Do coração e outros corações

Do coração e outros corações

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Ainda a Grécia ...

Grécia, no dia seguinte por Joana Lopes, Portugal



Os gregos votaram ontem «com o coração e com as vísceras», como leio em El País. Chegados ao ponto em que se encontram, foi mesmo disso que se tratou, mas desengane-se quem julgue que deixaram a cabeça em casa.

Muito claramente, ou se abstiveram (o que é grave mas compreensível e expectável dado o desencantamento com partidos e com política, bem patente nos últimos tempos), ou condenaram, expressivamente, a política de austeridade extrema a que estão submetidos, castigando o centro e fazendo crescer «as pontas» – para além do esperado, é certo. Se é de lamentar, e de olhar com extrema preocupação, que a extrema-direita tenha conseguido eleger 21 deputados, saudemos (eu saúdo…) o Syriza (não anti-europeísta) que vai ter 52.

Por mais que veja a grande e comovente felicidade dos que ontem embandeiraram em arco a vitória de Hollande (e, sim, ela foi importante porque correu com Sarkozy e introduzirá alguns paus na engrenagem europeia), ninguém me convence que não foi muito mais importante o que aconteceu na Grécia, com todos os riscos implicados no que vai seguir-se. Arriscada está a Europa e esta pedrada no charco só pode fazer-lhe bem.

Alguns comentários:

1 - Quebrou-se a alternância no poder (Nova Democracia / PASOK), essa pecha dos regimes parlamentares em que vivemos. Página virada e digo apenas: «Aleluia!»

2 - Lamente-se a reacção imediata de rejeição, por parte do Partido Comunista, ao apelo do líder do Syriza para uma tentativa de coligação da esquerda.

3 - Registe-se a pressa do PASOK em propor a união de todos os que apoiam o Memorando com a União Europeia. Não aprende, apesar de ter perdido cerca de 2/3 dos votos.

4 - Entre nós, sublinhe-se o silêncio significativo sobre a Grécia (no Facebook foi / é flagrante), por parte dos grandes entusiastas da vitória de Hollande. Não cheguei a perceber o que esperavam ou desejavam: muito provavelmente uma vitória do PASOK, com a Nova Democracia em segundo lugar e uma maioria garantida por ambos no Parlamento, certamente nunca que o que se passou com o Syriga.

Sobre tudo isto, apetece-me para já dizer, como o outro: «Pois é, habituem-se!»

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