a nossa própria identidade. A própria expressão “bens culturais” é enganadora, pois sugere que se trata de bens entre outros bens, que podem ser desfrutados economicamente e talvez vendidos, como se fosse possível liquidar e por à venda a própria identidade.

Há muitos anos, um filósofo que também era um alto funcionário da Europa nascente, Alexandre Kojève, afirmava que o homo sapiens havia chegado ao fim de sua história e já não tinha nada diante de si a não ser duas possibilidades: o acesso a uma animalidade pós-histórica (encarnado pela american way of life) ou o esnobismo (encarnado pelos japoneses, que continuavam a celebrar as suas cerimônias do chá, esvaziadas, porém, de qualquer significado histórico). Entre uma América do Norte integralmente re-animalizada e um Japão que só se mantém humano ao preço de renunciar a todo conteúdo histórico, a Europa poderia oferecer a alternativa de uma cultura que continua sendo humana e vital, mesmo depois do fim da história, porque é capaz de confrontar-se com a sua própria história na sua totalidade e capaz de alcançar, a partir deste confronto, uma nova vida.

A sua obra mais conhecida, Homo Sacer, pergunta pela relação entre poder político e vida nua, e evidencia as dificuldades presentes nos dois termos. Qual é o ponto de mediação possível entre os dois pólos?

Minhas investigações mostraram que o poder soberano se fundamenta, desde a sua origem, na separação entre vida nua (a vida biológica, que, na Grécia, encontrava seu lugar na casa) e vida politicamente qualificada (que tinha seu lugar na cidade). A vida nua foi excluída da política e, ao mesmo tempo, foi incluída e capturada através da sua exclusão. Neste sentido, a vida nua é o fundamento negativo do poder. Tal separação atinge sua forma extrema na biopolítica moderna, na qual o cuidado e a decisão sobre a vida nua se tornam aquilo que está em jogo na política. O que aconteceu nos estados totalitários do século XX reside no fato de que é o poder (também na forma da ciência) que decide, em última análise, sobre o que é uma vida humana e sobre o que ela não é. Contra isso, se trata de pensar numa política das formas de vida, a saber, de uma vida que nunca seja separável da sua forma, que jamais seja vida nua.

O mal-estar, para usar um eufemismo, com que o ser humano comum se põe frente ao mundo da política tem a ver especificamente com a condição italiana ou é de algum modo inevitável?

Acredito que atualmente estamos frente a um fenômeno novo que vai além do desencanto e da desconfiança recíproca entre os cidadãos e o poder e tem a ver com o planeta inteiro. O que está acontecendo é uma transformação radical das categorias com que estávamos acostumados a pensar a política. A nova ordem do poder mundial funda-se sobre um modelo de governamentalidade que se define como democrática, mas que nada tem a ver com o que este termo significava em Atenas. E que este modelo seja, do ponto de vista do poder, mais econômico e funcional é provado pelo fato de que foi adotado também por aqueles regimes que até poucos anos atrás eram ditaduras. É mais simples manipular a opinião das pessoas através da mídia e da televisão do que dever impor em cada oportunidade as próprias decisões com a violência. As formas da política por nós conhecidas – o Estado nacional, a soberania, a participação democrática, os partidos políticos, o direito internacional – já chegaram ao fim da sua história. Elas continuam vivas como formas vazias, mas a política tem hoje a forma de uma “economia”, a saber, de um governo das coisas e dos seres humanos. A tarefa que nos espera consiste, portanto, em pensar integralmente, de cabo a cabo, aquilo que até agora havíamos definido com a expressão, de resto pouco clara em si mesma, “vida política”.

O estado de exceção, que o senhor vinculou ao conceito de soberania, hoje em dia parece assumir o caráter de normalidade, mas os cidadãos ficam perdidos perante a incerteza na qual vivem cotidianamente. É possível atenuar esta sensação?

Vivemos há decênios num estado de exceção que se tornou regra, exatamente assim como acontece na economia em que a crise se tornou a condição normal. O estado de exceção – que deveria sempre ser limitado no tempo – é, pelo contrário, o modelo normal de governo, e isso precisamente nos estados que se dizem democráticos. Poucos sabem que as normas introduzidas, em matéria de segurança, depois do 11 de setembro (na Itália já se havia começado a partir dos anos de chumbo) são piores do que aquelas que vigoravam sob o fascismo. E os crimes contra a humanidade cometidos durante o nazismo foram possibilitados exatamente pelo fato de Hitler, logo depois que assumiu o poder, ter proclamado um estado de exceção que nunca foi revogado. E certamente ele não dispunha das possibilidades de controle (dados biométricos, videocâmaras, celulares, cartões de crédito) próprias dos estados contemporâneos. Poder-se-ia afirmar hoje que o Estado considera todo cidadão um terrorista virtual. Isso não pode senão piorar e tornar impossível aquela participação na política que deveria definir a democracia. Uma cidade cujas praças e cujas estradas são controladas por videocâmaras não é mais um lugar público: é uma prisão.

A grande autoridade que muitos atribuem a estudiosos que, como o senhor, investigam a natureza do poder político poderá trazer-nos esperanças de que, dizendo-o de forma banal, o futuro será melhor do que o presente?

Otimismo e pessimismo não são categorias úteis para pensar. Como escrevia Marx em carta a Ruge: ”a situação desesperada da época em que vivo me enche de esperança”.

Podemos fazer-lhe uma pergunta sobre a lectio que o senhor deu em Scicli? Houve quem lesse a conclusão que se refere a Piero Guccione como se fosse uma homenagem devida a uma amizade enraizada no tempo, enquanto outros viram nela uma indicação de como sair do xequemate no qual a arte contemporânea está envolvida.

Trata-se de uma homenagem a Piero Guccione e a Scicli, pequena cidade em que moram alguns dos mais importantes pintores vivos. A situação da arte hoje em dia é talvez o lugar exemplar para compreendermos a crise na relação com o passado, de que acabamos de falar. O único lugar em que o passado pode viver é o presente, e se o presente não sente mais o próprio passado como vivo, o museu e a arte, que daquele passado é a figura eminente, se tornam lugares problemáticos. Em uma sociedade que já não sabe o que fazer do seu passado, a arte se encontra premida entre a Cila do museu e a Caribdis da mercadorização. E muitas vezes, como acontece nos templos do absurdo que são os museus de arte contemporânea, as duas coisas coincidem.

Duchamp talvez tenha sido o primeiro a dar-se conta do beco sem saída em que a arte se meteu. O que faz Duchamp quando inventa o ready-made? Ele toma um objeto de uso qualquer, por exemplo, um vaso sanitário, e, introduzindo-o num museu, o força a apresentar-se como obra de arte. Naturalmente - a não ser o breve instante que dura o efeito do estranhamento e da surpresa – na realidade nada alcança aqui a presença: nem a obra, pois se trata de um objeto de uso qualquer, produzido industrialmente, nem a operação artística, porque não há de forma alguma uma poiesis, produção – e nem sequer o artista, porque aquele que assina com um irônico nome falso o vaso sanitário não age como artista, mas, se muito, como filósofo ou crítico, ou, conforme gostava de dizer Duchamp, como “alguém que respira”, um simples ser vivo.

Em todo caso, certamente ele não queria produzir uma obra de arte, mas desobstruir o caminhar da arte, fechada entre o museu e a mercadorização. Vocês sabem: o que de fato aconteceu é que um conluio, infelizmente ainda ativo, de hábeis especuladores e de “vivos” transformou o ready-made em obra de arte. E a chamada arte contemporânea nada mais faz do que repetir o gesto de Duchamp, enchendo com não-obras e performances a museus, que são meros organismos do mercado, destinados a acelerar a circulação de mercadorias, que, assim como o dinheiro, já alcançaram o estado de liquidez e querem ainda valer como obras. Esta é a contradição da arte contemporânea: abolir a obra e ao mesmo tempo estipular seu preço.

 

poizé!

 
cap-tirado do blog do SOLDA
 

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Um matemático revisado por um tremendo chargista!

Do SOLDA aqui: www.cartunistasolda.com.br

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quinta-feira, 9 de maio de 2013

Frida


Voando...


do Blog de Roberto Romano

Correio da Cidadania
Contra o “ativismo do judiciário”, governo do PT pretende mutilar a Constituição
Escrito por Raphael Tsavkko
Qui, 25 de Abril de 2013

Em primeiro lugar é preciso deixar claro que o atual governo reclamar de um suposto "ativismo do judiciário" quando é o responsável pela indicação de maioria dos ministros do STF é o cúmulo da cara-de-pau.

Dito isto, vamos ao que interessa. Finalmente compreendemos porque o PT preferiu assumir a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) ao invés da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDH), entregando-a para o Feliciano, do PSC:

Comissão aprova proposta que submete decisões do STF ao Congresso
De acordo com o texto do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), parlamentares poderão vetar determinadas deliberações dos ministros da Corte; projeto segue para colegiado especial.

Em outras palavras, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 33/11 é um verdadeiro golpe contra o judiciário, fruto apenas do desejo de vingança por parte do PT (pelo mensalão) e de seus aliados da Bancada Teocrática (que não aceita os avanços promovidos pelo STF em relação aos direitos LGBTs e das mulheres), com apoio entusiasmado do PSDB (para quem a Constituição sempre foi um detalhe, vide a reeleição fraudulenta de FHC), é uma tentativa de neutralizar o STF, intervindo no judiciário.

Trata-se de uma iniciativa que visa forçar que decisões do STF em relação a súmulas vinculantes, e declarações de inconstitucionalidade a emendas à Constituição propostas pelo Congresso passem por ele mesmo. Ou seja, o Congresso promove uma alteração inconstitucional, o STF barra e o mesmo Congresso passa por cima, dizendo que quem decide é ele.

Além disso, a PEC ainda propõe uma alteração ao quórum necessário para aprovar decisões no STF; não mais 7 de 11 votos, mas 9 de 11. Ou seja, uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) só será aprovada por 9x2! Isto se o presidente votar, o que nem sempre faz, aí teríamos 9x1!

A proposta foi apresentada pelo PT (Nazareno Fonteles) e relatada por um teocrata do PSDB (João Campos).


O que o governo pretende é ter a última palavra em questões constitucionais, tirando-a do judiciário, ou seja, quer usar sua maioria para passar por cima do Judiciário e de garantias constitucionais. É óbvio que tal iniciativa agrada aos evangélicos e teocratas em geral, que podem impor seu projeto de medievalização sem se preocupar em serem barrados pelo Supremo, já que contam com apoio e entusiasmo petistas e não são desafiados pela maioria do Congresso.

O projeto é uma clara afronta à Constituição, mas fica a dúvida: se o Congresso aprova a PEC e esta for derrubada pelo STF, ela voltaria ao Congresso, que a aprovaria baseada nela própria?

Subseção II
Da Emenda à Constituição
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.
§ 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.
§ 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
§ 3º - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.
§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
§ 5º - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.

O PT se iguala ao PSDB em termos de desrespeito à Constituição. Não bastou se igualar na corrupção, com seu mensalão próprio, mas resolveu imitar os tucanos e sua afronta à Constituição durante a reeleição de FHC.

Mas foi além, colocando em real perigo a democracia brasileira, cujo STF e o judiciário são garantidores.

Esta iniciativa, porém, não pode ser compreendida em separado de outra PEC polêmica, a PEC37, onde o governo busca eliminar o poder de investigação por parte do Ministério Público, cujo líder, o Procurador Geral da República Roberto Gurgel, é objeto de ódio por parte do governo desde que processou os agora condenados mensaleiros petistas (e aliados).

São duas PECs que, juntas, pintam um quadro assustador, onde o governo não aceita ser investigado, condenado e muito menos contrariado. É uma reforma profunda e perigosa no judiciário, feita à revelia dos interesses da população e mesmo da democracia.

Não é possível também descartar que o entusiasmo do PT com a PEC 33/11 venha da possibilidade de ampliar a vulneração aos direitos humanos de, por exemplo, povos indígenas, no momento em que o Congresso busca aprovar projeto para mudar do Executivo para o Legislativo a prerrogativa de criação de terras indígenas e que o governo invade o território dos Munduruku para a criação de usinas hidroelétricas no Tapajós. Ou mesmo enquanto espiona movimentos sociais e de trabalhadores, visando, dentre outras coisas, garantir Belo Monte e a privatização dos portos brasileiros.

É uma forma de o governo atentar livremente contra os direitos humanos básicos da população – indígenas, LGBTs, quilombolas etc. – sem ter o STF para freá-lo.

Graças ao ódio – não há outra palavra para descrever – de tal partido contra os ministros que ele próprio indicou, reforçou-se a aliança com os teocratas e coloca-se em perigo a democracia brasileira e nossas garantias constitucionais.

Basicamente, o governo – qualquer governo, quando o PT deixar o poder irá se arrepender – terá o poder de, com maioria (e se tiver minoria será sempre atropelado), aprovar QUALQUER mudança na Constituição, por mais ilegal e inconstitucional que ela seja, pois o STF não terá o poder de impedir a alteração.

O PT tem o poder de indicar ministros para o STF, exerceu diversas vezes tal prerrogativa e, ainda assim, prefere passar por cima da própria Constituição e mutilá-la. Em termos simples, o PT tem o poder de indicar ministros para o STF, mas não teve a competência (sic) de indicar ministros que eles pudessem controlar, logo, altera as regras do jogo ou, em bom português, escolhe o time, perde e está levando a bola embora.

Meus parabéns. Caminhamos a passos largos para o precipício. Esta PEC não tem outro nome, senão golpe, e isto vindo de partido cujos fanáticos apoiadores gritam golpe sempre que a mídia – financiada pelo governo do PT – ou o STF – indicado em maioria pelo PT – os contradiz.


Raphael Tsavkko Garcia, jornalista e blogueiro, formado em Relações Internacionais (PUC-SP), é mestre em Comunicação (Cásper Líbero).

Lucha, luta ....


 
Abaixo vejam a carta de repúdio dos estudantes do COLETIVO INQUIETUDE LIVRE contra as atitudes do Diretor do Campus da Unicentro em Irati, Paraná.
 
A UNICENTRO é uma das Universidades Públicas do Paraná. parece que essa Universidade tem vontade política de terceirizar a coisa pública, o restaurante universitário, por exemplo.
 
***************

 

CARTA DE REPÚDIO ÀS ATITUDES DO Prof. Edélcio Stroparo, Diretor do Campus da Unicentro em Irati

 

Disse o diretor do Campus Irati, Edélcio Stroparo, que o problema do fechamento do Restaurante Universitário (terceirizado) foi causado por um pequeno número de acadêmicos que reclamavam do valor das refeições. Ora, se este grupo era tão pequeno ele mostrou ter um poder enorme. Tão grande a ponto de fazer com que o governo liberasse um milhão e duzentos mil reais para o subsídio da alimentação tanto para Guarapuava quanto Irati. Mas se o grupo era pequeno, e tudo começa assim, o prof. Edélcio não percebeu que o grupo cresceu, fez manifestação na reitoria da Unicentro, fez um ato e foi recebido pelos Deputados na Assembleia Legislativa, levantou cartazes na cara do Governador Beto Richa quando esteve aqui em Irati, fez o secretário da SETI se sentar à mesa para negociar e ganhou espaço na mídia regional. Incrível o poder de realização que teve este pequeno grupo, não é mesmo?

Agora a empresa que administrava o RU da Unicentro e que pagava o ‘exorbitante’ aluguel de 200 reais, cobrava o preço de refeição mais caro entre as universidades públicas do Paraná e servia uma alimentação cuja qualidade não agradava, se retira após seu prazo licitatório já ter expirado. A administração da universidade a partir daí procura culpar os estudantes usando o expediente da chantagem, apelos emocionais e pretende jogar uns contra os outros. Ao invés de apostar no diálogo a administração prefere o expediente de gerar discórdia entre os estudantes. Bela escola esta.
Sobre o subsídio consideramos esta uma medida paliativa e ineficaz. Ela deve ser substituída no curto prazo, pois é apenas emergencial. É uma medida assistencialista, não isonômica e atende apenas cerca de 10% dos estudantes. No campus de Irati estudam cerca de 3.000 estudantes. O Subsídio que ele considera uma boa notícia e uma resposta ‘aos críticos’ somente irá atender 300. Os restantes 2.700 continuarão a pagar pela alimentação um dos valores mais altos do Brasil, conforme matéria publica em abril no jornal Gazeta do Povo.  Será que entende o Prof. Edélcio que críticos são um problema? Uma universidade que não forma mentes críticas forma o quê? Mentes passivas? É assim que ele gosta? Em qual Universidade será que o prof. Edélcio estudou, que lá estudante ter mentalidade crítica era um problema?
Alega ele que nos RUs do estado paga-se R$ 1,90, mas ainda fica indignado pelos estudantes da UNICENTRO terem ‘reclamado’  porque  durante anos pagaram caro (R$ 4,50) por uma alimentação de baixa qualidade.

Agora, e de forma surpreendente para nós, o prof. Edélcio vem a público dizer que a proposta da universidade é que a empresa vencedora do certame administre o RU nos próximos cinco anos. Em absoluto concordaremos com isso. Nas inúmeras conversas que tivemos com ele, com o Reitor, os Deputados e o Secretario da SETI, reafirmamos categoricamente que exigimos o RU estatizado. Se houver um processo licitatório, o máximo que aceitaremos é que seja até o final do ano, pois queremos que o orçamento do estado do Paraná, cuja discussão se inicia em 29 de maio, já contemple previsão orçamentária para a estatização em 2014. Desde o ano passado já vimos falando isso. A UEL, UEM e UEPG já tem seu RU estatizado, a UNIOESTE já está discutindo a construção do seu. Queremos o nosso, ora! Em que a UNICENTRO é uma universidade que mereça menos consideração da parte do governo? Talvez porque dirigentes como o Prof. Edélcio nunca ‘reclamaram’ junto ao governo a construção de um RU para a UNICENTRO. Aliás, é de se destacar que nosso movimento não é contra a reitoria, nunca foi. Mas a reitoria passou a tratar o movimento estudantil de forma agressiva e como adversário e as falas do prof. Edélcio mostram claramente isso. Entendemos que a reitoria é eleita pelos professores, funcionários e estudantes. Ela deveria ser a representante da Universidade junto ao governo. Mas parece que ela se comporta como representante do governo, pois fica justificando os argumentos deste. A UNICENTRO nunca investiu em assistência estudantil de verdade como as outras universidades fazem. Por conta do nosso movimento de ‘meia dúzia’, como eles querem fazer acreditar, os primeiros recursos começaram a vir. A comunidade deveria ficar satisfeita com isso, pois nosso movimento injetou um milhão e duzentos mil reais na economia de Guarapuava e Irati. Um dinheiro que não existiam antes. E vamos injetar mais. E sabemos para onde este dinheiro vai. Vai para os pequenos produtores rurais da nossa cidade que irão fornecer gêneros alimentícios para o nosso RU cuja demanda é de cerca de 3.000 refeições por dia.
Ainda assim, disse textualmente o prof. Edélcio: “As pessoas que reclamam criaram um problema. Todos devem saber quem são os culpados pelo fechamento do restaurante. Foram alguns alunos que de forma deselegante deixaram os colegas, professores e funcionários sem RU”.
Relativamente a esta fala do prof. Edélcio temos a dizer que vamos fazer uma placa de metal para colocar na sede do DCE com os seguintes dizeres: “As pessoas que reclamam criaram um problema”, assinado Edélcio Stroparo Diretor do campus Irati. Esta placa terá a função de nos lembrar todos os dias e também às futuras gerações de estudantes da Unicentro contra o que lutamos. Reclamar não é um problema, reclamar faz parte da natureza humana. Por reclamar quando algo não está bom é que nossa civilização avança na cultura, na tecnologia, nas relações sociais, no direito, na economia, cruzou os mares, descobriu novos continentes e foi ao espaço. Reclamar quando algo não está bom nos motiva a melhorar sempre. Reclamar significa inquietação quando algo falta ou é insuficiente.  Se não reclamamos nos acomodamos e estagnamos. Prof. Edélcio Stroparo tenha certeza, vamos continuar reclamando para o bem da Unicentro. E se você não suporta ou tolera isso, então não serve para ser dirigente de uma universidade. A Universidade não um ambiente para acomodações Prof. Edélcio, pois ela deve estar sempre na fronteira do conhecimento. Democracia é isso, saber conviver e aprender com quem reclama. E se o senhor não aprendeu o valor da tolerância e do diálogo então vai aprender conosco.
Coletivo Inquietude Livre – CI Unicentro

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Frida

Grata, Professor Romano. Sublime!

 

Para Marta Bellini. Images & Visions.


© Foto de Gisèle Freund. Frida Kahlo e seus cachorros. Cidade do México, 1948.

Em 1948, Frida Kahlo foi retratada com seus cachorrinhos da raça "Itzcuintli" pela fotógrafa Gisèle Freund (1908-2000). Frida era fascinada por cães dessa raça que viviam com ela e Diego Rivera na Casa Azul, no bairro de Coyoacán na Cidade do México. Depois da morte de Frida, a Casa Azul virou o Museu Frida Kahlo e é um dos locais mais visitados do México.

Sublime



Bordado de Arthur Bispo do Rosário. Bordou suas histórias...

Mentira tem perna curta, mas a verdade é sempre oculta...


 Os economistas de plantão da GLOBO, CBN, Band adoram alardear, tagarelar sobre a crise da Previdência. Mas, a verdade é outra.

 

Pesquisadora denuncia a falsa crise da Previdência Social no País

 

Drª. Denise Gentil esmiúça a questão em sua Tese de Doutorado; de acordo com a pesquisadora, a Previdência tem superávit de R$ 8,2 bilhões


Em sua tese de doutorado, A falsa crise do sistema de Seguridade Social no Brasil, Denise Gentil, professora do Instituto de Economia da UFRJ, revela que os próprios dados oficiais divulgados no website do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) evidenciam uma considerável distorção entre o que é divulgado à população e o que realmente pode ser constatado por especialistas em relação ao financiamento previdenciário. Segundo a professora, existem fortes interesses econômicos empenhados em propagar a ideia de que há um déficit crônico na Previdência que, concretamente, não existe.


Receitas não consideradas

A discrepância principal está na forma de calcular o financiamento da Previdência. Segundo Denise, a somatória de recursos apontada como “saldo previdenciário” não inclui todas as receitas que constituem a totalidade do financiamento, considerando apenas as originadas de contribuição do empregador e dos trabalhadores ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). O verdadeiro resultado final da Previdência Social envolve receitas que não foram consideradas, e que, se calculadas, chegam a um saldo positivo de R$ 8,2 bilhões.

Na tese, a professora mostra como este saldo acaba sendo apropriado pela política econômica de manutenção de superávits primários, adotada pelas correntes ortodoxas de gestão que ocupam o Banco Central. Todos os grandes proprietários de títulos públicos do governo acabam sendo os beneficiários diretos desse déficit artificial, favorecidos pela política de juros altos. “Recursos da Previdência estão sendo retirados para serem aplicados no orçamento da União, que está legalmente autorizada a reter 20% dos impostos e das contribuições da Seguridade Social para aplicar livremente em qualquer tipo de despesas”, avalia Denise.

Desmonte de direitos

A professora ainda destaca que o processo de execração da Previdência pública faria parte do interesse desse grupo em privatizá-la, liberando recursos públicos que hoje estão vinculados a gastos sociais. Com uma Previdência privatizada, todos os trabalhadores rurais e os cerca de 40 milhões de trabalhadores informais seriam excluídos, em um processo que a professora classificou como uma verdadeira “luta de classes”.

Mesmo tendo o nível de renda da classe trabalhadora caído nos últimos anos, as receitas da Previdência não se mostram deficitárias, segundo os cálculos de Denise:

“pode ser que em outros países do mundo seja (deficitária), por terem apenas como base o desconto na folha de pagamento. Mas no Brasil não é, devido à diversificação de seu financiamento. O lucro e o faturamento são seus maiores financiadores e a ideia de que há um déficit é tão massacrante na mídia, que aqueles que defendem uma reforma na Previdência propõem uma reforma baseada no desmonte de direitos. A dívida do governo com a classe trabalhadora foi esquecida.


domingo, 5 de maio de 2013

Da série É DANDO QUE NÃO SE RECEBE ...

IMAGEM: DO FACEBOOK

Da série QUEM DESDENHA QUER...

Não existe ex-gay, o que existe é opressão da sexualidade”


Do Blog DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
 
felicianoA decisão do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) de colocar em votação o projeto de “cura gay”, na próxima sessão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, é vista como um “retrocesso” pelo presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (ABGLT), Carlos Magno Silva Fonseca.
O projeto tem como objetivo barrar uma norma da Resolução do Conselho Federal de Psicologia que impede os profissionais da área de sugerir aos pacientes tratamentos que busquem a cura da homossexualidade.
Para Fonseca, Feliciano deveria se empenhar em tratar a homofobia, pois esta, sim, causa transtorno à sociedade.
“Se o deputado Feliciano tivesse mesmo uma preocupação com os direitos humanos, ele estaria se preocupando com a homofobia, que mata um homossexual a cada 26 horas no país”, afirma Fonseca.

No Braziu...

STF paga viagem de jornalista do Globo

Paulo Nogueira5 de maio de 20131
Eis um caso inaceitável de infração de ética de mão dupla.
Barbosa na Costa Rica
Barbosa na Costa Rica
Um asterisco aparece no nome da jornalista do Globo que escreve textos sobre Joaquim Barbosa em falas na Costa Rica.
Vou ver o que é o asterisco.
E dou numa infração ética que jamais poderia acontecer no Brasil de 2013.
A repórter viaja a convite do Supremo.
É um dado que mostra várias coisas ao mesmo tempo.
Primeiro, a ausência de noção de ética do Supremo e do Globo.
Viagens pagas já faz tempo, no ambiente editorial mundial e mesmo brasileiro, são consensualmente julgadas inaceitáveis eticamente.
Por razões óbvias: o conteúdo é viciado por natureza. As contas do jornalista estão sendo bancadas pela pessoa ou organização que é central nas reportagens.
Na Abril, onde me formei, viagens pagas há mais de vinte anos são proibidas pelo código de ética da empresa.
Quando fui para a Editora Globo, em 2006, não havia código de ética lá. Tentei montar um, mas não tive nem apoio e nem tempo.
Tive um problema sério, na Globo, em torno de uma viagem paga que um editor aceitou.
Era uma boca-livre promovida por João Dória, e o editor voltou dela repleto de brindes caros, outro foco pernicioso de corrupção nas redações.
Fiquei absolutamente indignado quando soube, e isso me motivou a fazer de imediato um código de ética na editora.
Surgiu um conflito do qual resultaria minha saída. Dias depois de meu desligamento, o editor voltou a fazer outra viagem bancada por Dória, e desta vez internacional.
Bem, na companhia do editor foi o diretor geral da editora, Fred Kachar, um dos maiores frequentadores de boca livre do circuito da mídia brasileira.
Isto é Globo.
De volta à viagem de Costa Rica.
Quando ficou claro que viagens pagas não podiam ser aceitas eticamente, foi a Folha que trouxe uma gambiarra ridícula.
A Folha passou a adotar o expediente que se viu agora no Globo: avisar que estava precaricando, como se isso resolvesse o caso da prevaricação.
A transparência, nesta situação, apenas amplia a indecência.
A Globo sabe disso. Mas quando se trata de dinheiro seus limites morais são indescritivelmente frouxos.
Durante muito tempo, as empresas jornalísticas justificaram este pecado com a alegação de que não tinham dinheiro suficiente para bancar viagens.
Quem acredita nisso acredita em tudo, como disse Wellington. Veja o patrimônio pessoal dos donos da Globo, caso tenha alguma dúvida.
É ganância e despudor misturados – e o sentimento cínico de que o leitor brasileiro não repara em nada a engole tudo.
Então a Globo sabe que não deveria fazer o que fez.
E o Supremo, não tem noção disso?
É o dinheiro público torrado numa cobertura jornalística que será torta moralmente, é uma relação promíscua – mídia e judiciário – alimentada na sombra.
Para usar a teoria do domínio dos fatos, minha presunção é que o Supremo não imaginava que viesse à luz, num asterisco, a informação de que dinheiro do contribuinte estava sendo usado para bancar a viagem da jornalista do Globo.
Como dizia meu professor de jornalismo nas madrugadas de fechamento de revista, quando um texto capital chegava a ele e tinha que ser reescrito contra o relógio da gráfica, a quem apelar?
 
 
O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Maio de 1968

do Blog de Rui Bebiano, Portugal

 

45 anos depois


Precisamente há 45 anos, a 2 de Maio de 1968, começou o «Maio francês». Foi a revolta estudantil a acontecer em primeiro lugar, aberta nos anfiteatros de Nanterre quando, nesse dia, o reitor Grappin convocou 8 estudantes do Movimento 22 de Março para um conselho disciplinar. Seguiu-se a primeira grande assembleia estudantil e a repressão policial. A revolta operária veio também, um pouco mais tarde, mais sóbria e nunca chegando a unir-se completamente à primeira. Muitos intelectuais estiveram presentes desde a primeira hora, associando-se a ambas e sujando os sapatos nas barricadas, as mãos na tinta dos panfletos e dos graffiti. Os partidos da esquerda comportaram-se de forma desigual, nem sempre límpida («Falsos revolucionários que é preciso desmascarar» titulava o L’Humanité logo a 3, convirá não esquecer), mas nos momentos decisivos estiveram do mesmo lado da barricada. E das barricadas.
No final do mês, os partidários de De Gaulle parecia terem vencido o combate. O movimento desmobilizou rapidamente. Muitos rebeldes desistiram e alguns mudaram de campo. Mas em termos históricos o que ficou não foi tanto a derrota de uns e a vitória dos outros: foi a invenção de uma outra forma, em larga medida radical, igualitária e libertária, de reorganizar a vida e os modos de olhar o mundo em mudança. E também de uma outra forma de protestar e de fazer ouvir a voz dos que reclamam os seus direitos. E a aceitação de que o futuro é sempre um caminho aberto, com a dimensão necessária de um impossível essencialmente criador, jamais uma inevitabilidade histórica. Sim, o resto esfumou-se – até a nostalgia dos soixante-huitiards mais resistentes parece ter-se eclipsado – e terá sido apenas isso que ficou do Maio de 68. Mas não foi pouco.
A meio do mês, a revista portuguesa Vida Mundial descrevia a paisagem do campo de batalha: “Os anfiteatros estavam à cunha, prosseguindo neles as apaixonadas discussões dos problemas estudantis, desde os exames ao cinema. No pátio interior tocava uma banda. No interior como no exterior os cartazes nas paredes multiplicavam-se. Viam-se retratos de Mao, de Che Guevara, de Trotsky. Como em Nanterre, apareceram frases pintadas nas paredes. Os revoltados passaram a dormir a sesta nas cátedras dos mais elevados mestres e nem sequer se levantavam para tomar as refeições, à base de pão, salsichas e frutas adquiridas com fundos comuns, obtidos dos transeuntes. Por toda a faculdade havia bandeiras vermelhas, negras, do Vietcong e chinesa, e os estudantes até se tratavam por camaradas. Os pensamentos mais destacados de Mao Tsé-Tung foram escritos nas paredes e também outros slogans. O número de ocupantes da Sorbonne era sensivelmente de dois mil durante a noite e seis mil de dia, para tomarem parte das «aulas magnas da revolução».”

Universidades privadas ....

do blog de Roberto Romano

Jornal da Unicamp, eis a beleza do ensino "universitário"privado...é a tal status que muitos democratas de meia tigela querem reduzir as universidades públicas.

Campinas, 28 de abril de 2013 a 04 de maio de 2013 – ANO 2013 – Nº 559

Doenças e falta de privacidade rondam
professores do ensino superior privado

Pesquisa desenvolvida para fundamentar tese
demonstra que 88% dos docentes estão estressados

Pesquisa feita junto a professores que atuam no ensino superior privado de Campinas revela que 88% deles estão estressados; 76% têm a vida privada invadida pelo trabalho, que retira o tempo de convívio com a família, os amigos e o lazer; 52% temem perder o emprego e, para evitar o desemprego, muitos trabalham em mais de uma escola; e 52% manifestam doenças físicas e psicológicas. A pesquisa também mostra que, ainda assim, 68% dos docentes não mudariam de profissão.
Os dados são apresentados por Liliana Aparecida de Lima na tese de doutorado “Os impactos das condições de trabalho sobre a subjetividade do professor de ensino superior privado de Campinas”, defendida junto à Faculdade de Educação (FE), sob a orientação da professora Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira. “Sou professora de psicologia da PUC de Campinas há 25 anos, mas a motivação para a pesquisa veio da minha trajetória sindical, como diretora do Sindicato dos Professores de Campinas e Região”, esclarece a autora.
Liliana Lima abre a tese contextualizando a forte expansão do ensino superior privado a partir da política neoliberal adotada na década de 1990, com base na desregulamentação, financeirização e desnacionalização. “A educação está sendo negociada na bolsa de valores, aberta ao capital estrangeiro. Fusões entre instituições educacionais constroem grandes conglomerados, o que reforça o crescimento de uma concepção mercadológica do ensino privado no país. Por isso, a luta do movimento sindical dos professores contra essa mercantilização. Queremos a regulamentação, o fim dessa trajetória de desnacionalização, que representa um tiro no pé.”
Segundo a autora da tese, este cenário de mercantilização do ensino se manifesta na precariedade das condições de trabalho dos professores. “Se o empresário vê o ensino como mercadoria e o aluno como cliente, como vai tratar o professor da instituição de que é proprietário? A precariedade está na contratação de professores sem concurso e nos salários baixos mesmo com titulação. Se o professor se torna mestre ou doutor, também se torna mais caro e é substituído por um horista – há um número mínimo de pós-graduados apenas para atender às exigências do MEC. A rotatividade é enorme.”
Liliana diz ter identificado vários colegas de profissão constantemente tristes, angustiados, desmotivados, menos criativos nas aulas e que repensam suas perspectivas profissionais. “Como psicóloga, optei por focar a questão das subjetividades através da concepção sócio-histórica. Esses autores marxistas afirmam que a subjetividade não é uma oposição à objetividade, e sim que ambas se constituem. Portanto, devemos olhar as condições objetivas de trabalho do professor, como essas condições impactam nos objetivos do professor e de que forma o professor devolve as repercussões para os objetivos.”
Um aspecto que a pesquisadora considera importante foi a indisponibilidade dos professores para entrevistas presenciais, devido à sobrecarga de trabalho ou mesmo por desconfiança. “É um dado da tese que talvez mereça ser investigado mais profundamente, o que não pude fazer. A solução foi enviar um questionário com perguntas objetivas e também discursivas, para que pudessem se manifestar livremente sobre suas vidas como trabalhadores da educação. Enviei 100 convites e pude trabalhar com 29 professores, número muito bom para uma pesquisa qualitativa.” Embora não tivesse a pretensão de que a sua pesquisa fosse conclusiva, Liliana Lima ressalta que ela traz informações bem relevantes em relação a este grupo de professores da rede privada de ensino superior, como as referentes ao adoecimento. “Mais da metade manifestam problemas de voz, vasculares e respiratórios, assim como depressão, síndrome de pânico, insônia e uma arritmia cardíaca que não se confirma quando investigada. São manifestações que eles identificam com ligadas ao trabalho, ao passo que os trabalhadores em geral não conseguem estabelecer esta relação.” Sobre os 68% dos entrevistados que não mudariam de profissão, a autora da tese considera que existe neles uma forte convicção de que a função de educador é bonita e valorosa. “São professores que acreditam contribuir para criar novas relações entre as pessoas e transformar o mundo. Ao mesmo tempo em que estão estressados, doentes e medrosos, não desistiriam da profissão, o que significa que talvez não estejam tão desiludidos assim.”
Liliana observa, entretanto, que a maioria dos entrevistados possui apenas uma década de carreira. “Se em dez anos temos tais percentuais, o que pode acontecer até a aposentadoria? Alguém pode perguntar o que a tese traz de novo, haja vista que todo professor pode dizer informalmente que está estressado. O ineditismo está no fato de que esses professores do ensino superior privado nunca foram pesquisados, nem esse grupo de instituições em que atuam. Os dados podem ter muita serventia para o movimento sindical, dentro do debate mais amplo que ocorre no país sobre quem é o trabalhador de hoje.”
O grande embate
Questionada sobre como mudar este cenário do ensino superior privado, Liliana Lima lembra que está tramitando no Senado o Plano Nacional de Educação (PNE), que já foi aprovado na Câmara. “O Plano contempla vinte metas a serem cumpridas no horizonte de dez anos, entre as quais a de incluir o ensino superior privado dentro do Sistema Nacional de Educação, ou seja, a sua regulamentação também pelo Estado, a fim de que o governo se responsabilize por essa expansão sem limites.”
Segundo a pesquisadora, se os empresários do ensino fazem lobbies no Congresso, a Confederação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) também tem presença marcante junto a deputados e senadores, esclarecendo-os sobre a pauta de reivindicações dos professores. “É um grande embate. A tendência é pela aprovação, mas é preciso pressão para que não empurrem a votação adiante. Coloco os resultados da tese dentro de um guarda-chuva maior, olhando para esses docentes a partir de um novo projeto de desenvolvimento para o país, com valorização do trabalho e distribuição de renda mais justa. Todos dizem que a educação é fundamental, mas o Brasil carece de ações que mostrem tal protagonismo.”
Expansão de matrículas foi de 74,2% em uma década
Os dados do Censo da Educação Superior de 2009, divulgado no dia 13 de janeiro de 2010 pelo Ministério da Educação (MEC), registrou que o Brasil possui 2.314 Instituições de Ensino Superior (IES), sendo que 89,4% são privadas e 10,6% públicas. Há um total de 307.815 professores no ensino superior do país, sendo 36% mestres e 27% doutores. Nas instituições públicas, 75% dos professores são mestres e doutores e nas privadas esta proporção é de 55%. Segundo os dados do mesmo relatório do Ministério, o professor da instituição privada é em geral jovem, com média de 34 anos, com mestrado e recebendo por hora/aula. Já o docente da instituição pública tem em média 44 anos, é doutor e o regime de trabalho de período integral. O Censo de novembro de 2011 indica que considerando a última década (2001-2010), a expansão de matrículas no ensino superior foi de 110%, sendo de 74,2% nas IES Privadas e de 25,8% nas IES Públicas, como mostra a tabela abaixo:

Publicação
Tese: “Os impactos das condições de trabalho sobre a subjetividade do professor de ensino superior privado de Campinas”
Autora: Liliana Aparecida de Lima
Orientadora: Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira
Unidade: Faculdade de Educação (FE)

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Jornal da Unicamp

Morre Edmundo Fernandes Dias

03/05/2013 - 13:58

Edmundo Fernandes Dias, em foto de 2006O professor aposentado do Departamento de Sociologia, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, Edmundo Fernandes Dias, faleceu na madrugada desta sexta-feira (3), de choque séptico. Ele estava internado no Centro Medico de Campinas há aproximadamente três semanas. Era um dos mais destacados especialistas em Gramsci da América Latina. Sua interpretacao sobre o jovem Gramsci, presente em seu livro Gramsci em Turim: a construcao do conceito de hegemonia (2000), é reconhecida internacionalmente. O velório sera no Crematório da Vila Alpina (Av. Francisco Falconi, 837, em São Paulo), neste sábado, das 8 às 12 horas.

Dirigente do Andes-Sindicato Nacional e da Adunicamp, Edmundo foi professor do Departamento de Sociologia da Unicamp por quase quarenta anos. Militante socialista, Edmundo Fernandes Dias ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores e a Central Unica dos Trabalhadores. Em meados da decada de 1990, rompeu com o PT, passando a militar no Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado. Ajudou a fundar a CSP-Conlutas, sendo um de seus mais entusiasmados militantes.

Recentemente, publicou: Política brasileira: embate de projetos hegemônicos (2006), Revolução e história: das teses ao manifesto (2011) e Revolução passiva e modo de vida: ensaios sobre as classes subalternas, o capitalismo e a hegemonia (2012), todos pela editora Sundermann.