Allen Ginsberg discursando na praça NY
SEXTA-FEIRA, 13 DE JULHO DE 2012 Do Blog de Roberto
Romano
Do Blog
Hipocrisia
acadêmica.
Publicado no blog "Livro das Horas", em
12/07/2012.
Carta dos docentes de História da
UFPB endereçada ao PPGH solicitando desligamento
PRODUTIVISMO: Carta dos docentes de
História da UFPB endereçada ao PPGH solicitando desligamento.
JOÃO PESSOA,
02 DE JULHO DE 2012
Ciência precisa de maturação, que
esse princípio possa ser aplicado nas Ciências Humanas!
Os signatários deste documento vêm
respeitosamente solicitar seu desligamento do Programa de Pós-Graduação em
História da UFPB.
Nossa decisão não está relacionada de
forma específica à condução realizada pela Coordenação ou ao restante do corpo
docente do Programa – excetuadas divergências de caráter pontual, sempre
presentes em quaisquer grupos de trabalho –, mas liga-se à discordância com os
rumos dos Programas de Pós-Graduação no Brasil, em nosso Estado e na nossa
Universidade.
Os gestores de pós-graduação, seja
por adotarem uma posição pragmática, pressionados pelos parâmetros
quantitativos das agências de fomento que controlam a pesquisa de pós-graduação
no país, seja por acreditarem que tais parâmetros são corretos, têm levado os
cursos, os docentes e discentes à busca desenfreada pelo cumprimento de metas
quantitativas em detrimento, em nossa compreensão, de valores que devem nortear
a produção do conhecimento acadêmico e que se articulam a dimensões
qualitativas da pesquisa e da reflexão na área das Ciências Humanas.
Num texto não tão recente, mas
bastante atual, intitulado Notas para a Discussão sobre a Excelência
Acadêmica, a filósofa Marilena Chauí realizou uma breve e lúcida reflexão
sobre os atuais critérios de avaliação e seus indicadores. Nele apresenta uma série
de críticas ao sistema e seus parâmetros que ranqueiam eventos e periódicos e
atribuem, a partir daí, pontuações que qualificam (ou desqualificam) o docente
e, por tabela, os Programas aos quais estão vinculados. Apesar de não citá-lo
diretamente, o referido texto inspira, em boa medida, este documento.
Reconhecemos o fato de que também somos co-responsáveis pela situação, de um
modo global, pois em diversas circunstâncias referendamos as metas
quantitativas e as reproduzimos em nossas práticas. Certamente, mesmo a
contragosto, encaminhamos certos procedimentos exigidos em função de cobranças
institucionais. Entretanto, o avanço desse processo tornou a situação cada vez
mais inflexível e nos levou a tomar essa iniciativa de desligamento formal.
Consideramo-nos profissionais sérios,
comprometidos com a universidade, com o trabalho acadêmico e com a produção do
conhecimento, e sempre buscamos em nossas atribuições, seja no ensino, na
pesquisa, na extensão ou na administração, contribuir com a melhoria cursos de
História da graduação e da pós-graduação. Nossos alunos sabem do que estamos
falando e não precisamos, aqui, dizer quem somos e porque nos colocamos contra
o produtivismo quantitativo. Não acreditamos que se faça História – uma ciência
humana do acúmulo, da maturação, da reflexão, uma escrita tão próxima da
literatura, com tanto a ver com a imaginação criativa – sem o tempo que lhe é
devido e sem propósito de dizer algo novo.
Não defendemos, aqui, a acomodação,
fenômeno tão nocivo à vida acadêmica, e reconhecemos a importância da produção
científica e da publicação periódica de resultados de pesquisas – que tem
avançado, apesar dos percalços, em nosso país – mas entendemos que produção não
é sinônimo de produtivismo. Essa distorção, com seus inúmeros vícios, mais
esteriliza que permite o avanço da ciência, especialmente no campo das
humanidades. A questão fundamental é definir o que significa produção. Limitar
o reconhecimento da produção acadêmica ao vale-tudo do "publish or
parish", não é contribuir para a inovação, é ingressar num
"burocratismo" que privilegia a busca desenfreada de rankings em vez
da efetiva e qualificada produção científica.
Entre outras questões, a criação de
programas de pós-graduação deve se dar em consonância com a graduação, sendo
que essa segunda não pode tornar-se tão somente um apêndice ou uma espécie de
"etapa preparatória" da primeira. A pós-graduação deve significar um
desenvolvimento da graduação e não uma negação dela. Nesse sentido, relegar a
graduação e o ensino a um status menor é um equívoco extremamente danoso e que
pode solapar as bases de formação qualificada de profissionais em diversas
áreas.
Deve-se observar a estrutura de cada
programa de pós-graduação e sua forma de inserção na sociedade no seu entorno,
para se avaliar inserindo critérios de ponderação, que não tornem os parâmetros
uniformes e inflexíveis. Cada região do país possui suas peculiaridades e não
se pode ter uma medida desconsidere isso. Um pequeno exemplo pode ser
apresentado: na realização de eventos há uma pontuação que desqualifica aqueles
de caráter local ou regional e valoriza os nacionais ou internacionais. Em
suma, todas essas questões, num país das dimensões do Brasil, exigem uma
definição de critérios que não funcionem como "desculpas", mas que
permitam avaliar para além de parâmetros rigidamente lineares.
Considerando, especificamente, um
Programa como o nosso, que tem como seu escopo fundamental questões ligadas à
história regional e ao ensino da disciplina, priorizar critérios que não levem
esses aspectos em conta na sua avaliação contradiz a própria essência que
norteou a criação do mesmo. Isso não implica em qualquer forma de xenofobia,
mas em reconhecer que os critérios valorativos aplicados estão também
relacionados a lócus de poder que ultrapassam o aspecto puramente científico.
Também há de se respeitar as peculiaridades de cada campo do conhecimento, pois
não é possível mensurar a produção na área das ciências humanas, tendo como
parâmetro a produção científica e tecnológica das áreas das ciências exatas.
Mais uma vez, é preciso considerar as diferenças e peculiaridades inerentes a
cada situação, mesmo mantendo o rigor e a seriedade necessários ao processo
avaliativo.
Os docentes que assinam este
documento, não concordam com a preponderância quase absoluta do critério hoje
considerado imprescindível nas avaliações dos Programas de Pós-Graduação: a
produção e publicação de artigos num sistema que prioriza aspectos
essencialmente quantitativos. Para realizá-los com a qualidade que exigimos de
nós mesmos, para que sejam textos originais e que contribuam com o avanço do
conhecimento em nossos temas, é necessário que sejam produzidos a partir de
reflexões realizadas no ritmo em que nos seja possível pensar e escrever
História. Efetivamente, com a carga de trabalho e a diversidade de ocupações
que assumimos, não consideramos a menor possibilidade de cumprir, com qualidade,
tais metas quantitativas.
Com certeza, as questões aqui
brevemente esboçadas – além de diversas outras sequer mencionadas – estão
relacionadas a um contexto bem mais amplo e complexo e não temos a pretensão de
esgotar qualquer uma delas ou de ter respostas definitivas. Apenas manifestamos
nosso direito de discordar de algumas condições existentes para a produção do
trabalho científico e tomamos uma atitude maturada ao longo de várias
discussões nos últimos tempos. Acreditamos que esse contexto é parte de um
difícil processo de consolidação efetiva da pesquisa e da pós-graduação no
nosso país e seria uma atitude pouca historiadora de nossa parte assumirmos o
discurso da inevitabilidade de determinadas situações "para todo o
sempre". Certamente, os tempos que virão poderão trazer mudanças,
necessidades de ajustes, redefinição de prioridades.Dessa forma, nos mantemos
disponíveis para o debate respeitoso de posições e para colaborar direta ou
indiretamente com a pós-graduação em outras e renovadas circunstâncias.
Reconhecemos a seriedade e
compromisso das trajetórias de muitos de nossos colegas que consideram esse
ritmo de trabalhos adequado, bem como daqueles que, apesar de não concordarem
se submetem ao esforço produtivo nos moldes exigidos e que buscarão realizá-lo
de forma qualificada. São questões da diversidade de opinião que devemos
respeitar, mas com as quais não concordamos. Também não gostaríamos de criar
contratempos ao Programa, que consideramos socialmente necessário, porque,
apesar dos limites impostos pelos prazos de dissertação, ele contribui para a
formação de quadros profissionais de História no Estado da Paraíba e no
Nordeste. Por fim, informamos que não deixaremos ônus ou prejuízos no que tange
às orientações e outras atividades em andamento, apesar de encaminharmos essa
situação em ritmos e condições diferenciadas para cada um de nós e que serão
devidamente cientificadas à Coordenação do Programa.
Atenciosamente,
Ângelo Emilio da Silva Pessoa José
Jonas Duarte da Costa Regina Célia Gonçalves Regina Maria Rodrigues Behar
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