Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Crise imobiliária nos EUA



UNICAMP do Blog de roberto romano
Baixar versão em PDF Campinas, 13 de agosto de 2012 a 19 de agosto de 2012 – ANO 2012 – Nº 535
Economista vai na raiz da crise imobiliária
que atingiu os Estados Unidos em 2007
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Em um espaço de quase um século, a família norte-americana prosperou e passou não só a consumir mais, como também adquiriu um imóvel que começou a valorizar. Sobre este mesmo imóvel tomou mais crédito dos bancos, fez novas hipotecas, já que havia lastro: um imóvel que seguia valendo mais. O problema é que chegou o dia em que o processo foi interrompido e se reverteu, ou seja, o ativo real (imóvel) foi perdendo o valor, enquanto as dívidas só aumentavam. Foi o princípio da grande crise imobiliária de 2007 nos Estados Unidos, que desencadeou a crise financeira internacional em 2008.

Nas primeiras análises, o abalo ficou conhecido como crise do subprime. Isso porque os bancos deram crédito às famílias menos abastadas, com histórico financeiro ruim, o que teria propiciado a instabilidade. Na realidade, a questão é muito mais complexa, como observa o economista Everton Rosa, autor da dissertação de mestrado “O papel macroeconômico das famílias e a geração de fragilidade financeira“, orientada pela docente Simone Silva de Deos, do Instituto de Economia (IE) da Unicamp.  Rosa usou o caso norte-americano para comprovar o papel das famílias como agentes que, da mesma forma que as empresas e as instituições financeiras, podem tanto contribuir para o dinamismo da economia, como para o aumento de sua vulnerabilidade.

Para o pesquisador, as famílias do subprime apenas entraram em um processo de endividamento que já estava em curso. O aspecto importante seria justamente as dívidas contraídas pelas famílias intermediárias, algo que abrange ampla classe média e a classe trabalhadora. Após décadas de endividamento, juntam-se as famílias menos abastadas, quando o ciclo dos imóveis já estava se esgotando. O fato de grande parte dos economistas não atentar para estas questões era algo que incomodava o pesquisador.

Segundo ele, o instrumental desenvolvido para análise dos ativos e passivos das relações financeiras pode ser aplicado a qualquer contexto histórico e econômico, inclusive o brasileiro. “Se a renda e os mecanismos de crédito continuarem evoluindo no Brasil, acredito que, com o tempo,  as famílias brasileiras terão novas prioridades que excedem a dimensão e as motivações do consumo, como as aplicações financeiras e as decisões para o futuro”. Segundo o autor da pesquisa, o Brasil ainda precisaria criar mercados secundários e sofisticar seus instrumentos financeiros de longo prazo, bem como modificar a regulamentação do mercado imobiliário, para abrir uma possibilidade de fragilidade. “Até o momento, uma crise imobiliária no Brasil, como a americana, é uma possibilidade afastada”, ressalta Rosa. O crédito imobiliário, que foi o epicentro da crise de 2007, representa nos Estados Unidos, segundo o pesquisador, 65% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto no Brasil a porcentagem é de apenas 5%.

Dados do FED

Rosa optou por estudar a economia dos EUA justamente pela complexidade das relações financeiras do país e pelo capitalismo norte-americano ser o mais sofisticado, profundo e diverso em relação aos instrumentos financeiros, instituições de crédito e mercado de capitais. Também contribuíram para a pesquisa as vastas bases de dados disponibilizadas pelo Federal Reserve (Fed), que é o banco central norte-americano.

Sabe-se que a crise de 2007 ganhou as devidas proporções em função do processo de securitização e de difusão dos instrumentos derivativos. De um lado foram eliminadas as restrições aos empréstimos dos bancos e, de outro, permitiu-se a difusão de papéis financeiros derivados de compromissos de crédito nos diferentes investidores. A contribuição das famílias para explicar a crise era, de certa maneira, colocada em segundo plano. Em geral as análises se voltavam ao crédito para o consumo. Rosa avalia que as famílias devem ser vistas além de suas decisões de consumo, isto é, como agentes que constituem dívidas e adquirem ativos. “A forma como decidem sobre seus estoques de ativos e/ou dívidas tem efeitos sobre as próprias decisões de consumo, ou seja, ele pode ser estimulado, indo além das restrições de renda no caso do enriquecimento com ativos ou com acesso difundido ao crédito”, argumenta.

O crédito ao consumo, que pode alavancar a atividade econômica, apenas seria um fator de fragilidade caso as relações de endividamento fossem generalizadas entre as famílias e houvesse desemprego em massa. “Nesse caso, a contrapartida das obrigações financeiras é diretamente a magnitude da própria renda. Quando se trata de ativos, a comparação é direta com o valor da dívida”, diz. No caso estudado, o endividamento das famílias americanas era sobretudo de longo prazo, associado à aquisição de imóveis. “A abordagem da crise em geral foi de que as famílias se endividaram para o consumo pela facilidade do crédito. Eu coloco que a dívida não é para o consumo. As famílias se endividaram no longo prazo para a compra de ativos que se valorizavam. Essa valorização permitiu acesso a mais crédito e isso lastreou novas decisões das famílias, tendo inclusive reflexo na ampliação do consumo. É outra dinâmica”. Os norte-americanos tinham a sensação de ter enriquecido rapidamente, mas na realidade o que havia era um ativo carregado por uma dívida.

Rosa não está demonizando o crédito. “Nas economias desenvolvidas, o crédito representa em geral mais de 100% do PIB. A economia acelera pela disponibilidade de crédito”. No entanto, o endividamento das famílias sugere outros pontos: enriquecer com a valorização dos ativos representa uma atitude especulativa segundo o autor. “Elas podem não saber que estão especulando, mas quem só tem uma casa e decide aumentar o endividamento em vez de pagar a dívida ou exercer o ganho que teve, quer o ganho”. Ademais a crise dos EUA não teria sido conjuntural.

O pesquisador fundamenta sua opinião com base nos estudos de dados do Fed desde a crise de 1929, especialmente no pós-Segunda Guerra Mundial. “O endividamento das famílias norte-americanas é estrutural, parte constitutiva da economia daquele país desde o pós-guerra. O processo ganha maior dimensão nos anos 80 quando são realizadas reformas no setor financeiro em resposta à crise das instituições de poupança. A securitização e a forte presença de gigantes estatais (Fannie Mae e Freddie Mac) constituíram um amplo mercado secundário de hipotecas, garantindo a ampliação do crédito imobiliário e o acesso à casa própria. Nos anos 90, ocorrem novos saltos de endividamento até as crises de 2001 e 2007. O endividamento de longo prazo é o que indica a mudança no comportamento das famílias, sugerindo um papel mais dinâmico na economia”.

Cânones revisitados

As bases para o trabalho de Rosa estão em John Maynard Keynes e Hymman Minsky. Em 1936, Keynes, considerado o pai da macroeconomia, lançou “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”. Consumo e investimento determinavam a renda e o produto. “Já estava claro que as duas variáveis precisam ser analisadas conjuntamente” afirma o pesquisador, muito embora ressalte que a teoria keynesiana apresenta a especificidade de ter sido criada num período no qual a massa trabalhadora não tinha acesso ao sistema financeiro e a formas de renda eram distintas das do trabalho. “O padrão de disseminação do consumo e produção em massa começa a se desenvolver a partir de meados do século passado e, além da distribuição de renda e dos mecanismos do Estado de bem-estar social, a difusão do crédito foi fundamental neste processo”, acrescenta.

Já Minsky explorou as relações financeiras da economia descrita por Keynes, destacando o papel do financiamento das decisões, em particular do investimento a partir da Hipótese de Instabilidade Financeira (HIF). O próprio autor destacava que a abordagem dos ativos e passivos – e dos fluxos monetários que estes estabelecem – deveria ser aplicada a outros agentes da economia. Rosa trouxe a análise para as famílias. “Eu não podia olhar para o endividamento familiar a partir do enfoque keynesiano de curto prazo e sem incorporar os passivos. Minsky, por outro lado, seguindo e criticando a construção de Keynes, enfatizou os impactos da dívida no sistema, e embora tratasse de diversos agentes, volta sua exposição para as empresas e ao investimento. A crise imobiliária norte-americana não poderia ser avaliada com referência apenas na função consumo de Keynes”, salienta.

A conclusão do trabalho aponta para a importante evolução do papel das famílias na economia. Ressalte-se que, quando fala em “família”, Rosa está tratando da família em geral, uma vez que as mais ricas já estariam “sujeitas” aos fatores de crédito e de aquisição de ativos. “As relações financeiras que eram restritas aos mais ricos se generalizam. As famílias, de forma geral, apresentam uma inserção financeira dupla, via ativos e passivos. O crédito facilitado contribui, mas não justifica a crise norte-americana. As famílias tomam decisões que não estão relacionadas ao consumo e que afetam a economia, principalmente em função do acesso aos ativos reais, isto é, à facilidade de crédito somam-se as expectativas e motivações das famílias que excedem a decisão de consumo”.


Publicação
Dissertação: “O papel macroeconômico das famílias e a geração de fragilidade financeira”
Autor: Everton Sotto Tibiriçá Rosa
Orientação: Simone Silva de Deos
Unidade: Instituto de Economia (IE)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Respondendo ao Professor Ozaí


A METÁFORA GUERRA NO ARTIGO DO PROFESSOR OZAI: MAS GUERRA DE TRABALHADOR CONTRA TRABALHADOR. O ESTADO BURGUÊS? Ora, esse fica para lá!

Marta Bellini
Professora do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá

O artigo do Professor Ozaí, do Departamento de Ciências Sociais, da Universidade Estadual de Maringá, As lições da greve, defendendo a greve dos funcionários da Universidade, e atacando o que ele chama de minoria mandante (professores) foi unanimidade entre os diferentes matizes de esquerda e por que não dizer também, de direita. É incrível como, no caso das esquerdas, foram esquecidas algumas lições centenárias tanto do velho Marx quanto dos velhos anarquistas.
Fez sucesso entre alunos, funcionários e alguns docentes sua declaração de que o caráter antidemocrático da Universidade sustenta-se na separação entre servidores, na “pretensa superioridade de uma minoria titulada e no domínio docente amparado na regra 70%, 15% e 15% quanto ao peso dos votos decisórios”. 
O professor aproveita-se de várias questões, mas não as explicita. Pois bem: toma a não paridade para argumentar sobre a greve dos funcionários da Universidade Estadual de Maringá como e ataca os docentes chamando-os de “minoria supostamente superior” e de “elite” da qual faz parte, (tanto que assina seu artigo como professor doutor) e está incluído na carreira desses supostamente superiores. Uma advertência: se essa minoria não seguir a carreira não tem aumento salarial. Então, toda a suposta minoria superior, inclusive o professor, também fez jus ao seu aumento salarial.
Mas, deixando de lado, essas contradições do Professor Ozaí e de seu jargão de sucesso veiculado pelo slogan “minoria de elite”, sabemos que os velhos anarquistas e marxistas nunca deixaram se corroer pelos problemas de uma corporação, mas atacaram o Estado burguês. Uma lição cara aos anarquistas.
O caráter antidemocrático das universidades decorre, antes de tudo, por ser uma instituição do ESTADO. É nisso que reside o problema central. Uma instituição universitária como parte do ESTADO tem uma burocracia formada por funcionários e professores. Às vezes, mais de funcionários do que professores. Outras mais de professores. E aí onde o professor localiza uma minoria elitista e uma maioria de trabalhadores não elitistas, a coisa se complica. A burocracia, meu caro Professor Ozaí, a mesma burocracia que liquida professores e funcionários, é formada por professores e funcionários! Essa é uma das dimensões do caráter burguês da Universidade.
Então, o que temos? Uma primeira falácia em seus argumentos. A simples divisão entre minoria que manda e uma maioria que tem que obedecer, mostra um pensamento maniqueísta e arrivista. Maniqueísta porque divide a Universidade em uma aritmética social ingênua, a de duas partes. Arrivista porque mesmo sendo professor, se identifica com a maioria supostamente frágil e vocifera palavreados em detrimento da outra. Ingenuidade ou má fé?  
É um artigo politicamente ingênuo, mas carrega na má fé. Quando o Professor Ozaí diz que os professores “estão acostumados a mandar”, aí acredito que chegamos ao cúmulo da má fé. É um artigo com tintas de revanchismo! Onde procurar o núcleo subjetivo que leva o professor ao auto-ataque? 
Não podemos esquecer a lição dos velhos anarquistas. E o professor esqueceu de que quando falamos em eleições para reitoria, por exemplo, sua aritmética social se evapora. Esqueceu que essa burocracia de funcionários e professores barganha votos. Podemos falar em COMÉRCIO DE VOTOS. Um comércio tão poderoso que mantém um grupo por mais de 20 anos no poder administrativo! E essa burocracia é ajudada por sindicalistas de plantão que domam seus filiados para esse comércio. Mais forte é essa burocracia quanto mais firme é a aliança entre sindicatos e administrações.
Veja professor Ozaí, se podemos falar de minorias aqui, temos duas, a de professores e a de funcionários que não se aceitam cargos, funções gratificadas em trocas de votos em reitores.
Resumindo seu pensamento: querendo vislumbrar uma Universidade dividiu-a em duas. Uma rica e uma pobre. E se esqueceu da banda do meio (que também rivaliza entre si formando várias facções) composta por docentes e funcionários que comandam de fato a Universidade em troca de cargos e funções gratificadas. E isso com as beneficies do ESTADO. O ESTADO, nesses casos, fecha os olhos para as irregularidades cometidas por docentes e técnicos. É bom para o ESTADO e é bom para as administrações não mexer em vespeiros. Essa burocracia apoia os governantes.
A segunda falácia do texto do professor: “greve é greve. É tão difícil de compreender assim?”. Não, professor Ozaí, não é difícil. O senhor se esqueceu de completar a frase: Greve é greve ... de funcionários. Nós, docentes, fizemos greve em agosto de 2012. E nossas assembleias respeitaram o trabalho dos funcionários e nelas discutimos democraticamente o que fazer na UEM enquanto um comando de greve estadual estava em Curitiba negociando com o Chefe da Casa Civil. Nós não ficamos em casa, nem mandamos os alunos de volta para casa, nem impedimos os funcionários de entrarem em suas salas. Nós, sabíamos que nossa pauta naquele momento era a equiparação salarial de 31,73%, equiparação defendida desde 2006 quando os técnicos negociaram com o reitor da época, sua carreira e o sindicato – que era das duas categorias – negociou com apenas a dos técnicos.

Concordo com o professor Ozaí em um quesito: a greve deu visibilidade aos funcionários, sobretudo aos funcionários que vivem uma situação dramática: zeladoras, vigilantes. Mas, a direção do sindicato e a sua visão de universidade partida em duas, mandou os professores ficarem em casa. Quem se politiza em casa? Os alunos foram para casa. Quem se politiza em casa, repito? O que os alunos dirão quando souberem que terão aulas em janeiro e fevereiro, caso a greve se prolongue? A direção do Sinteemar fez uma greve contra os professores. Por que não contra o ESTADO?

Porque – justifica o professor Ozaí – “acostumados a mandar têm dificuldade de assmilar um simples fato: a greve significa a paralisação de todas as atividades”. O professor pensa apenas a realidade cotidiana como se essa não pudesse mudar. Ninguém de nós docentes foi consultado se não poderíamos nós mesmos abrir e fechar as portas. O professor diz que nossa atividade é exclusivamente com alunos. Ora, seria ótimo se só fosse com alunos! E essa é uma função importante, o núcleo da Universidade. Mas, nós docentes somos apanhados por comissões mais diversas, para dar pareceres e dar vida às revistas da Universidade, inclusive a que o professor coordena pela PPG. Somos orientadores, trazemos centenas de bolsas para a Universidade. Essa ideia exclusiva para o aluno é verdadeira, sim: mas das salas de aulas às bolsas, das bolsas aos artigos, às pesquisas, aos inúmeros atendimentos de alunos. Isso é pouco?

E se ela é exclusivamente de sala de aula, por que não pudemos dar aulas? Se somos tão insignificantes, por que se preocupar conosco? Na verdade, aqui há uma contradição enorme, há uma falha lógica mesmo. O professor Ozaí rebaixando os professores joga a a Universidade no poço. Diz abertamente e em bom som que somos meros prestadores de serviço assim como diz o ESTADO.
Ora, leiam os discursos dos governadores. Desde Lerner passando por Requião e agora por Richa não somos professores, somos meros prestadores de serviço. Tanto é essa filosofia de prestação de serviços que o Secretário Alípio Leal propôs nesse início de ano, aqui na UEM, um banco de professores. Tem aula na UEM, um pouco na UEL e disse ele, “dá tempo para dar aulas aí fora (nas privadas)”. Afinal, somos apenas prestadores de serviço.

Essa é a dimensão menos dignificante do texto do professor Ozai. Para manter sua lógica de “greve é greve” alia-se ao pensamento neoliberal. Marx morreu. Proudhon morreu. Morreu meu querido Gustave Coubert. Estamos efetivamente na era neoliberal.  

segunda-feira, 17 de setembro de 2012


30 anos do massacre de Sabra e Chatila

Atividades lembram 30 anos do massacre de Sabra e Chatila

Na madrugada de 16 de setembro de 1982, pelos menos três mil refugiados palestinos foram executados por milícia cristã com o apoio de Israel


O massacre no campo de refugiados de Sabra e Chatila, que deixou mais de 3 mil palestinos mortos, completará trinta anos na próxima segunda-feira (17/09). Por conta da ocasião, movimentos sociais relacionados à luta palestina organizam diversos eventos sobre a tragédia em São Paulo.

Debates, filme e um ato público pretendem lembrar a história das crianças, mulheres e idosos que foram torturados e executados pela milícia de extrema-direita libanesa Falange, com a permissão de Israel durante a guerra civil do Líbano.

Sob a ordem do então ministro de Defesa, Ariel Sharon, as Forças Armadas israelenses cercaram o campo de refugiados depois que a OLP (Organização pela Libertação da Palestina) e outros grupos libaneses haviam saído para lutar no conflito.

Na madrugada do dia 16 de setembro de 1982, os militares israelenses deixaram o caminho livre para os falangistas entrarem no campo em Beirute e executarem os refugiados alojados. Mulheres foram estupradas, enquanto crianças, idosos e homens, mortos com facadas.

Os eventos em solidariedade à luta palestina e às vítimas do massacre começam nesta segunda-feira (17/09) e se estendem até o dia 25 de setembro.

A Frente em Defesa do Povo Palestino, comitê de movimentos e partidos que defendem o fim da ocupação israelense, convocou uma manifestação na segunda (17/09) e, em conjunto, com a Frente Palestina da USP e Apropuc (Associação dos Professores da PUC), promove dois debates sobre o evento.

Na terça-feira (18/09), os participantes terão de escolher entre duas atividades sobre o massacre de Sabra e Chatila.

Às 19 horas, uma discussão acontecerá na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e contará com a presença de Aldo Cordeira Sauda, internacionalista que viveu no Egito durante a Primavera Árabe, além de outros nomes a serem confirmados.

No mesmo dia, o núcleo de cinema do Outubro Vermelho promove a exibição do filme "Valsa com Bashir". A produção premiada retrata as tentativas de um ex-soldado israelense de recuperar suas memórias sobre a guerra e os acontecimentos em Sabra e Chatila.

No dia 25 de setembro, o debate acontecerá na USP (Universidade de São Paulo). Na mesa, estarão a professora Arlene Clemesha, historiadora especialista em Palestina, Yuri Haasz, pesquisador do conflito israelense-palestino, Waldo Melmerstein, Nadim Majdoub e Soraya Misleh, ativistas da causa palestina.

Agenda
ATO PÚBLICO
Segunda-feira (17/09) às 17h
Local: Av. Paulista, 2.100 - esquina com a Rua Augusta (em frente ao Banco Safra)
DEBATES
Terça- feira (18/09) às 19h
Local: Auditório 239 do Prédio Novo da PUC-SP - Rua Monte Alegre, 984, campus Perdizes.
Apoio: Apropuc-SP (Associação dos Professores da PUC-SP)
Terça-feira (25/09) às 17h30
Local: Sala das Ciências Sociais da USP - Avenida Professor Luciano Gualberto, 403, Cidade Universitária
Apoio: Frente Palestina da USP
FILME: "VALSA COM BASHIR"
Terça-feira (18/09) às 20h
Local: Ecla (Espaço Cultural Latino-Americano) – Rua da Abolição, 244, Centro.
Sinopse: Em uma noite num bar, um velho amigo conta ao diretor Ari Folman sobre um sonho que tem repetidamente no qual ele é perseguido por 26 cães ferozes. Toda noite o mesmo número de feras. Os dois homens concluem que existe uma ligação entre o sonho e sua missão no exército de Israel na primeira Guerra no Líbano no início dos anos oitenta. Ari Folman se surpreende por não conseguir lembrar de mais nada sobre aquele período de sua vida. Intrigado por esse mistério, ele decide encontrar e entrevistar seus velhos amigos e companheiros espalhados pelo mundo. Documentário em animação vencedor do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro.

Estranho...


Não é muita coincidência tantas favelas queimadas? 

17/09/2012 - 07h27
Incêndio atinge favela e interdita viaduto no centro de São Paulo
FOLHA DE SÃO PAULO
Atualizado às 08h00.
Uma incêndio de grandes proporções atingia parte da favela do Moinho, na região de Santa Cecília, na região central de São Paulo, por volta das 7h30 desta segunda-feira. Os bombeiros tentavam conter as chamas e ainda não havia informações de pessoas feridas.

O fogo começou por volta das 7h na rua Doutor Elias Chaves, sob o viaduto Engenheiro Orlando Murgel. Com isso, o viaduto precisou ser totalmente interditado, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).

Com o bloqueio, os motoristas que utilizam a avenida Rio Branco, no sentido centro, devem seguir pelas ruas Norma, Pieruccini Giannotti e Sérgio Tomás. No sentido bairro deverão utilizar a avenida Duque de Caxias.

O acesso da ponte da Casa Verde para a avenida Rudge também precisou ser interditado. Além disso, 17 linhas de ônibus estão sendo afetadas, precisando ter o percurso desviado, segundo a SPTrans. Ao todo, 18 carros dos bombeiros ainda estavam no local.

A linha 8-diamante da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) passa ao lado da favela e, por conta disso, também teve o tráfego interrompido entre as estações Julio Prestes e Barra Funda.

Em dezembro do ano passado, a favela do Moinho foi atingida por um outro incêndio de grandes proporções. Segundo os bombeiros, três pessoas ficaram feridas na ocasião. Dois corpos também foram encontrados em um edifício atingido.

OUTROS CASOS

Na semana passada, a favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, também foi atingida por um incêndio e deixou uma pessoa intoxicada. Ao todo, cinco barracos foram atingidos pelas chamas.

No dia 8, uma outra favela foi atingida por um incêndio na região do bairro de Cumbica, em Guarulhos (na Grande São Paulo). O incêndio teve início por volta das 7h, na avenida Santos Dumont. Nove carros dos bombeiros foram deslocados para o local. Ninguém ficou ferido.

Na última dia 3, um outro incêndio destruiu parte de uma favela na região de Campo Belo, na zona sul de São Paulo. 285 barracos foram atingidos e três pessoas ficaram feridas.

Apenas na capital paulista, houve mais de 30 incêndios em favelas desde o início deste ano. Em 2011, foram 79 ocorrências --número mais baixo registrado desde 2008, quando 130 favelas pegaram fogo. 

Sábado em Portugal


Do Blog de Joana Lopes, Portugal
1º de Maio de 1974 – 15 de Setembro de 2012





O povo saiu à rua num dia assim



Um belo texto de Maria de Deus Botelho

Sabes, Avô, hoje fui até à Avenida dos Aliados, no Porto. Fui juntar-me a tantos que, como eu, não quiseram ficar em casa desta vez e preferiram ser parte activa nesta luta por um país mais justo, um país mais solidário. Éramos tantos, Avô… Um mar de gente, de todas as idades. Vi crianças da idade do teu bisneto que não chegaste a conhecer, vi velhos da idade que terias hoje se a vida não te tivesse levado antes do tempo. Cruzei-me com homens e mulheres que podiam ser meus pais, que seguramente sacrificaram tanto para darem aos filhos a educação que muitos deles não tiveram e que, agora, os vêem sair do país em busca de um futuro que, aqui, já não têm.

Estavam lá gerações inteiras, Avô. Pais que levavam os filhos e filhos que levavam os pais. Avós que se apoiavam nos netos e netos que estavam ali também pelos seus Avós. Todos em luta serena e pacífica.

Fomos pacíficos mas não fomos silenciosos. Ouviram-se cânticos, gritaram-se palavras de ordem; bateram-se palmas e lançaram-se assobios; cantou-se o Hino, Avô, A Portuguesa, que sempre te encheu o peito. Empunharam-se cartazes com dizeres mais ou menos criativos. Tudo feito por gente que se recusa a desistir, que renega a resignação, que insiste em lutar.

Hoje, Avô, eu fiz aquilo que me ensinaste toda a vida: ergui bem alto a cabeça e exigi os direitos por que tanto lutaste. Hoje, a minha voz também se fez ouvir, contra o exagero, contra o sacrifício desmesurado, contra o retrocesso. Hoje, fui verdadeiramente tua neta: um soldado na luta incessante por um futuro melhor, mais digno, mais verdadeiro.

Foi o começo, Avô. Será preciso muito mais, será necessário ser muito melhor. Mas hoje, Avô, eu fiz aquilo com que sonhei tantas vezes: eu comecei mesmo a mudar o mundo.

Se cá estivesses, provavelmente ter-me-ias pedido cautela; assim, vieste comigo e a tua voz foi a minha voz, a tua força foi a minha força. Foi quando te senti em mim que me lembrei do cântico que tantas vezes cantámos no jardim da casa da aldeia: “…o povo é quem mais ordena…”. Também se cantou, Avô. Bem alto, como deve ser. O povo saiu à rua. E fez-se ouvir.

(Daqui.)

sábado, 15 de setembro de 2012

Hoje, 15 de setembro, em Portugal


Que cesse o medo, que sopre o vento

Não me parece plausível, surgindo mais como uma manobra de diversão para atemorizar algumas pessoas e diminuir o impacto do movimento de protesto, que possam ocorrer atos de violência nas dezenas de manifestações «Que se lixe a Troika! Queremos as nossas vidas!» previstas para este sábado, 15, em todo o país. Mas já pode ser preocupante que possam acontecer, ainda que esporadicamente, atitudes de sectarismo contra pessoas conotadas com posições políticas mais próximas do «arco do poder» que resolvam estar presentes. É absolutamente crucial para o êxito destes protestos e a sua transformação em instrumento de uma dinâmica de mudança política alargada à maioria dos portugueses, que todos percebamos não se tratar de uma caminhada para a «revolução dos oprimidos», mas sim de um passo, apenas um passo embora importante, no sentido da construção da unidade e da alternativa, ao pesadelo de governo e de futuro que nos estão a tentar impor. Por uma vida digna. Neste momento, preciso, imperioso e urgente é unir forças e gritar a uma voz em nome do que é mais importante.

Hoje em Portugal: panelaço!


Um dia...em Portugal


Um dia seremos todos cambojanos

do Blog de Joana Lopes, Portugal, Entre as brumas da memória aqui

Numa visita a uma fábrica de chocolates em Vila do Conde, que não foi para ele atribuladaporque entrou pelas traseiras e não pela entrada principal onde o esperavam manifestantes, Passos Coelho fez hoje um discurso de cerca de meia hora. 

Entre outros temas abordados, terá afirmado que as medidas agora anunciadas são necessárias porque, segundo o Jornal de Negócios, «aqueles com quem competimos têm custos mais baixos, nomeadamente custos do trabalho». Não que seja novidade, mas fica claramente expresso que o empobrecimento do povo português é instrumental, ou seja, que não é apenas uma consequência lamentável da necessidade de reequilibrar défices, mas um desígnio desejado para nos tornar competitivos.

Quando os nossos filhos ou os nossos netos tiverem salários e horários de trabalho semelhantes aos do Cambodja (mesmo que, entretanto, estes melhorem um pouco), então, sim, Portugal estará pronto a reocupar um lugar decente no mundo. 

Não há como exemplos concretos para se perceber do que se fala e quem me conhece sabe que o Cambodja é, para mim, um terrível símbolo de miséria, desde que lá estive há três anos. A maior das «sortes» era então conseguir um lugar em fábricas, muitas delas deslocalizadas da Europa, com salários absolutamente miseráveis, sem limites de horários, durante 364 dias por ano (descanso só no dia de Ano Novo).  

Sei que houve progressos desde então, mas, em números de 2012, vejo hoje que, naquele país, o salário médio mensal na construção civil é 80 dólares, que o de um motorista é 88,4 e o de um funcionário público administrativo 118.

Vamos a caminho, um dia seremos todos cambojanos.

...


foto: Marcha das vadias em Maringá, 2012

do Blog de Roberto Romano

Novo blog da Marcha Mundial das Mulheres!

 NOVO BLOG DA MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES!

De:
Marcha Mundial das Mulheres 
Companheiras,
Hoje será lançado o novo blog da Marcha Mundial das Mulheres.

Confiram abaixo o texto de apresentação, e acessem o link 
http://marchamulheres.wordpress.com/
Saudações feministas,
MMM

Feminismo 2.0

Em 2008, nós, jovens da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), criamos o blog da ofensiva contra a mercantilização do corpo e da vida das mulheres. Naquele momento, precisávamos de uma forma mais ágil para nos comunicar e nos articular, e para divulgar nossas ações e atividades. Lá, a gente colocou vídeos passo-a-passo sobre como montar uma batucada, como colar lambe-lambe e etc.
De lá pra cá, a MMM já cresceu bastante no Brasil. Fizemos muitas ações e continuamos em ofensiva para acabar com a mercantilização do nosso corpo e da nossa vida. E passamos a ter mais presença na internet: muitos coletivos da Marcha nos estados criaram seus blogs e muitas militantes da MMM também.

Criamos página e grupo no Facebook, perfil no Twitter, contas no Flickr e no Tumblr, fizemos nosso próprio site, inauguramos o #butecodasmina, enfim… Estamos na rede articulando o mesmo feminismo que marca presença nas ruas, entendendo que o virtual é mais uma expressão do real, e que as novas ferramentas da internet podem servir para potencializar ainda mais a nossa luta.
Com cada vez mais mulheres da Marcha na internet, também temos mais acesso à expressões da ofensiva machista e conservadora que vivenciamos no Brasil e em outras partes do mundo, e temos mais capacidade de responder rapidamente a isso, como fizemos com a propaganda da Prudence, por exemplo.

Tudo isso pra dizer que nosso blog está de casa e cara nova, e que agora passa a ter um novo perfil.
Mais do que ser um espaço para divulgação das nossas ações, ele passa a ser também um espaço em que as militantes que participam do cotidiano da MMM nos estados expressem a nossa visão de feminismo através de posts. É um blog participativo, com posts assinados, e o critério para participação é que a autora seja militante da Marcha em seu estado. 

Assim, este blog é mais um instrumento que liga o nosso feminismo das ruas e das redes, e mais um veiculo para ecoar as nossas vozes, análises, opiniões, lutas, denúncias e propostas para mudar a vida das mulheres para mudar o mundo e mudar o mundo para mudar a vida das mulheres.

Hoje inauguramos oficialmente este espaço colaborativo com um post da Julinha (MMM-São Paulo).

O blog ainda está em construção, e o projeto segue em aberto pra pitacos, sugestões e melhorias, mas acreditamos que é urgente pro feminismo se apropriar da internet, e que sempre é preciso começar de alguma forma. 
Nos vemos nas ruas e nas redes!
Se você quiser contribuir, escreva pra gente! >> jovensnamarcha@gmail.com

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Via Facebook da Mariana Festucci


Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias (do mundo e as noss
as). 
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.

[Manoel de Barros]

terça-feira, 11 de setembro de 2012

11 de setembro de 1973: Chile!














Via Facebook
Em 11 de setembro de 1973, aviões estadunidenses rasgavam o céu de Santiago do Chile
 e bombardeavam o Palácio La Moneda, pouco antes de assassinar o presidente legítimo 
Salvador Allende e patrocinar a chegada ao poder do ditador fascista Augusto Pinochet.

Resta dizer que a ditadura brasileira soube do golpe um mês antes. 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Elomar ... arrumação


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Jan Saudek

Na má-ringa

Ao contrário de muitos eu gosto de ver na TV o programa político. É claro, depois corro atrás de manuais de psicologia para entender o que vi, escutei.

É surpreendente. A começar pelos nomes: Zé da Manteiga, Jorge da simpatia, Mauro da empada, João do Leite, Vânia da padaria ... esses são os nomes dos candidatos povão. Não têm sobrenome. Têm nome do trabalho ou coisa assim. Já os candidatos-mor, estes sim, apresentam sobrenomes dos pais, que já foram políticos e dos quais hoje são herdeiros. São empresários, donos. Estão na política desde as sesmarias. 

Outra coisa: a imagem é também marca da divisão de classes: os da padaria, da manteiga, do postinho, do leite são menos bonitos. Muito gordos ou muito magros para o padrão cultural. Os donos já se apresentam mais mais. Sem barriga ou disfarçados de padrão. De bom mocinhos.

O que não muda é a linguagem, o modo como falam. São indiretos. Torcidos. Sorriso igual, verbos iguais, Mesmos adjetivos. 

Ouvi de uma candidata mulher: a mulher hoje MANDA na política. Merkel MANDA na Alemanha. (E manda na Europa inteira a mando dos homens, creio). O verbo a traiu!

Ouvi de outro: vai fazer uma via para carros debaixo da Universidade Estadual de Maringá. Pois bem: na era da ecologia fará da Má-ringa avenidas, somente avenidas. Casas de cultura? Praças verdes? Ora, ora... isso não é mudança na retrógrada Má-ringa. Mudança é passar tratares, tratorar , tratorar.... Para que bibliotecas? Praças? Parques? ... pobres têm que ficar em casa vendo TV mesmo. Ou não?

domingo, 9 de setembro de 2012

Dia 15 setembro em Portugal


Triste...


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Do Blog Passa palavra, Portugal

Lutas precisam-se, lutadores também

9 de setembro de 2012  
Categoria: Destaques
Como se podem mobilizar para uma actividade de protesto desempregados, precários e trabalhadores em dificuldades? Por Passa Palavra
Desde a segunda metade da década de 1970 que quase não existiram em Portugal movimentos sociais capazes de dinamizar uma ampla onda de contestação social e política. Nos últimos anos, e um pouco na sequência de mobilizações noutros pontos do mundo, parecia que o cenário estaria a mudar. Todavia, constatamos que em ano e meio se está a voltar à estaca zero. Veremos qual o papel que os métodos de trabalho e as concepções políticas de quem está nos movimentos têm em todo este processo.
1.
Fala-se em convocar uma manifestação para Outubro, mas em que dia? Ora, a hesitação quando à data revela a convicção de que o internacionalismo consiste em fazer as coisas no mesmo dia em todo o mundo, o que, no mínimo, é ingénuo. Também se fala, a mais longo prazo, em organizar uma Primavera de lutas, sem se lembrarem de que no hemisfério sul seria um Outono de lutas, o que parece pouco animador. Na realidade, a organização internacional de um evento implica contactos mais sólidos e duradouros do que aqueles que se podem realizar graças às redes sociais. Mas se a ligação aos movimentos de outros países se resume a uma questão de calendário, fica o problema de a data comum não ser eventualmente a melhor para algum país, neste caso para Portugal.
Na questão da data o grande espectro que paira sobre os organizadores não parece ser o capitalismo, mas a capacidade de mobilização da central sindical CGTP. Se em vez de irem para a rua no dia 15 de Outubro forem a 13 de Outubro coincidem com a manifestação convocada pela CGTP, mas o que farão com esta coincidência? Se fizerem a manifestação no mesmo dia é para estarem com os sindicatos? Ou contra eles? Ou optarão por manter manifestações separadas, facilitando assim a vida ao serviço de ordem da central sindical, que gosta tanto da polícia a que pertence como teme os esquerdistas, mesmo que estes de esquerda não tenham nada? Há ainda quem proponha que em vez de lançarem a iniciativa no mesmo dia da CGTP ou dois dias depois se antecipem e organizem uma marcha sobre a capital, deixando a manifestação sindical no meio. Em qualquer caso, na discussão sobre a data não se tomam em conta as vulnerabilidades do capitalismo, mas apenas a notável capacidade mobilizadora da CGTP.
Será paradoxal que os defensores da autonomia dos movimentos sociais pretendam agora juntar-se nas ruas a sindicatos organizados de forma vertical, que os agridem quando os autonomistas participam sem autorização nas manifestações sindicais? Estarão os movimentos sociais enfraquecidos a cair numa subserviência aos sindicatos, tanto mais que um protesto contra a austeridade com uma matriz apartidária e exterior ao sindicalismo poderia ser incómodo para o Bloco de Esquerda, para o Partido Comunista e até para o pequeno Movimento de Alternativa Socialista? Mas se fizerem a manifestação noutro dia não ficarão sozinhos? Como se não estivessem já sozinhos e não o continuassem a estar depois!
2.
A questão do local também é debatida e o Parlamento é considerado por alguns como um alvo importante, não percebemos porquê. Será que estão convencidos de que Portugal ainda existe como entidade soberana? De que os políticos mandam na economia? De que as discussões e os votos parlamentares são causas e não simples resultados? Tanto faz que o Parlamento esteja a funcionar ou não, que seja dia de discursos ou que os deputados estejam de folga. Escolher o dia de uma manifestação em função das actividades parlamentares é colocar as coisas ao contrário e ajudar à confusão. Mas se, apesar disto, se quiser escolher São Bento como alvo do desfile, pelo menos não pensem que conseguirão cercar aquele mastodonte. Para isso não basta energia, como alguns julgam. São necessárias pessoas, e muitos milhares delas.
Mais engraçada ainda é a exclamação de que «as escadas da Assembleia já foram do povo». Houve uma época em que os revolucionários pretendiam tomar as sedes do poder. Mas estes, talvez por não serem revolucionários, têm como horizonte sentar-se à porta. Quem sabe se não terão assim a ilusão de estar lá dentro.
3.
Ainda mais problemática e significativa é a hesitação quanto ao conteúdo da manifestação. Dizem uns que a força da iniciativa dependerá da qualidade das ideias dos organizadores; e depois perguntam se alguém tem ideias novas e convocam reuniões com a esperança de que haja quem traga as tais novidades. Nesta situação de perplexidade, parece haver uma maioria a reclamar uma mudança de paradigma. Mas não se inventam todos os dias novos paradigmas, porque esses surgem apenas em resposta a novos problemas, e aqueles problemas com que hoje os portugueses se debatem são, quanto ao fundamental, tão antigos como o capitalismo.
Parece-nos estranho que se decida convocar uma manifestação sem, à partida, ter ideia de qual será o seu objetivo. Vai-se para a rua porque sim, ou melhor, porque é necessário fazer qualquer coisa. O resultado é a manifestação surgir, não como um acontecimento que produz a realidade, alterando o quotidiano das relações de poder, mas como mais um elemento que preenche esse quotidiano, sem o conseguir alterar. Ao contrário do que, a título de exemplo, aconteceu na manifestação realizada no Porto no dia 25 de Abril, em solidariedade com o projecto Es.Col.A. Independentemente dos resultados obtidos a curto prazo, a iniciativa tinha um objectivo claro e fazia parte de uma estratégia alargada, não se resumindo a algo efémero e isolado de tudo o resto.
manifestação, segundo a própria etimologia, deve manifestar. Não deve criar, por si só, algo de raiz, mas sim exprimir uma vontade colectiva, minimamente coordenada. Essa será, talvez, a explicação dos rumos distintos entre Lisboa e Madrid, capitais que a geografia, mas não a política, colocou tão perto uma da outra. Em Madrid, o fim da ocupação da Praça do Sol não implicou um regresso às habitações privadas, mas sim às diversas assembleias de bairro e centros sociais existentes na cidade, mais fortes do que dantes.
Sem esse conteúdo, fruto de uma comunicação com as pessoas que vivem ao nosso lado ou são nossas colegas de trabalho, qualquer proposta de acção, seja manifestação seja outra coisa qualquer, não passa de activismo. É o agir pelo agir, para que no final do dia uma pessoa se possa sentir bem consigo mesma. No dia seguinte, contudo, regressa-se à realidade.
4.
Num país economicamente esfacelado e cuja situação promete deteriorar-se mais ainda, não faltam razões para reclamar. Mas para alguns dos que estão a cogitar na manifestação de Outubro essas razões não parecem suficientes nem válidas. E quando se vêem quase sozinhos na rua não pensam que o isolamento se possa dever a eles, às suas formas de actuação, aos seus métodos de organização, e acham que se deve aos outros, aos cidadãos comuns que não se dão ao trabalho de sair de casa para gritar com eles. Há quem pergunte por que motivo as pessoas não estão na rua e logo em seguida duvide de que seja enchendo ruas que se façam mudanças, o que parece um raciocínio em círculo vicioso.
A este respeito, um bom — ou péssimo — exemplo é a ideia da greve ao consumo, proposta na reunião de 25 de Julho no Príncipe Real. Quando há algum tempo vimos a esquerda erguer-se indignada contra a campanha de descontos organizada por uma rede de supermercados e a vemos agora pretendendo que uma população miserabilizada e muita dela passando fome faça uma greve ao consumo, entendemos quais são os sectores sociais empenhados nestas propostas. O que há de mais lamentável naquilo a que os jornalistas e os técnicos de marketing chamam classe média é o esforço desesperado que fazem para não parecer o que são — novos proletários. Quanto mais a crise ameaça as camadas de rendimentos médios, tanto mais elas gostam de se apresentar acima de assuntos banais como, por exemplo, comer e trabalhar.
A propósito deste assunto, alguém escreveu: «Será caso de reivindicar a importância da classe operária com punho fechado no ar? Se o mundo fosse populado somente por classes (ou castas) obreiras seria um mundo equilibrado no seu ecosistema?». E essa pessoa continua: «Se estivessem todo o tempo a laborar teriam tempo para criar (o acto de criar não é um trabalho, ou não deveria ser)? Não deveremos deixar de olhar para as pessoas como unidades de trabalho?». Colocar questões destas perante o aumento do número de desempregados e o agravamento da situação dos que têm emprego é um perverso cinismo. E depois querem sair à rua e espantam-se por não arranjar seguidores.
Então pedem seguidores como quem põe anúncios num jornal, que queiram «fazer acontecer uma Lisboa mais sustentável ecológica e socialmente», que queiram «experimentar novas formas de activismo e de acção directa não-violenta», que «gostem de escrever, de dançar e de música» e outras coisas mais, elegantes e nefelibáticas, uma gente diferente, que não a de todos os dias, pedem pessoas que «apreciem e pratiquem o bem-estar» — está tudo dito.
5.
Da reunião em 21 de Julho na Casa do Brasil resultou um apelo destinado a ser divulgado amplamente entre activistas e redes sociais, em que a certo passo se lê: «Sujeitos durante meses a uma autêntica lavagem cerebral, que criou a ideia geral de que a austeridade e o retrocesso civilizacional eram inevitáveis e, pior que isso, aceitáveis, os portugueses não acreditam que fazendo ouvir a sua voz na rua, participando, organizando-se, exigindo e construindo de outras formas, a sua vida possa eventualmente ser melhor». Mas será que os portugueses realmente não acreditam que a sua vida possa ser melhor ou não acreditam nas pessoas que lhes prometem uma melhoria da vida, venham elas de São Bento ou da Luz Soriano? É que são duas questões muito diferentes. E o referido apelo considera que «pela calada de tudo isto, a democracia conquistada em Abril degenera a olhos vistos». Pedimos desculpa por não concordar. A democracia de Abril não degenerou, ela é e sempre foi exactamente isto. O resto, a revolução que se procurou fazer em 1974 e 1975 foi derrotada por dentro e por fora, e foi sobre essa derrota que se edificou a democracia em que temos vivido.
O mesmo apelo resultante da reunião de 21 de Julho na Casa do Brasil proclama: «[…] a corrupção grassa enquanto as pequenas e médias empresas definham sobre os lucros e chantagens das grandes corporações e bancos […] Os bancos são salvos com dinheiros públicos e mantém os seus lucros e influências, enquanto forçam os cidadãos ao desemprego, perda da casa, e à precariedade».
Também um esboço de manifesto, emanado de uma reunião convocada para a Casa do Alentejo a 16 de Agosto, menciona «uma crise cuja responsabilidade é dos banqueiros e da elite financeira».
Para quem pretende revitalizar a esquerda com novos paradigmas, é curioso que recorra a paradigmas não só velhos como de extrema-direita. A distinção entre capital produtivo e capital especulativo deve-se originariamente à extrema-direita da primeira metade do século XX, que a partir daí construiu o seu programa, a sua estratégia e as suas formas de acção. Não sejamos injustos, porque esta tese não se faz ouvir só na Casa do Brasil nem só nas acampadas e desfiles. Escutemos, uma de entre muitas, uma voz que se situa, ou imagina situar-se, na esquerda. Daniel Oliveira  escreveu: «Os empresários do sector produtivo têm de perceber que, neste momento específico, o capitalismo financeiro, que vive da especulação à custa da produção, é seu inimigo. E que, por isso, também são diferentes os seus aliados. […] É a banca que, aos poucos, suga os recursos toda a atividade produtiva das Nações. Entre a ética do capitalista tradicional e a ética do especulador apenas a legitimidade do lucro lhes é comum. Tudo o resto os afasta».
Num artigo publicado no Passa Palavra, O especulador e o industrial, João Valente Aguiar tratou devidamente esta questão, o que nos permite agora ser sucintos. «O que me interessa (e me preocupa)», escreveu Valente Aguiar a dado passo daquele artigo, «é a facilidade com que não se reflecte sobre as implicações e os caminhos travessos que determinadas posições políticas acarretam». Tem toda a razão. O fascismo é ainda mais perigoso quando surge à esquerda do que quando surge à direita, e aqui é de fascismo que se trata, já que se propõe a aliança dos trabalhadores com os empresários industriais contra um pretenso inimigo comum, a abstracção fiduciária.
Nisto tudo há quem tenha a lucidez de reconhecer a existência de sectores da extrema-direita que usam os temas do apartidário e laico para apelar à participação cívica. Há quem tenha a lucidez de indicar que é um erro imaginar que essa extrema-direita seja a favor do Orçamento e das medidas impostas pela Troika e previna que muita dela, especialmente a mais perigosa, está contra. Se assim é, como não se entende que as diatribes contra o capital especulativo e contra a economia de casino e os elogios e ofertas de aliança ao capital produtivo tecem a teia em que essa extrema-direita se desenvolve?
6.
Por detrás destes dilemas há um problema enorme, de cuja ultrapassagem depende toda a luta anticapitalista neste momento. Temos de nos esforçar por congregar desempregados, trabalhadores precários e trabalhadores sindicalizados. Mas esta conjugação não se realiza num dia, numa avenida, furando serviços de ordem e tentando que gritos diferentes ou opostos se conjuguem numa polifonia em vez de serem o que realmente são, uma cacofonia.
Como se podem mobilizar para uma actividade de protesto desempregados, precários e trabalhadores em dificuldades? Partir da contestação de um grande centro industrial ou mesmo de um bairro, invocando problemas concretos, são as formas tradicionais de desencadear processos de luta. Mas as lutas novas como se começam? Todos falam das redes sociais, dos telemóveis, etc. Estes processos podem chamar as pessoas, concentrá-las num local, mas daí não tem surgido nada de muito significativo, porque não se consolidam relações entre pessoas reunidas por apelos momentâneos. As pessoas apareceram na primeira convocação, pensavam que poderia dali sair alguma coisa, ficaram decepcionadas e não voltaram. Quem ficou? Os resistentes ou são membros de pequenas organizações preocupadas apenas em recrutar filiados ou são ingénuos que querem fazer alguma coisa mas não sabem como.
7.
Gente dispersa, numa plataforma vazia de conteúdo, é fácil de agarrar. Sem dificuldade qualquer grupúsculo organizado pode tomar conta do movimento. A plataforma apartidária torna-se um excelente camaroeiro para apanhar incautos, e as técnicas são conhecidas:
- Criação de mailing lists duplas, uma para os iniciados e outra para os parolos, atropelando o princípio de transparência que se diz caracterizar os movimentos igualitários e a democraciaverdadeira e .
- Anunciar reuniões por e-mail sem horário e local confirmados, para que no encontro esteja apenas a meia dúzia de iniciados.
- Convocar reuniões gerais com tão pouca divulgação que aparece apenas o pequeno número de pessoas previstas.
- Atribuir o poder decisório apenas às reuniões e não às discussões na internet, já que uma reunião é mais simples de manipular do que as discussões em listas de e-mails.
- O mesmo se pode dizer acerca das assembleias populares quando são esvaziadas de participantes, epopulares apenas no sentido de se reunirem numa praça pública.
- Organizam-se Grupos de Trabalho que tratam à sua maneira as decisões aprovadas nas Assembleias Plenárias.
- Um grupúsculo recusa-se a organizar assembleias populares quando o equipamento não lhe pertence e, portanto, quando corre o risco de perder o controlo sobre o acto.
- Em assembleias que se pretendem horizontais e exteriores aos partidos são obtidas posições privilegiadas para figurões ou chefes de grupúsculos partidários graças a acordos de bastidores com outros grupúsculos.
- E quando alguém sugeriu que os organizadores abdicassem de usar o microfone, cedendo o lugar a pessoas novas que pedissem para falar, esta sugestão foi recebida com estupefacção por aqueles que depois, como habitualmente, ocuparam o palco.
No fim sai um novo partido como um coelho do chapéu do prestidigitador. Enfim, um coelhinho.
Entretanto, em público é a habitual hipocrisia do discurso de democracia participativa, autonomia e por aí fora. As raras críticas de fundo são feitas à porta fechada. É para contrariar essa prática e dificultar as manobras dos grupúsculos que publicamos este artigo. Outros seguirão.
Ilustrações: graffiti nas paredes de Lisboa.