Enviado pelo amigo Grozny.
Carlos Heitor Cony
Mediocridade nacional
Duas casas, uma em Brasília, outra em Goiás,
dois partidos que pretendem se revezar no poder, um bicheiro com a esquisita
alcunha de "Cachoeira" -e temos aí a agenda da vida pública nacional,
que se ramifica no Judiciário, na Polícia Federal e, logicamente, na mídia que
dedica espaço e tempo às gravações, aos depoimentos agora chamados de
"oitivas", às suposições e chantagens mútuas dos principais
interessados.
Uma pauta que não deixa de ser interessante, mas
que escancara em seus escabrosos detalhes a mediocridade dos tempos que
vivemos, embora o Brasil, com raríssimas exceções e ao longo de seus 500 e
tantos anos de existência, tenha insistido em produzir uma história menor,
quase lamentável, em alguns casos vergonhosa.
Vergonhosa e lamentável porque, apesar dos
episódios que estão abastecendo a gula da televisão, de jornais e revistas,
tudo termina em nada -ou em quase nada, o que é pior. Ficamos sabendo que os
escândalos se repetem, são previsíveis como a rota dos cometas, mas terminam
(quando terminam) como os casos do mensalão, dos
anões do Orçamento que incluiu alguns anões honorários, além de muitos outros
que fluem e refluem como as marés, também previsíveis como os cometas.
Saindo da atualidade. Tivemos incontáveis golpes
de Estado, regimes de exceção, largos períodos de estagnações econômica e
cultural. Só para dar um exemplo: a República, que em outras paragens marcou
momentos gloriosos ou pelo menos heroicos, entre nós se reduziu praticamente ao
marechal Deodoro que andou alguns metros de sua casa até o Ministério da Guerra,
para depor o último gabinete do Império.
Bem verdade que encontrou o portão fechado, mas
o velho cabo de guerra gritou para os sentinelas: "Abram isso! Abram
isso!".
Abriram.
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