Enviado por Grozny Arruda
por Ricardo
Noblat - 18.6.12
Conselho de Ética do Senado julga Demóstenes
Quem ainda tem
dúvidas sobre a verdadeira natureza da relação do contraventor Carlinhos
Cachoeira, preso sob a acusação de explorar jogos ilegais, com o senador
Demóstenes Torres (GO)?
Os dois eram
amigos, por suposto. Mas as centenas de ligações telefônicas grampeadas pela
Polícia Federal mostram que além de amigos também eram sócios.
A cozinha dada de
presente por Cachoeira a Demóstenes foi coisa de amigo. Demóstenes acabara de
casar. Mas o Nextel que Demóstenes ganhou de Cachoeira foi coisa de bandido.
Cachoeira supôs
que o aparelho era à prova de grampo. Distribuiu uma dezena com pessoas que o
ajudavam a fazer negócios. Demóstenes era uma delas.
Logo que ruiu sua
imagem de exemplar servidor da ética e dos bons costumes, ninguém dentro do
Congresso apostava uma nota de três reais no futuro de Demóstenes.
Hoje, o Conselho
de Ética do Senado aprovará o relatório que recomenda a cassação do mandato
dele. Em seguida, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado avalizará o
resultado.
Se tudo correr
como o previsto, os 81 senadores (inclusive Demóstenes) se reunirão em 18 de
julho para confirmar ou desautorizar o que o Conselho de Ética decidiu.
É aí que mora o
perigo. O voto no Conselho é aberto. No plenário é secreto. Quem condenar
Demóstenes no Conselho poderá absolvê-lo no plenário sem se desgastar.
E por que a
maioria dos senadores fecharia os olhos às evidências de que Demóstenes feriu o
decoro parlamentar?
Ora, até Luana,
minha neta de quatro anos, responderia sem gastar dois neurônios: porque estão
pouco se lixando para decoro. Procedem como Demóstenes ou até pior. Não têm
biografias, mas prontuários.
A chantagem é um
instrumento afiado, perigoso.
Políticos
costumam conhecer os malfeitos praticados pelos colegas. Por curiosidade,
trocam confidências a respeito. Aprendem uns com os outros. Aperfeiçoam as
técnicas de se dar. E bebem em fontes comuns de financiamento de despesas de
campanha.
Se um deles
correr o risco de ser decapitado pelos demais, apelará para a chantagem se não
lhe restar outra saída.
Assim Renan
Calheiros salvou seu mandato ao se tornar público que o lobista de uma
empreiteira pagava despesas de sua ex-amante com quem ele tem um filho.
Na história de
188 anos do Senado, somente um senador foi cassado - Luiz Estevão de Oliveira
(PMDB-DF), acusado de desviar dinheiro público em 2000.
A política virou
um meio seguro e eficiente de enriquecimento ilícito. A desqualificação do
Congresso pegou velocidade.
Cito de memória
presidentes do Senado que dos anos 90 para cá renunciaram ao cargo ou ao
mandato, evitando assim serem cassados: Jader Barbalho (PA), Antonio Carlos
Magalhães (BA) e Renan Calheiros (AL). Esqueci algum?
Severino
Cavalcanti presidiu a Câmara em 2005. Foi obrigado a renunciar à presidência e
ao mandato porque se ficou sabendo que embolsava um mensalinho de R$ 10 mil
pago pelo concessionário de um dos restaurantes da Câmara.
João Paulo Cunha,
que antecedeu Severino no cargo, está para ser julgado como um dos 38 réus do
mensalão.
Políticos dão a
impressão de ser poderosos. E há os que de fato o são até que surja um
conhecedor dos seus segredos disposto a revelá-los.
Um motorista, um
caseiro, uma mulher agastada – qualquer um serve.
Quanto mais
humilde for, maior o estrago que suas revelações poderão produzir.
Quanto a quem
detém de fato poder... Essa gente não revela segredos nem quando passa aperto.
Vale pelo que sabe, mas não conta.
O publicitário
mineiro Marcos Valério, um dos cérebros do mensalão do PT, por exemplo, nada
contou. Uma vez insinuou que contaria. Lula então tomou um porre e falou em
renúncia.
Valério acabou
socorrido pelos que temeram suas inconfidências.
O socorro a
Valério foi financeiro.
Fernando
Cavendish, dono da empreiteira Delta, não precisa de dinheiro, mas de proteção.
Com a autoridade
de quem admitia gastar R$ 6 milhões com um senador ou R$ 30 milhões para
descolar um bom negócio, cobra proteção a seus amigos infiltrados na CPI do
Cachoeira.
Está sendo
protegido até aqui.
Dá voltas em
torno do prédio do Congresso a fila dos preocupados em proteger Cavendish.
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