Por que, filho, te perturbas a ponto de retardar os passos? Em que te incomoda o murmurar desta gente? Dante Alighieri
Do coração e outros corações

sexta-feira, 11 de maio de 2012
Sublime Vanja
Images & Visions
BLOG DE ROBERTO ROMANO
Vanja Orico ajoelhando-se frente a um comboio do
exército. Rio de Janeiro, 1968.
Esta semana o amigo Carlos E. de Laet me sugeriu publicar uma foto magnífica, que eu não
conhecia, que mostra a atriz, cantora, cineasta e ativista política Vanja Orico
ajoelhando-se frente a um comboio do exército durante passeata contra o regime
militar. “Não atire, somos todos brasileiros”, dizia a jovem diante dos
trogloditas da ditadura. Gostaria da colaboração de vocês para descobrir o autor
da foto, que teria sido feita em 07 de novembro de 1968, durante o enterro do
estudante Édson Luiz, morto pela repressão. Gostaria também de agradecer a
Celina Ishikawa que conseguiu resgatar essa foto vasculhando a
Internet
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Na foto de Vanja Orico e do jovem chines : as carnes contra o aço, a liberdade frágil contra a força, o direito contra o fato, o coração contra o fígado. A beleza contra o horror e o terror. Humanidade.... Eis a metáfora perfeita da sociedade contra a razão de Estado. (Roberto Romano)
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Na foto de Vanja Orico e do jovem chines : as carnes contra o aço, a liberdade frágil contra a força, o direito contra o fato, o coração contra o fígado. A beleza contra o horror e o terror. Humanidade.... Eis a metáfora perfeita da sociedade contra a razão de Estado. (Roberto Romano)
Em Campinas, Maringá, Londrina ...
Do Blog de Roberto Romano
Jornal da Unicamp
Campinas, 07 de maio de 2012 a 13 de maio de 2012 – ANO 2012 –
Nº 525
A geração perdida
Homicídios e trânsito são os maiores responsáveis por morte de
jovens entre 15 e 24 anos no país
- Texto:
- Fotos:
Augusto de Paiva/Imagem
extraída do livro “Fotografia e Cidadania”
- Edição
de Imagens:
Uma das indagações de Aidar era como a população estava morrendo
e de que maneira as mudanças sociais e demográficas impactavam no perfil da
mortalidade entre as crianças, os jovens, os adultos e os idosos. Foi quando
deparou com as altas taxas de mortalidade de jovens por causas violentas,
objeto de extenso trabalho de investigação que continua até hoje e que envolve
especialmente a Região Metropolitana de Campinas, (RMC). De lá para cá, Tirza
constatou que após a explosão de homicídios, na mesma região, houve uma queda
na década seguinte, até 2010, e uma reaproximação dos patamares de antes de
1990, muito embora no restante do país se verifique ainda o aumento de
homicídios. Pesquisa coordenada por Tirza, revela, por exemplo, que no Paraná
algumas cidades como Cascavel e Foz do Iguaçu vivem agora situação semelhante à
registrada na RMC nos anos 1990 em relação aos homicídios. No Brasil como um
todo, houve um acréscimo de 14,5% no número de mortes por homicídios no País,
que passou de 45 mil em 2000, para 52 mil em 2010. Por outro lado, os registros
mais recentes da RMC revelam que, se uma parcela dos jovens tem conseguido
“escapar” dos homicídios, outra, não menos significativa, tem morrido sobre
duas, ou quatro rodas.
Desde o doutorado, Tirza, que hoje é pesquisadora do Núcleo de
Estudos de População (Nepo) Unicamp e também coordenadora do curso de
pós-graduação em Demografia, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
(IFCH), se preocupa com as relações entre as questões de desigualdade,
vulnerabilidade social e mortalidade. O trabalho envolve alunos da graduação,
pós-graduação e pesquisadores do Nepo e de outras instituições, entre as quais
a Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) e Universidade Nacional
de Córdoba.
A RMC, com seus 19 municípios e mais de 2,6 milhões de
habitantes, foi constituída como unidade regional somente em 2000. Porém, desde
a década de 1970 seus problemas de moradia, desemprego e empobrecimento da
população vêm se agravando em razão do avanço na posição de pólo econômico. A
exemplo do verificado no país, os jovens pagaram o alto preço do
desenvolvimento: entre 1991 e 2000, a variação da taxa de mortalidade por
homicídios entre 15 e 24 anos foi de impressionantes 174%, passando de 56,9
para 156,3 mortes para cada 100 mil.
Uma constatação curiosa de um dos estudos realizados pela equipe
coordenada por Tirza: a avaliação dos dados socioeconômicos e demográficos do
Censo 2000 (IBGE), do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM-Datasus), do
Ministério da Saúde, e do Banco de Óbitos de Campinas (Secretaria Municipal de
Saúde) contrariou o senso comum quando se trata de associar diretamente
desigualdade social, pobreza e violência urbana. Para a RMC, os municípios com
maior desigualdade não eram necessariamente os mais violentos no início dos
anos 2000. No período investigado, os números variaram de algo em torno de 100,
(em 1980) 300 (em 1990) a 900 homicídios (em 2000). Na virada do milênio, os
municípios com as maiores taxas dessa modalidade de crime por habitantes eram
Hortolândia, Sumaré, Campinas e Monte Mor, sendo os dois primeiros aqueles que
apresentavam, na época, os menores índices de desigualdade socioeconômica, mas
os piores indicadores relativos à pobreza e oportunidade educacional para os
jovens. “É importante ressaltar que tais problemas sociais devem ser tratados
em sua complexidade, considerando o dinamismo e sinergia entre os municípios e
dos diversos setores das políticas públicas, seja no âmbito municipal,
regional, estadual ou federal”, afirma Tirza.
A demógrafa adverte que pesam nesta relação as escalas
utilizadas nas análises, se comparando municípios dentro de uma mesma região,
ou bairros dentro de um mesmo município, ou ainda comparações entre regiões de
um mesmo país, ou entre países. “Desigualdade social já denota, antes de mais nada,
uma sociedade violenta em vários aspectos”, ressalta.
“Nos contextos de marcada desigualdade em termos econômicos e materiais, e em relação ao acesso à moradia, aos cuidados à saúde, à educação de qualidade, circulação e lazer, somados à facilidade da instalação e consolidação de redes de criminalidade ligadas ao narcotráfico e distribuição de armas de fogo, são criadas condições para o crescimento da violência urbana que vitimiza principalmente os homens jovens, negros, e residentes em áreas mais segregadas, espacial e socialmente”, enfatiza a docente.
“Nos contextos de marcada desigualdade em termos econômicos e materiais, e em relação ao acesso à moradia, aos cuidados à saúde, à educação de qualidade, circulação e lazer, somados à facilidade da instalação e consolidação de redes de criminalidade ligadas ao narcotráfico e distribuição de armas de fogo, são criadas condições para o crescimento da violência urbana que vitimiza principalmente os homens jovens, negros, e residentes em áreas mais segregadas, espacial e socialmente”, enfatiza a docente.
Os espaços urbanos nos quais a população mais sofre com perdas
fatais são aqueles com concentração de população de baixa renda, adultos com
menor escolaridade, e jovens com menor chance de frequentar uma escola de
qualidade.
Trânsito
A primeira década deste século foi marcada pela reversão da
tendência de mortes violentas causadas por armas no estado de São Paulo e na
região de Campinas. No Estado, houve redução de 58%, de acordo com o Datasus.
Foram 15.591 registros em 2000 para 6.557 em 2009. Na RMC, em 2010, ocorreram
cerca de 400 homicídios, 14,2 para cada 100 mil habitantes (70% das vítimas são
homens entre 15 e 44 anos). As maiores taxas foram observadas em Monte Mor
(56,5 por 100 mil habitantes), Santo Antônio da Posse (24,4 para cada 100 mil
habitantes), seguidas de Sumaré, Cosmópolis, Santa Bárbara d’Oeste e Paulínia,
estas com cerca de 20 homicídios para cada 100 mil moradores. “Alguns fatores
contribuíram para esta diminuição, entre os quais a ampliação da cobertura do
sistema escolar com mais jovens matriculados, e também um maior investimento em
segurança pública. Mas ainda há muito que melhorar”, afirma.
Este refluxo no número de homicídios, cujo pico deu-se nos 1990,
teve, no entanto, uma contrapartida: o aumento de mortes no trânsito em São
Paulo e no restante do país. Eis os números: no Estado, de 5.975 em 2000 para
7.331 em 2009 (aumento de 23%) e, no país, de 29.645 para 42.043 (elevação de
30%).
Motivo para acender a luz de alerta e dar continuidade aos
estudos demográficos. Não por acaso, a atualização dos dados também tem o foco
nos jovens, por serem eles também as maiores vítimas. Da mesma forma que os
homicídios, os acidentes fatais atingem jovens – agora motociclistas – que
vivem em regiões menos favorecidas e que utilizam o veículo para trabalhar.
Um estudo realizado pela orientanda Ana Carolina Bertho, por
exemplo, que incorpora dados de boletins de ocorrência dos acidentes de
trânsito com vítimas fatais e não fatais no município de Campinas, revela os
mesmos diferenciais quanto à vitimização de jovens motociclistas e pedestres
menores de 14 anos e adultos com 60 anos ou mais. Segundo a pesquisa, aqueles
que residem nas áreas com maior concentração de carências de infraestrutura urbana,
apresentam índices de vitimização de 1,5 a 2,5 vezes maiores que o observado
entre a população residente nas melhores áreas do município, como nas regiões
centrais e de bairros como o Taquaral, por exemplo.
Na defesa de um olhar mais apurado para a condição de
vulnerabilidade do jovem brasileiro, a pesquisadora alerta para um equívoco
gerado por análises estreitas sobre os indicadores de saúde, que
invariavelmente colocam maior foco nos problemas relacionados à saúde infantil
ou da população com 60 ou 65 anos ou mais. “Por um lado, porque a mortalidade
infantil é muito sensível a ações pontuais, como vacinação, saneamento e
cobertura do sistema básico de saúde em suas ações preventivas e enfrentamento
dos problemas de baixa complexidade e, no outro extremo, por conta do contínuo
aumento do contingente e da longevidade da população idosa, uma das
consequências da transição demográfica”.
Para Tirza, o erro está em manter uma estrutura que avança
somente no controle da mortalidade infantil e saúde dos idosos, sem prestar a
atenção devida e urgente aos jovens e jovens adultos. “Estes são os
sobreviventes da primeira infância muitas vezes em condições precárias, que
irão continuar acumulando experiências e exposições a riscos, ou situações de
proteção, responsáveis diretamente às possibilidades de enfrentamento das
condições adversas que encontrarão na maturidade” complementa. Estudos mais
recentes, que aguardam o censo de 2010 para atualizações, mostram que, na
Região Metropolitana de Campinas, os diferenciais da mortalidade são ainda
muito significativos entre os jovens, quando comparados às crianças e idosos.
São os jovens residentes nos espaços urbanos mais precários que apresentam os
piores indicadores quanto à saúde reprodutiva e à vitimização frente à violência
urbana, seja no trânsito seja nas vivências cotidianas.
Comissão da verdade
Do Blog de Roberto Romano
Uol noticias
10/05/2012 - 19h33Dilma anuncia integrantes da Comissão da Verdade
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KELLY
MATOS
DE BRASÍLIA
DE BRASÍLIA
Atualizado às 19h46.
A presidente Dilma Rousseff anunciou nesta
quinta-feira (10) os nomes das sete pessoas que vão integrar a Comissão da
Verdade.
Os nomes devem ser publicados na edição de
amanhã do "Diário Oficial da União" e a cerimônia de posse dos novos integrantes
será no próximo dia 16.
Os ex-presidentes José Sarney (PMDB), Fernando
Collor (PTB), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
já confirmaram presença na cerimônia.
Folhapress | |||||||||||
![]() | |||||||||||
Farão parte do grupo: José Carlos Dias
(ex-ministro da Justiça no governo Fernando Henrique), Gilson Dipp (ministro do
STJ e do TSE), Rosa Maria Cardoso da Cunha (amiga e ex-advogada de Dilma),
Cláudio Fonteles (ex-procurador-geral da República no governo Lula), Maria Rita
Kehl (psicanalista), José Paulo Cavalcanti Filho (advogado e escritor), Paulo
Sérgio Pinheiro (atual presidente da Comissão Internacional Independente de
Investigação da ONU para a Síria).
Antes do anúncio oficial, Dilma esteve reunida
no Palácio do Planalto com os integrantes da comissão e os ministros ligados ao
tema.
Ainda hoje, os sete membros indicados serão
recepcionados pela presidente em um jantar no Palácio da Alvorada.
A indicação dos integrantes ocorre quase seis
meses após a lei que cria a Comissão da Verdade ser sancionada pela presidente
Dilma Rousseff.
A Comissão da Verdade vai investigar e narrar
violações aos direitos humanos ocorridos entre 1946 e 1988 (que abrange o
período do Estado Novo, ditadura do governo de Getúlio Vargas, até a publicação
da Constituição Federal).
O grupo apontará, sem poder de punir,
responsáveis por mortes, torturas e desaparecimentos na ditadura e vai funcionar
por dois anos. Ao final deste prazo, a Comissão deverá elaborar um relatório em
que detalhará as circunstâncias das violações investigadas.
MILITARES
Em fevereiro, grupos de militares da reserva
reagiram contra a Comissão da Verdade. Em nota, clubes das três Forças Armadas,
que representam militares fora da ativa, criticaram a presidente Dilma Rousseff
por ela não ter demonstrado "desacordo" em relação a declarações de ministras e
do PT sobre a ditadura militar (1964-1985).
A reclamação tratava, entre outros temas, sobre
uma declaração da ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos), segunda a qual a
Comissão da Verdade pode levar à responsabilizações criminais de agentes
públicos, a despeito da Lei da Anistia. O texto dos militares, que havia sido
publicado na internet, acabou sendo retirado do ar após pressão do
governo.
Dias depois, também em nota, 98 militares da
reserva reafirmaram os ataques feitos por clubes militares à presidente Dilma e
disseram não reconhecer autoridade no ministro da Defesa, Celso Amorim, para
proibí-los de expressar opiniões. A nota, intitulada "Eles que Venham. Por Aqui
Não Passarão", também atacava a Comissão da Verdade: "[A comissão é um] ato
inconsequente de revanchismo explícito e de afronta à Lei da Anistia com o
beneplácito, inaceitável, do atual governo", dizia o texto, endossado por, entre
outros, 13 generais.
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Farão parte do grupo: José Carlos Dias
(ex-ministro da Justiça no governo Fernando Henrique), Gilson Dipp (ministro do
STJ e do TSE), Rosa Maria Cardoso da Cunha (amiga e ex-advogada de Dilma),
Cláudio Fonteles (ex-procurador-geral da República no governo Lula), Maria Rita
Kehl (psicanalista), José Paulo Cavalcanti Filho (advogado e escritor), Paulo
Sérgio Pinheiro (atual presidente da Comissão Internacional Independente de
Investigação da ONU para a Síria).
Antes do anúncio oficial, Dilma esteve reunida
no Palácio do Planalto com os integrantes da comissão e os ministros ligados ao
tema.
Ainda hoje, os sete membros indicados serão
recepcionados pela presidente em um jantar no Palácio da Alvorada.
A indicação dos integrantes ocorre quase seis
meses após a lei que cria a Comissão da Verdade ser sancionada pela presidente
Dilma Rousseff.
A Comissão da Verdade vai investigar e narrar
violações aos direitos humanos ocorridos entre 1946 e 1988 (que abrange o
período do Estado Novo, ditadura do governo de Getúlio Vargas, até a publicação
da Constituição Federal).
O grupo apontará, sem poder de punir,
responsáveis por mortes, torturas e desaparecimentos na ditadura e vai funcionar
por dois anos. Ao final deste prazo, a Comissão deverá elaborar um relatório em
que detalhará as circunstâncias das violações investigadas.
MILITARES
Em fevereiro, grupos de militares da reserva
reagiram contra a Comissão da Verdade. Em nota, clubes das três Forças Armadas,
que representam militares fora da ativa, criticaram a presidente Dilma Rousseff
por ela não ter demonstrado "desacordo" em relação a declarações de ministras e
do PT sobre a ditadura militar (1964-1985).
A reclamação tratava, entre outros temas, sobre
uma declaração da ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos), segunda a qual a
Comissão da Verdade pode levar à responsabilizações criminais de agentes
públicos, a despeito da Lei da Anistia. O texto dos militares, que havia sido
publicado na internet, acabou sendo retirado do ar após pressão do
governo.
Dias depois, também em nota, 98 militares da
reserva reafirmaram os ataques feitos por clubes militares à presidente Dilma e
disseram não reconhecer autoridade no ministro da Defesa, Celso Amorim, para
proibí-los de expressar opiniões. A nota, intitulada "Eles que Venham. Por Aqui
Não Passarão", também atacava a Comissão da Verdade: "[A comissão é um] ato
inconsequente de revanchismo explícito e de afronta à Lei da Anistia com o
beneplácito, inaceitável, do atual governo", dizia o texto, endossado por, entre
outros, 13 generais.
domingo, 6 de maio de 2012
Na Europa
Se duas eleições não se fazem uma primavera... Por Joana Lopes, Blog Entre as brumas da memória

Será?

… as que terão lugar amanhã, na Grécia e em França, inscreverão certamente o dia 6 de Maio de 2012 como um marco no percurso próximo da Europa. Em The Guardian, diz-se que pode tratar-se do primeiro dia de uma «Primavera europeia», o que, apesar de tudo, me parece talvez um pouco exagerado.
Tudo leva a crer que Hollande baterá Sarkozy (mas, até ao lavar dos cestos…). Embora o meu entusiasmo pelo provável vencedor seja mais do que mitigado, a saída de Sarkozy será um enorme alívio para a França e para a Europa e, nesta segunda volta, nem se põe a questão de voto útil ou inútil, mas sim de voto inevitável. Outra questão será o dia seguinte e as promessas que ficarão por cumprir, mas isso faz parte de muitas regras de vários jogos.
Interessa-me mais a Grécia. Pela incerteza quanto aos resultados, pelo que está em jogo para um povo martirizado e pela novidade trazida pela ascensão garantida das forças fora do centro – para o bem e para o mal. Diz-se, no artigo acima referido, que é todo o sistema do poder que está à beira de um ataque de nervos, mas que, apesar dos perigos vindos da extrema-direita, a queda das elites gregas marcará o início de uma nova fase que poderá levar a um «fim catártico» da tragédia grega.
Extremamente significativo é certamente o facto de três partidos anti-austeritários – Syriza, Comunista e Esquerda Democrática – somarem cerca de 40% das intenções de voto, embora com posições diferenciadas em relação à União Europeia e à eventual participação num futuro governo. Uma coisa é garantida: não poderão ser ignorados.
Será?
sábado, 5 de maio de 2012
Rosa
"Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao meno...s, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro - o rio."
Guimarães Rosa - A Terceira Margem do Rio
Guimarães Rosa - A Terceira Margem do Rio
Cap-tirado do Facebook Red Escuta Psicanalise
Brasil
"A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil. Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do país, e foi a que ele guardo...; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva, com os seus mitos, suas legendas, seus encantamentos; insuflou-lhe sua alma infantil, suas tristezas sem pesar, suas lágrimas sem amargor, seu silêncio sem concentração, suas alegrias sem causa, sua felicidade sem dia seguinte... É ela o suspiro indefinível que exalam ao luar as nossas noites do norte".
Joaquim Nabuco (1849 - 1910)
Joaquim Nabuco (1849 - 1910)
Cap-tirado do Facebook RedEScuta Psicanálise
O tempo da Europa
byJoana Lopes, Portugal, Blog Entre as brumas da memória
Dito por aí (13)
@João Abel Manta
«O que está a acontecer é que a construção europeia está a passar da fase do risco para a fase da incerteza. A diferença entre os dois conceitos é a base do negócio das companhias de seguros. É possível segurar o risco do acidente de viação, pois posso calculá-lo, mas ninguém segura riscos associados a alterações climáticas, pois aí reina a incerteza. O tempo da Europa, e consequentemente de Portugal, já passou a fase do cálculo, para entrar na entropia da incerteza. O tempo não pertence a Vítor Gaspar, mas ao jogo de dados a que uns chamam deus, e outros azar. Ninguém sabe quando, e se, Portugal voltará aos mercados.»
Viriato Soromenho-Marques, Do risco para a incerteza
*****
«Em segundo lugar, nessa cultura a compreensão do trabalhador como titular de direitos é tida como um desvio ideológico passadista e substituída pela apologia de uma "responsabilidade social" feita de distribuição de sobras que minora a raiva e o desespero mas mantém incólume tudo o que os produz. Em Abril, Soares dos Santos revelou que 1500 dos funcionários da Jerónimo Martins têm os salários penhorados por dívidas e alguns até roubam nas lojas Pingo Doce para matar a fome. Isso fê-lo rever a política de salários do grupo e o abuso de recurso à precariedade? Não, num gesto magnânimo, prometeu ajuda em géneros. Eis a responsabilidade social em todo o seu esplendor.»
José Manuel Pureza, Pingo amargo
*****
«Entre quatro produtos analisados, apenas no caso da pêra a margem era inferior a 50%, sendo de 40%. “Na alface, 80% do preço final fica na distribuição – um quilo de alface custava, em média, cerca de 40 cêntimos à saída do produtor e quase 1,80 euros no supermercado; na cenoura, a margem de comercialização ficava entre o 55% e os 70%; na maçã, a margem era superior a 50%”, segundo dados publicados no seu sitea. O Observatório [dos Mercados Agrícolas] quer estudar mais alimentos.»
Marx
"Consideremos então o resíduo dos produtos de trabalho. Nada deles restou senão uma mesma objetividade fantasmagórica, uma mera gelatina de trabalho humano indiferenciado, isto é, o dispêndio de força de trabalho humano sem ter em vista a forma de seu dispêndio. Nessas coisas apenas se apresenta que em sua produção foi despendida força de trabalho humano, foi acumulado trabalho humano. Como cristalizações dessa substância social comum a elas, são valores - valores mercantis" - Marx
Cap-tirei do facebook de Mariana Festucci. O excerto é do capitulo I do Kapital, de Karl Marx, A mercadoria, um dos textos mais belos que li nesse mjundão de ideias. Li a primeira vez no curso de Ciências Sociais que estava fazendo em 1978 após ter me formado em Ciências Biológicas, em 1977. Depois reli, li, reli no mestrado. Mas levei mais de um ano lendo e relendo. Com a ajuda de outros livros e colegas. No fim, um texto para sempre. Sublime.
Herta Müller
do Blog de ROBERTO ROMANO
Folha, uma rara entrevista instigante.
Romano: De fato, sublime entrevista. Sublime.
05/05/2012 - 07h52
Nobel Herta Müller fala do terror das ditaduras e critica Günter Grass
FABIO
VICTOR
MARCIO AQUILES
DE SÃO PAULO
MARCIO AQUILES
DE SÃO PAULO
Tortura, perseguição, medo e traição entranham
vida e obra de Herta Müller.
Ganhadora do Nobel de Literatura em 2009, a
escritora romena-alemã de 59 anos volta a acertar as contas com seu passado
atormentado em "Sempre
a Mesma Neve e Sempre o Mesmo Tio", que acaba de sair no Brasil pelo
Biblioteca Azul, novo selo da Globo Livros (tradução de Claudia Abeling, R$
34,90, 248 págs.).
O lançamento reúne discursos, artigos e ensaios
da autora, que falou com exclusividade à Folha --por e-mail e em alemão,
exigências dela.
Livro e entrevista revelam que independe a
ordem do substantivo: Herta Müller é igualmente uma brava mulher e uma mulher
brava.
Brava mulher por resistir à tirania e narrar
tudo, reviver pela literatura. Em "Sempre a Mesma Neve...", volta a descrever
como o regime do ditador romeno Nicolae Ceausescu (1918-1989) a acossou desde
que ela se recusou a colaborar com a Securitate, polícia secreta do país.
Declarada "inimiga do Estado", a escritora se
mudaria em 1987 para a Alemanha.
No ensaio "Cristina e Seu Simulacro", vasto
painel do terrorismo do regime, Herta conta ter descoberto que até sua melhor
amiga dos tempos de Romênia, que lhe deu ombro durante a perseguição, virara
espiã do regime (e a espionou na Alemanha).
Em "Mas Sempre Ocultou", relata o espanto ao
descobrir que o poeta e amigo Oskar Pastior, colaborador em seu último romance,
foi ele também um espião. Na entrevista, explica por que o perdoa.
Herta Müller, cujo pai lutou do lado nazista na
Segunda Guerra, é também uma mulher brava. Atacou o colega Nobel Günter Grass
--por dizer, num poema, que Israel ameaça a paz mundial-- e os regimes de China
e Irã.
Deu algumas respostas mal-humoradas. E deixou
três perguntas sem resposta.
Alejandro Acosta/Reuters | ||
![]() | ||
A escritora alemã Herta Müller, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura |
*
Por que a sra. decidiu reunir estes textos
num livro? O que confere unidade a eles?
Herta Müller - Este volume não é a primeira coletânea de ensaios e palestras. Eu tentei mais uma vez explicar de onde meus livros surgem, por que escrevo. E muitas coisas têm justamente a ver com minha vida, o convívio com a ditadura romena, a experiência da perseguição política e do medo --um dia a dia que não se pode nem imaginar nas democracias ocidentais.
O livro mescla discursos, palestras e
artigos. O que diferencia o texto escrito para ser falado de um outro que não
tem esse fim?
Uma palestra já é um "texto escrito" que foi lido em voz alta em alguma ocasião. Eu nunca falei em público sem anotações. Não me julgo capaz para isso.
Seu amigo Oskar Pastior é figura central
deste livro e do seu último romance. Apesar da descoberta de que ele colaborou
com a Securitate, no texto "Mas sempre ocultou" a sra. o perdoa e escreve: "Mas
eu o acolheria em meus braços todas as vezes". Por que? Teria o convocado a
colaborar em "Tudo o que Tenho Levo Comigo" se soubesse que ele atuou como
espião do regime romeno?
Esta é uma pergunta que exige uma resposta detalhada. Espero que vocês tenham paciência.
Sem Oskar Pastior eu não teria escrito meu
último romance ["Tudo o que Tenho Levo Comigo"]. O livro conta a história de
como os alemães foram deportados da Romênia para os campos de trabalhos forçados
da ex-União Soviética em janeiro de 1945. Para Stálin, todos os alemães foram
cúmplices de Hilter. E [de fato], dos alemães que estavam na Romênia,
muitos
combateram como voluntários no exército alemão, inclusive em janeiro de 1945, quando os russos ocuparam a Romênia e começaram a deportar os alemães.
combateram como voluntários no exército alemão, inclusive em janeiro de 1945, quando os russos ocuparam a Romênia e começaram a deportar os alemães.
Uma vez que os homens ainda estavam em plena
guerra --lembrando que a guerra só acabou em maio de 1945-- deportaram-se
mulheres entre 17 e 45 anos, além dos homens que eram jovens ou velhos demais
para a guerra. Foi o caso da minha mãe e de Oskar Pastior, então com 17 anos de
idade.
Eu sempre quis escrever um livro sobre essa
deportação, que perdurou por cinco anos, sobre a desgraça nos campos, sobre a
quantidade enorme de mortos e o silêncio que se seguiu.
Pois minha mãe só contava esses episódios de
maneira muito vaga.
Oskar Pastior, com sua memória, me deu inúmeros
detalhes, e nos anos de preparação de "Tudo o que Tenho Levo Comigo" nós nos
tornamos bastante amigos. Depois da sua morte, quando descobriram que ele foi
espião da polícia secreta romena de 1961 até a fuga do país em 1968, eu fiquei
muito chocada.
Mas hoje eu sei pelas atas que Pastior foi
chantageado. Depois de retornar do campo de concentração russo, ele escreveu
sete poemas que foram considerados "difamação antisoviética".
E nos anos 60 ainda eram as leis estalinistas
que valiam na Romênia. Ele teria recebido uma pena de 20 anos ou mesmo perpétua
por essas acusações. Impuseram-lhe a escolha: prisão ou espionagem. E foi claro
que ele optou pela segunda alternativa.
Dos registros secretos, eu vim a saber que ele
escreveu cinco relatórios em dez anos, todos eles banais e sem importância.
Portanto foi por meio da passividade que ele conseguiu se safar da situação e,
no fim, não causou nenhum dano a ninguém.
Hoje eu agradeço o fato de ele não ter me
contado nada sobre a atividade de espião. Sem a oportunidade de ler as atas
--somente após a sua morte elas se tornaram públicas--, eu não teria acreditado
que ele só entregara relatórios sem conteúdo e teria rompido a amizade --sem
nenhuma razão, como vejo hoje. E ainda não teria tido a chance de pedir-lhe
desculpas, pois ele morreu antes de que se pudesse ler os relatórios que
escreveu.
A sra. menciona que a Alemanha Ocidental
pagou à Romênia para receber romenos de etnia alemã. A sra. também foi
"vendida"? (caso sim, por quanto?)
Havia de fato um acordo entre a Alemanha Ocidental e a Romênia sobre [o que se costuma chamar de] "reagrupamento familiar" --12 mil alemães puderam deixar a Romênia a cada ano, e a Alemanha pagou alguns milhares de marcos por cada pessoa. Mas eu não era um caso normal, eu deixei o país como "inimiga do Estado". Desde que fui ameaçada de morte, eu estava em uma "lista prioritária" da Anistia Internacional e o então ministro do Exterior alemão, [Hans-Dietrich] Genscher, intercedeu pela minha saída do país. Quanto foi pago por mim, não sei.
Em mais de uma passagem do livro a sra.
trata do suicídio, chegando a escrever que "talvez o suicídio seja uma procura
total pela felicidade". Concorda com Camus que o suicídio é "o único problema
filosófico verdadeiro"? Como resistir à tentação de tirar a própria
vida?
Para mim, pensar em suicídio não era um problema filosófico. Eu pensava nisso porque estava em uma situação sem saída. Quando me recusara a cooperar com a polícia secreta Securitate, ou seja, quando me recusei a ser espiã, perdi meu emprego, fui chamada várias vezes a interrogatórios e recebi ameaças de morte. Eu não sabia o que fazer. Quando eu estava com a corda no pescoço, pensei comigo: se me mato agora, eu faço o trabalho da Securitate; já que querem me matar, que façam então eles mesmos o serviço.
A obra da sra. é definida pelas marcas da
opressão de sistemas ditatoriais. Há algum regime atual que tenha paralelos com
o nazismo e o stalinismo? Há risco de aquelas experiencias se
repetirem?
Dê uma olhada no que se passa agora no mundo. O que está acontecendo na China, onde pessoas que não concordam desaparecem em prisões secretas ou são condenadas a longas penas de prisão, como o Prêmio Nobel da Paz Liu Xiaobo e sua mulher. Para isso, o governo chinês não precisa nem de uma ordem judicial como forma de legitimação. E o que acontece na ditadura religiosa no Irã? Existe hoje uma religião patriarcal totalitária, que ameaça o mundo com a extinção de todo um país com a destruição de Israel.
A sra escreve que a Romênia, "o país do
fracasso universal", passou da tirania de Ceausescu a uma democracia corrupta e
dominada pela criminalidade. O que falta para o país se tornar viável?
Na Romênia --assim como na maioria das sociedades pós-ditatoriais-- os funcionários do antigo regime se arranjaram bem na nova ordem. Hoje eles são empresários e políticos e, em vez da repressão, o que domina o país agora é a corrupção. Além disso, há o desinteresse da população sobre o esclarecimento da ditadura. Diferente do que acontece na Alemanha, na Romênia quase ninguém quer ler seus arquivos do serviço secreto, para saber quem o traiu ou espionou. Talvez gente demais tenha colaborado com o serviço secreto. A falta de interesse no passado impediu um novo começo com políticos livres de acusações.
A sra. escreve que a literatura não pode
fazer nada contra as ditaduras, apesar de dizer que, a posteriori, ela pode
mostrar tudo o que aconteceu. Acredita que a literatura ainda tem o poder de
influenciar as pessoas?
Acho que o que se aprende com livros é um processo individual. Eu aprendi muito com os livros. Mas o que eles fazem com cada uma das pessoas é coisa que não se pode avaliar.
Kafka, Celan, Canetti são autores que
escrevem em alemão, mas não nasceram na Alemanha, e compartilham experiências de
vida com a sra. Esses autores, assim como Kertész e Cioran, são comumente
mencionados quando se fala da sua obra. Com a obra de qual deles a sra. mais se
identifica?
Eu não me identifico com nenhum outro autor. Há às vezes algumas semelhanças biográficas e interesses em comum. Mas experiências de vida são sempre diferentes. Desses autores, o mais próximo de mim seria Imre Kertész.
Como a sra. viu a recente polêmica em torno
do poema em que Günter Grass critica Israel? Concorda com ele que Israel é uma
ameaça à paz mundial?
Grass distorce a realidade. O Irã está ameaçando Israel com a aniquilação, e não o contrário. Além disso, chamar o texto dele de poema é um rótulo embusteiro. Grass perdeu para mim a sua credibilidade moral há muito tempo, porque ele ocultou durante décadas sua filiação à [organização nazista] SS.
Como a sra analisa o comentário do Nobel
V.S. Naipaul de que textos escritos por mulheres são reconhecíveis ao primeiro
parágrafo, que mulheres escrevem com sentimentalismo e não são iguais a
ele?
Ah, isso não me interessa.
Existe uma crítica recorrente, vinda
principalmente dos EUA, de que o Prêmio Nobel é eurocêntrico e despreza a
literatura de outros continentes. A sra. concorda?
Sem resposta.
Sem resposta.
A sra. conhece algo do Brasil e da
literatura brasileira? Tem planos e/ou convites para vir ao Brasil?
Sem resposta.
Em que a sra. trabalha no momento? Quais os
próximos livros que vai publicar?
Sem resposta.
Sem resposta.
Seu primeiro livro foi publicado há 30 anos.
Como a sra. vê o desenvolvimento de sua literatura?
São os leitores que deveriam avaliar o "desenvolvimento" da minha literatura
Tecendo...
do Blog de
Roberto Romano
sexta-feira,
4 de maio de 2012
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PDF Campinas, 23 de abril de 2012 a 06 de maio de 2012 – ANO 2012 –
Nº 524
O corpo como
espelho social
Pesquisa
de professora do IA mostra por que a dança é um experimento de resistência
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Foi abordando a transformação do
corpo ao longo da História da Dança que a dançarina, coreógrafa, intérprete e
professora da Unicamp Holly Elizabeth Cavrell concluiu que somente é possível
criar essa história fazendo um percurso, “mesmo não se conhecendo o final da
trajetória”. A constatação resulta de sua tese de doutorado, defendida no
Instituto de Artes (IA), à qual ela dedicou anos de estudo e um exaustivo
trabalho para vertê-lo da língua inglesa para a portuguesa. Nessa pesquisa,
orientada pela professora Cássia Navas, Holly fala de perímetros como variante de um percurso subterrâneo que empurra
o corpo para a frente sem a necessidade de definir um destino.
Ela conta que a dança é um
experimento de resistência, tal como aquele que procurou desenvolver em 2009 em
Nova Iorque. Com uma bolsa Capes, foi fazer pesquisa na New York University, no
Departamento de Performance Studies. Passou oito horas no metrô de NY, a maior
cidade dos Estados Unidos. Sentou-se dentro de um vagão e ficou alerta aos
‘músicos de ocasião’ que, do lado de fora, tocavam nas plataformas. Em cada
estação, observava tudo e, quando a porta se abria, seguia em frente na direção
do som. Seu ponto de vista era explorar o corpo e suas possibilidades.
A ideia original era ater-se ao
século XX. Mas, movida pela curiosidade, conheceu as raízes da dança, os corpos
que dançam e dançaram, como se modificam e como mudaram no percurso.
A autora, para quem a história se
move em ciclos, assim como a dança, retrocedeu então ao século XV. Era o
momento em que a primeira forma de dança foi codificada, o balé. Buscou saber
mais sobre os formadores do corpo, os conceitos fixados nele e o que foi
eliminado. Fez a tessitura daquela história.
O balé, informa ela, começou na Itália
e migrou para a França. Suas raízes começaram como pompa – o corpo apresentado
com ornamentos. Holly explorou o seu desenvolvimento, quem foram os seus
modelos e o momento em que a linguagem foi sistematizada. As descobertas
prosseguiram ao longo das quase 300 páginas da tese. Não obstante isso, a
pesquisadora sente que, mesmo considerando vários pontos de vista, os quais dão
uma ideia compreensível dos períodos, a tese toca apenas a ponta do iceberg.
No século XVII, relembra a autora, os
modelos eram os corpos dos nobres, como o de Luís XIV, o “rei sol”. Dele
emanavam as formas de se movimentar – cujos passos vinham em geral da dança
social dos camponeses. A aristocracia seguia o rei até nas vestimentas para
ensinar a maneira correta de se movimentar. Usavam-se armações que limitavam os
movimentos, pela postura nobre. Não era fácil se curvar, devido aos
espartilhos. A cabeça movia-se pouco por causa da peruca. As partes expressivas
eram a mão, o busto das mulheres e as panturrilhas masculinas.
Naquele tempo, apenas homens
dançavam, e o uso de máscaras auxiliava na composição de papéis femininos. A
Revolução Francesa rompeu com o padrão aristocrático. Foi quando a mulher
ganhou status, dominando os palcos como dançarina. No século XX, ela começou a
se liberar também fora dos palcos, na luta pelo voto, estabelecendo a voz
feminina no campo da igualdade intelectual e como indivíduo na sociedade.
Misturaram-se os assuntos sociais, econômicos e culturais. O corpo era o
espelho social.
Às vezes, nota Holly, alguns
contextos agem como catalisadores na mudança do artista e em outros têm o
artista como catalisador. As coreografias dão a dica sobre o que o artista
tirou do seu tempo e, com o rastreamento histórico, também é possível detectar
ritmo, espaço, peso e dinâmica de uma época, o que pode alterar a percepção
categórica, uma vez que a história é tudo, menos linear, e parece ondulatória
ou cíclica quando se mapeia o fluxo das tendências artísticas. “O nosso corpo é
a fusão de experiências. Carregamos uma história que não nasce de um dia para o
outro. Acreditamos ser uma geração única, todavia esses momentos se repetem”,
ensina.
A autora recorda que, ao longo da
História, grupos responderam à crise com arte, como os Futuristas – um
movimento artístico e literário que surgiu em 1990 com a publicação do
Manifesto Futurista no jornal Le Figaro. Eram contra o governo e usaram a arte
como porta-voz. Queriam explorar o que significa ser um artista do futuro. Suas
obras baseavam-se na velocidade e na tecnologia.
Os futuristas inspiraram outros
artistas, que depois fundaram novos movimentos modernistas como Dadá, em
resposta à Primeira Guerra Mundial. Para eles, a arte tinha se tornado banal.
“Os corpos que cresceram com a opressão são uma resposta através da arte”, realça
Holly, citando ainda outro grupo, o Fluxus, que surgiu da década de 1950, após
a Segunda Guerra. Mas como um corpo responde a uma determinada época? O seu
valor só é reconhecido pela resposta da próxima geração, garante a
pesquisadora. “E nossos modelos atuais não serão necessariamente fixados no
tempo.”
Imbricações
No século XV, a dança era mais
estática e mais alusiva aos mitos. Tudo exaltava a posição do rei.
Eventualmente ele, em particular Luís XIV, queria disseminar como o seu corpo
se expressava. Como era o modelo de divindade, esta foi a maneira que os nobres
e as pessoas mais chegadas ao rei acharam de ‘estar mais próximas de Deus’.
Nessa época, as danças foram
codificadas, transformadas em livros e distribuídas na Europa. “Eram uma forma
‘hegemônica’ de mostrar como a França tinha importância assim como esse corpo
francês, retratado pelo rei”, salienta Holly. Com a Revolução Francesa, o corpo
passou a se modificar com a sua ajuda: infiltrando novas maneiras de se
movimentar. Muitos decidiram se refugiar em outros países. A dança começou a
entrar no corpo da mulher, que passou a dominar o palco no século XVIII. Já o
homem chegou a produzir uma dança baseada na técnica, porém tão exageradamente
que foi reprovado pelo público, criando-se uma virtuosidade “monstruosa”.
As mulheres que adquiriam a técnica
conquistaram mais olhares com sua presença etereal no século XIX. Maria
Taglioni, uma famosa bailarina da era romântica, assistiu em Viena – onde
treinava – os acrobáticos fazendo truques, subindo nas pontas dos pés. Então o
trabalho de ponta foi uma apropriação dos truques e, com isso, foi capaz de
idealizar a ponta que hoje está nas sapatilhas do balé.
A bailarina romântica, a despeito de
apresentar uma qualidade de leveza, tinha uma musculatura enorme. É difícil
imaginar, sem ajuda do sapato, o que o musculatura tinha que fazer para correr
na ponta dos pés pelo palco. A mulher ideal virou um modelo etereal e esquivo,
apesar de ter um corpo robusto, resultado de treinamento pesado.
No século XX, surgiram as mulheres mais representativas da vida urbana e interessadas na autoexpressão. Além do corpo social da mulher que tirou o espartilho e se despiu, muitas peculiaridades em seu corpo foram reparadas.
No século XX, surgiram as mulheres mais representativas da vida urbana e interessadas na autoexpressão. Além do corpo social da mulher que tirou o espartilho e se despiu, muitas peculiaridades em seu corpo foram reparadas.
Holly escolheu algumas personalidades
para falar das duas gerações da dança moderna. Na primeira geração, lembrou
Isadora Duncan, Ruth St. Denis e Loie Fuller. Duncan era contra o que reprimia
a mulher, como o casamento por exemplo. Denis era mais interessada na dança
mística e a relação do corpo como sagrado. Fuller foi muito imitada na virada
do século, ao usar varas e tecidos de seda, formando imagens efêmeras com luz.
Além de ser uma química e fazer suas misturas sozinha, era iluminadora e uma
artista completa.
Conforme a pesquisadora, essas
personalidades não estavam associadas a grupos, como era o costume até o século
XIX, como a Ópera de Paris. Na Rússia, também o desenvolvimento era feito a
partir de uma escola e companhia ligada ao governo imperial. A artista singular
rompeu com isso, evidenciando as mulheres como pioneiras da dança.
Na segunda geração da dança moderna, do final da década de 1920 para a de 1930, conseguiu-se ver no corpo que as pessoas começaram a trabalhar com assuntos reais do seu lugar. A depressão e a falta de alimentos foram assuntos que o povo viveu na pele. O momento marcou a presença da mulher autoexpressiva falando de sua época e abandonando os códigos anteriores do corpo.
Na segunda geração da dança moderna, do final da década de 1920 para a de 1930, conseguiu-se ver no corpo que as pessoas começaram a trabalhar com assuntos reais do seu lugar. A depressão e a falta de alimentos foram assuntos que o povo viveu na pele. O momento marcou a presença da mulher autoexpressiva falando de sua época e abandonando os códigos anteriores do corpo.
Nessa transição, em que se apresentou
um objetivismo estético, a política, informa Holly, era um setor conservador,
fato que se refletiu no corpo e saiu um pouco da autoexpressão. A história,
para a autora, era sempre a vida das pessoas, contudo em sua pesquisa viu
também que é o agora. E essa história envolve pessoas nas intervenções,
escolhas e destinos.
Da Broadway ao inusitado
Holly, americana de Nova Iorque,
começou a dançar aos oito anos na Juilliard School, incentivada pela mãe. Era
um curso preparatório com formação musical e em dança. Aos 11 anos,
interessou-se por ‘construir’ a dança, tanto que reservava uma aula de
composição sempre após a de técnica. Ficava olhando outros bailarinos
coreografando. Foi então que decidiu conversar com a professora para fazer o
mesmo. Ela riu, mas lhe deu a chance de se apresentar na semana seguinte.
Preparou uma coreografia por meio de
um poema. Recitou-o, depois dançou o poema e dançou-o novamente recitando. De
imediato, a professora a convidou para ser estagiária em sua companhia. Sempre
buscando uma ligação entre a criação e a técnica, fez uma trajetória como criadora
e intérprete. Dançou na companhia da Martha Graham quando tinha 17 anos e
vivenciou uma carreira desde os palcos da Broadway até espaços alternativos e
inusitados.
Na década de 1970, existiam várias
fusões em Nova Iorque. Entretanto, muitos grupos eram refratários à técnica.
Holly foi convidada a ir ao México, onde trabalhou como professora no balé
folclórico. Depois foi à Venezuela e à Suécia, onde permaneceu oito anos.
Trabalhou na França, Finlândia, Dinamarca e América Central.
Estando na Suécia, preencheu um
formulário e recebeu uma bolsa Fulbright para pesquisa e troca de conhecimentos
em dança. Escolheu o Brasil, que já conhecia graças a algumas imagens feitas
pelo seu pai, cineasta. Chegando aqui, sentiu-se em casa. Isso faz 22 anos.
Professora concursada em 1999 pela Unicamp, naturalizou-se brasileira, casou-se
e constituiu família e, de quebra, reuniu tudo o que queria.
■ Publicação
■ Publicação
Tese: “Dando corpo à história”
Autora: Holly Elizabeth Cavrell
Orientadora: Cássia Navas Alves de Castro
Unidade: Instituto de Artes (IA)
Autora: Holly Elizabeth Cavrell
Orientadora: Cássia Navas Alves de Castro
Unidade: Instituto de Artes (IA)
Tempo
Incrível aula sobre TEMPO.
Maria Rita Khel cita Antônio Cândido: tempo não é dinheiro, é a tessitura da vida. Recomendo.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Sublime...
Junishiro Tanizaki. Li um excelente livro desse fantástico escritor. Shozo, a gata e suas duas mulheres.
terça-feira, 1 de maio de 2012
O poder vicia e é uma delícia!
O pode vicia e é uma delícia! Li essa frase em um blog chamado Pizzaria do poder. E resolvi falar da notícia que veio a mim por e-mail com o título: Não é lindo? Sim, o amor (ao poder é lindo!). A notícia é: o Sinteemar, sindicato dos trabalhadores do ensino de Maringá vai pintar os portões danificados pelo fogo dia 14 de março desse ano. Nesse dia 14 os portões foram fechados pelo sindicato e houve uma princípio de fogo que chamuscou a pintura e o logotipo da Universidade. A atitude dos diretores do sindicato (vejam, não sei se a notícia é verdadeira) é aquela que chamo de política dos subalternos. Não foi o sindicato que queimou os portões, mas como bons mocinhos, bons sindicalistas, bons rapazes e moças ... vamos pintar o portão da Universidade. Isso me lembra aquelas alunas que limpavam a sala de aula para os professores, trocavam a tinta dos tinteiros, davam maças para os teachers, faziam florzinhas nos cadernos e pregavam cartazes do diretor nas paredes. Subalternos que ganhavam carinhos extras, afagos nas cabecinhas e algumas migalhas de poder. Rejubilavam-se por serem os prediletos e preferidos das profes. Cresceram e agora são atores do poder. Gostam de bajular. Ficam extasiados. Contentam-se em obedecer. Jamais mudarão alguma coisa no mundo. Contentam-se em abaixar a cabeça e pintar os portões. É pouco.
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