Sobre Fux, Dirceu e o STF
De PAULO NOGUEIRA 2 DE
DEZEMBRO DE 2012
A louca cavalgada do juiz Luiz Fux por
uma vaga no sonhado Supremo Tribunal Federal
Ia usar a palavra perplexidade para descrever
o sentimento que toma conta do leitor ao ver, na Folha de hoje, a entrevista que o juiz do STF Luiz
Fux concedeu à jornalista Mônica Bergamo.
Mas recuei ao me lembrar de que grandes
filósofos como Sêneca e Montaigne defenderam a tese de que a perplexidade é
atributo dos tolos, tanto os coisas de repetem ao longo dos tempos.
Então ficamos assim: é uma entrevista
altamente reveladora sobre o próprio Fux, o STF e as ligações imorais entre a
justiça e a política no Brasil.
No último ano do governo Lula, Fux, em
busca da nomeação para o STF, correu sofregamente atrás do apoio de quem ele
achava que podia ajudá-lo.
Está no texto de Bergamo: “Fux “grudou”
em Delfim Netto. Pediu carta de apoio a João Pedro Stedile, do MST. Contou com
a ajuda de Antônio Palocci. Pediu uma força ao governador do Rio, Sergio
Cabral. Buscou empresários. E se reuniu com José Dirceu, o mais célebre
réu do mensalão. “Eu fui a várias pessoas de SP, à Fiesp. Numa dessas idas,
alguém me levou ao Zé Dirceu porque ele era influente no governo Lula.”
Paulo Maluf, réu em três processos no
STF, também intercedeu por Fux, segundo o deputado petista Cândido Vacarezza,
ouvido na reportagem de Mônica. Vacarezza era líder do governo Lula.
Palavras de Vacarezza, na Folha: “Quem
primeiro me procurou foi o deputado Paulo Maluf. Eu era líder do governo Lula.
O Maluf estava defendendo a indicação e me chamou no gabinete dele para
apresentar o Luiz Fux. Tivemos uma conversa bastante positiva. Eu tinha
inclinação por outro candidato [ao STF]. Mas eu ouvi com atenção e achei as
teses dele interessantes.”
Fux afirmou ao jornal que jamais viu
Maluf. Faço aqui uma breve pausa para notar que seu juízo sobre Fux não depõe
muito, aparentemente, sobre o poder de discernimento de Vacarezza.
O contato mais explosivo, naturalmente,
foi o com Dirceu. Na época, as acusações contra Dirceu já eram de conhecimento
amplo, geral e irrestrito. E Dirceu seria julgado, não muito depois, pelo STF
para o qual Fux tentava desesperadamente ser admitido.
Tudo bem? Pode? É assim mesmo que
funcionam as coisas?
Fux afirma que quando procurou Dirceu
não se lembrou de que ele era réu do Mensalão. Mesmo com o beneficio da dúvida,
é uma daquelas situações em que se aplica a grande frase de Wellington; “Quem
acredita nisso acredita em tudo”.
A entrevista mostra um Fux sem o menor
sentido de equilíbrio pessoal, dono de uma mente frágil e turbulenta. Considere
a narração dele próprio do encontro que teve com o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, no qual acabaria recebendo a notícia de que atingira o
objetivo: estava no STF.
“Aí eu passei meia hora rezando tudo o
que eu sei de reza possível e imaginável. Quando ele [Cardozo] abriu a porta,
falou: “Você não vai me dar um abraço? Você é o próximo ministro do Supremo
Tribunal Federal”. Foi aí que eu chorei. Extravasei.”
Fux, no julgamento, chancelou
basicamente tudo que Joaquim Barbosa defendeu, para frustração e raiva das
pessoas que ele procurara para conseguir a nomeação, a começar por Dirceu.
Se foi justo ou injusto, é uma questão
complexa e que desperta mais paixão que luz. Talvez a posteridade encontre uma
resposta mais objetiva.
O certo é que Fux é, em si, uma prova
torrencial de quanto o STF está longe de ser o reduto de Catões que muitos
brasileiros, ingenuamente, pensam ser. Por trás das togas de Batman, dos
semblantes solenes e do palavreado pernóstico pode haver histórias bem pouco
inspiradoras.
Leia mais: Sobre JB para a presidência da República
Nenhum comentário:
Postar um comentário