Do coração e outros corações

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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Poizé!


Cachoeira vazava operações da PF para a chefe de gabinete de Perillo, governador tucano de GO

No curso das investigações da Operação Monte Carlo, a Polícia Federal detectou uma inusitada triangulação telefônica entre o contraventor Carlinhos Cachoeira e Eliane Gonçalves Pinheiro, a chefe de gabinete do governador tucano de Goiás Marconi Perillo.
Munido de informações recolhidas pela rede de policiais que prestavam serviços à sua quadrilha, Cachoeira repassava à assessora de Perillo dados sigilosos de operação da própria Polícia Federal.
A conexão de Cachoeira com o gabinete do governador tucano consta de relatório da PF. Deve-se a revelação aos repórteres Chico de Gois e Jailton de Carvalho. A dupla trouxe à luz o conteúdo de torpedos e conversas captadas pela PF.
Cachoeira repassou a Eliane dados referente a uma operação policiais desencadeada em 13 de maio de 2011. Chamava-se Operação Apate. Visava desbaratar esquema de fraudes contra a Receita Federal. Coisa de R$ 200 milhões.
Envolvia o cumprimento de 82 mandados judiciais de busca e apreensão e 13 ordens de prisão em cinco Estados: Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Pará e Minas Gerais. Envolvia prefeitos e servidores graduados de vários municípios.
A chefe de gabinete de Perillo dispunha de um aparelho de rádio Nextel igual ao que Cachoeira cedera ao senador Demóstenes Torres. Um equipamento habilitado em Miami, que a quadrilha supunha imune a grampos.
Em 12 de maio, véspera da operação farejada pela rede de iformantes de Cachoeira, o contraventor trocou torpedos com Eliane. O primeiro alerta seguiu às 20h16: “Vai ter busca na casa e prefeitura”, avisou Cachoeira. E Eliane: “Ok, entendi.”
Cachoeira foi específico: “Somente busca.” E aconselhou: “Pede a ele que tire as filhas de lá.” Eliane respondeu: “Elas estão na casa dele em Taguatinga. Vc. acha q eles vão procurar lá tbem? Ele tem as duas residências”.
“Acredito q não. Uruaçu, Minaçu”, anotou Cachoeira, referindo-se a dois municípios que reeberiam a visita de agentes da PF. O contraventor encerra a troca de mensagens com um par de interrogações: “Entendeu? Falou pro chefe?”
Como que decidido a certificar-se de que Eliane compreendera suas mensagens, Cachoeira tocou o telefone para ela doze minutos depois do intercâmbio de mensagens. O diálogo foi capturado pelo grampo.
“Eliane?”, inicia Cachoeira. “Estou ouvindo”, Eliane responde. Esquivando-se de mencionar o nome do chefe de sua interlocutora, o contraventor indaga: “Falou pro maior?” E Eliane: “Falei, estou com ele aqui. Tá aqui. Imagina como que tava.”
Antes do término do diálogo vadio, Eliane perscruta sobre a existência de novo salvos da PF. Cachoeira responde, em mau português: “Não. Já, já eu te falo. O que eu sei é esses aí. Num tem ninguém grande não.” Eliane roga: “Se você ficar sabendo, me fala. Tem uns pequenos aí que interessa à gente.”
Ouvida, a chefe de gabinete de Perillo reconheceu que conhece Cachoeira desde 2003. Declara que a Eliane mencionada no relatório da PF pode ser uma advogada homônima. Impossível. A PF menciona no documento nome, sobrenome, CPF e os números dos telefones utilizados.
Eliane diz que o Nextel fisgado pela PF não foi cedido por Cachoeira. Alega que um amigo lhe cedeu o aparelho para que ela o utilizasse numa viagem ao exterior. Chama-se Wladimir Garcez. Vem a ser um ex-vereador. Segundo a PF, um integrante da quadrilha de Cachoeira.
Procurado, Perillo manifestou-se por meio da assessorial. Mandou dizer que desconhece a relação de sua chefe de gabinete com Carlinhos Cachoeira. E mais não disse.
De acordo com a PF, Cachoeira repassou dados policiais sigilosos também para Cláudio Dias Abreu, um ex-diretor da construtora Delta no Estado de Goiás. Esas conversas também foram pilhadas nas escutas telefônicas.
Cláudo Abreu recorreu aos bons préstimos de Cachoeira, por exemplo, em 14 de julho de 2011. Buscava informações sobre operação que a PF realizaria no Pará. “É deixa eu te falar, nós ficamos sabendo que vai ter uma operação lá no Pará, dá pra você levantar se vai ter reflexo aqui?”
Cachoeira tranquiliza o interlocutor. Declara que, se a operação paraense chegasse a Goiás um dos delegados ligados à quadrilha já teria alertado. Presidente da Delta, Fernando Soares negou, por meio da assessoria, que a construtora mantenha vínculos com Cachoeira. Disse que Cláudio Abreu foi desligado da empresa em 8 de março, após a deflagração da Operação Monte Carlo

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