DEBATE ABERTO do site Carta Maior
José Aderaldo Castello: a universidade brasileira está mais pobre
O professor José Aderaldo Castello, da Literatura Brasileira da USP, morreu dia 8. A literatura e a cultura brasileiras perderam um grande crítico, um grande leitor. O professor Castello teve comportamentos democráticos que nunca esquecerei. Quando perdia um embate numa escolha democrática, usava o seu poder de catedrático para defender o ponto de vista vencedor.
Flávio Aguiar
Peço vênia, aos cartamaiores, para prestar homenagem a um grande brasileiro: o prof. José Aderaldo Castello, da Literatura Brasileira da USP.
Hoje, terça-feira 13, fiquei sabendo que o prof. Castello, da USP, morreu. Na verdade, no dia 8.
Fiquei absolutamente penalizado.
A literatura e a cultura brasileiras perderam um grande crítico, um grande leitor.
Sobre a obra crítica dele, ela fala por si. O que dizer diante de uma obra como a Presença da literatura brasileira, antologia organizada com Antonio Candido? O que dizer sobre as suas leituras de literatura colonial? E muito mais.
Eu queria evocar aqui o militante da inteligência. Vamos considerar: o professor Castello tinha fama de autoritário. Como não? Ele pertencia à geração dos catedráticos antigos da USP. Mas o importante é o que as pessoas fazem com a tradição a que pertencem. E o prof. Castello fez o melhor.
Sou testemunha de que o prof. Castello teve comportamentos democráticos que nunca esquecerei. Tivemos vários embates, assim, frente a frente, olho no olho, nunca nos negamos a eles.
Mas quando o prof. Castello perdia um embate numa escolha democrática, ele usava o seu poder de catedrático – fosse onde fosse, no Conselho do Departamento, na Congregação da Faculdade, nos corredores da USP, para defender o ponto de vista vencedor, que fora contra o seu.
Fiquei sempre admirado, sobre como aquele professor que tinha tudo para passar por cima dos seus colegas, demonstrava tanto respeito pela legitimidade das decisões democráticas. E isso em plena ditadura. Quando muitos professores da USP se valeram de sua proximidade com os hegemônicos do momento para oprimir os outros. O prof. Castello nunca agiu assim. Pelo contrário, sou testemunha de que perseguidos, mesmo quando ele com eles não concordasse, contavam com seu apoio. Fui um deles.
Quando ele ganhava, que eu tenha visto, nunca era arrogante. Pelo contrário, procurava aproximar o adversário derrotado, como se não fosse tal, mas como alguém que pudesse ser respeitado.
Ficamos amigos.
Tive a oportunidade de conviver com o prof. Castello em muitas circunstâncias. Posso afirmar ainda duas coisas, que depõem sobre a qualidade de seu caráter e de seu estilo de viver.
Primeiro, ele era um grande especialista em vinhos. Segundo, era um grande especialista em cachaças.
Para um especialista em cultura brasileira isso é fundamental: um pé em cada mundo.
Saúde, prof. Castello.
Hoje, terça-feira 13, fiquei sabendo que o prof. Castello, da USP, morreu. Na verdade, no dia 8.
Fiquei absolutamente penalizado.
A literatura e a cultura brasileiras perderam um grande crítico, um grande leitor.
Sobre a obra crítica dele, ela fala por si. O que dizer diante de uma obra como a Presença da literatura brasileira, antologia organizada com Antonio Candido? O que dizer sobre as suas leituras de literatura colonial? E muito mais.
Eu queria evocar aqui o militante da inteligência. Vamos considerar: o professor Castello tinha fama de autoritário. Como não? Ele pertencia à geração dos catedráticos antigos da USP. Mas o importante é o que as pessoas fazem com a tradição a que pertencem. E o prof. Castello fez o melhor.
Sou testemunha de que o prof. Castello teve comportamentos democráticos que nunca esquecerei. Tivemos vários embates, assim, frente a frente, olho no olho, nunca nos negamos a eles.
Mas quando o prof. Castello perdia um embate numa escolha democrática, ele usava o seu poder de catedrático – fosse onde fosse, no Conselho do Departamento, na Congregação da Faculdade, nos corredores da USP, para defender o ponto de vista vencedor, que fora contra o seu.
Fiquei sempre admirado, sobre como aquele professor que tinha tudo para passar por cima dos seus colegas, demonstrava tanto respeito pela legitimidade das decisões democráticas. E isso em plena ditadura. Quando muitos professores da USP se valeram de sua proximidade com os hegemônicos do momento para oprimir os outros. O prof. Castello nunca agiu assim. Pelo contrário, sou testemunha de que perseguidos, mesmo quando ele com eles não concordasse, contavam com seu apoio. Fui um deles.
Quando ele ganhava, que eu tenha visto, nunca era arrogante. Pelo contrário, procurava aproximar o adversário derrotado, como se não fosse tal, mas como alguém que pudesse ser respeitado.
Ficamos amigos.
Tive a oportunidade de conviver com o prof. Castello em muitas circunstâncias. Posso afirmar ainda duas coisas, que depõem sobre a qualidade de seu caráter e de seu estilo de viver.
Primeiro, ele era um grande especialista em vinhos. Segundo, era um grande especialista em cachaças.
Para um especialista em cultura brasileira isso é fundamental: um pé em cada mundo.
Saúde, prof. Castello.
Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.
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