Do Blog de Roberto Romano
No Recife, Rands anuncia desfiliação do PT e saída
de cargos públicos
DEPUTADO FEDERAL DIVULGOU DECISÃO ATRAVÉS DE CARTA.
ELE DIZ QUE DEVOLVERÁ MANDATO DE DEPUTADO E ENTREGARÁ CARGO DE
SECRETÁRIO.
Do G1 PE
Maurício Rands
anunciou saída da vida pública
(Foto:
Reprodução/TV Globo)
O deputado federal Maurício Rands informou nesta
quarta-feira (4), por meio de uma carta, a desfiliação dele do Partido dos
Trabalhadores (PT). No documento, ele também diz que devolverá o mandato de
deputado federal ao partido e anuncia o afastamento definitivo do cargo de
secretário de governo do estado.
Maurício Rands fez uma crítica ao PT e alegou que
tomou a decisão depois que a direção nacional do partido determinou a retirada
da candidatura dele e a do prefeito João da Costa à Prefeitura do Recife,
anulando as prévias na cidade. “Depois da decisão da direção nacional do PT,
impondo autoritariamente a retirada à minha candidatura e à do atual prefeito,
recolhi-me à reflexão. Concluí que esgotei por inteiro minha motivação e a
razão para continuar lutando por uma renovação no PT”, comentou Rands na carta.
O presidente estadual do PT em Pernambuco, deputado
Pedro Eugênio, disse que lamenta muito a saída de Mauricio Rands do partido,
mas que ele tem o direito de seguir o próprio caminho político.
Rands informou que, após a confusão nas prévias do
partido, as divergências de métodos e práticas ficaram mais claras e
insuperáveis. Ele critica a atitude autoritária da direção nacional do PT. “Na
luta pela renovação do partido, no Recife e em outros lugares, infelizmente,
têm prevalecido posições da direção nacional, adotadas autoritária e
burocraticamente, distantes da realidade dos militantes na base partidária”,
explicou no documento.
O deputado disse que a falta de diálogo com a
militância no Recife e a ruptura provocada após a decisão da direção nacional
provocaram a saída dele da vida de militante partidário. “Ignoraram que
existiam alternativas, procedimentais e de quadros, dentro do partido, que
unificariam a frente em torno de uma candidatura do PT”, comenta.
Por fim, o deputado fez elogios a Geraldo Júlio, do
PSB, e anunciou que vai apoiar o candidato da Frente Popular para prefeito do
Recife. “Trabalhei diretamente com Geraldo Júlio e sou testemunha de como ele
foi central para o sucesso do governo Eduardo Campos. Acredito que Geraldo
Júlio é o quadro mais preparado para atualizar e aperfeiçoar a gestão municipal
do Recife”, explicou no texto. Rands ainda declara: “Saio da vida pública e da
política partidária para exercer ainda mais plenamente a cidadania”.
Confira, na íntegra, a carta enviada por Maurício
Rands:
Carta ao Povo de Pernambuco
Venho aqui me comunicar diretamente
com meus eleitores, companheiros, amigos e com o povo de Pernambuco, em
especial com os militantes do Partido dos Trabalhadores - PT, que
compartilharam comigo tantas lutas pela democracia e pela construção de uma
sociedade melhor.
Nas prévias internas de definição do
candidato do PT e da Frente Popular, durante dois meses, participei de intenso
debate sobre o Recife e a vida partidária. Interagi com os militantes, na
compreensão conjunta de que a melhoria da condição de vida na cidade é um
processo de construção coletiva no qual o partido tem grande responsabilidade
em servir de exemplo na demonstração de práticas democráticas. Testemunhei todo
o engajamento desprendido e consciente de milhares de pessoas nesse nobre
debate. Destes militantes, levarei para sempre as melhores memórias e a eles
sou profundamente grato.
Depois da decisão da direção nacional
do PT, impondo autoritariamente a retirada à minha candidatura e à do atual
prefeito, recolhi-me à reflexão. Ponderei sobre o processo das prévias e sobre
o momento político mais geral. Concluí que esgotei por inteiro minha motivação
e a razão para continuar lutando por uma renovação no PT. Percebi terem sido
infrutíferas e sem perspectivas minhas tentativas de afirmar a compreensão de
que o 'como fazer' é tão importante quanto os resultados.
As diferenças de métodos e práticas,
aliás, já vinham sendo por mim amadurecidas e acumuladas há algum tempo.
Todavia, este processo recente fez com que as divergências ficassem mais claras
e insuperáveis. Na luta pela renovação do partido, no Recife e em outros
lugares, infelizmente, têm prevalecido posições da direção nacional, adotadas
autoritária e burocraticamente, distantes da realidade dos militantes na base
partidária.
No debate das prévias, minha
candidatura buscou construir uma legítima renovação por dentro do PT e da
Frente Popular. Mas lutamos, também, para renovar os procedimentos com o
objetivo de reforçar as práticas democráticas. Porém, setores dominantes da
direção nacional do PT já tinham outro roteiro que não o debate democrático com
a militância do PT no Recife e a sua deliberação. Ou seja, cometeram o grave
equívoco de ter a pretensão de impor, a partir de São Paulo, um candidato à
Frente Popular e ao povo do Recife.
Por não terem dialogado com a
militância do PT no Recife, muito menos com a Frente Popular, ignoraram que
existiam alternativas, procedimentais e de quadros, dentro do partido, que
unificariam a frente em torno de uma candidatura do PT. Com a decisão da
direção nacional do PT, lamentavelmente, esta unidade resultou rompida. Diante
da minha discordância com essa ruptura provocada pela direção nacional do
partido, concluí que cheguei ao fim de um ciclo na minha vida de militante
partidário.
É nesse quadro que comunico aqui três
decisões tomadas por mim. Primeiro, a minha desfiliação do PT. Segundo, a
devolução do mandato de Deputado Federal ao partido. E, por último, meu
afastamento definitivo do cargo de Secretário do Governo Eduardo Campos.
Existiram diversas razões que me
levaram a este caminho. A mais crucial dá-se no nível da minha consciência.
Sempre agi, na vida e na política, com o maior rigor entre o que penso e o que
faço. Sempre cumpri os deveres da minha consciência.
Defendi nos debates partidários a
renovação do modo petista de governar e a implantação de um novo modelo de
gestão no Recife. Modelo capaz de aprofundar nossa concepção de democracia
participativa e especialmente de trazer para a cidade métodos e ações que o
Governo Eduardo Campos vem praticando de maneira exemplar e com reconhecimento
inclusive internacional, mas que a administração do Recife não conseguiu
implantar.
Minha experiência como Secretário do
Governador Eduardo Campos foi fundamental para entender a importância da
política do fazer, com formas competentes e inovadoras de gerir os recursos
públicos, atrair investimentos privados e promover a inclusão social.
Ainda nos debates das prévias,
defendi a renovação das práticas e dos quadros partidários, bem como a melhoria
da articulação política do governo municipal com o parlamento, os partidos da
base e a sociedade civil organizada. Nesses 32 anos de militância, dediquei
grande parte de minha vida a fortalecer o campo democrático-popular, lutando
para aumentar a participação e consciência política do nosso povo.
Amadureci as decisões que acabo de
tomar com base em fatos altamente relevantes que impactaram minha consciência
de cidadão. Entre estes, a opção da quase totalidade da Frente Popular pela
indicação de Geraldo Júlio como candidato a Prefeito do Recife. Trabalhei
diretamente com Geraldo Júlio e sou testemunha de como ele foi central para o
sucesso do Governo Eduardo Campos. Acredito que Geraldo Júlio é o quadro mais
preparado para atualizar e aperfeiçoar a gestão municipal do Recife.
Implantando na cidade o que o Governador Eduardo Campos está fazendo em
Pernambuco, ele vai melhorar concretamente a vida do povo do Recife.
Estou consciente de que o nosso povo
vai entender o significado da escolha de um novo quadro para transformar as práticas
político-administrativas na cidade. Geraldo Júlio vai representar a renovação
dentro de uma frente política que - espero - seja mantida, mesmo com o
lançamento de duas candidaturas no seu campo.
Como esta posição tem graves
implicações para minha vida partidária, decidi que devo sair do PT e, com
dignidade, devolver meu mandato ao partido. E como gesto concreto de que não se
trata de um jogo menor, de barganha por espaços de poder, decidi também sair
definitivamente do Governo Eduardo Campos. Esse é o custo, sem dúvida elevado,
de ser fiel à minha consciência cidadã. Saio da vida pública e da política
partidária para exercer ainda mais plenamente a cidadania.
Recife, 03 de julho de 2012
Maurício Rands
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