Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Suicida grego

5th abril
2012
written by Paulo Nogueira do blog Diário do centro do mundo


Que você faz quando tem 77 anos e sua aposentadoria se torna tão insignificante que você está na iminência de catar comida no lixo?
O grego Dimitris Christoulas optou por se matar.
Se Dimitris viveu na obscuridade como um modesto farmacêutico, sua morte foi, ao contrário, espetacular. Ele se deu um tiro em plena praça Sintagma, em Atenas, a poucos metros do Parlamento. É nela que têm acontecido os protestos contra as medidas do governo grego para atender às exigências da chamada Troika.
Troika é como se tornou conhecido o comando financeiro tríplice da Europa nestes dias: União Européia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional. A voz mais grossa aí é a Alemanha da chanceler Angela Merkel. Em suas decisões, a Troika essencialmente reflete os desígnios da Alemanha – um caso único de sucesso econômico espetacular numa Europa em frangalhos.
Dimitris estava lúcido a ponto de escrever uma carta em que explicava os motivos do seu gesto. Seu suicídio comoveu os gregos e os levou a mais uma rodada de protestos seguidos de confrontos com a polícia, como você pode ver no vídeo da BBC que abre este texto.
Não muito tempo atrás, um camelô tunisiano ateou fogo ao próprio corpo depois de ser impedido de trabalhar por policiais que cobravam propina que ele não tinha como pagar, e das chamas suicidas nasceria a Primavera Árabe em que a primeira ditadura a cair seria a da Tunísia. Mas o prognóstico para os gregos é um inverno cruel como um cossaco russo.
No caso da Grécia, por trás da crise estão níveis de sonegação de impostos sem paralelo. O esporte nacional da Grécia é não pagar imposto. É um esporte para os ricos, naturalmente. Assalariados como Dimitris são taxados na fonte.
A nova administração grega prometeu à Troika combater severamente a sonegação. A resposta é a clássica: ir embora. Casas caríssimas de Londres estão sendo compradas por estrangeiros. O russo Roman Abramovich, dono do Chelsea e de uma fortuna cuja origem é obscura, é dono de uma mansão de 30 milhões de libras – uns 70 milhões de reais – em Kensington, um dos bairros mais chiques de Londres.
As imobiliárias londrinas informam que entre os novos clientes de ouro estão, também, milionários gregos, que fogem da perspectiva de fazer uma coisa que jamais fizeram: pagar impostos.
Para eles, houve saída.
Para Dimitri, restou apertar o gatilho contra o próprio corpo

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