De Roberto Romano: Portal Unicamp. boa ciência, bom jornalismo.
FÍSICOS FESTEJAM MOMENTO HISTÓRICO
04/07/2012 - 17:20
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Divulgação
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Edição de Imagens
Na manhã desta quarta-feira, o Centro Europeu de Pesquisas
Nucleares (CERN) convocou a imprensa em Genebra para anunciar a descoberta de
uma nova partícula subatômica, que poderia ser o bóson de Higgs e comprovaria a
teoria sobre a formação do Universo. Os resultados foram obtidos nos
experimentos Atlas e CMS, realizados no maior acelerador de partículas do
mundo, o LHC (Large Hadron Collider). Há quase 50 anos, Peter Higgs sustentou
que essa partícula garante massa para todas as demais e que, sem ela, a vida
simplesmente não existiria – mais ou menos por isso, a imprensa tornou-a
conhecida como “a partícula de Deus”, expressão que os cientistas abominam.
“O anúncio é motivo de alegria para os físicos, e ainda mais para os físicos que trabalham na área de partículas elementares”, afirma a professora Carola Dobrigkeit Chinellato, do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp. “Há muitos anos nós aprendemos sobre a previsão da existência do bóson de Higgs e ensinamos sobre ele para os nossos alunos. Este anúncio é um indicativo de que esse bóson existe. Hoje sentimos uma satisfação parecida com a de alguém que está montando um quebra-cabeça enorme e consegue achar a pecinha que está faltando para completar o quadro.”
“O anúncio é motivo de alegria para os físicos, e ainda mais para os físicos que trabalham na área de partículas elementares”, afirma a professora Carola Dobrigkeit Chinellato, do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp. “Há muitos anos nós aprendemos sobre a previsão da existência do bóson de Higgs e ensinamos sobre ele para os nossos alunos. Este anúncio é um indicativo de que esse bóson existe. Hoje sentimos uma satisfação parecida com a de alguém que está montando um quebra-cabeça enorme e consegue achar a pecinha que está faltando para completar o quadro.”
A pesquisadora do Departamento de Raios Cósmicos e Cronologia tem
um filho, David Chinellato, fazendo seu pós-doutorado em outro experimento no
LHC, o Alice, no qual estão mais alunos da Unicamp. Ela explica que a massa da
nova partícula é de aproximadamente 126 vezes à do próton. “A beleza da
descoberta vem não apenas da notável previsão teórica, baseada em conceitos
bastante simples de simetria, mas do avanço tecnológico promovido para
comprovar a sua existência. Todo esse êxito só foi possível, também, com o
esforço conjunto de milhares de pesquisadores, físicos, engenheiros e técnicos.
Acho que é mesmo um momento histórico.”
Carola Chinellato está entre os que torcem o nariz para a expressão “partícula de Deus”, por achar que transmite ao leigo a falsa impressão de que existe algo de exotérico, mágico ou religioso nesta busca dos cientistas. “Higgs anunciou sua teoria em 1964 e desde então estão procurando o bóson, sem nada encontrar. Leon Lederman, prêmio Nobel na área de física de partículas, escreveu um livro e pensou no título ‘The Goddamn Particle’ (‘A Partícula Maldita’), justamente por causa da procura cansativa. Mas o editor achou que ‘maldita’ não pegava bem e deixou apenas ‘God’. É uma blasfêmia, pois se trata de uma previsão teórica baseada em raciocínio bastante lógico”.
Carola Chinellato está entre os que torcem o nariz para a expressão “partícula de Deus”, por achar que transmite ao leigo a falsa impressão de que existe algo de exotérico, mágico ou religioso nesta busca dos cientistas. “Higgs anunciou sua teoria em 1964 e desde então estão procurando o bóson, sem nada encontrar. Leon Lederman, prêmio Nobel na área de física de partículas, escreveu um livro e pensou no título ‘The Goddamn Particle’ (‘A Partícula Maldita’), justamente por causa da procura cansativa. Mas o editor achou que ‘maldita’ não pegava bem e deixou apenas ‘God’. É uma blasfêmia, pois se trata de uma previsão teórica baseada em raciocínio bastante lógico”.
A docente da Unicamp chama a atenção, entretanto, para a cautela
demonstrada pelos pesquisadores do CERN durante o anúncio desta quarta-feira.
“Eles observam que os dados contêm sinais claros de uma nova partícula, que é o
bóson mais pesado já encontrado. As indicações são significativas, mas ainda é
pouco para afirmar que descobriram o bóson de Higgs, havendo a necessidade de
confirmar outras propriedades da partícula, o que vai demandar novos dados e
mais tempo.”
A mesma opinião é compartilhada por Jun Takahashi, professor do
IFGW que participa do experimento Alice. Impedido de conceder entrevista por
estar em trânsito fora da Unicamp, ele enviou seu comentário por e-mail: “As
consequências da descoberta do bóson de Higgs seriam imensas. Exatamente por
esse motivo, a comunidade está sendo bastante cautelosa em anunciar que se
trata mesmo dele. Vi os resultados e os anúncios, e o que está claro é que
existe sim uma nova partícula, nunca vista anteriormente, na região de massa
onde se esperava encontrar o Higgs. Mas ainda faltam alguns testes e mais dados
para que a comunidade anuncie formalmente a descoberta como sendo do bóson de
Higgs.”
Para quê tanto?As pesquisas sobre a origem do universo vêm consumindo bilhões e bilhões em dinheiro e o esforço de milhares de pesquisadores nas últimas décadas. Apenas a construção do LHC, que entrou em operação em setembro de 2008, demandou um investimento de 3 bilhões de euros. O anel com 27 quilômetros de extensão está localizado 100 metros abaixo da superfície, na fronteira da Suíça com a França, promovendo colisões de prótons para criar um sistema de energia extremamente elevada, em condições próximas às que se seguiram ao Big Bang.
Ao leigo que não tem claro o porquê de tanto investimento e dedicação, Carola Chinellato observa que, sem a física, não se descobriria o aparelho de raio-X no final do século 19. “Dez anos depois, o aparelho livrou muitos soldados da amputação na Primeira Guerra e, passados mais cem anos, pessoas comuns, que nada têm a ver com o modelo padrão das partículas elementares, podem fazer uma ressonância ou tomografia. Estamos aprofundando nosso conhecimento em física fundamental básica, mas as aplicações não são diretas. Muita tecnologia está sendo desenvolvida para fazer funcionar o acelerador de partículas, empurrando a fronteira do conhecimento mais à frente.”
Há cinco anos, quando se preparava para iniciar seus trabalhos no CERN, Jun Takahashi lembrou que foram os cientistas daquele laboratório que criaram, por exemplo, a World Wide Web (WWW), que se popularizou como Internet. “Embora nosso objetivo seja compreender as leis fundamentais da natureza, muita tecnologia é gerada nos grandes experimentos com aceleradores de partículas e detectores. Pode não haver aplicações de imediato, mas como nós temos a demanda, criamos a tecnologia de que precisamos e que muitas vezes se torna útil para a sociedade”, disse.
Em sua própria tese de doutorado, Takahashi se envolveu com um detector de silício para o acelerador do Laboratório Nacional de Brookhaven (EUA), recorrendo a uma tecnologia semelhante à das câmeras digitais. Tecnologia que estava sendo adaptada para a realização de radiografia de dentes, por ser bem mais sensível do que o filme de raio-X e preservar o paciente de dose maior de radiação. Em outros laboratórios do mundo, eram desenvolvidos aceleradores de prótons para depositar o feixe diretamente em tumores. “Também vêm da física nuclear o equipamento de ressonância magnética, o detector de radioatividade e o detector do robô Pathfinder enviado a Marte. O velho aparelho de televisão é um acelerador de partículas.”
Para quê tanto?As pesquisas sobre a origem do universo vêm consumindo bilhões e bilhões em dinheiro e o esforço de milhares de pesquisadores nas últimas décadas. Apenas a construção do LHC, que entrou em operação em setembro de 2008, demandou um investimento de 3 bilhões de euros. O anel com 27 quilômetros de extensão está localizado 100 metros abaixo da superfície, na fronteira da Suíça com a França, promovendo colisões de prótons para criar um sistema de energia extremamente elevada, em condições próximas às que se seguiram ao Big Bang.
Ao leigo que não tem claro o porquê de tanto investimento e dedicação, Carola Chinellato observa que, sem a física, não se descobriria o aparelho de raio-X no final do século 19. “Dez anos depois, o aparelho livrou muitos soldados da amputação na Primeira Guerra e, passados mais cem anos, pessoas comuns, que nada têm a ver com o modelo padrão das partículas elementares, podem fazer uma ressonância ou tomografia. Estamos aprofundando nosso conhecimento em física fundamental básica, mas as aplicações não são diretas. Muita tecnologia está sendo desenvolvida para fazer funcionar o acelerador de partículas, empurrando a fronteira do conhecimento mais à frente.”
Há cinco anos, quando se preparava para iniciar seus trabalhos no CERN, Jun Takahashi lembrou que foram os cientistas daquele laboratório que criaram, por exemplo, a World Wide Web (WWW), que se popularizou como Internet. “Embora nosso objetivo seja compreender as leis fundamentais da natureza, muita tecnologia é gerada nos grandes experimentos com aceleradores de partículas e detectores. Pode não haver aplicações de imediato, mas como nós temos a demanda, criamos a tecnologia de que precisamos e que muitas vezes se torna útil para a sociedade”, disse.
Em sua própria tese de doutorado, Takahashi se envolveu com um detector de silício para o acelerador do Laboratório Nacional de Brookhaven (EUA), recorrendo a uma tecnologia semelhante à das câmeras digitais. Tecnologia que estava sendo adaptada para a realização de radiografia de dentes, por ser bem mais sensível do que o filme de raio-X e preservar o paciente de dose maior de radiação. Em outros laboratórios do mundo, eram desenvolvidos aceleradores de prótons para depositar o feixe diretamente em tumores. “Também vêm da física nuclear o equipamento de ressonância magnética, o detector de radioatividade e o detector do robô Pathfinder enviado a Marte. O velho aparelho de televisão é um acelerador de partículas.”
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